Tag: Bob Hoskins

  • Crítica | Uma Cilada Para Roger Rabbit

    Crítica | Uma Cilada Para Roger Rabbit

    Em 1988 era lançado nos cinemas mundiais, Uma Cilada Para Roger Rabbit, de Robert Zemeckis, cuja historia começa metalinguística, na gravação de um episódio de desenho animado, envolvendo o personagem-título em um insucesso breve dentro de sua carreira. O cenário onde o rabugento e desconfiado Eddie Valiant (Bob Hoskins) vive é Toontown, um mundo onde personagens animados e pessoas reais convivem normalmente, fato que o incomoda por conta de uma situação de seu passado.

    Há um cuidado do roteiro por mostrar um cenário de depressão não só para os humanos. Se Valiant está mal pela morte do seu irmão, os personagens clássicos também tem que se preocupar com trabalhos insalubres, como Betty Boop, que se torna garçonete por conta da crise financeira e institucional, além disso, existem dezenas de referências, desde a banda que acompanha a Femme Fatale Jessica Rabbit composta por corvos, os mesmos  da animação Dumbo, como inúmeros outros. A preciosidade não mora na trama com o personagem-título, mas sim nos detalhes da animação.

    A questão da possível traição de Jessica ao seu par é tão tosca em essência que faz toda a movimentação de Valiant e seu empregador parecer algo bobo, e realmente é, pois o conceito de traição para um cartoon é realmente diferente, bater palmas se equivale a dormir com outra pessoa. Diante disso, tanto o detetive quanto o astro são pessoas de vida triste, sentindo falta daqueles que um dia os fizeram felizes. A questão da traição, assassinato não resolvido e a trama de enganos e infidelidades é subalterna e fútil, fora a inserção do cinema e literatura noir, de resto tudo é bastante comum e usual, bem como as semelhanças entre as histórias de Eddie e Roger, de terem que conviver apesar das desconfianças, remetendo a dinâmica dos filmes envolvendo dupla de policiais.

    Os atores do elenco não fazem feio, especialmente Hoskins e Christopher Lloyd, que desempenham bem seus papéis, apesar de arquetípicos, e conseguem lidar bem com um sem número de personagens animados. O lúdico que o roteiro de Jeffrey Price, baseado no livro de Gary K. Wolf, só se faz real graças ao desempenho bom e franco entre criaturas tão diferentes, além é claro da potente música de Alan Silvestri, que ajuda a construir essa atmosfera de choque de mundos. O todo, bem orquestrado por Zemeckis é o ponto mais rico da obra que se tornou Uma Cilada Para Roger Rabbit, uma trama simples que conversa bem com as crianças, enquanto boa parte dos subplots, piadas visuais e referências são em boa parte entendida pelo espectador mais velho.

    https://www.youtube.com/watch?v=l5rX3vjE2OU

  • Crítica | Super Mario Bros.

    Crítica | Super Mario Bros.

    O começo do filme de Annabel Jankel e Rocky Morton ocorre com a música tema da primeira fase do jogo de NES, homônimo ao filme. Na introdução de Super Mario Bros. se mostra uma animação mambembe, mostrando os dinossauros conversando sobre sua subsistência, logo depois se dá um salto de 65 milhões de anos em que se fala que há um dimensão que reúne a vida dos humanos com a dos dinossauros, caso esses últimos não fossem extintos. Para se ter noção da confusão que é a temática do filme, ainda se volta mais 20 anos, o motivo para tais saltos temporais não é muito bem explicado e tudo isso ocorre nos primeiros cinco minutos de tela.

    Sem qualquer preâmbulo ou explicação minimamente plausível, o vilão Koopa é mostrado, por um Dennis Hopper completamente perdido em meio ao texto de Ed Solomon, Parker Bennett e Terry Runte. Logo, o Brooklyn é mostrado, inicialmente em uma cena onde um ovo de dinossauro é deixado numa igreja. Tempos depois,  na atualidade, há o chamado aos dois encanadores e mecânicos Mario Mario (Bob Hoskins) e Luigi Mario (John Leguizamo), logo eles encontram Daisy (Samantha Mathis), uma bela arqueóloga/paleontóloga que tem sempre as pernas a mostra, e após  uma desventura no subterrâneo do Brooklyn, eles se vêem entrando em outra dimensão, o tal mundo onde homens convivem com dinossauros.

    A personificação dos personagens centrais é pífia, com Daisy como princesa em perigo e não Peach – referência essa à Super Mario Land, para Game Boy – um Luigi meio sul-americano sem bigode que nada tem a ver com o italiano alto. Além desses, a maior parte dos vilões também é mal encaixada, como os Goombas, Bertha, e até o herói cogumelo Toad. Parece que a ideia era só usar o nome dos personagens sem qualquer identificação ao produto original além disso.

    Os raptos das mulheres dos protagonistas faz com que os irmãos corram por uma cidade futurista e decadente, em alguns momentos lembrando Blade Runner e em outras sendo completamente risível. A pior parte é perceber que o filme não se trata de uma paródia, pois se leva a sério demais.

