Tag: o massacre da serra elétrica

  • Crítica | Leatherface

    Crítica | Leatherface

    Parte do exploitation da obra e saga começada por Tobe Hooper e Kim Henkel em O Massacre da Serra Elétrica, Leatherface tem a pretensão de ser um prólogo do filme primordial. Conduzido pelos diretores franceses Alexandre Bustillo e Julien Maury, o longa tem produção executiva assinada por Hooper e tem seu prelúdio ambientado durante os anos sessenta, mostrando um jantar da família Sawyear comemorando o aniversário de seu filho caçula, que rapidamente nos apresenta aos rituais típicos da família envolvendo violência extrema.

    Antes de partir o bolo, o menino é incentivado por seus parentes, entre eles sua mãe Verna (Lili Taylor), a ferir um intruso da fazenda com uma motosserra. Após isso, ocorre um assassinato, que põe o Texas Ranger Hal Hartman (Stephen Dorff) na cola da família, uma vez que uma das vítimas foi sua familiar. Não demora até a trama pular dez anos no futuro, se localizando em um manicômio, onde Jackson (o filho caçula da família Sawyer agora vivido por Sam Strike) está internado. Lá, ele conhece a enfermeira Lizzy (Vanessa Grasse) pouco antes de ocorrer uma rebelião onde ele, Bud (Sam Coleman), Ike (James Bloor) e Clarice (Jessica Madsen) fogem após assassinarem os funcionários e quem mais estivesse ali. O quarteto rapta a enfermeira e a chacina prossegue pelo interior do Texas.

    Com o tempo, as desventuras do grupo de jovens desajustados passam por apuros cada vez maiores, em momentos que servem basicamente para fazer lembrar elementos clássicos dos outros filmes em especial os de Hooper, lançados em 1974 e 1986 (O Massacre da Serra Elétrica 2) e o remake de 2003, de Marcus Nispel. A pretensão de se assemelhar com Leatherface: O Massacre da Serra Elétrica 3 logo são deixados de lado, uma vez que este não parece ser um filme focado na figura violenta de Leatherface como um açougueiro que usa pele humana como máscara, e sim demonstrar como era a puberdade de um dos personagens mais icônicos dos slasher movies.

    As mortes são glamourizadas, assim como as cenas de sexo. Uma simples transa entre Ike e Clarice tem, inclusive, elementos de necrofilia. Há elementos de gore consideravelmente alto, em detalhes um pouco sórdidos, como a utilização do corpo de um animal morto como esconderijo, efeito esse que deixa os fugitivos com um visual completamente ensanguentado, semelhante ao visto em Carrie: A Estranha.

    Apesar de tentar inovar em conceitos, a realidade é que a maior parte dos eventos de Leatherface são mal encaixados. Os últimos 15 minutos se dedicam a tentar montar o arquétipo do personagem-título, passando por eventos aleatórios, que pretendem soar como momentos históricos, mas que nunca atingem o prometido, soando apenas como pueris. A sequência final não possui nem de longe o impacto pretendido com o visto no filme de 74, no final das contas, entrega apenas algo bobo, oportunista e caça-níquel.

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  • Tobe Hooper, o pequeno grande cineasta do Horror

    Tobe Hooper, o pequeno grande cineasta do Horror

    Tobe Hooper nasceu em janeiro de 1943, no Estado do Texas, Austin, e começou sua carreira de maneira muito promissora, com o longa de horror independente O Massacre da Serra Elétrica (The Texas Chain Saw Massacre). É curioso e sintomático que a gênese de seu terror tenha sido Ed Gein, o mesmo sujeito que inspirou o livro no qual se baseou Alfred Hitchcock a fazer uma de suas obras primas: Psicose.

