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  • Resenha | DC: A Nova Fronteira (1)

    Resenha | DC: A Nova Fronteira (1)

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    Escrita em 2004, DC: A Nova Fronteira tem uma estrutura narrativa cinematográfica, com uma base de três quadros largos por página e variando de acordo com a necessidade dentro dessa mesma estrutura, gerando uma leitura fluida e agradável. Qualidade essa que se destaca em conjunto com o trabalho consistente de Darwyn Cooke nos desenhos, os quais lembram, muitas vezes, um storyboard pela simplicidade do traço e a imersão que as cores de Dave Stewart trazem à revista.

    Acredito que a intenção original seja um exercício de estrutura próximo do que outro roteirista, Alan Moore, trazia na construção de seus roteiros: condensar em crescente o universo DC como um todo, contextualizando historicamente eventos reais em conjunto com o nascimento da Trindade, a origem do Lanterna Verde, Flash, Caçador de Marte, Elektron, os Homens Metálicos, entre outros.

    E não apenas isso, Nova Fronteira, certamente, é a primeira revista que une não só todos os heróis DC numa mesma origem, mas também grupos militares como os Perdedores e Blackhawks, e outros pouco conhecidos, como os Desafiadores do Desconhecido e o Esquadrão Suicida. A história preocupa em manter uma constante de datas e resumir alguns dos eventos principais como o registro dos Super-Heróis pelo governo americano com manchetes de jornal e fotos simulando o efeito de retícula em cima de algumas ilustrações (ao mesmo tempo pra justificar a ausência de alguns seres místicos como Capitão Marvel, Zatanna e Doutor Destino dos eventos em que se passa a história). Esse preciosismo com o contexto histórico é tamanho que vemos inclusive transições nos uniformes do Super-Homem e Batman.

    A HQ passa até um pouco mais da metade encaixando muitos personagens e introduzindo novos. A impressão que você pode ter é que o ritmo dela é arrastado por isso. Em compensação, temos uma grande cena de ação no desfecho da revista, com direito a vermos quase todos os heróis agindo em conjunto. Apesar das 300 e poucas páginas, divididas em dois volumes pela Panini Comics, a leitura acaba passando mais rápido do que parece, com quadros dinâmicos e praticamente sem balões de pensamento ou narração em off, com exceção do emocionante discurso no final escrito por John Kennedy.

    Hal Jordan é com certeza o protagonista da história. É através dele que uma grande parte da narrativa é contada, deixando também espaço para o Flash e o Marciano John Johnz (que tem por sinal uma das narrativas mais contextualizadas nos anos 50, se passando por um detetive do departamento de Gotham), mas é possível ver o carinho especial dado a ele e, mais adiante, a toda a era de prata da DC. Em contraponto, só vemos a Trindade pouquíssimas vezes na história toda. Quem sabe essa seria a grande mensagem final de Cooke para os leitores, roteiristas e toda a indústria de quadrinhos? Deixar grandes medalhões no seu lugar e dar espaço a novas histórias, personagens e lugares para alcançar!?

    A ameaça final representa essa liberdade que os roteiros mais antigos possuíam de não necessitarem de grandes plots, conspirações e reviravoltas. Essa última, bem contextualizada, é utilizada em função do que “voltar pra casa” significa em Nova Fronteira: é o voltar para o real espírito de aventura que tais histórias perderam durante os anos. A edição é uma ótima introdução ao universo DC nos quadrinhos, tirando qualquer mérito das séries animadas por Bruce Tim e roteirizadas por Paul Dini e dando espaço à leitura de uma boa HQ.

    Compre aqui: DC: New Frontier (Deluxe Version)

    Texto de autoria de Halan Everson.

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  • Resenha | Batman & The Spirit

    Resenha | Batman & The Spirit

    Batman - Spirit

    Criado pelo revolucionário Will Eisner, o herói The Spirit surgiu na década de 40 em um supletivo dominical dedicado aos quadrinhos. Desde então, tornou-se uma das criações icônicas do mestre e ainda lembrada pelo público contemporâneo, que, mesmo sem ser uma testemunha ocular do sucesso da personagem, reconhece a criação mascarada que traja sobretudo e uma gravata, uma referência noir e adulta, inédita para a época.