    A configuração política deste mundo também soa confusa, com uma não decisão sobre o modo de governo, se seria monarquia, com Koopa como soberano, ou presidencial, já que o mesmo é candidato a alguma coisa. Também não há uma tentativa de aprofundar uma possível dualidade entre esses dois estados, ao contrário, o que se vê é um filme que tenta emular qualidades do cinema de Tim Burton, buscando uma atmosfera mais adulta, mas esbarrando em um péssimo texto.

    Ao final, se entende um pouco da evolução entre os mundos, com o lar de Koopa sendo resultado da evolução dos dinossauros, ainda que isso seja confuso, uma vez que Bowser – ou Rei Koopa – nos games era uma variação entre tartaruga e dragão e não um Tiranossauro Rex, tampouco os goombas eram reptilianos.

    Além do roteiro terrível, as atuações são igualmente caricatas e desmedidas. Leguizamo é um herói sem carisma, Hoskins parece ter vergonha de ser o nome principal no pôster desse filme e Hopper só seguia ladeira abaixo na fase decadente em que vivia. Os efeitos digitais são terríveis para à época e a construção do mundo fantasioso faz perguntar onde foram parar os mais de quarenta milhões do orçamento do longa, dinheiro bastante alto na época, e que obviamente não foi recuperado.

    As questões políticas do outro mundo faz lembrar mais a Shao Khan e do rei de Edenia em Mortal Kombat do que a mitologia dos irmãos encanadores. A questão envolvendo Daisy soa confusa e nada familiar – exceto pelo fato de o rei antigo voltar para a forma humana, como em Super Mario Bros. 3 – para quem era aficionado pelo mascote da Nintendo, assusta demais perceber que deixaram um produto tão confuso ser lançado em circuito comercial. Nada da essência super colorida, lúdica e lisérgica ficou, apenas uma tentativa de transformar o em um cyberpunk completamente incabível, com direito a cena pós-créditos que quebra a quarta-parede e gancho para uma continuação que nunca veio.

    https://www.youtube.com/watch?v=wtMZKYnLg5c

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  • Crítica | Hook: A Volta do Capitão Gancho

    Crítica | Hook: A Volta do Capitão Gancho

    Hook - Blu Ray

    Hook: A Volta do Capitão Gancho é um daqueles filmes que ficam na memória de qualquer criança que hoje está na casa dos 30 anos. Lançado em 1991, com jeito de super produção e com um elenco estelar, o longa teve muitos problemas, demorando, praticamente, 10 anos para sair do papel, além de trocas de estúdio, abandono (e posterior retorno) do diretor Steven Spielberg e demissão de roteiristas..

    À época, Spielberg já tinha em seu currículo clássicos dos estilos mais variados como Tubarão, Contatos Imediatos de Terceiro Grau, Os Caçadores da Arca Perdida, E.T. – O Extraterrestre, A Cor Púrpura e O Império do Sol, portanto, expectativa suficiente para fazer de Hook um grande sucesso. O que se viu, então, foi um sucesso de bilheterias, mas um desastre de críticas.

    Baseada na obra e na peça escrita por J.M. Barrie, a história é centrada no pai de família Peter Banning (Robin Williams), um advogado de sucesso que não tem tempo para a família, já cansada de seus atrasos e de suas falsas promessas. Durante uma visita à casa de sua sogra, Wendy (Maggie Smith), os filhos de Peter acabam sendo sequestrados pelo Capitão Gancho (vivido brilhantemente por Dustin Hoffman). Assim, a fada Sininho (Julia Roberts) também sequestra Peter e o leva de volta à Terra do Nunca. O problema é que Peter não lembra absolutamente nada a respeito de sua época na Terra do Nunca, nem da própria Sininho, muito menos dos Garotos Perdidos, que ficam divididos naqueles que acreditam ou não que aquele Peter é, seu líder, Pan. Porém, Peter tem apenas três dias para se lembrar e se preparar para um duelo contra o Capitão Gancho e que decidirá o futuro de seus filhos.

    A premissa já foi (e ainda vem sendo) desgastada por Hollywood, e a performance do grande elenco é o que mais deixa a desejar. Julia Roberts concorreu ao Framboesa de Ouro; Robin Williams deu início à saga de papéis iguais que o tornaram famoso. Além do mais, hoje, chega a ser constrangedor vê-lo adulto, levemente fora de forma vestindo a roupa de Peter Pan. Tais fatos acabaram por deixar Dustin Hoffman sobrecarregado, mas sem perder o brilho, juntamente com seu aliado pirata, Smee (Bob Hoskins) e um ou outro Garoto Perdido que se sobressai em relação aos demais.

    Analisando friamente a fita, chega-se à conclusão que o destaque fica para a direção de arte, que construiu uma Terra do Nunca bastante lúdica, além de um navio pirata sensacional, e os figurinos dos personagens (principalmente o do Capitão Gancho), que são impecáveis. Mas em que se pesem os aspectos negativos, podemos perceber que Hook: A Volta do Capitão Gancho é um filme feito pra entreter, e ele cumpre bem o seu papel. Pelo menos, o projeto seguinte de Steven Spielberg foi Jurassic Park.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Sai de cena o grande Bob Hoskins

    Sai de cena o grande Bob Hoskins

    bob-hoskins

    O grande ator britânico Bob Hoskins, internado por causa de uma pneumonia, veio a falecer aos 71 anos de idade.

