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  • Resenha | Batman 70 Anos: Volume 2

    Resenha | Batman 70 Anos: Volume 2

    Batman - 70 Anos - Vol. 2 - Os Segredos da Batcaverna

    O segundo volume lançado pela Panini Comics em comemoração aos 70 anos do Cavaleiro das Trevas é uma coletânea dedicada à Batcaverna, central de operações do Morcego desde a criação da personagem.

    A escolha das histórias não busca um panorama como na edição anterior, mas centra-se na época de ouro da década de 40 e 50 para apresentar aventuras que explicam diversos dos artefatos encontrados e destacados no interior da caverna, principalmente na famosa Sala de Troféus. Como um colecionador, Bruce Wayne mantém uma sala que recorda diversos crimes solucionados em parceria com Robin. Dessa maneira, descobrimos a origem de diversos objetos conhecidos na sala de operações, como o dinossauro mecânico, a moeda gigante de um centavo, entre outras curiosidades da infraestrutura de ser um herói milionário, tal qual a criativa gama de batarangues utilizada em ocasiões diversas. Itens que, vistos com distanciamento, não são coerentes com as atuais histórias sombrias, mas fazem parte da história do encapuzado.

    As 16 histórias apresentadas estão divididas formalmente em três partes: Troféus da Batcaverna, Origem da Batcaverna e Contos da Batcaverna. Ainda que as divisões sejam arbitrárias, apresentam tramas com o mesmo tema e sem nenhuma diferença.

    Em relação aos primórdios de Batman, as histórias ganharam maior agilidade, mesmo que continuem pueris. A personalidade do Morcego é bem definida por um senso cômico de fazer piadas com trocadilhos envolvendo os bandidos, um humor de época engraçado, mas sem soar agressivo. Mesmo que por meio de outra abordagem, há consistência nas tramas, as quais ainda atingem o objeto primordial de uma leitura de entretenimento.

    Em uma seleção dedicada à caverna, há um grande equívoco de se inserir nela a história O Homem do Capuz Vermelho. Embora seja uma excelente e importante trama, a primeira que modifica a origem do Coringa e lhe dá o passado do vilão Capuz Vermelho, ela não possui nenhum vínculo com a temática em questão.

    Somente três histórias são dos últimos 30 anos. Teatro de Sombras marca a volta de Wayne à batcaverna sob a mansão. Na década anterior, com Dick Grayson indo para a faculdade, Bruce realocou a caverna em um de seus edifícios na cidade. No retorno, a personagem presta ajuda à família de Robert Kirkland Langstrom, o vilão Morcego Humano, que, na época pré-Crise, era um fã de Batman e criador de um soro para obter os poderes de um morcego de verdade.

    O Homem Que Cai é uma das tradicionais edições que recontam elementos da origem da personagem. Com uma ambientação próxima da contemporânea e utilizando-se do roteiro de Danny O´Neil, a trama foca Bruce Wayne desde sua adolescência, no que se tornaria o ponto de arranque para a fundação da caverna, momento em o jovem cai em um buraco perto da mansão Wayne – cena repetida em outras histórias e vista também no início de Batman Begins, de Christopher Nolan.

    Publicado em janeiro de 82 em The Brave And The Bold #182, Interlúdio na Terra 2 apresenta, também pré-Crise, uma aventura de Batman na outra Terra. A aventura é bem executada e demonstra ao público pós-Crise como era a interação das diversas Terras ante a grande saga que modificou as estruturas da DC Comics.

    Finalizando a seleção, uma pequena história publicada em Bizarro Comics (2001), com roteiro de Paul Pope – que produziria depois o interessante Batman: Ano 100 – e desenhos de Jay Stephens. Uma narrativa doce em que um pequeno garoto descobre a existência real da batcaverna. Um argumento sensível que apresenta um viés raro da personagem sempre sombria.

