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  • Review | Powers – 1ª Temporada

    Review | Powers – 1ª Temporada

    powers-posterMisturando elementos de seriados recentes como True Blood, mostrando seres fantásticos como parte do cenário social mundano e comum, e trabalhando a premissa do quadrinho anárquico The Boys, sobre o “controle” das ações de homens super-poderosos, Powers é uma série que reúne elementos dissonantes, se localizando entre a temática adulta e uma proposta jocosa do ideário dos vigilantes encapuzados e coloridos.

    A rotina mostra Christian Walker (Sharlto Copley), um ex-vigilante mascarado, e agora policial, cuidando dos mesmos arquétipos dos quais antes fazia parte, já que em algum ponto de seu passado perdeu as super-habilidades que tinha. Na sua rotina há uma clara reprimenda e autocrítica por não mais ter acesso às antigas habilidades, além de viver uma clara sensação de impotência. No entanto, essas sensações conflitantes são diluídas por uma carga humorística que não funciona perfeitamente na tradução televisiva.

    O programa é baseado na HQ homônima, de Brian Michael Bendis (roteiros) e Michael Avon Eoming (desenhos). A publicação da Marvel foi lançada pelo selo Icon – sendo esta a mesma divisão que dá vazão a histórias mais autorais como Kick Ass, de Mark Millar – e durou 78 edições, contendo alguns elementos chaves em comum com a série. A produção da Playstation Originals acaba por flertar com a comédia graças a sua fraca realização, só resultando em comicidade por fatos involuntários.

    Christian recebe a ajuda de Deena Pilgrim (Susan Heyward), uma novata agente da lei que o acompanha nas inúmeras aventuras envolvendo cenas em CGI de gore cujo amadorismo se assemelha aos filmes B dos anos 1990. As demonstrações dos poderes dos coadjuvantes assustam a moça, talvez não pela condição de civil em meio a um mundo onde seres tão poderosos convivem com humanos, mas sim pelas estranhas manifestações multicoloridas, que lembram os efeitos visuais das publicações de revistas com CD-Rom comumente vendidas nas bancas de jornais na década retrasada.

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    O mote do seriado envolve além do controle das ações públicas dos superseres,  mas também o roubo de poderes do antigo alter ego de Walker (chamado à época de Diamon), que é realocado para a divisão policial especializada de Los Angeles. A interação pessoal, que deveria garantir empatia, soa falsa, pois não é construída de modo minimamente satisfatório. A recusa do personagem em ter um novo parceiro não é original, pois já existia nos anos 1970, como em Dirty Harry, por isso não em é cabível em uma proposta séria como Powers. A outra tentativa de tornar a trama madura, com o advento da droga Sway, que aumentaria os poderes dos seres super-poderosos, é mostrada de modo muito genérico, não causando qualquer impressão maior em seu público.

    O desenrolar dos fatos ocorre a partir deste ponto, com Copley tentando dar vida a um personagem que não funciona graças à bidimensionalidade do roteiro mal adaptado e às situações grotescas que lhe ocorrem. A trama também conta com as ações fundamentais de Jonny Royalle, interpretado pelo prolífico ator Noah Taylor, que coleciona momentos vergonhosos, a começar por sua voz forçadamente rouca e bigode falso, nos poucos momentos em que a dramaturgia é exigida. A trama em modo “teoria da conspiração” parece vir a partir dele, que é um teleportador, já que é Royalle a peça chave na rede de relações com a maioria dos personagens, do futuro e do passado, incluindo a antiga alcunha de Walker e a ex-namorada do protagonista, Retro Girl (Michele Forbes). Sobra também a Royalle a intimidade com a figura de antagonismo, ainda que ele também vista a máscara de vilão em alguns pontos, diferenciando somente por sua afeição gratuita por Calista (Olesya Rulin), uma personagem basicamente inútil, que tem uma motivação tão vazia quanto suas funções dramáticas, já que está lá basicamente para acreditar que tem algum poder, mesmo sem sofrer manifestações, além de estar em apuros quase sempre.

