Tag: Bill Moseley

  • Crítica | Os 3 Infernais

    Crítica | Os 3 Infernais

    Rob Zombie é conhecido entre outros fatores por ter sido o líder da banda White Zombie, por ter lançado carreira solo de sucesso com seu Metal Industrial e mais  recentemente, por ter se tornado diretor de cinema. Após algumas fitas de terror originais, dois filmes remake de Halloween – Halloween: O Início e Halloween II –  e alguns filmes de qualidade discutível como 31 e As Senhos de Salem, ele finalmente traz de volta seus três personagens mais famosos, Otis (Bill Moseley), Baby (Sheri-Moon Zombie) e Spaulding (Sid Haig), que terminaram Rejeitados Pelo Diabo com uma rajada de balas sobre si, supostamente mortos.

    Os 3 Infernais começa com imagens da televisão, em que os personagens são entrevistados, e onde se nota a decadência física de cada um deles, com dentes amarelos, cabelos e barbas desgrenhados e magreza extrema (exceção claro a Baby, que prossegue linda), as filmagens parecem tão amadoras neste começo, que fazem lembrar um pouco do caráter paupérrimo de A Casa dos Mil Corpos, talvez o mais inventivo filme do diretor.

    O roteiro se vale de um apelo popular, para que o trio seja liberado das grades que o cercam. Se Zombie foi criticado na duologia de Michael Myers por retratar os homens e mulheres do interior de maneira preconceituosa, como selvagens que excluem qualquer um que seja diferente, aqui a mira é sobre o povo, que gosta de adular bandidos e vilões, os mesmos que super valorizam as capacidades e atos dos que cometeram atrocidades. A crítica a esse tipo de exploração é velada, não se aprofunda muito, e nem precisa, afinal a ideia do filme é dar vazão ao horror e referenciar o exploitation dos sub-gêneros do cinema de horror.

    As partes fotografadas como fitas antigas se restringem apenas a recordação de como os personagens chegaram ao ponto onde estão, quando a trama chega ao presente o que se vê é um método de filmagem tradicional, mas ainda assim bem sangrento e nojento, em gore que poucos cineastas especializados em horror tem coragem de empregar, embora as partes mais agressivas sejam cortadas pela edição, mostrando só o resultado posterior da carnificina, após a violência estabelecida pelos três bandidos.

    A participação de Capitão Spaulding foi diminuída, a intenção de Zombie era ter mais momentos com Sid Haig, mas após visitar ele no pós operatório já no hospital e perceber que estava bastante doente e debilitado fisicamente ele decidiu reduzir o papel dele, ao passo que a Lionsgate afirmou que não vincularia seu nome ao filme caso não tivesse os três personagens. O acréscimo do personagem de Willis Foxworth ‘Foxy’ Coltrane, interpretado pelo colaborador frequente de Zombie Richard Brake ocorreu por conta disso, e de certa forma, essa limitação influiu no script que o diretor escreveu, pois pouco se vê a família Firefly junta neste.

    A falta de inteiração entre os três personagens centrais causa um pouco de incomodo, pois separados eles claramente não tem a mesma força, além de ocorrerem idas e voltar um bocado desnecessárias da trama, variando entre os homens doentes e a mulher com severos problemas mentais. Zombie tenta compensar isso com referencias as cenas de jantar de O Massacre da Serra Elétrica e suas continuações, além de mostrar um conjunto de mortes executadas de maneira bem fria e estúpida pelos personagens, além é claro de desenvolver um deboche bem grande aos membros da comunidade suburbana dos Estados Unidos, mostrado como homens frágeis e fracos, capazes de ceder ao qualquer chantagem dos que deveriam ser meros foras da lei.

    A câmera de Zombie é nervosa, como se tivesse obrigação de provar algo, talvez em resposta as péssimas críticas que recebeu antes. Há uma tentativa boba de compensar algo, e um exagero no peso que coloca durante as quase duas horas de exibição, além do mais, este tamanho para o filme parece mesmo exagerado, uma vez que seu ritmo não é tão bom ao ponto de manter a atenção do espectador durante toda sua exploração.

    Nos momentos finais, Foxy, Baby e Otis tem enfim um descanso, obviamente cortado por opositores ligados a algumas de suas vítimas. Neste momento, há semelhanças claras entre sua trama e o filme de Oliver Stone com roteiro de Quentin Tarantino, Assassinos Por Natureza, que por sua vez, reinventa um pouco do mito de Bonnie e Clyde, no sentido de mostrar um casal adorado pela mídia causando morte e violência por onde passam. Os três infernais, nessa nova formação tem seguidores e fãs, mas o próprio filme não reflete muito sobre isso.