    Sem a obrigatoriedade de histórias representativas de cada época, este segundo volume ganha coerência em relação ao primeiro e com a qualidade da Era de Ouro, ainda que muito diferente das atuais narrativas soturnas. Ao contrário da edição anterior, o segundo volume apresenta quatro páginas indicando as modificações da caverna através das décadas. Porém, a coleção continua sem nenhum texto introdutório e nenhuma outra informação extra deste rico material.

  • Resenha | Batman 70 Anos: Volume 1

    Resenha | Batman 70 Anos: Volume 1

    Batman 70 Anos - Vol. 1

    Na celebração dos 70 anos de criação do Cavaleiro das Trevas, a Panini Comics lançou quatro volumes em homenagem ao Morcego. Batman 70 Anos – Volume 1 apresenta um compilado amplo de histórias publicadas em décadas diferentes, demonstrando como a personagem sofreu modificações durante vários períodos.

    Mesmo um leitor de anos das histórias do Batman precisa confiar no editor quando se tratam de edições compiladas. Salvo quem se aprofundou na personagem e conseguiu lê-la em sua totalidade, a seleção é filtrada pela visão do editor, cuja exigência é de que tais histórias não possam ultrapassar as tradicionais 25 páginas. Deixa-se de fora, portanto, a maioria das narrativas de 20 anos para cá em que se difundiram os arcos em diversas edições.

    A capa é dedicada a uma das imagens mais realistas do herói, desenhada pelas talentosas mãos de Alex Ross. O conteúdo apresenta nove histórias, cada uma representada por uma década, salvo a década de 80, com três aventuras.

    A primeira história é a única que foge da cronologia temporal com uma narrativa de 1986, Origens Secretas: Estrelando o Batman da Era de Ouro. É uma abertura interessante se considerarmos que a edição pode ser a porta de entrada para novos leitores. Mesmo contando uma história de um Batman anterior ao contemporâneo, a base de sua origem está presente, sendo uma boa alfabetização-morcego que resume a essência da personagem.

    Professor Hugo Strange e Os Monstros é o primeiro gibi de Batman a ser lançado oficialmente – na primavera de 1940 – e a segunda história a ser apresentada na edição. A questão de escolher uma primeira aventura é arbitrária. Poderia ser a estreia do herói na Detective Comics, mas optou-se por uma das histórias do primeiro número de Batman (1940). Com desenhos de Bob Kane, criador do herói, a trama apresenta o retorno de Strange de maneira simples se comparada às tramas atuais.

    Mais de 100 edições à frente, mesmo tendo estreado quase que em sincronia com Batman, o menino prodígio Robin entra em cena em uma história lúdica. O Morcego ajuda um carro desgovernado e salva a família Jones. De presente, o bebê do casal ganha o nome de Batman e, ao crescer, sente-se impelido pelo senso de justiça. A trama não tem nada do conhecido lado sombrio da personagem e chega a cometer um erro referencial estranho. No interior das histórias, não se passaram dez anos para que o garoto – recém-nascido nas primeiras páginas – alcançasse uma idade suficiente para se aventurar em ser um Batman postiço. Por outro lado, observamos como o herói era visto na época e como os temas eram mundanos, sem uma elaboração maior de sagas.

    Sob este aspecto, há exagero didático. As narrativas, que acompanham os desenhos, ainda não pareciam compostas para o mesmo objeto. Considerando que os quadrinhos engatinhavam na época, é perceptível a falta de arrojo técnico entre texto e imagem, ainda não tão bem integradas neste início. Outro ponto de referência sobre a mudança paradigmática do Morcego é que não havia problema algum com eventuais baixas de vilões, elemento que, hoje, impede Batman de dar um fim definitivo a diversas personagens.

    Publicada em fevereiro de 1963, Prisioneiro de Três Mundos dá um passo além na narrativa, melhor integrada entre desenho e texto e demonstrando talentosamente como uma história de 25 páginas pode ser enxugada em três partes bem desenvolvidas. Indo além dos crimes mundanos, Batman lida com a chegada de um alienígena que o transporta para outra dimensão. Se a história parece diferente de início, ao menos é bem explorada e demonstra bom crescimento narrativo com tramas narradas em paralelo. Há a presença das primeiras encarnações de Batwoman e Batgirl, personagens da Era de Prata que sumiram (recentemente Batwoman foi reintegrada no reboot). Apresenta também um Bruce Wayne tão devotado ao crime que evita deixar-se seduzir pela Batwoman, evidenciando sua retidão em relação ao crime e somente ela.

