Tag: Rob Hardy

  • Crítica | Missão: Impossível – Efeito Fallout

    Crítica | Missão: Impossível – Efeito Fallout

    Tom Cruise deixou de ser um sujeito que só por estar em um filme é sinônimo de sucesso. A Múmia, Feito na América e Jack Reacher: Sem Retorno sofreram, seja com as duras críticas ou com um público aquém daquilo que o astro estava acostumado. Missão: Impossível talvez ainda seja exceção à regra, já que contém filmes de qualidade ímpar, e claro, uma boa aceitação por parte dos espectadores. O sexto volume, Missão: Impossível – Efeito Fallout consegue ser um objeto divertido, emocionante e com muitos predicados positivos.

    O filme tem ação e ritmo bastante frenéticos. O suspense é acertado demais e isso é muito mérito de Christopher McQuarrie, diretor e roteirista que já havia feito um trabalho sensacional em Missão: Impossível – Nação Secreta e também trabalhado com Cruise em Jack Reacher: Um Tiro, dois dos melhores filmes recentes do ator. A afinidade de McQuarrie e Cruise vêm de muito tempo, em 2008 com Operação Valquíria, quando o cineasta havia escrito o roteiro para o filme de Bryan Singer.

    O roteiro primoroso apresenta uma trama de espiões cheias de reviravoltas que faz lembrar muito os livros de Tom Clancy, como Caçada Ao Outubro Vermelho, ou ainda os romances de espionagem de John Le Carré. Apesar de ser bem mais sério e inteligente que os filmes recentes de ação, ele não se descuida da ação só porque tem seu texto bem trabalhado, ao contrário, as cenas de luta são muito bem coreografadas e a sagacidade de McQuarrie em filmá-las em detalhes é enorme.

    O aprofundamento dos sentimentos e preocupações de Ethan Hunt é igualmente bem feito. Os laços de lealdade fraternal com a sua equipe, como também seus enlaces românticos são explorados de uma maneira muito íntima e terna. Há tempo suficiente para desenvolver cada um desses aspectos. Além disso, este é um filme onde a equipe de salvamento é fundamental, e não só uma história de um homem perfeito que não precisa de ninguém para sobreviver, seguindo a linha do que já tem acontecido nos filmes mais recentes da série. Simon Pegg volta bem; Rebecca Ferguson, que atua num papel parecido com o último, desenvolvendo outras camadas; assim como o personagem de Alec Baldwin ganha maior importância nesta sequência. Até os personagens que aparecem pouco, como o Luther (Ving Rhames), aparecem bem.

    Henry Cavill também está muito bem no filme e convence como um agente que rivaliza com o herói, inclusive se mostrando melhor que ele em alguns momentos. O roteiro não exime o protagonista de ser mostrado como um homem falho, que sofre com o tempo que já se passou, aliás esse detalhe de torná-lo mais vulnerável o torna um personagem ainda mais crível, além de aproximá-lo do público, portanto, é ainda mais fácil ter empatia por ele.

    A saga Missão: Impossível ainda parece ter fôlego, e claramente, depende de seu astro para sobreviver, mas não faz sucesso só por isso, evidentemente, já que tem inúmeros aspectos técnicos positivos, desde a fotografia de Rob Hardy como a trilha sonora. Conseguir equilibrar bem as exigências comuns a uma produção grande como essa com a responsabilidade de fazer um filme minimamente autoral é extremamente difícil, e McQuarrie consegue de maneira magistral.

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  • Crítica | Nick Fury: Agente da S.H.I.E.L.D

    Crítica | Nick Fury: Agente da S.H.I.E.L.D

    Nicky Fury Agente da SHIELD 1

    Muito antes de Samuel L. Jackson aceitar o convite da Marvel Studios para estrelar o papel do coronel caolho da  agência da S.H.I.E.L.D., seria feita uma versão de Nick Fury, produzida por Avi Arad, Stan Lee e roteirizada por David Goyer. A escolha para o papel principal não poderia ser mais sui generis, com o aporte de David Hasselhoff, ainda na esteira de S.O.S. Malibu, em um papel tão canastrão quanto o que fizera neste e em Super Máquina.

    O Fury de Hasselhof é ainda mais agressivo e arredio do que a última versão cinematográfica do personagem, nada afeito a ordens, um rebelde que sabe o poder que tem, mesmo como subalterno dentro a agência de espionagem. O desrespeito as regras começa pela clássica cena em que acende um fósforo na parede, movimento comum a qualquer brucutu, ainda mais condizente com um militar que não aguenta desaforos.

    A fluidez com que é conduzido o filme de Rob Hardy  é tamanha, que se assemelha às encenações teatrais de colégio em fase de ensino fundamental. Não há como levar a sério qualquer dos conflitos entre a S.H.I.E.L.D. e a Hydra, que a priori, agiria desde a época da Alemanha Nazista, porcamente encenada por um elenco que abusa de falas aos gritos, overacting e muitos exageros visuais, com direito a cabelos extravagantes e sotaques californianos imitando horrorosamente o tom europeu de falar.

