Tag: Andy Garcia

  • Crítica | Infiltrado

    Crítica | Infiltrado

    O brucutu gente fina Jason Statham e o diretor Guy Ritchie são parceiros de longa data. Os dois se apresentaram juntos para o mundo com o já clássico Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes, continuaram a jornada rumo ao estrelato com o sensacional Snatch: Porcos e Diamantes e estiveram juntos no fracasso com o enfadonho Revólver. Após longo hiato, a dupla volta a se reunir em Infiltrado, filme que apesar de eficiente, é irregular tal como as carreiras de Statham e Ricthie.

    Na trama de Infiltrado, Harry (Statham) começa a trabalhar em uma empresa de carros-fortes que movimenta grandes quantidades de dinheiro. Ao neutralizar uma tentativa de assalto de maneira quase sobre-humana, Harry desperta a atenção de seus colegas de trabalho, que passam a suspeitar das suas reais intenções no emprego.

    O longa difere totalmente do restante da filmografia de Ritchie. Sempre afeito a uma assinatura visual estilizada, aqui o diretor filma de uma maneira tradicional, com planos mais estáticos e longos até mesmo em certas sequências de ação. A sobriedade também se faz presente no primeiro terço da película, onde as apresentações dos personagens são feitas. Tudo vai sendo muito bem estabelecido e a narrativa, apesar de um pouco mais lenta que o normal por ser dividida em episódios, flui bem. Entretanto, o filme começa a apresentar problemas ao transitar entre núcleos de personagens e promover idas e vindas no tempo, tornando o filme arrastado e provocando cansaço no espectador. Ainda assim, quando entra na sua parte final consegue recuperar o fôlego, faz uma grande costura de eventos que ocorrem simultaneamente sem deixar a bola cair e apresenta um desfecho eletrizante.

    Se durante toda a filmografia de Ritchie o humor foi uma presença constante, aqui temos um filme sombrio, onde os diálogos são bastante secos, mas longe de serem monótonos. Há apenas um problema de excesso de exposição no momento onde a narrativa fica bastante truncada. Statham compõe um personagem bastante contido em relação aos seus papéis tradicionais, deixando transparecer desde o início que estamos lidando com alguém que calcula todos os seus movimentos, tal e qual um clássico herói de faroeste, gênero de filme que é uma clara influência durante todo o tempo de projeção de Infiltrado, seja na fotografia de Alan Stewart, trilha de Christopher Benstead ou até mesmo nos figurinos e direção de arte.

    A reedição da parceria Statham/Ritchie rende um thriller eficiente, ainda que irregular. Caso o diretor tivesse mantido o nível de qualidade durante toda a película, com certeza Infiltrado estaria entre os melhores de sua filmografia.

  • VortCast 103 | Ghostbusters: Mais Além

    VortCast 103 | Ghostbusters: Mais Além

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira | @flaviopvieira) e Filipe Pereira (@filipepereiral | @filipepereirareal)  se reúnem para um bate-papo sobre a série de filmes Os Caças-Fantasmas, ou melhor, Ghostbusters, em especial sobre o filme mais recente. Curiosidades dos bastidores da franquia, as polêmicas do filme de 2016 e os principais acertos do novo longa.

    Duração: 64 min.
    Edição:
     Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

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  • Os Bastidores de Os Intocáveis

    Os Bastidores de Os Intocáveis

    A infeliz morte de Sir Sean Connery, já do alto de seus 90 anos reacendeu em seus fãs do ator a vontade de revisitar e entender sua filmografia. Certamente entre esses, um dos mais vistos e analisados foi Os Intocáveis, filme de 1987 dirigido por Brian De Palma, que se tratava de um refilmagem do seriado homônimo dos anos 1950 envolvendo um grupo de elite que desmantelaria o cartel de Al Capone. Para entender o filme e o fenômeno, é preciso mergulhar nos materiais adicionais, bastidores e o contexto da época.