    O ponto de cisão ocorre graças a Wolfe (Eddie Izzard), um ser que no passado servia de inspiração para Powers mais novo, e que está encarcerado graças a seus crimes de canibalismo, evidentemente sérios demais para serem simplesmente ignorados. O carisma do personagem faz acreditar que sua história será bem contada, fato que não ocorre, já que o tempo dispendido para isso é ínfimo, principalmente em comparação com os momentos em que ele consegue fugir da prisão – fato que ocorre no plural, em menos de dez episódios – e nos quais o ator veterano é posto para desfilar semi-nu, de cabelos longos e quase sempre molhados, exibindo uma forma rotunda que deveria causar medo, ainda que só motive risos. Cenas risíveis como as que está drenando humanos e Powers genéricos, com direito a muito sangue digital e gritos de horror, fazem lembrar a reação do espectador ao vê-las em tela.

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    A ideia de inverter paradigmas e mostrar uma versão de um mundo onde seres magnânimos existem pela ótica de quem é tradicionalmente marginalizado – a saber: viciados em drogas e contraventores – é interessante e está no cerne do gibi. O problema na adaptação da Playstation Network foi não adequar os termos para um modelo midiático tão diferente das páginas de quadrinhos, cuja textura precisa ser menos caricata.

    A ligação da origem da droga à figura de Wolfe seria interessante se todo o entorno fosse trabalhado de maneira mais contextualizada, fato que não ocorre. A descrença do espectador é a mesmo do público que assiste ao show beneficente feito pela Retro Girl e mais um personagem famoso/genérico. Vendo a morte no palco, repete, incrédulo: “é real”, como se precisasse se beliscar para descobrir se aquilo realmente ocorria ou não, de tão mal trabalhados, tanto o suspense quanto o mote heroico.

    Depois da segunda fuga de Wolfe, há finalmente um enfrentamento da criatura com seus opositores heroicos, que, como era esperado, termina de modo anticlimático, confuso e decepcionante, além de muito breve, deixando um bom pedaço do décimo e último episódio da temporada. Sobra, assim, um grande espaço para algumas inutilidades serem exploradas somente para resultar em um momento final com um fraco cliffhanger.

    Powers possui ideias iniciais até interessantes, mas é conduzida de modo bastante atrapalhado, repleto de clichês e situações constrangedoras, fruto talvez da pouca experiência de seus realizadores, e só possui bons momentos em alguns insights de Noah Taylor, mesmo que o roteiro não permita de modo recorrente. A segunda temporada estreou em maio de 2016 com esperanças esgotadas de melhora, ao menos segundo os que acompanham o drama de Walker.

  • Crítica | Chappie

    Crítica | Chappie

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    A cotação é maior do que o filme realmente merece. As três estrelas são por todas as boas ideias e sacadas que mereciam ter sido melhor exploradas no roteiro. Boas intenções não fazem um bom filme, mas achei que valiam ao menos para incrementar a nota dada à história de um engenheiro – Deon (Dev Patel) – que, depois de ser o responsável pela invenção de droides autônomos, utilizados como força policial, esforça-se para desenvolver uma inteligência artificial que consiga replicar a consciência humana. Frustrado com a executiva da empresa onde trabalha, – Michelle Bradley (Sigourney Weaver) -, mais interessada em vender armas que poetas, resolve agir por conta própria.

    Desde Distrito 9, o público espera que Neill Blomkamp repita a dose do que se tornou sua “especialidade”: misturar ficção científica com crítica social. Elysium parecia promissor, mas deixou bastante a desejar. E este, apesar da boa premissa, também não chega aos pés do maior sucesso do diretor/roteirista.

