Tag: Scott Eastwood

  • Crítica | Infiltrado

    Crítica | Infiltrado

    O brucutu gente fina Jason Statham e o diretor Guy Ritchie são parceiros de longa data. Os dois se apresentaram juntos para o mundo com o já clássico Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes, continuaram a jornada rumo ao estrelato com o sensacional Snatch: Porcos e Diamantes e estiveram juntos no fracasso com o enfadonho Revólver. Após longo hiato, a dupla volta a se reunir em Infiltrado, filme que apesar de eficiente, é irregular tal como as carreiras de Statham e Ricthie.

    Na trama de Infiltrado, Harry (Statham) começa a trabalhar em uma empresa de carros-fortes que movimenta grandes quantidades de dinheiro. Ao neutralizar uma tentativa de assalto de maneira quase sobre-humana, Harry desperta a atenção de seus colegas de trabalho, que passam a suspeitar das suas reais intenções no emprego.

    O longa difere totalmente do restante da filmografia de Ritchie. Sempre afeito a uma assinatura visual estilizada, aqui o diretor filma de uma maneira tradicional, com planos mais estáticos e longos até mesmo em certas sequências de ação. A sobriedade também se faz presente no primeiro terço da película, onde as apresentações dos personagens são feitas. Tudo vai sendo muito bem estabelecido e a narrativa, apesar de um pouco mais lenta que o normal por ser dividida em episódios, flui bem. Entretanto, o filme começa a apresentar problemas ao transitar entre núcleos de personagens e promover idas e vindas no tempo, tornando o filme arrastado e provocando cansaço no espectador. Ainda assim, quando entra na sua parte final consegue recuperar o fôlego, faz uma grande costura de eventos que ocorrem simultaneamente sem deixar a bola cair e apresenta um desfecho eletrizante.

    Se durante toda a filmografia de Ritchie o humor foi uma presença constante, aqui temos um filme sombrio, onde os diálogos são bastante secos, mas longe de serem monótonos. Há apenas um problema de excesso de exposição no momento onde a narrativa fica bastante truncada. Statham compõe um personagem bastante contido em relação aos seus papéis tradicionais, deixando transparecer desde o início que estamos lidando com alguém que calcula todos os seus movimentos, tal e qual um clássico herói de faroeste, gênero de filme que é uma clara influência durante todo o tempo de projeção de Infiltrado, seja na fotografia de Alan Stewart, trilha de Christopher Benstead ou até mesmo nos figurinos e direção de arte.

    A reedição da parceria Statham/Ritchie rende um thriller eficiente, ainda que irregular. Caso o diretor tivesse mantido o nível de qualidade durante toda a película, com certeza Infiltrado estaria entre os melhores de sua filmografia.

  • Crítica | Círculo De Fogo: A Revolta

    Crítica | Círculo De Fogo: A Revolta

    Guillermo Del Toro fez um filme que dividiu opiniões em 2013. Circulo de Fogo colocava Kaijus (monstros gigantes) e Jaegers (robôs enorme e armados) para guerrear tal qual os animes e tokusatsus, em um longa repleto de coincidências e clichês, e que sofreu com uma dura recepção da crítica. Por parte do público, a recepção foi boa fora do mercado caseiro, em especial na Ásia, fato que explica a quantidade enorme de personagens orientais na continuação, Círculo de Fogo: A Revolta, e curiosamente, esse é um filme um pouco melhor resolvido que o primeiro.

    Steven S. DeKnight estréia na direção de longas, e é mais conhecido por ter sido o criador do seriado Spartacus, do canal Starz. A história contada nesse segundo capítulo parte do personagem Jake Pentecost, vivido pelo astro em ascensão John Boyega, que é filho do Pentecost original, interpretado por sua vez por Idris Elba no primeiro filme. A partir de sua narração, descobrimos sua natureza revoltosa, agravada pela morte do pai e a negação do destino de herói que recairia sobre si graças a paternidade. Além disso, dez anos após os eventos do primeiro longa, a guerra acabou e o militarismo só faz sentido para prevenção. Jake não quer ser um piloto, apesar de seu claro talento, e infelizmente esses bons conceitos são logo deixados de lado, para expor mais uma história repleta de coincidências.