    Em documentário de making off, De Palma aborda um pouco do insucesso financeiro de seus últimos dois filmes Quem Tudo Quer, Tudo Pode e Dublê de Corpo, então, quando o roteiro de David Mamet via Paramount caiu em suas mãos, ele resolveu tentar desenvolve-lo.  Mamet se baseou na série homônima, chamada aqui também de Os Intocáveis, iniciada em 1959. De Palma não gostava da série, e ele só aceitou participar após Art Linson garantir que ele poderia fazer o que quisesse, e basicamente, o filme aborda o primeiro capítulo do programa, que consiste na prisão de Al Capone.

    Mamet era um grande nome na época, um escritor promissor, responsável pelo roteiro de Jogo de Emoções e anos depois faria Mera Coincidência e Hannibal. Com o diretor escolhido, foi decidido reduzir o número do esquadrão de elite para quatro (eram oito, a contar com Eliot Ness). Alguns desses personagens foram até desmembrados, divididos em dois ou mais como o veterano ex-fora-da-lei Joe Fuselli, que reúne em si elementos tanto de Malone como de Stone/Pettri, seja pelo fato de ter origem italiana como o personagem de Andy Garcia, ou de ser uma espécie de mentor que rapidamente perece, como o personagem de Connery.

    Kevin Costner nem sempre foi a primeira opção para o papel de herói, um dos nomes pensados foi Mel Gibson, que não pôde por questões de agenda. O intuito do estúdio era encontrar um rosto conhecido, como era também o desejo de que Michael Corleone em O Poderoso Chefão fosse alguém mais experimentado que Al Pacino, e em ambos os casos, a escolha dos diretores foi correta, Costner consegue transparecer uma mistura de ingenuidade da luta pelo bem a qualquer custo, com uma crescente malícia de quem aprende a agir nas ruas.

    Charle Martin Smith foi escolhido por conta de seu papel em Loucuras de Verão, de George Lucas. Seu Oscar Wallace é baseado num sujeito real, Frank Wilson, que também era contador, mas ficava longe da ação, já Garcia conseguiu por conta de Morrer Mil Vezes de Hal Ashby, onde faz um vilão. Para De Palma e os outros produtores, Connery era a única pessoa que caberia na função de mentor e conhecedor das ruas de Chicago, e sua dedicação foi total, inclusive na sua cena de morte, que foi a primeira em que ele teve que lidar com sangue falso.

    Limitações orçamentarias fizeram a produção pensar em Bob Hoskins para o papel do vilão, até De Palma já havia se conformado, de certa forma. A insistência em Robert De Niro como alvo primário ocorreu mesmo com o alto custo de seu salário e com a problemática dele só ter duas semanas para gravar. Foi De Niro que viabilizou o visual de seu personagem, usando a mesma equipe que tratou do envelhecimento de seu personagem em Era Uma Vez na América de Sergio Leone. De Palma reclamava que ele não expressava muitas emoções em seu personagem, e De Niro afirmava que aquilo era o ideal e mais condizente com Capone. As sutilezas só foram percebidas na pós-produção, onde ficou claro que o ator tinha uma intimidade com a câmera, e nem mesmo um diretor experimentado como De Palma percebeu isso de imediato.

    Stephen H. Burum, responsável pela fotografia resolver filmar em Cinemascope. A decisão por esse artifício se deu após ele pesquisar muito sobre a época e como a cultura dos anos trinta e quarenta era traduzida ao público. Foi dele a ideia de repetir muito os carros nas ruas a fim de expressar em tela uma tendência de consumo da época. Outra grande ideia foi o uso da lente angular na cena da igreja, onde as mãos de Connery e Costner parecem maiores, aumentando o simbolismo de que são seus atos que tornam Chicago um lugar mais limpo e justo, e não havia lugar melhor para isso do que utilizar uma igreja como cenário.