    A maior falha é o roteiro não saber para que lado vai. A narrativa não se decide entre fazer graça, fazer crítica social ou partir para cenas de ação. Sem contar a infinidade de incongruências tecnológicas que deixam qualquer nerd indignado. Ok, é uma obra de ficção, mas um mínimo de bom senso e verossimilhança ajudam muito a mergulhar o espectador no universo da história. E o roteiro falha ostensivamente nisso. Vale reparar que essa “indecisão” vem desde os trailers. O primeiro dá impressão de que é um filme quase infantil, algo como Wall-E + ET. Enquanto o segundo já parte para a pancadaria, mais parecendo Robocop, dando enfoque ao vilão, Vincent Moore (Hugh Jackman).

    Inicialmente, parece que o roteiro irá focar na discussão sobre a substituição do contingente humano por um robótico no policiamento e em suas consequências, boas ou ruins. O filme avança mais um pouco, e o foco passa a ser a evolução da inteligência artificial, a possibilidade de construir máquinas (quase) à nossa imagem e semelhança, com capacidade para aprender e sentir. O espectador pensa “Ah, o filme é sobre a ética da IA.”. Ledo engano. Alguns minutos se passam, e o enfoque é o preconceito, a aceitação (ou não) de estranhos ou ‘diferentes’ em um grupo social. Mais adiante, é sobre a capacidade de adaptação e aprendizado de um ser inteligente não-biológico. Nesse meio tempo, o tom da narrativa também muda, mas de forma irregular e pouco consistente. Nenhuma história, nenhuma pessoa é séria ou cômica o tempo inteiro. Porém, neste roteiro o que fica nítida é a indecisão quanto à forma de contar a história de Chappie. Essa variação no tom mostra-se pouco “orgânica” – para usar um termo da moda. E incomoda quem assiste. Pois uma coisa é ir ao cinema achando que é um filme infanto-juvenil sobre um robô engraçadinho e descobrir logo nos primeiros minutos que é algo mais sério e violento. Outra coisa é o filme mudar essa perspectiva a cada cena.

    Falando dos personagens, apesar de algumas falhas na construção – perdão pelo trocadilho – Chappie é de longe o personagem mais bem estruturado, com mais profundidade. Os demais, em sua maioria, são estereotipados e, em alguns casos, pouco críveis. Michelle Bradley, diretora da OCP, digo, Tetravaal, é apenas uma executiva padrão. Ou até menos, pois que executivo não se apegaria à possibilidade de testar uma nova tecnologia que o deixaria à frente da concorrência? Deon Wilson é o engenheiro responsável pela criação do modelo de robôs policiais similares a Chappie. É um nerd típico que passa a noite em claro programando e movido a energéticos. E, convenhamos, por mais nerd que seja, ninguém deixaria sua própria criação, um salto tecnológico em IA, nas mãos de qualquer um. A gangue que “acolhe” Chappie – Ninja, Yolandi (Ninja e Yo-Landi Visser, vocalistas da banda sul africana de rap-rave Die Antwoord, responsável pela trilha sonora) e Yankie (Jose Pablo Cantillo) – está longe de ser ameaçadora, mais parece um grupo de comédia pastelão. Mas mesmo assim, em termos de complexidade e identificação com o público, estão anos-luz à frente de Vincent Moore. Mais clichê impossível. O engenheiro com ideias diametralmente opostas às de Deon, não é apenas um estereótipo, mas uma caricatura. Chega a ser chato, de tão previsível. Sua animosidade em relação a Deon é exagerada demais, teatral demais. Enfim, apesar dos personagens deixarem a desejar, não há o que reclamar do elenco, que faz o que pode com o material que tem em mãos.

    E há, como dito anteriormente, inconsistências, não apenas tecnológicas, que certamente atrapalham a suspensão de descrença necessária para comprar a ideia do filme: Douglas, parceiro no blog Cafeína Literária ajudou a lembrar as mais gritantes:

    1- O departamento, ou empresa, que cuida da segurança da Tetravaal deveria ser inteiramente dispensado. Que (falta de) segurança é aquela? Em que praticamente qualquer um tem acesso ao chip responsável pela programação dos robôs. Em que um funcionário consegue sair das instalações levando não apenas material da empresa mas também armas. E para que servem as câmeras de segurança que filmam essas ações, se aparentemente não há ninguém assistindo a elas?