    É curioso como não há preocupação nenhuma dos heróis em preservar as cidades, as máquinas de combate abrem espadas, chicotes e armas com maça passando por  prédios como se esses fossem de papel. Nem mesmo o escapismo explica algumas licenças que o filme toma, fazendo-o parecer muito com O Homem de Aço, de Zack Snyder, na coincidência de destruição em massa por parte dos heróis.

    Há uma tentativa de inversão de expectativas, um ensaio para um plot twist, envolvendo um dos personagens antigos, mas esse fato curiosamente acontece muito cedo, fato que mata boa parte do impacto que teria se fosse guardada mais para o desfecho do filme. Além disso, as pistas deixadas pelo roteiro fazem a revelação não ter grande força.

    Há uma desvalorização da mitologia, uma vez que no filme, praticamente todos os personagens tem vocação para pilotar os jaegers, mesmo que se martele no texto a necessidade de uma ligação emocional forte entre controlador e máquina. Isso faz com que os detalhes e identidades dos personagens sejam absolutamente descartáveis, no final, tudo que não envolve as lutas é uma perda de tempo tremenda.

    Há uma cena perto do final que faz lembrar muito os filmes mais antigos de Michael Bay, em especial Armageddon e Pearl Harbor, envolvendo a coprotagonista Amara Namani (Cailee Spaeny) com a câmera rodando em círculos e a personagem suada e cheia de óleo pelo corpo. DeKnight parece enxergar em Bay uma referencia em matéria de produto de ação, sem receio de demonstrar essa reverência.

    Circulo de Fogo: A Revolta é ligeiramente melhor construído textualmente que o primeiro filme, mas é por muito pouco mesmo, seus pecados moram nos personagens periféricos novos, que possuem ainda menos carisma que os do filme anterior, ainda assim o personagem de Boyega faz diferença, mesmo que esteja lá só para amenizar a sensação do espectador em assistir mais um filme de ação pueril e com pouco a acrescentar.

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  • Crítica | Uma Longa Jornada

    Crítica | Uma Longa Jornada

    cartaz

    Um cowboy com flores nas mãos (filho de Clint Eastwood, dos faroestes brutos de Sérgio Leone). Mesmo no filme, todos debocham da suavidade de uma postura tão masculina devido a quebra de expectativa pelo buquê que carrega. Qual o destino do objeto, ninguém se pergunta ao longo da caminhada que, logo no início de Uma Longa Jornada resume o espírito do filme. E muito, tomando cuidado para ser tão fiel a obra quanto ao público, acostumado aos romances aguados e transgressores de um escritor mais adorado e famoso no cinema que John Green, de A Culpa é das Estrelas. Visões assexuadas, estilo Disney anos 50, e livres de quaisquer responsabilidade com a realidade que filmes como Superbad ou Juno possam carregar – ou não. Livros, filmes ou peças como Cinquenta Tons de Cinza, o suspense O Nevoeiro, ou esse, traduzido a partir do livro de Nicholas Sparks, é tudo uma questão de escolher o público e como defender esse público mostrando só o que já leram antes, esperando uma história que evoca a princesa e o príncipe em cada um.

    Todo o “mais” injetado para o livro fazer sentido no Cinema é audácia, é coragem de artista. Mas surpreendente, mesmo, é sentir quando o óbvio e o previsível conseguem ajudar ao invés de atrapalhar uma história semelhante a Romeu e Julieta, ainda que autossuficiente e bem realizada. Sparks é o tipo de escritor que gosta (ou apela a) narrativa epistolar, ou seja, uma trama costurada por cartas, de relato em relato. Aqui não é diferente, remetendo ao passado e a possibilidades do tempo presente, com reviravoltas e camadas sensíveis que não desviam nosso foco do casal principal (tipo o de Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, duas pelúcias). Só que o filme perde a chance de discutir e apenas sugere, pincelando de leve, leve até demais, os valores de um relacionamento ontem e hoje, sem reflexão a partir disso – o que tampouco me parece seguro afirmar que o livro provoque, aliás. Revisões podem valer a pena!

