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  • Resenha | Peter Pan – Volume 2

    Resenha | Peter Pan – Volume 2

    Peter Pan - Vol 2

    O segundo volume do álbum de Loisel (leia nossa resenha sobre Peter Pan – Volume 1 aqui), livremente inspirado na obra de J.M. Barrie, Peter Pan, continua com a jornada do jovem Peter pela ilha misteriosa (o nome Terra do Nunca não é mencionado aqui) ao lado dos seres fantásticos do lugar. O segundo volume reúne a terceira e quarta partes da trajetória do pequeno herói: Tempestade e Mãos Vermelhas.

    Após a tarefa de apresentar os personagens, Loisel passa a edição desenvolvendo cada um deles, principalmente o irresponsável protagonista. O mundo de Peter também ganha vida neste desenvolvimento, fazendo um forte paralelo à suja Londres, cidade de onde surgiu. Os seres encantados desse local também servem como contraponto ao mundo real, fazendo-nos refletir sobre o conceito de conto de fadas conduzido pelo autor.

    A edição traz como mote a aproximação de Peter com esses seres fantásticos e a tentativa destes em afastar os piratas de sua ilha, criando um plano mirabolante com a ajuda das sereias para se livrarem de uma vez do Capitão e seus piratas. Obviamente, as coisas não saem como o planejado e o protagonista tem que conviver com suas escolhas e a responsabilidade de liderança.

    Loisel busca uma aproximação maior com a obra original, amarrando algumas pontas deixadas no primeiro volume. Além disso, seus personagens são sofridos, e principalmente Peter passará por difíceis caminhos para se tornar o Peter Pan mais próximo daquele que conhecemos, dando um estofo necessário ao protagonista. Isso sem que ele deixe de lado a malandragem e uma pitada de egocentrismo dadas pelo autor nessa nova versão.

    O autor aproveita o passado de Peter em Londres para desenvolver uma segunda linha narrativa, dessa vez trazendo um gancho com a história britânica envolvendo os casos não-solucionados de assassinatos que ocorreram no distrito de Whitechapel, cometidos pelo serial-killer denominado pela imprensa da época como Jack, o Estripador.

    Assim como na edição anterior, Loisel consegue transmitir emoções e características de forma competente. O mesmo ocorre no dinamismo de seus quadros. Essas qualidades influem diretamente na forma narrativa do autor, não sendo necessários “balões” excessivos para expor o que suas personagens querem expressar. Isso fica bastante claro no personagem de Sininho, que não possui falas, ou mesmo nos dos índios, que se comunicam em um língua intraduzível, mas que mesmo assim pode-se entender o que está sendo dito por cada um deles.

    Novamente um excelente trabalho da Editora Nemo, uma caprichosa edição em capa dura que faz jus ao trabalho apresentado pelo autor.

  • Resenha | Peter Pan – Volume 1

    Resenha | Peter Pan – Volume 1

    Peter-Pan-Capa-volume-1

    Peter Pan já faz parte do imaginário popular. O personagem de J. M. Barrie, criado para sua peça de teatro – que posteriormente se tornou um romance – há mais de 100 anos atrás teve inúmeras adaptações, seja para o cinema, teatro ou quadrinhos, contudo, talvez a mais notória delas seja a versão criada pela Disney, em 1953. Em 2003, o francês Régis Loisel decidiu dar sua contribuição para o clássico “infantil”.

    Talvez para muitos seja difícil abordar questões originais ao revisitar um clássico como Peter Pan, e esse é o grande mérito deste álbum. Loisel compreende o cerne dos questionamentos da história que tem em mãos e não só consegue recontá-la de forma original, como também questiona e critica aspectos sociais abordados superficialmente em outras versões. Cabe ressaltar que a versão de Loisel é dedicada ao público adulto.

    Loisel insere Peter numa Londres miserável, rodeado de orfãos, bêbados, estupradores e prostitutas. Peter tenta compensar seu mundo cinza e desesperançoso em algo fantasioso, como um conto de fadas. Suas frequentes humilhações o afastam dia-a-dia do mundo real, até que conhece uma fada, a quem Peter decide chamar de Sininho. A fadinha decide levá-lo à Terra do Nunca, uma ilha fantástica onde os habitantes desse lugar precisam de sua ajuda.

    Loisel adapta e recria Peter Pan de forma cínica, mas extremamente real. Peter está longe de ser um personagem cativante ou um modelo que deveria ser seguido, pelo contrário, suas atitudes são altamente questionáveis, mas compreensíveis, se analisarmos a sociedade de que ele saiu. Peter definitivamente não quer crescer, mas não porque acha o mundo das crianças o lugar ideal. Peter apenas conhece a sujeira do mundo adulto e o quão baixo eles podem descer.

    O autor entrega uma versão muito distante do conto de fadas da Disney. A Londres de Loisel é imunda, seu inverno é cruel, cinza e angustiante. Os moradores de Londres são figuras repulsivas para qualquer um de nós, quiçá para uma criança. A Terra do Nunca do autor está longe de ser um lugar seguro, porém é um excelente contraponto a Londres de Peter. O traço e o trabalho de cores do autor é incrivelmente expressivo e de encher os olhos a cada página, te colocando próximo daquele mundo e daqueles personagens. A narrativa gráfica é ágil, utilizando cada enquadramento em prol da história. Impressionante o nível de detalhes na arte de Loisel. Um deleite visual.

    Peter Pan, de Loisel, está entre as melhores publicações do ano, e mostra de forma chocante quão cruel e prejudicial o mundo adulto pode se tornar para uma criança.

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