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  • Crítica | O Massacre da Serra Elétrica 3D: A Lenda Continua

    Crítica | O Massacre da Serra Elétrica 3D: A Lenda Continua

    texas chainsaw 3D

    Dez anos após a controversa refilmagem de Marcus Nispel, foi lançado mais um reboot da saga iniciada em 1974 pelo mestre do terror Tobe Hooper. O novo episódio da franquia é tão reverencial ao filme clássico que começa com uma sequência de três minutos relembrando os fatos do episódio primordial, e pretensamente seguiria os fatos ocorridos após os eventos que envolveram Sally Hardest e seu grupo de amigos.

    A ideia parece estúpida por muitos motivos, entre eles a distância de quase 40 anos entre uma versão e outra. Outro possível problema é a audácia de tentar retomar algo do ponto em que um grande realizador parou. O maior dos riscos não era fazer um filme sem competência, até porque o próprio criador da franquia tratou de fazer isso ao realizar uma continuação, em 1986, com tons de comédia. O perigo real e imediato é que a fita seguiria mais uma falha tentativa de rever o conceito já tão saturado e laureado. O perigo se mostrou real, e a retomada veio de forma risível, fazendo referência às múltiplas versões realizadas, resgatando, inclusive, conceitos do filme de 2003.

    O baixo orçamento é notado já no início, com os tosquíssimos efeitos especiais em CGI, constituindo uma cena de incêndio de maior humor involuntário da história do cinema, digna das produções de Asylum e do canal Syfy. O elenco é liderado pela belíssima Alexandra Daddario (True Detective). Ela faz Heather Miller, uma adolescente que só descobre ser filha adotada após receber uma misteriosa correspondência afirmando que a vó, que sequer conhecia, faleceu.

    Após uma briga com seus pais, ela e um grupo de adolescentes resolve viajar pela bela paisagem texana em uma van, até que atropelam um viajante, dão carona a ele e repetem toda a jornada do roteiro manjado. Dona Verna Sawyer Carson deixa para sua amada e incógnita neta uma enorme propriedade, com uma gigantesca casa e um jardim de proporções dantescas. A mansão, localizada na extremidade do terreno, é repleta de passagens secretas, um campo inexplorado repleto de oportunidades para o caroneiro executar alguns furtos e ser castigado por seus maus atos. A primeira morte ocorre após mais de meia hora de exibição e a cena não exibe nenhum grafismo especial ou aura de suspense. Leatherface surge de forma previsível e não causa susto algum no espectador.

    A repaginação das cenas canônicas é feita de forma tosca, com bonecos ridículos e assassinatos sem o menor apelo visual. A direção de John Luessenhop é muito errática,  falha e relapsa. Seus planos de filmagem não são bem pensados e poderiam ser executados de inúmeras maneiras melhores. Nem mesmo as perseguições garantem um pouco de alento. As soluções encontradas pelo grupinho de heróis são estúpidas e sem lógica alguma. As mortes não são sequer lamentadas, visto o vazio completo que é o background dos protagonistas.

    No segundo terço do filme é mostrada uma sequência de perseguição no interior de um parque de diversões repleto de gente. Falar isto não faz jus ao absurdo e à pachorra da execução da cena. A situação só não é mais esdrúxula do que a investigação transmitida ao vivo via celular por um único policial, que sequer espera o reforço de seus colegas. O festival de bonecos mutilados no porão faz com que o 3D da fita torne-se ainda mais degradante e asqueroso, e esse aspecto não é graças ao gore, mas sim ao estilo paupérrimo de filmagem e ao registro pífio das ações.

    Leatherface é reduzido a um tacanho caipira, um imbecil de marca maior com a alcunha de Jebediah Sawyer. Deixa de lado a faceta de misterioso canibal, matricida e necrófilo para ser um mongol gigante, carente, sustentado pela tia idosa e que nas horas vagas pratica alguns assassinato para usar a pele de suas vítimas como peças do guarda-roupa.

    A situação fica ainda mais feia e calamitosa quando o remate se aproxima, com uma virada de roteiro que coloca os personagens numa rivalidade entre famílias. As ações decorridas apresentam referências a diversas franquias de terror, como Jogos Mortais, Halloween, Sexta-Feira 13. Se a ideia dos roteiristas era a de prestar homenagem a elas, a tentativa falhou miseravelmente.

    Os fatos que ocorrem nos últimos 15 minutos são tão mal arquitetados que parecem ter sido escolhidos por sorteio após sugestões dos piores contadores de história de todos os tempos. O vilão, construído para ser o diabo encarnado, é transformado em um zero à esquerda, tão digno de pena que faz com que a louca heroína se alie a ele, tudo em nome da sobrevivência e dos laços sanguíneos. Heather Miller se une ao mesmo sujeito que matou o seu namorado e seus amigos momentos antes. A condução que John Luessenhop dá ao seu filme faz com que a saudade de Marcus Nispel seja sentida, mesmo que sua versão do clássico tenha dividido opiniões. A incapacidade do cineasta responsável por esta versão de 2013 não conhece limites.

