Na entrevista coletiva dada em São Paulo, semanas antes da estreia mundial de Logan, o ator e produtor Hugh Jackman comentou que o longa em concepção não deveria e não tinha a intenção de ser visto como um “filme de super heróis”, ou um “filme baseado em quadrinhos”, mas sim visto como um grande filme pura e simplesmente.
Como já dito aqui no Vortex, filme de super-herói não se reflete como um gênero. Não há regras que definem seus códigos e temas, como é com o drama e a ação. Seria então um gênero tautológico. Dessa forma seria algo oscilante mesmo, podendo sobreviver desde que mudasse rapidamente quais seus temas e abordagens. X-Men iniciou como uma sci-fi meio perdida no tempo, acrescentando as roupas de couro — vistas também em Matrix e Equilibrium, demonstrando a tendência de olhar para seres extraordinários de maneira mais sóbria. Na mesma coletiva Jackman lembrou-se que em X-Men o diretor Bryan Singer proibiu quadrinhos no set, pois gostaria que seu filme fosse uma adaptação relevante, algo além de uma cópia filmada. Existe um grande acerto nisso, como o Vortex já comentou no artigo sobre adaptações para o cinema. O filme não só não precisa, como não deve ser tão fiel assim ao seu material original. O termo-chave se chama “Especificidade do Meio”, que diz que cada mídia tem possibilidades de expressão particulares, e que assim funcionam a partir de fatores técnicos e artísticos.
Mas claro, há espaço para tudo. A grande fazedora de filmes de super heróis atualmente, Marvel Studios, mesmo entendeu isso, e deu a oportunidade de que seus filmes tivessem gêneros distintos entre si. A parte da discussão sobre a fórmula Marvel ser um tanto previsível, ao menos a sensação é de conseguir extrair algo diferente do mesmo template a partir dos signos que cada gênero traz consigo, e assim atribuir alguma cor aos seus filmes. O thriller de espionagem que foi Capitão América e o Soldado Invernal, o filme de assalto que ao menos em algum nível conseguiu sair de Homem-Formiga, a paródia de Homem de Ferro 3. Sendo assim, basicamente nenhum filme de super herói precisa parecer com um, não precisa ter o mesmo gosto, apenas precisa despertar sensações que ressoem no material original.
Não é, então, vergonha de ser colorido ou heroico. É apenas uma abordagem cabível em uma mídia que precisa interpretar aquele personagem de maneira um pouco mais robusta e condizente com a imagem que forma. Logan é, como disse o próprio diretor James Mangold, talvez o herói menos vaidoso que existe, sendo assim, se não for por motivos táticos (Como em X-Men 1, onde é insinuado que sua roupa alivia a dor da projeção das garras), ele seria o último personagem à vestir um uniforme amarelo e representar uma bandeira, chamar atenção pra si e servir como exemplo de algo. Seu heroísmo não heroico é aparentemente a melhor abordagem para o cinema, e a que vem se mostrando funcional até hoje, pois é condizente com o personagem.
Logan então reflete muito do personagem dos quadrinhos, sua essência a motivações. A falta de uma memória e de momentos felizes que com ela vinham, bem como incerteza sobre o que é e o quem é, fazem de Logan um personagem mais interessante do que Wolverine e sua brutalidade. Um personagem híbrido e multifacetado que precisa constantemente escolher sobre como irá agir, e controlar aquilo que sente que não deve entregar ao mundo. Neste ponto, o conceito de família é extremamente relevante para sua personalidade, tanto quando à rejeita quanto quando à aceita. A família é aquilo que lhe dá o eixo, motivações, perspectiva de futuro e de ação.
Leia nossa crítica de Logan, em cartaz nos cinemas.
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Texto de autoria de Marcos Paulo Oliveira.
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