    Estas histórias também apresentam um recurso não mais utilizado atualmente, o de fazer a primeira página da história uma abertura que apresenta um quadro significativo da narrativa. Nos dias de hoje, as tramas utilizam o flashback narrativo como gancho, porém as primeiras páginas com um desenho impactante eram um bom teaser do que iria acontecer e, sem dúvida, agitaram os leitores da época que folheavam as edições.

    As três histórias seguintes foram lançadas na década de 80 em período anterior a Crise Nas Infinitas Terras. De Quantas Maneiras Pode Se Matar Um Robin traz parte do elemento sombrio que atualmente parece necessário para o funcionamento de uma boa narrativa do encapuzado. A trama é um jogo psicológico entre Batman e um vilão que sequestrou Robin e demonstra quantas formas o menino-prodígio poderia morrer. Novamente, o habilidoso recurso de utilizar capítulos em uma história de 25 páginas é utilizado, dando dinamicidade à trama, além de uma boa dose de suspense.

    Dialogando com a morte dos pais de Bruce Wayne e com a tradição de que Thomas Wayne sempre foi um exemplo dentro de Gotham, O Último Natal do Batman é um retorno ao passado que coloca em xeque a integridade de Thomas. Na época, o herói encapuzado possuía traços mais pesados, com uniforme mais ameaçador e os olhos na máscara funcionando como traços pontudos de um olhar sempre irritado. Helena, sua filha com Mulher-Gato, é o apoio que o ajuda a desvendar se o pai foi um criminoso ou apenas incriminado.

    Todos Os Meus Inimigos Contra Mim! é a primeira menção ao Coringa, o conhecido grande arqui-inimigo do Morcego. Apesar de aparecer somente na quinta história do compilado, o roteiro de Gerry Conway produz um grande plano em que o vilão convoca diversos outros comparsas conhecidos para um ataque definitivo a Batman. A trama marca a 500ª aparição de Batman na Detective Comics, o que explica a reunião épica para a edição. Também marca a primeira aparição de Jason Todd, que se tornaria o futuro segundo Robin. Antes da Crise, a origem de Todd era exatamente a mesma de Dick Grayson, menino-prodígio primordial. A diferença é que é o próprio Grayson que adota o garoto nesta história, terminando em final feliz, com direito à união das personagens de mãos dadas caminhando juntas em um dia ensolarado.

    A primeira história pós-Crise surge seis anos depois, originalmente publicada em The Batman Chronicles 5: uma aventura infantil do pequeno Bruce Wayne e de sua relação com Alfred. Embora demonstre com eficiência o paternalismo do mordomo, a escolha desta história serve como diferencial das habituais tramas do Morcego. Até porque nesta época a maioria das narrativas era dividida em diversas partes.

    Fechando a edição, mais um exercício dentro de muitos que surgiram a partir da origem oficial de Bruce Wayne como herói. Dessa vez, Brian Michael Bendis e Michael Gaydos situam a biografia da personagem em uma história em preto e branco que faz referência direta ao clássico de Orson Welles, Cidadão Kane. Uma bonita história que aproxima os elementos do filme – popular e rico homem é morto e um repórter investiga sua história para uma matéria –, entrelaçado com os amigos e inimigos do Morcego, num interessante final que trata a origem da palavra Rosebud neste contexto.

    Como primeiro volume de uma seleção comemorativa, o início é mais funcional do que seu fim. Como todo compilado, a escolha é limitada, dando-nos a impressão de que muito ficou de fora em razão das páginas dentro das necessárias. Infelizmente, há total falta de textos informativos ou qualquer aditivo que ampliem o brilho desse panorama que, apesar de não parecer completo, é uma edição importante, ainda mais se considerarmos que boa parte desse material nunca saiu em formato americano no país.