    David O. Russell é um bobo. O cineasta quer ser Martin Scorsese esquecendo de ser ele mesmo, todo mundo sabe, só que em O Lado Bom da Vida, também oriundo dos livros e alfarrábios, registra timidamente o que Uma Longa Jornada tenta, e quase consegue: A dificuldade de expressar os sentimentos num mundo muito ocupado pra assuntos sentimentais. Se no filme de 2012 isso se dá devido ao esforço de vencer uma competição de dança, e a intensidade da vida dos personagens, aqui é o desafio de convencer que uma relação inocente, em tempos líquidos e instáveis, de acordo com Zygmunt Bauman e outros pensadores, pode dar certo. Será? Que o filme se orgulha de ser inofensivo é evidente, e é justamente nisso, nos sorrisos iluminados pela fogueira na floresta num primeiro encontro, que a história tenta provar que vale a pena amar. Lindo, né? Que garota iria pra uma floresta a noite num primeiro encontro? É o caráter do nosso cowboy que explica o porquê. Mais lindo ainda, não? (Suspiros, por favor)

    E nada de trilha-sonora para pintar o quadro; aqui, a música é só a moldura – complemento. No fim, o filme só e orgulhosamente nos quer passar a sensação do primeiro beijo, aquele que a gente não esquece depois de mil lábios contra os nossos. Como se não bastasse, durante esse frescor, quer contar uma história da forma mais digna possível sem ofender quem já possui uma inteligência e sagacidade emocional mais refinada (Se 2 horas são necessárias pra isso, já é outra história). Uma Longa Jornada não para saber se o casal vai acabar junto, mas o que vai ocorrer antes de acabarem juntos, o que impede que nosso interesse pela história seja linear e não sofra digressões.

    Um caminho extenso para quando só nos bastava sentar na praia e imaginar um futuro lenitivo aos males do mundo, para também nos orgulharmos de fotografar o que nos conduz ao bem-estar e descrever os momentos no diário, ou postá-los no Instagram, ostentando em ambos os casos nossa capacidade de amar e sermos amados. Um dos filmes Beatles de 2015, de graça inesperada.

  • Crítica | O Massacre da Serra Elétrica 3D: A Lenda Continua

    Crítica | O Massacre da Serra Elétrica 3D: A Lenda Continua

    texas chainsaw 3D

    Dez anos após a controversa refilmagem de Marcus Nispel, foi lançado mais um reboot da saga iniciada em 1974 pelo mestre do terror Tobe Hooper. O novo episódio da franquia é tão reverencial ao filme clássico que começa com uma sequência de três minutos relembrando os fatos do episódio primordial, e pretensamente seguiria os fatos ocorridos após os eventos que envolveram Sally Hardest e seu grupo de amigos.

    A ideia parece estúpida por muitos motivos, entre eles a distância de quase 40 anos entre uma versão e outra. Outro possível problema é a audácia de tentar retomar algo do ponto em que um grande realizador parou. O maior dos riscos não era fazer um filme sem competência, até porque o próprio criador da franquia tratou de fazer isso ao realizar uma continuação, em 1986, com tons de comédia. O perigo real e imediato é que a fita seguiria mais uma falha tentativa de rever o conceito já tão saturado e laureado. O perigo se mostrou real, e a retomada veio de forma risível, fazendo referência às múltiplas versões realizadas, resgatando, inclusive, conceitos do filme de 2003.

    O baixo orçamento é notado já no início, com os tosquíssimos efeitos especiais em CGI, constituindo uma cena de incêndio de maior humor involuntário da história do cinema, digna das produções de Asylum e do canal Syfy. O elenco é liderado pela belíssima Alexandra Daddario (True Detective). Ela faz Heather Miller, uma adolescente que só descobre ser filha adotada após receber uma misteriosa correspondência afirmando que a vó, que sequer conhecia, faleceu.