    Sobre a cena da morte do contador Wallace, Martin Smith fala que De Palma optou por não colocar muito sangue, em respeito a figura frágil e correta do personagem, exageros não seriam bem-vindos. A composição visual em torno de Capone é precisa e quase divinal, a escolha por sua cena de abertura ser filmada de cima com pessoas o servindo, fazendo as unhas, barbeando ou meramente entrevistando-o já dá noção de sua imponência e onipotência, ele não era o grande “empresário” de Chicago, mas o Deus da cidade. Havia uma cena cortada, onde repetiram a cena do início, com Capone sendo barbeado, e quando saísse do Plano Detalhe, se perceberia ele preso, mas foi retirada do filme na última hora, pois a escolha foi a de valorizar os policiais, os reais intocáveis, os que tiveram coragem de enfrentar o chefão do crime organizado de Chicago.

    Com o desfecho de Os Intocáveis se abriu a possibilidade para mais aventuras depois da queda de Capone, mas o filme praticamente reduziu essa chance a zero no cinema, afinal sem o Malone de Connery tudo seria bem mais melancólico e depressivo, e é fato que o cinema hollywoodiano tem dificuldade em não transformar sucessos em franquias, e ainda bem que este não teve novas sequencias, pois este trabalho do diretor está entre os mais elogiados, ao lado de grandes atores e em uma sinergia poucas vezes vistas no cinema.

  • Crítica | O Poderoso Chefão: Desfecho – A Morte de Michael Corleone

    Crítica | O Poderoso Chefão: Desfecho – A Morte de Michael Corleone

    Trinta anos passaram desde o término da franquia O Poderoso Chefão, e por mais que Francis Ford Coppola tenha sido muito criticado por fazer O Poderoso Chefão III, principalmente pela participação de sua filha como uma das protagonistas, a história do filme tem uma participação maior do escritor Mario Puzo. Qual não foi a surpresa de fãs e admiradores quando o diretor afirmou que estava reeditando o desfecho da série em uma reedição com duração modificada e diferenças narrativas diversas do material original.

    Muito se falou ao longo dos anos a respeito da possibilidade de um novo filme. No material extra da trilogia, o cineasta afirmava sua vontade de contar a história de Vincent Mancini/Corleone (Andy Garcia) e do jovem Sonny. Esse projeto jamais saiu do papel, em especial por conta do falecimento de Mario Puzo em 1999, e o corte tem claramente um tom de homenagem póstuma ao antigo escritor e roteirista. 

    Em O Poderoso Chefão: Desfecho – A Morte de Michael Corleone a primeira coisa que notamos é a diminuição da participação de Mary (Sofia Coppola), filha mais nova de Michael e Kay. Além disso, a direção narrativa é voltada para a questão da Immobiliare, empresa europeia que passaria para as mãos de Michael e sua família. O enfoque nos negócios e acordos com a igreja representada pelo padre banqueiro Arcebispo Gilday (Donal Donnelly) é mais do que acertada.

    O foco na família é diferente, ainda que permaneça da mesma forma a cena onde Mike busca seu sobrinho bastardo para participar da foto familiar – em atenção a mesma questão de Don Vito se recusar a fotografar sem a presença de Michael, em O Poderoso Chefão – aqui ela parece mais significativa, por conta da edição que prioriza a busca do padrinho por um sucessor também nos negócios espúrios. Por mais que as promessas de abandono da vida criminosa que ele fez a sua ex-esposa, o que resta (e sobressai) é a ganância e a sede pelo poder. Michael é hipócrita ao buscar um distanciamento do submundo do crime, mas não descansa enquanto não for o homem mais poderoso em seu meio, e é letárgico até na escolha de um sucessor para essa função.

    As outras personagens da família são bem enquadradas. Connie é mostrada como a matrona manipuladora, com uma máscara ainda mais venenosa do que na versão original, e Talia Shire consegue ser ainda mais decisiva aqui, mesmo com o tempo de tela reduzido. A mensagem que fica é de que o capital corrompe tudo, manifestado pela figura mítica (e com referências bíblicas) de Mamon, que chega inclusive a determinar os rumos da Santa Igreja.