    Wes Craven, John Carpenter e George Romero são diretores que costumam ser mais lembrados e laureados, ainda que possuam currículos similares ao de Hooper. O que não se quer aqui é desmerecer o trabalho dos mencionados, já que todos eles possuem carreiras impressionantes e cheia de percalços, mas Hooper também produziu obras que entraram para a história do gênero do terror/horror, ainda mesmo que não possuísse um grande apelo ou sucesso comercial. Em Devorado Vivo (Eaten Alive) há um terror claustrofóbico e feito com quase nenhum recurso, e se sua continuação em Massacre da Serra Elétrica Parte 2 (The Texas Chainsaw Massacre 2) foi considerada malfadada e repetitiva, ainda assim contém ali pequenos elementos de pura genialidade. Seu cinema sempre foi muito preso as raízes que fizeram de si um sucesso comedido.

    Entre 1979 e 1985 talvez tenha sido sua época mais prolifica, apesar de morar nesse período seus filmes mais execrados pela crítica, primeiro com a adaptação televisiva pouco inspirada Os Vampiros de Salém (Salem’s Lot), seguida do visceral e divertido Pague Para Entrar e Reze Para Sair (The Funhouse), que inspiraria futuros cineastas como Rob Zombie, Robert Rodriguez e Quentin Tarantino – parte do seu legado está também nisso, ser uma influência para realizadores que fariam obras seminais. Em 1982 conduziria Poltergeist: O Fenômeno (Poltergeist), que é alvo de muitas polêmicas sobre a realização, motivada graças a uma briga que teve com o produtor Steven Spielberg. Para todos os efeitos, Poltergeist era sim um bom exemplar do terror oitentista, assim como o curioso Força Sinistra (Lifeforce), que misturava filme de vampiro com nudez explícita, sendo um dos exemplares mais trashs da filmografia do cineasta.

    Depois de um tempo, e com fracassos mil – Massacre da Serra Elétrica Parte 2, Apartamento 17 (The Apartment Complex), Noite de Terror (Toolbox Murders) -, a popularidade de Hooper foi se apequenando, e ele foi relegado a um papel aquém do seu talento. É uma pena que a virada prometida e almejada em sua carreira não tenha acontecido nos últimos anos, e que seu legado para muitos seja apenas de um sujeito com bons filmes no início de sua carreira. David Lynch e David Cronenberg souberam reinventar sua filmografia, mesmo após alguns insucessos, e Hooper também o merecia, mas que fique claro, qualquer análise sobre a sua obra que conte apenas com seus últimos filmes é precoce, rasa e sem fundamento. Todo o gênero de assassino slasher deve muito ao seu filme quase inaugural (houve também Egshells antes de Massacre, um longa hippie do diretor), assim como grande parte do ideário de horror que hoje em dia lota as salas de cinema.

    Hooper chocava e não tinha medo de apavorar a plateia. Só por isso um espécime raro dentro da arte cinematográfica e seu entendimento sobre a sétima arte fará muita falta, especialmente por sua crueza e visceralidade. Perdemos um dos bons…

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  • Crítica | O Massacre da Serra Elétrica (1974)

    Crítica | O Massacre da Serra Elétrica (1974)

    Texas Chainsaw Massacre - classic poster

    Valendo-se do pensamento tipicamente repressor predominante no Sul dos Estados Unidos, aproveitando a estrada do clássico hitchcockiano Psicose, e também tendo em comum a base da história real de Ed Gein, O Massacre da Serra Elétrica foi o pioneiro dos slasher movies nos anos 70, uma obra responsável por elevar seu realizador Tobe Hooper a habitar o seleto hall de mestres do terror ao lado de John Carpenter, George Romero, Wes Craven, Mario Bava e Dario Argento, graças a uma abordagem transgressora de um conto interiorano.

    As fotos exibindo as partes putrefatas revelam a corrosão e decomposição de espírito dos humanos que seriam mostrados em tela, uma ruína de alma abissal. Os corpos empilhados ou em pé causam sustos imediatos no espectador, inserindo o público no terrível drama que será visto adiante. O vermelho profetiza o caráter sanguinolento do roteiro de Hooper.

    A câmera por trás dos arbustos funciona na trama como uma observadora anônima, a inserção do público na história, representando os olhos normais perante o mundo bizarro. Mesmo os menores incidentes são tratados pelas lentes como eventos trágicos. O velho bêbado tenta avisar aos soberbos rapazes das estranhezas típicas do lugarejo, mas eles não lhe dão ouvidos.