    2- Como um capacete feito para ler ondas cerebrais – de novo, ce-re-brais – consegue ler o “cérebro” de um robô? Ok, são pulsos eletromagnéticos, mas até mesmo um leigo sabe que os pulsos emitidos por uma máquina, um forno micro ondas por exemplo, são beeeem diferentes da ondas emitidas pelo cérebro humano

    3- Se, como afirma Deon, Chappie tem poder de aprendizado acima da média, conseguindo inclusive descobrir como transferir a consciência de uma pessoa para um pendrive, por que continua falando como criança ou usando as gírias tolas de seus colegas de bando? Poderia, ao menos, sair falando feito He-man.

    É uma premissa muito boa, perdida em um roteiro mal construído. Na torcida para que o próximo Alien seja melhor que isso.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Crítica | Old Boy: Dias de Vingança

    Crítica | Old Boy: Dias de Vingança

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    Não importa quão bem sucedida e elogiada seja uma produção estrangeira; a indústria cinematográfica americana sempre procurará compor uma nova versão para chamar de sua. Se dentro do sistema muitas histórias são atualizadas por meio de refilmagens desnecessárias, produzidas em razão do provável retorno financeiro, um bem-sucedido filme estrangeiro parece significar um elemento prejudicial à supremacia hollywoodiana, que inevitavelmente compra os direitos e reconta a história à sua maneira.

    Não faltam argumentos a favor ou contra na inflamada discussão sobre refilmagens. Se argumentos teóricos tentam convencer opiniões específicas, a prática consolida que uma história contada pela segunda vez nem sempre é tão prazerosa como se espera.

    O remake do coreano Old Boy (2003) foi recebido, desde o princípio, com rejeição. Nem mesmo o nome de Spike Lee na direção foi suficiente para atrair parte dos espectadores, o que resultou em criticadas exibições prévias e um lançamento morno que se refletiu na estreia tardia em diversos outros países.

    Sempre relacionado a narrativas de crítica social, parece incompreensível o envolvimento de Lee, exceto por um alto incentivo financeiro. Não há em nenhum momento cenas que demonstrem visivelmente seu talento. Tão enfraquecida como a direção está a escolha de Josh Brolin no papel central.

    Brolin não está à vontade desempenhando a personagem que passa vinte anos presa em um quarto sem saber a razão. Demonstrando apatia, o ator diminui potencial dramático destruindo parte do drama que se desenrola através da vingança.

    O argumento é uma versão mais plástica da versão coreana, sem as tênues composições do original, que davam maior dimensão ao personagem de Choi Min-sik, e sem o misto de injustiça e esperança que fez o público desejar a vingança de Oh Dae-su. A versão americana, explorada de maneira plana, resulta no desenvolvimento de uma personagem que não gera piedade no público. As cenas de ação mostrando a  brutalidade crua continuam presentes, bem desenvolvidas, como vistas em uma grande produção. Mas o impacto diante da gama costumeira de violência plástica é risível.

    Ao parecer excessivamente uma cópia da produção coreana, Old Boy – Dias de Vingança não se sustenta nem mesmo como uma pasteurizada versão americana. Motivo pelo qual sua recepção tem sido negativa, suscitando uma das questões primordiais do cinema: os limites que existem entre roteiros originais e adaptações.

  • Crítica | Malévola

    Crítica | Malévola

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    Originários da tradição oral, os contos de fadas caracterizam-se um dos gêneros mais antigos da literatura. Histórias consideradas, hoje, como infantis foram, em séculos passados, carregadas de violência e eram transmitidas culturalmente como parte do folclore local, motivo que justifica diversas versões para uma mesma narrativa. Durante os séculos, escritores como Charles Perrault, Jean de La Fontaine e os Irmãos Grimm foram responsáveis por documentar a tradição popular da época em que viveram, modificando as histórias conforme suas particularidades regionais ou alterando suas estruturas, deixando-as mais amenas e familiares.