    Em 2007, a DC Comics adquiriu os direitos da personagem e coube ao roteirista Jeph Loeb apresentá-la a um novo público leitor. Desenhado por Darwyn Cooke, responsável integralmente por doze edições seguintes do herói, este crossover utiliza um dos medalhões do estúdio como destaque para apresentar um novo antigo personagem que possui semelhanças com o Homem-Morcego. Ambos são detetives que utilizam o mistério e a teatralidade como estilo para esconder a origem e o alterego, atuam em uma cidade específica e têm como amigo um comissário da polícia.

    A trama de Convenção do Crime apresenta a amizade entre Gordon e Dolan, relembrando a primeira vez em que Spirit e Batman se encontraram para evitar um ataque de um grande grupo de vilões. O argumento narrativo é básico e cria paralelos entre as personagens de cada universo como modo de interação. Dessa maneira, Gordon e Dolan são convidados para uma convenção policial em comum e, ao mesmo tempo, seduzidos por mulheres fatais, P’Gell, no caso de Gordon, e Pamela Islay formando um par com Dolan. Os heróis são atraídos pelo grupo vilanesco ao mesmo local para serem exterminados. Após um desconforto inicial, e a descrença por parte de Spirit da real existência do Homem-Morcego, a dupla forma uma equipe.

    A história não se desenvolve além de uma aventura de apresentação. O roteiro de Loeb não se situa nem em sua fase elogiada, nem em sua derrocada posterior. Permanece equilibrada e agrada ao demonstrar as diferenças operacionais entre as personagens. Por outro lado, o traço de Cooke, voltado a um estilo mais cartunesco e, assim, fora dos padrões mais realistas de muitos desenhistas atuais, é um primoroso acerto. Completa com estilo a personagem de Spirit e, longe do realismo do Morcego, demonstra-se funcional pela aventura e as doses de humor que ainda evidenciam traços de um estilo noir.

    Torna-se visível que utilizar Batman como uma figura de destaque – a trama tem também uma aparição-relâmpago  de Superman – funciona para situar o herói de Eisner e mostrar ao público que  as personagens habitam um mesmo universo. Como ponto de partida e uma carta de apresentação, a história é funcional. Porém, a fase seguinte apresentada por Cooke é composta com um apuro tão preciso que transforma este crossover entre grandes personagens em uma sombra quase insignificante.

  • Resenha | Antes de Watchmen: Espectral

    Resenha | Antes de Watchmen: Espectral

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    Muito se falou a respeito do prelúdio de Watchmen, graphic novel aclamada pelo público e pela crítica, escrita por Alan Moore e desenhada por Dave Gibbons, e que remodelou o universo dos quadrinhos dali para frente. Não é objeto desta resenha entrar nos méritos da editora sobre suas motivações (financeiras, logicamente) em voltar a essas personagens, muito menos compará-la com a série original, mas apenas analisá-la como uma história única.

    Antes de Watchmen: Espectral foi o segundo volume da série publicada pela Panini, logo após a minissérie do Coruja, e traz o roteiro de Darwyn Cooke e Amanda Conner, arte de Amanda Conner e o excelente trabalho de colorização de Paul Mounts. A HQ traz um pouco do passado de Laurie Jupiter, sua relação com a mãe e muitas referências à HQ original e ao contexto histórico da época narrada.

    Espectral não traz muitas diferenças em relação à HQ do Coruja: ambos se prestam a apresentar alguns dos personagens centrais da série original e o que as levou a se transformar naquelas figuras que conhecemos em Watchmen. Toda ação gera uma reação. Felizmente, a ação gerada nessa minissérie é muito melhor estabelecida do quem em Coruja.

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    A conexão com a história original é muito bem feita, detalhando toda a relação de Laurie com sua mãe, algo abordado anteriormente e esmiuçado aqui. As referências a Watchmen se dão de forma direta ou indireta, como através de objetos espalhados pela trama, como os quadrinhos eróticos da Espectral original, os buttons do Smile e o globo de neve. As referências históricas são representadas pela criação do LSD, o clima psicodélico dos anos 60, o rock and roll, manifestações políticas e sociais, e claro, a liberdade sexual.

    Cooke e Conner traçam uma trama mais introspectiva sobre o autoconhecimento de uma jovem superprotegida por uma figura materna coercitiva. A arte de Conner remete bastante aos quadros de Gibbons, e enquanto em Coruja a atmosfera pulp era presente página a página, em Espectral o traço é alegre e inocente, tudo isso somado às cores vivas e psicodélicas de Mounts.

    Antes de Watchmen: Espectral não é uma HQ que vai mudar o conceito de quadrinhos, mas é competente no que se propõe: detalhar as origens de uma personagem contando uma boa história.