    Os 3 Infernais é mais contido que os anteriores do diretor, tem menos histrionismos de Sheri-Moon, é mais econômico em matéria de edição, mas também é comedido em mostrar uma historia transgressora, o tempo inteiro Zombie parece estar com o freio de mão puxado, não conseguindo assim atingir o sadismo de Rejeitados Pelo Diabo (filme esse superestimado, aliás) e nem a inventividade de A Casa dos Mil Corpos (esse, subestimado, alias), ainda assim é possivelmente o mais equilibrado dos filmes recentes do cineasta, só a lamentar a pequena participação de Sid Haig por questões de saúde.

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  • Crítica | A Casa dos 1000 Corpos

    Crítica | A Casa dos 1000 Corpos

    House Of 1000 Corpses - poster

    A descrença agiu a favor de Rob Zombie. Quando o roqueiro anunciou uma dupla jornada profissional, agora como diretor de cinema, havia dúvidas quanto a um bom resultado. Imaginou-se que a direção seria um hobby passageiro e sem compromisso. Então, A Casa dos 1000 Corpos foi lançado.

    Escrita e dirigida por Zombie, a produção é, simultaneamente, uma homenagem explícita aos filmes antigos de terror e uma paródia que ri dos clichês mais absurdos do gênero. Com uma narrativa exagerada, destacada por personagens estranhos e histriônicos, a trama compõe uma espécie de retalhos que atravessa diversos estilos do terror.

    A premissa básica é aquela conhecida pelo público fiel do gênero: jovens adolescentes partem para uma viagem, e em algum momento da estrada o carro apresenta problemas, fazendo-os obrigados a pararem no local mais próximo para abastecer e reparar os problemas. Movidos pela curiosidade, interessam-se por uma lenda da região, um assassino em série chamado Sr. Satã e, enquanto aguardam uma peça do veículo chegar de outra cidade, permanecem na casa de uma família bizarra, a qual o público reconhece de antemão, formada por insanos, sádicos e outros tipos de desvio de personalidade característicos do cinema.

    Dentro deste cenário fundamental e excêntrico, a história transborda fundamentos do terror: adolescentes presos em casa à mercê de uma família de sádicos; rituais de bruxaria e sacrifício; possíveis canibais insaciáveis. Um exagero cênico que causa incômodo e demonstra como o terror possui regras próprias que, quando mostradas ao extremo, soam risíveis mas que, ainda assim, são diversão pura para o público.

    Intercalando cenas tradicionalmente filmadas com outras com excesso de distorções e efeitos especiais, a trama parece configurar duas visões da mesma história: uma aparentemente séria e um contra-filme que ri dos exageros cênicos comuns ao terror, formando, camada após camada de personagens assustadores, uma provável interpretação do título. 1000 corpos com 1000 maneiras diferentes de matar, de uma família que seria capaz de unir toda a bizarrice do terror em um só local. Neste cenário, há tanto cenas de morte bem dirigidas e impactantes quanto outras da vertente do terrir (o riso propositado, ou não, em meio aos sustos), com cenas em câmera lenta ao som de canções lentas, além de outros absurdos que demonstram a intenção da paródia.

    Zombie compõe um roteiro eficiente exercendo uma função tripla: homenagear o cinema das décadas passadas, rir de certos clichês do gênero, e ainda desenvolver uma boa história de Terror, com uma família de sádicos tão notável que inspirou uma sequência, Rejeitados pelo Diabo. Para um homem que se destacou pelo rock pesado, nascia um diretor com boa percepção técnica e uma interpretação suficientemente autoral para iniciar uma carreira no cinema e se destacar no gênero, com eficiência suficiente para impactar a indústria e ser convidado para realizar a boa releitura de Michael Myers em Halloween: O Início.

    A Casa dos 1000 Corpos é um épico do terror em sua mais alta potência. Sanguinolento, desenfreado e, consequentemente, também engraçado. A forma e contra-forma do estilo em um mesmo produto.

  • Crítica | O Massacre da Serra Elétrica 3D: A Lenda Continua

    Crítica | O Massacre da Serra Elétrica 3D: A Lenda Continua

    texas chainsaw 3D

    Dez anos após a controversa refilmagem de Marcus Nispel, foi lançado mais um reboot da saga iniciada em 1974 pelo mestre do terror Tobe Hooper. O novo episódio da franquia é tão reverencial ao filme clássico que começa com uma sequência de três minutos relembrando os fatos do episódio primordial, e pretensamente seguiria os fatos ocorridos após os eventos que envolveram Sally Hardest e seu grupo de amigos.

    A ideia parece estúpida por muitos motivos, entre eles a distância de quase 40 anos entre uma versão e outra. Outro possível problema é a audácia de tentar retomar algo do ponto em que um grande realizador parou. O maior dos riscos não era fazer um filme sem competência, até porque o próprio criador da franquia tratou de fazer isso ao realizar uma continuação, em 1986, com tons de comédia. O perigo real e imediato é que a fita seguiria mais uma falha tentativa de rever o conceito já tão saturado e laureado. O perigo se mostrou real, e a retomada veio de forma risível, fazendo referência às múltiplas versões realizadas, resgatando, inclusive, conceitos do filme de 2003.