    No seriado Roma, a suposta epilepsia de Julio Cesar (Ciran Hindis) é mantida em segredo para que não seja considerada um sinal de fraqueza junto aos seus inimigos. Michael aqui tem uma dinâmica semelhante, atormentado por fantasmas e demônios, o protagonista tem delírios por conta da diabetes e ataques de pânico. A ideia de crepúsculo é bem trabalhada, com o símbolo decadente de virilidade sendo enquadrado e desglamourizado. Se Coppola era acusado antes de tornar os mafiosos figuras simpáticas, nessa nova versão somos apresentados a decadência.

    O Poderoso Chefão: Desfecho – A Morte de Michael Corleone possui mais camadas e subtextos do que aquela de 1990, e ainda lida bem com o final de trajetória melancólica de um homem e um império. Repleto de equilíbrio, menos vaidade e um bom louvor aos textos do mestre Mario Puzo.

  • Crítica | Os Intocáveis

    Crítica | Os Intocáveis

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    Filmado em 1987, Os Intocáveis conta com um elenco fabuloso, trilha belíssima, ótima fotografia e uma direção primorosa. Um dos maiores filmes de máfia que retrata o período da lei seca em Chicago.

    Apesar de ser um diretor odiado por muitos, é inconteste a preciosidade de Brian De Palma nesse trabalho. A cidade de Chicago é reconstruída maravilhosamente, a fotografia é embasbacante. E o que falar sobre seu trabalho com as câmeras? De Palma transmite sensações de alegria e tensão em instantes, e conseguiu atuações fantásticas de todo o elenco.

    A história se passa em Chicago nos anos 30, epóca da lei seca. Eliot Ness (Kevin Costner) é um agente federal encarregado de capturar o gângster Al Capone (Robert De Niro), mas suas tentativas são sempre pífias, graças também a corrupção existente dentro da polícia. Após ser humilhado pelos jornais por suas frustradas apreensões, Ness reúne um pequeno grupo de homens confiáveis e incorruptíveis para realizar a tarefa.

    Jim Malone (Sean Connery) é o mentor de Ness, um experiente policial que se junta ao grupo disposto à ajudá-lo. George Stone (Andy Garcia) é um italiano que acaba de ingressar na Academia e por último, Oscar Wallace (Charles Smith), um contador responsável por analisar se Al Capone vinha omitindo informações financeiras em seu imposto de renda.

    As atuações são fantásticas. De Niro rouba a cena, interpretando Al Capone cheio de sarcasmo e crueldade, ele e Sean Connery dão um show todas as vezes que aparecem em cena. Kevin Costner fez um ótimo papel, demonstrando as fragilidades e humanidade do seu personagem, isso em um tempo onde ainda tinha uma grande carreira. Charles Smith serve como peça cômica na históra e finalizando com Andy Garcia ainda no início de carreira, mas mostrando a que veio.

    Ennio Morricone imortalizou o filme com sua belíssima trilha, conseguindo transpor o que cada imagem exigia de maneira impecável. De Palma abusa de seu trabalho com as câmeras, conseguindo enquadramentos e ângulos inovadores, como na sequência inicial, com uma tomada panorâmica da sala onde está Al Capone se barbeando, e a câmera vai se aproximando lentamento até focar no rosto de De Niro, ou mesmo, na clássica cena da escadaria da estação, onde um carrinho de bebê desce escada abaixo durante o tiroteio, tudo isso filmado em câmera lenta e fazendo homenagem ao “O Encouraçado Potenkim”.

    Até hoje não entendo como Brian De Palma não foi condecorado pela Academia por essa obra-prima, o que é uma pena, o filme é extremamente bem dirigido, o roteiro de David Mamet é muito bom, além de contar com um grande elenco, todos trabalhando muito bem. Para quem ainda não conhece, alugue, compre, roube, só não deixe de conferir.