    O roteiro conseguiu o praticamente impossível feito de reunir a família Saywer em um doce e terno momento, seguido de uma bela mensagem vazia na qual é explicitado o legado da protagonista. Os fatos decorridos neste período conseguem ser mais absurdos que todo o conjunto de sandices anteriormente mostrado, pervertendo a máxima de que a ideia de realizar este filme era estúpida. Nada no filme se salva. As atuações são as piores possíveis. As gostosas atrizes miguelam até a semi-nudez. Todos os clichês possíveis de um filme de terror são executados e ainda se consegue a façanha de cometer gafes inéditas, como as mostradas nas cenas derradeiras. O débil roteiro ainda guarda uma cena pós-crédito inútil e dispensável. O Massacre da Serra Elétrica 3D está entre os já execráveis remakes de filmes de terror, o mais escuso da lista entre os mais recentes realizados, conseguindo superar e muitos os seus combalidos e abomináveis coirmãos.

  • Resenha | O Massacre da Serra Elétrica – Stefan Jaworzyn

    Resenha | O Massacre da Serra Elétrica – Stefan Jaworzyn

    Depois de estrearem com a novelização do clássico Os Gonnies, a Editora Darkside lançou no mercado a Coleção Dissecando para apresentar bastidores de clássicos filmes de terror. Até o momento, O Massacre da Serra Elétrica e Evil Dead foram publicados tanto no formato tradicional quanto em capa dura, evidenciando uma editora que também faz do seu acabamento um diferencial.

    O primeiro título da coleção Dissecando é dedicado a O Massacre da Serra Elétrica, um filme de baixo orçamento que modificou as estruturas das produções cinematográficas. A obra é assinada por Stefan Jaworzyn, editor de fanzines e de festivais de filmes de horror. Porém, é difícil legitimá-lo com um autor no sentido literal da palavra. Ao contrário da biografia da banda Black Sabbath, de Martin Popoff, também publicada pela editora, não há uma condução narrativa que ligue as histórias de cada filme com os depoimentos apresentados. Jaworzyn optou por realizar pequenas introduções em diversos capítulos e colocar em sequência justaposta os depoimentos dos envolvidos.

    Este estilo inusual  – que alguns poderiam considerar preguiçoso por parte do autor – faz a leitura ficar, a princípio, truncada até que o leitor se acostume com as diferentes vozes. No começo da edição, uma lista identifica a equipe que prestou depoimentos para cada filme.

    Antes do prefácio do livro, a edição brasileira explica que o filme foi traduzido erroneamente para o país, modificando a motosserra do original por uma serra elétrica, aparelho que precisaria de energia elétrica para funcionamento. Por questão de tradição, os editores optaram por utilizar a mesma expressão no decorrer do texto.

    O prefácio é assinado por Gunnar Hansen, primeiro ator a vestir a máscara de pele humana e segurar a serra elétrica, sendo, ainda hoje, reconhecido pelos fãs. Em seguida, um breve prelúdio explica o que o diretor Tobe Hopper produziu até a composição de O Massacre da Serra Elétrica.

    O ponto alto do livro centra-se nas histórias desta pequena grande produção. Mesmo sem uma linha narrativa, os depoimentos são coesos e postos em uma sequência que dialoga entre si. A história por trás de O Massacre é rica em informações e detalhes. Sua filmagem foi feita de maneira mambembe e a realização em grande parte deve-se aos investidores que, mesmo sem um roteiro nas mãos, viram uma ideia com muito potencial. O resultado conhecido do público é um filme de terror precursor. Além de recursos escassos, abriu espaço para que narrativas do estilo saíssem do nicho do gênero e fossem considerados grandes filmes assustadores. Mais de 50 páginas abordam este fenômeno, que, até a década de 2000, ainda era proibido integralmente em alguns países.

    Antes de apresentarem a segunda produção da saga Leatherface, um capítulo se dedica a biografar Toby Hopper e mencionar suas outras produções de sucesso, como Poltergeist – O Fenômeno, Pague Para Entrar, Reze Para Sair e outras obras que, por modificações dos estúdios, tiveram resultado aquém do esperado, caso de Força Sinistra, Invasores de Marte e outras produções recentes.

    Em cada parte dedicada a mais uma produção de Leatherface, encontramos um material rico em informações de bastidores, comentários e recepção do filme na época e em críticas contemporâneas.

    O livro originalmente termina em 2003, época em que a produção de um remake de O Massacre estava em pré-produção. Para deixar a leitura completa, os tradutores Antônio Timbau e Dalton Caudas produziram os capítulos posteriores sobre a refilmagem, uma prequel lançada em seguida, e a nova versão em terceira dimensão, que é continuação direta do filme original.

    Complementando o material, há um capítulo sobre Ed Gein, personagem que inspirou partes dessa obra e de outros clássicos do cinema, como Psicose; uma lista de documentários e outras produções associadas e as fichas de elenco, créditos, bibliografia selecionadas e links consultados.

    Se tais informações não fossem tão profundas, produzindo um material histórico, a não-narrativa do livro seria um dos problemas mais gritantes, já que o autor não sentiu a necessidade de enriquecer um material incrível conduzindo-o com propriedade.

    Mesmo que as sequências de depoimentos fujam do conceito tradicional de uma biografia, o livro é afiado e obrigatoriamente te incita a revisitar todos os capítulos da saga. Permite acompanhar, com uma visão mais aprofundada, as cenas consideradas difíceis e episódios que causaram vergonha em muitos por sua baixa qualidade técnica ou de roteiro.

    O bom conteúdo se destaca ainda mais por uma edição repleta de imagens e com um design e material gráfico excelente produzido pela competente equipe da Retina 78. Fazendo desta obra um produto-fetiche de prateleira admirado também por sua beleza.