    Nas telas, o estúdio de Walt Disney produziu diversos clássicos animados com base nestas histórias, originando novas versões narrativas – que muitos consideram definitivas – de contos como Branca de Neve e os Sete AnõesA Pequena Sereia, Cinderela e A Bela Adormecida. Filmes que trouxeram prestígio à empresa e formaram as modelares princesas Disney.

    Seguindo o sucesso de Alice No País das Maravilhas, cuja adaptação cinematográfica em live-action trouxe à produtora um retorno financeiro alto em 2010, a obra A Bela Adormecida, de 1959, ganha uma nova versão. Dessa vez, a história foca o lado da fada Malévola, que amaldiçoa a princesa Aurora.

    A história de Malévola utiliza a base do clássico citado, pervertendo-o ao mostrar a visão da antagonista. Malévola é uma pequena fada poderosa que vive em uma floresta encantada situada ao lado de um reino. Em sua infância, conhece o garoto Stefan, com quem mantém a amizade até a adolescência, quando se afastam um do outro.

    Malévola torna-se uma das fadas mais poderosas do reino e guardiã da floresta dos ataques humanos que desejam destruir o local, tido como ameaçador. Após uma dessas batalhas, o Rei, ferido e prestes a morrer, exige o aniquilamento da fada e coloca o trono à disposição de quem matá-la. Almejando o cargo de rei, o outrora menino Stefan reencontra-se com sua antiga amiga e usurpa-lhe as asas.

    Como uma costumeira produção Disney, faltam elementos que explorem a transformação da personagem de maneira adequada. Ao ser traída pelo amigo memorial da infância, não há nenhuma personagem em cena que produza um diálogo com a futura vilã. Ao público, cabe inferir sua transformação na estranha cena em que, caminhando pelo reino outrora brilhante, o local começa a se tornar lúgubre e ameaçador. Até a transformação que alinha a personagem com a história oficial, o roteiro de Linda Woolverton  que também roteirizou a recente adaptação de Alice no País das Maravilhas, e as animações O Rei Leão, A Bela e a Fera, entre outras  parece apressado, apresentando um apanhado ocasional de cenas que não justifica o porquê Malévola foi uma fada injustiçada.

    A personagem acrescenta tonalidades ao costumeiro preto e branco do estúdio. Uma constatação de que os tempos de outrora  com o costumeiro maniqueísmo Bem versus Mal   estão extintos, o que prova que o público não deseja mais ver uma tradicional fábula sobre a princesa que espera o amor perfeito. Sob este aspecto, a Disney luta para evidenciar que reconhece as mudanças da sociedade, modificando o paradigma narrativo e rindo de si mesma  como Encantada —, tornando-se capaz de produzir histórias de princesas que atendam às novas exigências dos espectadores.

    O sentimento de traição que se manifesta em Malévola é o elemento que causa a maldição  sono eterno até que um amor verdadeiro a desperte — à recém-nascida Aurora. Uma das mais grandiosas cenas das animações Disney que a nova versão honra com pompa e mantém a mesma dimensão épica, fato que comprova que Angelina Jolie é a parte mais consistente da produção.

    Ainda que o roteiro seja mediano, sua interpretação passa  nuances necessárias de uma transitória personagem dúbia. Sem exagerar nos trejeitos de vilões  que os deixam caricatos —, a atriz demonstra que entrou em cena para se tornar uma bela encarnação da antagonista.

