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  • Tobe Hooper, o pequeno grande cineasta do Horror

    Tobe Hooper, o pequeno grande cineasta do Horror

    Tobe Hooper nasceu em janeiro de 1943, no Estado do Texas, Austin, e começou sua carreira de maneira muito promissora, com o longa de horror independente O Massacre da Serra Elétrica (The Texas Chain Saw Massacre). É curioso e sintomático que a gênese de seu terror tenha sido Ed Gein, o mesmo sujeito que inspirou o livro no qual se baseou Alfred Hitchcock a fazer uma de suas obras primas: Psicose.

    Wes Craven, John Carpenter e George Romero são diretores que costumam ser mais lembrados e laureados, ainda que possuam currículos similares ao de Hooper. O que não se quer aqui é desmerecer o trabalho dos mencionados, já que todos eles possuem carreiras impressionantes e cheia de percalços, mas Hooper também produziu obras que entraram para a história do gênero do terror/horror, ainda mesmo que não possuísse um grande apelo ou sucesso comercial. Em Devorado Vivo (Eaten Alive) há um terror claustrofóbico e feito com quase nenhum recurso, e se sua continuação em Massacre da Serra Elétrica Parte 2 (The Texas Chainsaw Massacre 2) foi considerada malfadada e repetitiva, ainda assim contém ali pequenos elementos de pura genialidade. Seu cinema sempre foi muito preso as raízes que fizeram de si um sucesso comedido.

    Entre 1979 e 1985 talvez tenha sido sua época mais prolifica, apesar de morar nesse período seus filmes mais execrados pela crítica, primeiro com a adaptação televisiva pouco inspirada Os Vampiros de Salém (Salem’s Lot), seguida do visceral e divertido Pague Para Entrar e Reze Para Sair (The Funhouse), que inspiraria futuros cineastas como Rob Zombie, Robert Rodriguez e Quentin Tarantino – parte do seu legado está também nisso, ser uma influência para realizadores que fariam obras seminais. Em 1982 conduziria Poltergeist: O Fenômeno (Poltergeist), que é alvo de muitas polêmicas sobre a realização, motivada graças a uma briga que teve com o produtor Steven Spielberg. Para todos os efeitos, Poltergeist era sim um bom exemplar do terror oitentista, assim como o curioso Força Sinistra (Lifeforce), que misturava filme de vampiro com nudez explícita, sendo um dos exemplares mais trashs da filmografia do cineasta.

    Depois de um tempo, e com fracassos mil – Massacre da Serra Elétrica Parte 2, Apartamento 17 (The Apartment Complex), Noite de Terror (Toolbox Murders) -, a popularidade de Hooper foi se apequenando, e ele foi relegado a um papel aquém do seu talento. É uma pena que a virada prometida e almejada em sua carreira não tenha acontecido nos últimos anos, e que seu legado para muitos seja apenas de um sujeito com bons filmes no início de sua carreira. David Lynch e David Cronenberg souberam reinventar sua filmografia, mesmo após alguns insucessos, e Hooper também o merecia, mas que fique claro, qualquer análise sobre a sua obra que conte apenas com seus últimos filmes é precoce, rasa e sem fundamento. Todo o gênero de assassino slasher deve muito ao seu filme quase inaugural (houve também Egshells antes de Massacre, um longa hippie do diretor), assim como grande parte do ideário de horror que hoje em dia lota as salas de cinema.

    Hooper chocava e não tinha medo de apavorar a plateia. Só por isso um espécime raro dentro da arte cinematográfica e seu entendimento sobre a sétima arte fará muita falta, especialmente por sua crueza e visceralidade. Perdemos um dos bons…

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  • Crítica | O Massacre da Serra Elétrica (1974)

    Crítica | O Massacre da Serra Elétrica (1974)

    Texas Chainsaw Massacre - classic poster

    Valendo-se do pensamento tipicamente repressor predominante no Sul dos Estados Unidos, aproveitando a estrada do clássico hitchcockiano Psicose, e também tendo em comum a base da história real de Ed Gein, O Massacre da Serra Elétrica foi o pioneiro dos slasher movies nos anos 70, uma obra responsável por elevar seu realizador Tobe Hooper a habitar o seleto hall de mestres do terror ao lado de John Carpenter, George Romero, Wes Craven, Mario Bava e Dario Argento, graças a uma abordagem transgressora de um conto interiorano.

    As fotos exibindo as partes putrefatas revelam a corrosão e decomposição de espírito dos humanos que seriam mostrados em tela, uma ruína de alma abissal. Os corpos empilhados ou em pé causam sustos imediatos no espectador, inserindo o público no terrível drama que será visto adiante. O vermelho profetiza o caráter sanguinolento do roteiro de Hooper.

    A câmera por trás dos arbustos funciona na trama como uma observadora anônima, a inserção do público na história, representando os olhos normais perante o mundo bizarro. Mesmo os menores incidentes são tratados pelas lentes como eventos trágicos. O velho bêbado tenta avisar aos soberbos rapazes das estranhezas típicas do lugarejo, mas eles não lhe dão ouvidos.

    O grupo de jovens, liderados por Sally Hardesty (Marilyn Burns), teria uma surpresa horrenda durante a psicodélica road trip que fazem. Tencionando uma viagem repleta de libertinagem, eles atravessam o Texas com sua van. Ao estacionar o veículo, o grupo é abraçado pela tradição familiar pervertida pelo canibalismo, que tem em Leatherface o seu maior expoente no quesito físico, sendo o braço forte dos facínoras, cuja intenção de matar é uma correção dos sacrilégios que os jovens fariam. Ao menos era essa a ótica do ultramoralista clã texano.

    Até a falta de talento dramático do elenco ajuda a assinalar a estranheza daquele microuniverso tão distante da realidade e do mundo comum. Os cortes rápidos, variando entre um personagem e outro, denotam pressa, uma sensação que se sobrepõe à prudência. Mesmo com todos os avisos, os moços vão em direção ao matadouro. O anseio pelas obras da carne pesaria em seus destinos. O macabro lugar, repleto de móveis feitos à base de ossos humanos, logo lembraria aos imberbes moços e moças da efemeridade da vida, chegando a um destino infernal.

    Ao analisar a plateia do cinema, notam-se risos involuntários que revelam o quão sádica é esta nova geração. O grupo de vilões, cretinamente caricatos, aumenta a aura fantástica e bizarra da trama, tornando o desespero que toma os irmãos Hardesty, plausível. O tal “sentimento” não seria nada diante do horror que viria, com Leatherface cortando Franklin (Paul A Partain) em frente à câmera e aos olhos de Sally.

    Diante do medo de sucumbir, a “virgem” promete se entregar aos malfeitores, fazendo o que eles queriam. Sally corre desesperada, atravessando a propriedade, se jogando na caçamba de uma picape para fugir dos demônios que a perseguiam. O corte seco que Hooper dá na gargalhada desesperada da moça resume toda a perversidade contida no clássico, com o sangue escorrendo sobre a pele da scream queen, lamentando-se por uma existência certamente traumática para os terríveis dias que a acompanhariam até o seu falecimento.