    É difícil escolher o aspecto mais chocante do telefilme, se é o fato do protagonista estar sempre oleoso, se é o tapa-olho que denuncia a completa falta de continuísmo ao se trocar frequentemente o objeto de hemisfério corporal, o bronzeamento artificial justificado do modo mais burrificado possível ou os cenários em CGI que fazem inveja aos diversos mockbusters da Asylum.

    O conjunto de semelhanças visuais com as HQ’s é incabível, sendo incrivelmente esdrúxulo, não fazendo sequer sentido dentro da métrica do argumento em alguns pontos, resultando até em contradições lógicas, como o ato de usar couro em um ambiente extremamente quente como a embarcação marítima/aérea em que a instituição se situa.

    Fury é leviano, durão e baddass, convive bem em meio ao mundo que o cerca, mesmo neste ambiente repleto de cenários de papelão que lembram demais o que é visto em produções de baixo orçamento. A trama se arrasta nos momentos finais, com direito a ressurreição de inimigos centenários, que só retornam para morrer logo depois, e uma larga apresentação de coadjuvantes genéricos, que não deixam o público esquecer do quão trash é o longa. Após um apelativo gancho para uma continuação, a resolução de Fury é curiosa por ir contra a burocracia típica da organização, ainda que o modo como é realizado não tenha qualquer inteligência. Nick Fury Agente da S.H.I.E.L.D. consegue ser tão pleno em seus defeitos, que provoca no seu espectador um riso involuntário, provindo do que já se chamava em 1998 por Marvel Studios, ainda que em outra encarnação da produtora.

  • Crítica | Ex-Machina: Instinto Artificial

    Crítica | Ex-Machina: Instinto Artificial

    Ex Machina - Poster

    “Life perpetuates itself through diversity and this includes the ability to sacrifice itself when necessary. Cells repeat the process of degeneration and regeneration until one day they die, obliterating an entire set of memory and information. Only genes remain. Why continually repeat this cycle? Simply to survive by avoiding the weaknesses of an unchanging system.” (Puppet Master)

    O diálogo acima referenciado ocorre quando Puppet Master, ao encontro de Major Kusanagi, nos faz refletir sobre o conceito de vida e, principalmente, o que é estar vivo. Essa é uma das grandes questões levantadas em Ghost in the Shell (1996) – filme a que pertence o diálogo acima referenciado -, Blade Runner (1982) e em diversos outros trabalhos cinematográficos e literários de ficção científica ao longo da história. Mais uma vez, é hora de revisitar tão importante e histórico questionamento, mas dessa vez essa questão nos é posta em Ex Machina (2015), filme dirigido por Alex Garland (roteirista de filmes como Dredd e Extermínio).

    O cenário para a história se passa em um futuro próximo. O jovem programador Caleb Smith (Domhnall Gleeson) é selecionado para participar de uma visita de uma semana à casa do CEO da empresa que trabalha, Nathan Bateman (Oscar Isaac), uma das maiores empresas de tecnologia do mundo. Vivendo em uma casa isolada nas montanhas, Nathan convida Caleb a participar de um experimento diferente: Caleb teria que aplicar um teste de Turing em uma androide desenvolvida por Nathan, Ava (Alicia Vikander) com intuito de determinar se a inteligência artificial de Ava pode ser comparada (ou se é melhor) à de um humano.

    Nathan é um gênio alcoólatra e recluso. Caleb é um jovem inteligente e ingênuo. Ava é uma androide. Basicamente esses três personagens sustentam sozinhos todo o filme em um ambiente claustrofóbico, onde o silêncio dos personagens reverbera em seus pensamentos. Quem mais sofre com isso é Caleb, pois quanto mais se aproxima de Ava, mais ele começa a duvidar sobre si mesmo e o mundo à sua volta. Afinal, o que é estar vivo?

    A atuação de Alicia Vikander é visceral à medida que confere profundidade em sua personagem androide.Vikander é sutil e cria uma linha tênue para Nathan, Caleb e todos os espectadores ao refletir sobre a condição de Ava. Ao mesmo tempo que ela claramente não é humana, sua representação do medo, sonhos e esperanças são precisos e praticamente naturais. Nathan e Caleb são brilhantes e carismáticos, com personalidades profundas e interessantes, mas ainda assim não tão profundos quanto Ava, que nos faz ficar inquietos e ansiosos com suas nuances de personalidade.

    Ex Machina não pode ser considerado um thriller de ficção científica mainstream. Muito pelo contrário, é um filme reflexivo e provocante do começo ao final. A mistura de liveaction e CGI, a trilha sonora inquietante e a fotografia impecável fazem com que seja um filme importante na ficção científica contemporânea.

    Sua conclusão acompanha perfeitamente o compasso de toda a obra. Toda a informação que acumulamos em uma vida é apenas uma gota em um oceano de informação, de modo que, talvez, uma criatura que consiga coletar mais informação e guardar por mais tempo possa ser considerada mais do que humana? Ainda nos inquietamos com esses questionamentos e continuaremos a nos inquietar se dependermos de ficções científicas tão excelentes como Ex Machina.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.