    Se a fotografia e o ambiente à meia-luz são esteticamente belos a cada fotograma, o contrato feito com o público, em relação à veracidade narrativa, falha na maior parte do roteiro. Tentando enfocar em demasia o lado sombrio de Malévola, outras personagens importantes à trama se tornam simplistas. As três fadas-madrinhas, que criam Aurora até os 16 anos da princesa, parecem despropositadas tanto como personagens quanto com importância à história. O exagero dos efeitos especiais fazem as fadas  vistas na maioria das vezes em tamanho diminuto — parecerem pequenas bonecas voadoras e não seres de um mundo maravilhoso. Um desequilíbrio que lembra o excesso estético e agoniante da Alice no País das Maravilhas, de Tim Burton.

    Quando a personagem Aurora encontra-se com Malévola, não há nenhuma empatia pela mocinha. Em parte porque Ellen Fanning não tem a  mesma presença cênica de Jolie, e também porque nem em cenas solo consegue roubar um pouco de atenção para si.

    A própria carência narrativa revela uma questão maior que equipara o desfecho dessa produção com o de Frozen – Uma Aventura Congelante. Tal semelhança faz questionar até onde a Disney estaria disposta a modificar sua estrutura narrativa, visto que, em menos de um ano, entregou duas produções com a mesma lição moral que substitui o suposto amor entre príncipe e princesa e faz do sentimento fraternal ou maternal o gatilho que quebra a maldição. Mesmo ciente de que o público atual exige um novo conceito nos filmes de princesas e reinos encantados, a empresa não parece desejar o desenvolvimento de novas saídas que não uma outra fórmula a ser repetida mais de uma vez.

    Com um roteiro fraco diante de um rico material, não há consistência na história que produza um ótimo filme familiar. Pena para Jolie, que entra em cena com vontade de fazer um grande desempenho, mas não encontra o ambiente necessário ao desejo de ser a Malévola definitiva.

  • Crítica | Esquadrão Classe A

    Crítica | Esquadrão Classe A

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    A introdução dos personagens é perfeita: o Coronel (Neeson), Bosco B. A. (Quinto Jackson), Cara de Pau (Cooper), Murdock (Sharlto Copley), além do furgão é claro – o panteão de personagens é muito bem reprisado e as consequências de ação iniciais são eletrizantes e já mostram a que vieram. A perseguição com helicópteros é muito bem filmada – até o anúncio dos créditos iniciais ambienta o espectador no mundo do A-Team, a aventura a ser mostrada é despretensiosa, escapista e descompromissada com qualquer mensagem mais profunda, o tom leve do seriado oitentista é muitíssimo bem atualizado por Joe Carnahan e seu elenco, muito bem encaixado, peça por peça. Esquadrão Classe A reitera todo o conteúdo humorístico da série original com uma competente aura moderna em torno de si.

    Neeson faz um Hannibbal Smith parecido com o original, mas com um acréscimo de carisma tipico seu, ainda que sua especialização em filmes de ação não o faça repetir o mesmo estereótipo em filmes diferentes. Ele consegue passar a sensação de liderança que um mentor precisa ter, ao mesmo tempo que concentra em si o protagonismo da história – sua liderança se destaca ainda mais em meio a crise que o grupo passa os valores de unidade, amizade e companheirismo são as sensações focadas na fita de Carnahan. O resgate dos membros da equipe é tão eletrizante quanto as outras cenas de ação. A metalinguagem presente na fuga do Capitão Murdock é emocionante para os fãs da série original. As piadas internas, os medos do quarteto a ambientação, tudo é muitíssimo respeitado.

    Até se ensaia uma reflexão mais profunda relativa a real necessidade de violência na resolução de conflitos e a natureza assassina dos homens fardados, mas o enfoque real é no clima de matinê, nos feitos incríveis e situações fantasiosas, com veículos que pesam toneladas transpassando o ar como se fossem feitos de papel ou repousando sobre o mar acompanhados de um para-quedas a tira-colo.