    Após uma briga com seus pais, ela e um grupo de adolescentes resolve viajar pela bela paisagem texana em uma van, até que atropelam um viajante, dão carona a ele e repetem toda a jornada do roteiro manjado. Dona Verna Sawyer Carson deixa para sua amada e incógnita neta uma enorme propriedade, com uma gigantesca casa e um jardim de proporções dantescas. A mansão, localizada na extremidade do terreno, é repleta de passagens secretas, um campo inexplorado repleto de oportunidades para o caroneiro executar alguns furtos e ser castigado por seus maus atos. A primeira morte ocorre após mais de meia hora de exibição e a cena não exibe nenhum grafismo especial ou aura de suspense. Leatherface surge de forma previsível e não causa susto algum no espectador.

    A repaginação das cenas canônicas é feita de forma tosca, com bonecos ridículos e assassinatos sem o menor apelo visual. A direção de John Luessenhop é muito errática,  falha e relapsa. Seus planos de filmagem não são bem pensados e poderiam ser executados de inúmeras maneiras melhores. Nem mesmo as perseguições garantem um pouco de alento. As soluções encontradas pelo grupinho de heróis são estúpidas e sem lógica alguma. As mortes não são sequer lamentadas, visto o vazio completo que é o background dos protagonistas.

    No segundo terço do filme é mostrada uma sequência de perseguição no interior de um parque de diversões repleto de gente. Falar isto não faz jus ao absurdo e à pachorra da execução da cena. A situação só não é mais esdrúxula do que a investigação transmitida ao vivo via celular por um único policial, que sequer espera o reforço de seus colegas. O festival de bonecos mutilados no porão faz com que o 3D da fita torne-se ainda mais degradante e asqueroso, e esse aspecto não é graças ao gore, mas sim ao estilo paupérrimo de filmagem e ao registro pífio das ações.

    Leatherface é reduzido a um tacanho caipira, um imbecil de marca maior com a alcunha de Jebediah Sawyer. Deixa de lado a faceta de misterioso canibal, matricida e necrófilo para ser um mongol gigante, carente, sustentado pela tia idosa e que nas horas vagas pratica alguns assassinato para usar a pele de suas vítimas como peças do guarda-roupa.

    A situação fica ainda mais feia e calamitosa quando o remate se aproxima, com uma virada de roteiro que coloca os personagens numa rivalidade entre famílias. As ações decorridas apresentam referências a diversas franquias de terror, como Jogos Mortais, Halloween, Sexta-Feira 13. Se a ideia dos roteiristas era a de prestar homenagem a elas, a tentativa falhou miseravelmente.

    Os fatos que ocorrem nos últimos 15 minutos são tão mal arquitetados que parecem ter sido escolhidos por sorteio após sugestões dos piores contadores de história de todos os tempos. O vilão, construído para ser o diabo encarnado, é transformado em um zero à esquerda, tão digno de pena que faz com que a louca heroína se alie a ele, tudo em nome da sobrevivência e dos laços sanguíneos. Heather Miller se une ao mesmo sujeito que matou o seu namorado e seus amigos momentos antes. A condução que John Luessenhop dá ao seu filme faz com que a saudade de Marcus Nispel seja sentida, mesmo que sua versão do clássico tenha dividido opiniões. A incapacidade do cineasta responsável por esta versão de 2013 não conhece limites.

    O roteiro conseguiu o praticamente impossível feito de reunir a família Saywer em um doce e terno momento, seguido de uma bela mensagem vazia na qual é explicitado o legado da protagonista. Os fatos decorridos neste período conseguem ser mais absurdos que todo o conjunto de sandices anteriormente mostrado, pervertendo a máxima de que a ideia de realizar este filme era estúpida. Nada no filme se salva. As atuações são as piores possíveis. As gostosas atrizes miguelam até a semi-nudez. Todos os clichês possíveis de um filme de terror são executados e ainda se consegue a façanha de cometer gafes inéditas, como as mostradas nas cenas derradeiras. O débil roteiro ainda guarda uma cena pós-crédito inútil e dispensável. O Massacre da Serra Elétrica 3D está entre os já execráveis remakes de filmes de terror, o mais escuso da lista entre os mais recentes realizados, conseguindo superar e muitos os seus combalidos e abomináveis coirmãos.