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  • Resenha | Homem-Aranha: A Morte de Jean DeWolff

    Resenha | Homem-Aranha: A Morte de Jean DeWolff

    A tragédia marca a biografia de Peter Parker desde a mais tenra idade. Perder entes queridos tem sido uma constante na vida do personagem desde seu surgimento no começo dos anos 60, pelas mãos de Stan Lee e Steve Ditko.

    Após perder os pais, o tio, o sogro e a namorada, era de se esperar que o alter ego do Homem-Aranha já estivesse calejado e acostumado a lidar com a morte sempre ao redor, certo? Pois é a partir de mais uma perda fatal que Peter David escreveu uma das grandes histórias do herói aracnídeo, a saga da morte da Capitã de polícia Jean DeWolff.

    Vista pelo Amigão da Vizinhança como alguém de confiança dentro da força policial, Jean é encontrada brutalmente assassinada em seu apartamento, um crime violento e misterioso, cujo autor não deixou pistas nem justificativas.

    Empenhado a buscar justiça para sua falecida amiga, o Aranha se envolve em uma investigação repleta de idas e vindas, se mostrando sempre à beira de um ataque de nervos, dominado pela tensão, pela raiva e pela sensação de impotência diante do ocorrido.

    Os assassinatos prosseguem, de modo que surge para o público a figura do Devorador de Pecados, um fanático mascarado que tem empilhado corpos por toda a cidade, criando uma teia de eventos que traz para o jogo a figura do Homem sem Medo da Cozinha do Inferno, o Demolidor.

    Com brilhantismo, Peter David consegue compor uma trama tensa e bem costurada, contrapondo as personalidades de Matt Murdock e Peter Parker dentro do roteiro e em diálogo com as subtramas inseridas ao longo da narrativa, de modo a discutir a percepção de justiça versus vingança e a reafirmar a importância do sistema judicial dentro da vida em sociedade.

    A trama versa sobre temáticas ainda hoje pertinentes e se encaixa dentro da proposta da Marvel à época, de modo que as representações de Nova York na história possuem muito do que vemos na fase de Frank Miller à frente da série do Demolidor, tornando as ruas da cidade como um barril de pólvora prestes à estourar, refletindo a tensão social crescente entre as mais diferentes camadas da população.

    O escritor se esforça em compor um Peter Parker furioso e sombrio, afetado pelas perdas que se acumularam ao longo de sua vida, agindo de modo implacável e impiedoso. Tal caracterização é condizente com a proposta temática, dando maior seriedade para o enredo, que se desenrola competentemente dividindo o foco narrativo entre os variados eixos que compõem o núcleo da trama.

    As escolhas narrativas para a história são pertinentes, gerando impacto e dando peso para cada morte ali retratada. A arte, vale ressaltar, potencializa a dramaticidade do enredo, fazendo uso de enquadramentos cuidadosamente escolhidos para manter a tensão e o ar de urgência que a narrativa pede.

    Das grandes histórias do Homem-Aranha, certamente A Morte de Jean DeWolff é uma das mais celebradas, haja visto o peso que ela conferiu para a biografia já atormentada de Peter Parker e o alto nível de sua estrutura narrativa, que remete aos romances policiais sem deixar de lado os heróis fantasiados, contrapondo estilos e tons narrativos em prol do pleno desenvolvimento do enredo, valorizando todas as suas nuances.

    A construção psicológica dos personagens é soberbamente bem erigida, de maneira que David consegue trabalhar com uma grande quantidade de coadjuvantes dentro da história sem perder o fio da meada nem abrir mão do controle do ritmo narrativo.

    O encadernado da Panini Comics engloba tanto o arco da morte da Capitã DeWolff quanto o arco do retorno do Devorador de Pecados, de maneira que a primeira história é desenhada pelo talentoso Rich Buckler, enquanto a segunda trama fica a cargo do longevo Sal Buscema.

    Se na primeira metade temos o aspecto investigativo colocado em evidência, na segunda metade Peter David investe em um arco sobre estresse pós-traumático, trabalhando a psique do Devorador de Pecados e do Homem-Aranha, colocando em perspectiva as marcas que foram deixadas em corpo e alma dos dois rivais após o assassinato de Jean DeWolff.

    Enquanto a arte de Buckler trabalha as mazelas da cidade e o aspecto trágico inerente à história, a dinamicidade da narrativa visual de Buscema fica evidente em cada painel disposto no Quadrinho.

    Homem-Aranha: A Morte de Jean DeWolff é o tipo de história para se ler e reler apreciando as camadas inseridas por Peter David e pelos artistas em cada sequência de quadros, evidenciando a potência que a mídia História em Quadrinhos possui.

  • Resenhas | As Crônicas de Conan – Volume 1

    Resenhas | As Crônicas de Conan – Volume 1

    Publicação da Mythos Editora, As Crônicas de Conan – Volume 1 tem como premissa a abordagem de histórias clássicas do personagem compreendida entre os números 1 a 8 de Conan: the Barbarian, datadas de outubro de 1970 até agosto de 1971, e conta ainda com o roteiro de Roy Thomas e a arte de Barry Windsor-Smith.