    É lastimável que o filme não tenha ido bem de bilheteria nos Estados Unidos, o que praticamente inviabiliza uma continuação – mesmo com o gancho presente nos últimos minutos de ecrã. As referências, a reverência, as homenagens, tudo que é registrado pela lente de Joe Carnahan é absolutamente respeitoso – especialmente a cena pós-créditos – e atualizado para o novo público amante de filmes de ação, acostumado às fitas com Vin Diesel, Jason Statham e Dwayne Johnsonn. O diretor soube revitalizar o tema sem feri-lo ao ponto de torná-lo indistinguível do original, e o perigo era grande, vide o que ocorreu com a franquia Missão Impossível – e talvez o “erro” cometido por ele para que o filme não fosse sucesso de público, seja o de não incluir em sua fórmula os clichês teen típicos de seus concorrentes blockbusters de 2010, mas Carnahan prosseguiria realizando bons filmes como A Perseguição, além de estar cotado para dirigir o filme baseado no quadrinho de Mark Millar, Nemesis.

  • Crítica | Elysium

    Crítica | Elysium

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    Neil Blomkamp parece não querer sair do gueto. O cineasta utiliza uma ambientação bastante parecida com a de Distrito 9, especialmente no aspecto de favela, só que de uma forma mais “globalizada”, pois a comunidade carente em Elysium não se restringe somente a periferia de Joanesburgo, mas sim ao mundo todo, transformando a “aldeia global” num autêntico puxadinho sem reboco.

    A premissa tem em sua base um conceito bastante semelhante ao mostrado por Phillip K. Dick em Caçador de Androides – e que foi suprimido no filme de Ridley Scott. Como no conto, os ricos e aptos vivem fora da Terra, por esta não comportar mais a capacidade de estabelecer-se uma vida plena e saudável. A trama se passa em 2154 num futuro sujo e pessimista. A comparação visual com Mad Max, e seus filhotes bastardos, é inevitável, cenários desertos em meio ao que antes eram grandes metrópoles – e tal característica até ajuda a gerar empatia pela história contada.

    Polícia automatizada, agente da condicional robótico e repressor, sarcasmo como ato digno de punição, tudo isso para demonstrar a decadência da humanidade e também a inexistente compreensão às necessidades do próximo. A empatia está fora de cogitação, há uma valorização enorme do bem-estar puramente egoísta, sem importar com o social. A sociedade retratada sofre um controle coercitivo e de mão de ferro, que protege os ricos e estabelece normas rígidas aos pobres, punindo severamente os que não as cumprem. Temas como o combate à imigração, trabalho em regime semi-escravo e sem as mínimas condições de saneamento também são ventilados.

    O roteiro de Blomkamp é sem rodeios, pontual e preciso, isso é bom até certo ponto, até que as resoluções tornem-se coisas rápidas e fáceis de resolver, algumas até piegas. A construção dos personagens deixa a desejar. A atuação de Matt Damon é equivocada, mal dá para acreditar em seu drama e seu esforço dentro do emprego para fugir da marginalidade. Max, seu personagem, não parece o bandido arrependido que o script exige, e a ligação dele com Frey – Alice Braga na atuação mais lúcida do filme – soa forçada, assim como o laço afetivo automático de Max pela filha doente de seu antigo amor. Wagner Moura está histriônico e caricato, mas não compromete. Jodie Foster faz a encarnação da mulher autoritária, fria e insensível, mas que ao final parece resgatar um pouco de sua humanidade, recusando a ajuda da enfermeira, como que se punindo por seus atos errados. O filme trabalha com arquétipos demais, e o tema exigia algo mais profundo. O destaque vai mesmo para Kruger – Sharlto Copley – que faz um Chuck Norris rejuvenescido, que é até carismático, mas em momento justifica a virada que ele deu no final.

    Da terça parte para o final, o roteiro passa a apresentar um sem número de coincidências desnecessárias. Lembra muito os erros de Prometheus, com um ótimo início e um final aquém das expectativas, mas não tão desastroso quanto o primeiro. Elysium tem um amontoado de coisas boas, mas que  peca pela alta previsibilidade, problema que passa longe do excelente trabalho anterior do realizador.