    O grupo de jovens, liderados por Sally Hardesty (Marilyn Burns), teria uma surpresa horrenda durante a psicodélica road trip que fazem. Tencionando uma viagem repleta de libertinagem, eles atravessam o Texas com sua van. Ao estacionar o veículo, o grupo é abraçado pela tradição familiar pervertida pelo canibalismo, que tem em Leatherface o seu maior expoente no quesito físico, sendo o braço forte dos facínoras, cuja intenção de matar é uma correção dos sacrilégios que os jovens fariam. Ao menos era essa a ótica do ultramoralista clã texano.

    Até a falta de talento dramático do elenco ajuda a assinalar a estranheza daquele microuniverso tão distante da realidade e do mundo comum. Os cortes rápidos, variando entre um personagem e outro, denotam pressa, uma sensação que se sobrepõe à prudência. Mesmo com todos os avisos, os moços vão em direção ao matadouro. O anseio pelas obras da carne pesaria em seus destinos. O macabro lugar, repleto de móveis feitos à base de ossos humanos, logo lembraria aos imberbes moços e moças da efemeridade da vida, chegando a um destino infernal.

    Ao analisar a plateia do cinema, notam-se risos involuntários que revelam o quão sádica é esta nova geração. O grupo de vilões, cretinamente caricatos, aumenta a aura fantástica e bizarra da trama, tornando o desespero que toma os irmãos Hardesty, plausível. O tal “sentimento” não seria nada diante do horror que viria, com Leatherface cortando Franklin (Paul A Partain) em frente à câmera e aos olhos de Sally.

    Diante do medo de sucumbir, a “virgem” promete se entregar aos malfeitores, fazendo o que eles queriam. Sally corre desesperada, atravessando a propriedade, se jogando na caçamba de uma picape para fugir dos demônios que a perseguiam. O corte seco que Hooper dá na gargalhada desesperada da moça resume toda a perversidade contida no clássico, com o sangue escorrendo sobre a pele da scream queen, lamentando-se por uma existência certamente traumática para os terríveis dias que a acompanhariam até o seu falecimento.

  • Crítica | O Massacre da Serra Elétrica 3D: A Lenda Continua

    Crítica | O Massacre da Serra Elétrica 3D: A Lenda Continua

    texas chainsaw 3D

    Dez anos após a controversa refilmagem de Marcus Nispel, foi lançado mais um reboot da saga iniciada em 1974 pelo mestre do terror Tobe Hooper. O novo episódio da franquia é tão reverencial ao filme clássico que começa com uma sequência de três minutos relembrando os fatos do episódio primordial, e pretensamente seguiria os fatos ocorridos após os eventos que envolveram Sally Hardest e seu grupo de amigos.

    A ideia parece estúpida por muitos motivos, entre eles a distância de quase 40 anos entre uma versão e outra. Outro possível problema é a audácia de tentar retomar algo do ponto em que um grande realizador parou. O maior dos riscos não era fazer um filme sem competência, até porque o próprio criador da franquia tratou de fazer isso ao realizar uma continuação, em 1986, com tons de comédia. O perigo real e imediato é que a fita seguiria mais uma falha tentativa de rever o conceito já tão saturado e laureado. O perigo se mostrou real, e a retomada veio de forma risível, fazendo referência às múltiplas versões realizadas, resgatando, inclusive, conceitos do filme de 2003.

    O baixo orçamento é notado já no início, com os tosquíssimos efeitos especiais em CGI, constituindo uma cena de incêndio de maior humor involuntário da história do cinema, digna das produções de Asylum e do canal Syfy. O elenco é liderado pela belíssima Alexandra Daddario (True Detective). Ela faz Heather Miller, uma adolescente que só descobre ser filha adotada após receber uma misteriosa correspondência afirmando que a vó, que sequer conhecia, faleceu.