    O premiado ator se aposentou em 2012, devido a complicações com o Mal de Parkinson. Seu último trabalho como ator foi em Branca de Neve e o Caçador.

    O currículo de Hoskins incluía belíssimas participações em belas obras, como Cotton Club, de Francis Ford Coppolla,  Brazil, o Filme de Terry Gilliam, Hook: A Volta do Capitão Gancho, de Steven Spielberg, além é claro de protagonizar o clássico de Bob Zemeckis, Uma Cilada para Roger Rabbit.

    O ator ainda foi indicado Oscar de Melhor Ator por Mona Lisa, de Neil Jordan. Por este filme, ele receberia o Globo de Ouro e o Bafta, no ano de 1987.

    Linda, a viúva do ator, declarou: “Estamos devastados pela perda do nosso querido Bob”, em um comunicado junto aos filhos Alex, Sarah, Rosa e Jack. Em nota, o agente do ator   garante que Hoskins faleceu tranquilamente, com a família, e pede privacidade a família, além de agradecer os préstimos e mensagens de carinho.

    Infelizmente se findou a história de um grande ator, que agora, se divertirá pulando em tartarugas no além, como seu mais notório papel em Super Mario Bros.  O melhor seria louvar a carreira do ator, ao invés de vê-lo como mais uma vítima do Ceifador, neste ano de 2014.

  • Crítica | Brazil

    Crítica | Brazil

    Só tive conhecimento da existência de Brazil, de 1985, em 2012, foi-me indicado como mais uma sociedade distópica, no melhor estilo 1984. Portanto, era uma obra de ficção científica obrigatória. E assim fui, com todas as expectativas. Não sabia nada, do diretor, roteirista, nada, a única pista que eu tinha era que Robert de Niro participava do elenco.

    Aos 30 minutos do filme, confesso que tive que fazer uma pausa, para obter mais informações, quem era o diretor, roteirista, alguma pista que eu conseguisse para saber se aquelas 2:20 iriam valer a pena, pois a premissa do filme era muito oposta do que eu esperava, e qual não foi minha surpresa ao ver que era Terry Gilliam, diretor de Monty Python e o Cálice Sagrado e roteirista de A vida de Brian. Agora, tudo fazia sentido.

    Esperamos em geral de filmes desse tipo, mundos tecnocratas, frios e sombrios. Em que a narrativa, incita aquele que a acompanha a sentir a mesma tensão que aquele mundo exige. Brazil vai além, contendo todos os elementos clássicos desse tipo de história, mas somando uma pitada de humor nonsense, beirando ao pastiche. E também com muitas viagens oníricas do personagem principal, que nos deixa totalmente confusos sobre o que é realidade e o que é sonho.

    A história, é de um funcionário do ministério da informação Sam Lorry (Jonathan Price), que percebe que o sistema do governo errou, e esse erro, o une a Tuttle (Robert de Niro), um procurado terrorista. E Jill Layton (E aí… comeu?), sua amada. Ao tentar corrigir esse erro do Estado, Sam, acaba por se tornar um inimigo público também.

    A própria trama, como o mundo proposto pelo filme, tem claras inspirações em 1984 de George Orwell. Chegando a dar uma impressão de ser uma sátira à própria obra (o  diretor é um especialista nisso). Repleta de críticas à nossa sociedade. Como a indiferença dos indivíduos, às situações de horror e morte. O culto a beleza física, e cirurgias plásticas. A governos e instituições autoritárias, em que a única função é a manutenção do status-quo. Enfim, tudo que se espera em uma boa obra de ficção, em conjunto com uma sátira.

    A trilha sonora, é composta praticamente, com apenas uma música, Aquarela do Brasil, que faz um ótimo contraponto ao clima da trama em seus momentos mais tensos. E colabora com as viagens oníricas do personagem principal, na estranheza sobre o que é um fato real, e um sonho. Claro, que é um tipo de obra que leva a uma reflexão, algumas mais óbvias e explicitas na obra, como as críticas sociais. Outras talvez mais pessoais do que realmente implícitas. Como, que em uma sociedade, apesar de distópica. Mas não tão distante da nossa, no tocante à manutenção do status quo presente, qualquer que seja o custo disso. Qual a real possibilidade de uma reversão desse estado? Ou ainda mais, ao chegar em tal estado de organização, e anestesia social. Qual a diferença entre sonho, realidade e alucinação. Ao se buscar um ideal melhor.

    Brazil, é um ótimo filme, obrigatório para os fãs de ficção científica, ou até ficção política, como alguns gostam de caracterizar, Admirável Mundo Novo, Fahrenheit 451, e o já citado 1984.

    PS. Você, brasileiro, por favor, não me envergonhe ao falar o nome desse filme como Brrrezil. Só porque está escrito com Z. Sério, além de pedante, é patético.