    O baixo orçamento é notado já no início, com os tosquíssimos efeitos especiais em CGI, constituindo uma cena de incêndio de maior humor involuntário da história do cinema, digna das produções de Asylum e do canal Syfy. O elenco é liderado pela belíssima Alexandra Daddario (True Detective). Ela faz Heather Miller, uma adolescente que só descobre ser filha adotada após receber uma misteriosa correspondência afirmando que a vó, que sequer conhecia, faleceu.

    Após uma briga com seus pais, ela e um grupo de adolescentes resolve viajar pela bela paisagem texana em uma van, até que atropelam um viajante, dão carona a ele e repetem toda a jornada do roteiro manjado. Dona Verna Sawyer Carson deixa para sua amada e incógnita neta uma enorme propriedade, com uma gigantesca casa e um jardim de proporções dantescas. A mansão, localizada na extremidade do terreno, é repleta de passagens secretas, um campo inexplorado repleto de oportunidades para o caroneiro executar alguns furtos e ser castigado por seus maus atos. A primeira morte ocorre após mais de meia hora de exibição e a cena não exibe nenhum grafismo especial ou aura de suspense. Leatherface surge de forma previsível e não causa susto algum no espectador.

    A repaginação das cenas canônicas é feita de forma tosca, com bonecos ridículos e assassinatos sem o menor apelo visual. A direção de John Luessenhop é muito errática,  falha e relapsa. Seus planos de filmagem não são bem pensados e poderiam ser executados de inúmeras maneiras melhores. Nem mesmo as perseguições garantem um pouco de alento. As soluções encontradas pelo grupinho de heróis são estúpidas e sem lógica alguma. As mortes não são sequer lamentadas, visto o vazio completo que é o background dos protagonistas.

    No segundo terço do filme é mostrada uma sequência de perseguição no interior de um parque de diversões repleto de gente. Falar isto não faz jus ao absurdo e à pachorra da execução da cena. A situação só não é mais esdrúxula do que a investigação transmitida ao vivo via celular por um único policial, que sequer espera o reforço de seus colegas. O festival de bonecos mutilados no porão faz com que o 3D da fita torne-se ainda mais degradante e asqueroso, e esse aspecto não é graças ao gore, mas sim ao estilo paupérrimo de filmagem e ao registro pífio das ações.

    Leatherface é reduzido a um tacanho caipira, um imbecil de marca maior com a alcunha de Jebediah Sawyer. Deixa de lado a faceta de misterioso canibal, matricida e necrófilo para ser um mongol gigante, carente, sustentado pela tia idosa e que nas horas vagas pratica alguns assassinato para usar a pele de suas vítimas como peças do guarda-roupa.

    A situação fica ainda mais feia e calamitosa quando o remate se aproxima, com uma virada de roteiro que coloca os personagens numa rivalidade entre famílias. As ações decorridas apresentam referências a diversas franquias de terror, como Jogos Mortais, Halloween, Sexta-Feira 13. Se a ideia dos roteiristas era a de prestar homenagem a elas, a tentativa falhou miseravelmente.

    Os fatos que ocorrem nos últimos 15 minutos são tão mal arquitetados que parecem ter sido escolhidos por sorteio após sugestões dos piores contadores de história de todos os tempos. O vilão, construído para ser o diabo encarnado, é transformado em um zero à esquerda, tão digno de pena que faz com que a louca heroína se alie a ele, tudo em nome da sobrevivência e dos laços sanguíneos. Heather Miller se une ao mesmo sujeito que matou o seu namorado e seus amigos momentos antes. A condução que John Luessenhop dá ao seu filme faz com que a saudade de Marcus Nispel seja sentida, mesmo que sua versão do clássico tenha dividido opiniões. A incapacidade do cineasta responsável por esta versão de 2013 não conhece limites.

    O roteiro conseguiu o praticamente impossível feito de reunir a família Saywer em um doce e terno momento, seguido de uma bela mensagem vazia na qual é explicitado o legado da protagonista. Os fatos decorridos neste período conseguem ser mais absurdos que todo o conjunto de sandices anteriormente mostrado, pervertendo a máxima de que a ideia de realizar este filme era estúpida. Nada no filme se salva. As atuações são as piores possíveis. As gostosas atrizes miguelam até a semi-nudez. Todos os clichês possíveis de um filme de terror são executados e ainda se consegue a façanha de cometer gafes inéditas, como as mostradas nas cenas derradeiras. O débil roteiro ainda guarda uma cena pós-crédito inútil e dispensável. O Massacre da Serra Elétrica 3D está entre os já execráveis remakes de filmes de terror, o mais escuso da lista entre os mais recentes realizados, conseguindo superar e muitos os seus combalidos e abomináveis coirmãos.