    Após uma briga com seus pais, ela e um grupo de adolescentes resolve viajar pela bela paisagem texana em uma van, até que atropelam um viajante, dão carona a ele e repetem toda a jornada do roteiro manjado. Dona Verna Sawyer Carson deixa para sua amada e incógnita neta uma enorme propriedade, com uma gigantesca casa e um jardim de proporções dantescas. A mansão, localizada na extremidade do terreno, é repleta de passagens secretas, um campo inexplorado repleto de oportunidades para o caroneiro executar alguns furtos e ser castigado por seus maus atos. A primeira morte ocorre após mais de meia hora de exibição e a cena não exibe nenhum grafismo especial ou aura de suspense. Leatherface surge de forma previsível e não causa susto algum no espectador.

    A repaginação das cenas canônicas é feita de forma tosca, com bonecos ridículos e assassinatos sem o menor apelo visual. A direção de John Luessenhop é muito errática,  falha e relapsa. Seus planos de filmagem não são bem pensados e poderiam ser executados de inúmeras maneiras melhores. Nem mesmo as perseguições garantem um pouco de alento. As soluções encontradas pelo grupinho de heróis são estúpidas e sem lógica alguma. As mortes não são sequer lamentadas, visto o vazio completo que é o background dos protagonistas.

    No segundo terço do filme é mostrada uma sequência de perseguição no interior de um parque de diversões repleto de gente. Falar isto não faz jus ao absurdo e à pachorra da execução da cena. A situação só não é mais esdrúxula do que a investigação transmitida ao vivo via celular por um único policial, que sequer espera o reforço de seus colegas. O festival de bonecos mutilados no porão faz com que o 3D da fita torne-se ainda mais degradante e asqueroso, e esse aspecto não é graças ao gore, mas sim ao estilo paupérrimo de filmagem e ao registro pífio das ações.

    Leatherface é reduzido a um tacanho caipira, um imbecil de marca maior com a alcunha de Jebediah Sawyer. Deixa de lado a faceta de misterioso canibal, matricida e necrófilo para ser um mongol gigante, carente, sustentado pela tia idosa e que nas horas vagas pratica alguns assassinato para usar a pele de suas vítimas como peças do guarda-roupa.

    A situação fica ainda mais feia e calamitosa quando o remate se aproxima, com uma virada de roteiro que coloca os personagens numa rivalidade entre famílias. As ações decorridas apresentam referências a diversas franquias de terror, como Jogos Mortais, Halloween, Sexta-Feira 13. Se a ideia dos roteiristas era a de prestar homenagem a elas, a tentativa falhou miseravelmente.

    Os fatos que ocorrem nos últimos 15 minutos são tão mal arquitetados que parecem ter sido escolhidos por sorteio após sugestões dos piores contadores de história de todos os tempos. O vilão, construído para ser o diabo encarnado, é transformado em um zero à esquerda, tão digno de pena que faz com que a louca heroína se alie a ele, tudo em nome da sobrevivência e dos laços sanguíneos. Heather Miller se une ao mesmo sujeito que matou o seu namorado e seus amigos momentos antes. A condução que John Luessenhop dá ao seu filme faz com que a saudade de Marcus Nispel seja sentida, mesmo que sua versão do clássico tenha dividido opiniões. A incapacidade do cineasta responsável por esta versão de 2013 não conhece limites.

    O roteiro conseguiu o praticamente impossível feito de reunir a família Saywer em um doce e terno momento, seguido de uma bela mensagem vazia na qual é explicitado o legado da protagonista. Os fatos decorridos neste período conseguem ser mais absurdos que todo o conjunto de sandices anteriormente mostrado, pervertendo a máxima de que a ideia de realizar este filme era estúpida. Nada no filme se salva. As atuações são as piores possíveis. As gostosas atrizes miguelam até a semi-nudez. Todos os clichês possíveis de um filme de terror são executados e ainda se consegue a façanha de cometer gafes inéditas, como as mostradas nas cenas derradeiras. O débil roteiro ainda guarda uma cena pós-crédito inútil e dispensável. O Massacre da Serra Elétrica 3D está entre os já execráveis remakes de filmes de terror, o mais escuso da lista entre os mais recentes realizados, conseguindo superar e muitos os seus combalidos e abomináveis coirmãos.