    O material gráfico é bastante bonito, para além da capa dura, há um belo mapa da Era Hiboriana que Robert E. Howard utilizava como cenário para as histórias de seu bárbaro. A apresentação do personagem ajuda a definir todos os clichês que envolvem o herói, que se proclama Conan da Ciméria, e nesse ponto se nota algo que não foi tão bem traduzido nos filmes: a erudição do bárbaro, bastante diferente da interpretação de Arnold Schwarzenegger no filme de John Millius.

    A publicação conta ainda com um posfácio onde Thomas detalha os motivos que o fizeram escrever Conan, em que  diz como resolveu deixar um pouco o seu lado editor para voltar a escrever, atendendo a pedidos de cartas de leitores que queriam histórias de Espada e Magia nas revistas da Marel Comics  (a maior parte dos pedidos era para adaptar Senhor dos Anéis,  Tarzan e John Carter de Edgar Rice Burroughs etc). A essa altura já havia uma outra compilação no mercado sobre o Bárbaro, chamada Conan o Aventureiro da editora Lancer, (essa já tinha capas de  Frank Frazetta) mas não haviam adaptações contemporâneas do personagem e foi Stan Lee que convenceu Thomas a convencer Martin Goodman, diretor editorial da Marvel de aprovar uma adaptação do personagem.

    A intenção do roteirista era escrever apenas 4 números, mas seu run durou  115 volumes, além de alguns retornos e escritos em outras revistas que não Conan The Barbarian. O posfácio da publicação da Mythos Editora também revela o baixo valor pago a Smith, que não era tão conhecido, e que assumiu os desenhos por conta de John Buscema ser caro demais, no entanto a melhor das informações certamente se dá pelos conselhos de Stan Lee, que deu o a dica de se utilizar de inimigos humanoides nas capas, e depois de um tempo, a revista retornou a ter bons números de venda.

    A primeira historia não é grandiosa  mas funciona bem em estabelecer a mitologia em torno do personagem principal, levantando elementos místicos, mágicos e típicos das rodas de RPG campanha clássica de Era Medieval. Apesar dos desenhos de Windsor-Smith serem feitos para uma publicação em preto e branco, a colorização digital não fica estranha, soando natural mesmo que não tenha sido pensada para ser assim. A segunda historia,O Covil dos Homens Fera tem arte final de Sal Buscema, e começa com o bárbaro matando um gigante, enquanto os homens fera de aparência símia aprisionam os humanos, enquanto Conan os libertam, É impossível não olhar essa revista e não fazer paralelos com o filme de Franklin j Shaffner, Planeta dos Macacos de 1968. Já em O Crepúsculo do Deus Cinzento há referencias claras a mitologia nórdica. A maioria das aventuras publicadas reúnem elementos de mitos estrangeiros, em atenção ao trabalho que o contista e criador do Cimério também fazia, amalgamando crenças diversas.

    Em A Torre do Elefante há uma busca por  um tesouro milenar, e a descoberta desses fatos em uma taverna, fato que se tornou também um clichê dos jogos de RPG,  assim como A Filha de Zukala (na verdade se baseia no poema  A Hora de Zukala), a noite cai subitamente e um predador parecido com um tigre ataca o herói.   Conan é um exímio guerreiro e astuto o suficiente para enfrentar inimigos com poderes ligados a magia. Em Asas Demoniacas sobre Shadizar, Conan começa matando dois ladrões indecisos,  que brigam pelas peças de ouro que roubaram, e não sabe o que fazer com elas. Ele é ludibriado por uma mulher bela, mostrando que apesar de experimentado, ele vacila e tem no belo sexo um de seus pontos fracos. Essa característica humaniza bastante o personagem, e especialmente nesses primeiros volumes, isso é importante.

    O Deus na Urna é a ultima das historias inéditas que Thomas escreveu na primeira leva, e o autor reavaliou seu modo de contar historias, tentando tornar elas menos genéricas. Essa ainda tem um bocado desse caráter mais episódico, com o personagem tentando pegar uma urna cujo conteúdo ninguém sabe do que se trata, que mais parece uma missão auxiliar das mesas de RPG. Essas primeiras Crônicas Nemédias terminam com Os Guardiões da Tumba, onde Conan é perseguido como um ladrão por um destacamento de Corintia, vizinho da Nemédia. . A luta mostrada do bravo homem contra um dragão com um formato semelhante ao de uma serpente, só que com membros é muito legal, sobretudo pela forma fluida com que saem os desenhos de Barry Windsor.

    Neste ponto há mais uma vez uma reunião de clichês de RPG, os aventureiros passam riquezas de tesouros, muito ouro, soldados mortos voltando a vida, objetos mágicos que ao serem retirados despertam um mal ancestral, e tudo é muito bem registrado não só pelo lápis de Smith, mas também pelas cores vivas que destacam a grandiosidade dos cenários suntuosos pensados nessa tradução que Thomas faz do  universo hiper rico de Robert Howard. O fato de Conan dar de ombros do motivo dos eventos mágicos terem ocorrido consigo dá a dimensão de quão ardiloso e acostumado com aquilo é o personagem, e Thomas entendeu como poucos a criatura mais famosas que o escritor pulp Robert E. Howard concebeu, traduzindo quase tão bem as aventuras do cimério quanto fazia o escritor original dessas micro histórias.

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