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  • Batman e os Videogames – Parte 1

    Batman e os Videogames – Parte 1

    O personagem criado por Bob Kane e Bill Finger em 1939 tem protagonizado seus próprios jogos há mais de 30 anos, nos mais variados gêneros, estilos, plataformas e qualidade. O objetivo desta coluna é relembrarmos, ainda que de modo superficial cada um desses jogos, seus detalhes, inovações e características, não só como adaptação do personagem e de seu universo, como também dos próprio mundo dos games.

    Por conta da grande quantidade de títulos do personagem, inicialmente, abordaremos apenas àqueles em que ele é o protagonista do jogo, para depois passarmos para suas aparições em jogos de equipe ou de outros personagens. Espero que vocês se divirtam com essa primeira parte.

    Batman (Ocean Software, 1986)

    No distante ano de 1986 foi lançado o primeiro jogo do Batman, lançado pela Ocean Software para os microcomputadores ZX Spectrum, Amstrad CPC, MSX e Amstrad PCW. Batman é um jogo de ação e aventura com uma inovadora visão 3D isométrica, que tem como o objetivo principal resgatar seu parceiro Robin, e para isso o herói primeiramente precisa procurar sete partes do seu hovercraft que estão espalhados pela Batcaverna.

    O jogo ganhou algumas versões não-oficiais, colorida e com gráficos atualizados, no ano de 2000, totalmente desenvolvida por fãs e que se encontram facilmente pela internet, sendo a maioria delas disponível para download gratuito.

    Batman: The Caped Crusader (Special FX Software, 1988)

    Desenvolvido pela Special FX Software e lançado novamente pela Ocean Software, para microcomputadores ZX Spectrum, Commodore 64, Apple II, Commodore Amiga e PCBatman: The Caped Crusader, foi o primeiro jogo do Homem-Morcego a chegar nos EUA, já que seu anterior só havia sido lançado na Europa.

    O jogo possui uma jogabilidade bastante diversa do anterior, já que aqui Batman utiliza socos, chutes e um inventário a seu favor para enfrentar seus inimigos. Outro diferencial do jogo era a divisão de sua história em duas partes, sendo que em cada uma delas Batman precisava enfrentar um grande vilão. Na primeira parte você enfrenta Pinguim, que planeja dominar o mundo com seu exercito de pinguins-robôs; enquanto na segunda você precisa impedir o Coringa e salvar Robin, sequestrado pelo palhaço do crime.

    O jogo ainda possuía uma tela de exibição que simulava o formato de uma história em quadrinhos e foi considerado bastante inovador e interessante para a época.

    Batman (Ocean Software, 1989)

    Terceiro jogo do Batman desenvolvido pela Ocean Software, e inspirado no filme Batman, do diretor Tim Burton. O jogo segue o roteiro do filme, sendo composto por cinco etapas. Cada fase possui um limitador de tempo e um indicador de saúde que era representado pelo rosto de Batman (Michael Keaton) que conforme perdia energia se transformava no Coringa (Jack Nicholson).

    O diferencial do jogo fica sem dúvida para sua jogabilidade. Cada etapa do jogo possui uma dinâmica diferente da anterior, sendo na primeira delas o típico side-scrolling como do Batman: The Caped Crusader, enquanto na segunda etapa você controla o Batmóvel pelas ruas de Gotham. A terceira parte é voltada uma resolver quebra-cabeças, na quarta o Homem-Morcego precisa utilizar seus equipamentos para estourar balões repletos cheios de gás do Coringa. Retomando novamente, no quinto e último nível a jogabilidade side-scrolling da primeira etapa, onde Batman precisa chegar ao topo da Catedral de Gotham para enfrentar o palhaço do crime.

    Lançado para os os consoles e computadores Amstrad CPC, Apple II, Atari ST, Commodore 64, Commodore Amiga, MS-DOS e ZX Spectrum e muito bem recepcionado pela crítica e o público, diferente da esmagadora maioria das adaptações dos cinemas para os games que são lançadas atualmente.

    Batman: The Video Game (Sunsoft, 1989)

    Mais uma adaptação do filme de 1989 no Japão, e nos EUA em 1990, o jogo da Sunsoft esta longe de ser um caça-níquel tipico de adaptações do cinema, pelo contrário, o jogo é muito fiel com a essência da personagem. A utilização de tons escuros e o uso técnico de sombra bastante condizente com a atmosfera do Batman e da adaptação do Tim Burton.

    Os gráficos do jogo eram impressionantes para época se comparados com seus contemporâneos. A música é igualmente impressionante, com uma trilha sonora memorável. A jogabilidade e o game design proporcionam desafio e um fator replay até os dias de hoje, o que de certa forma é impressionante, dado o jogo ser do final dos anos 1980. Foi lançado para NES e Game Boy.

    Batman (Sunsoft, 1990)

    Com o sucesso do filme do Tim Burton e do jogo anterior baseado no longa, era inevitável a produção do jogo para outros formatos e plataformas. A novidade foi o caminho trilhado pela Sunsoft, deixando de lado a versão para outras plataformas e produzindo um jogo completamente diferente para a sua encarnação no TurboGrafx-16 (ou PC Engine, como é conhecido no Japão e França).

    Batman era praticamente uma evolução do clássico Pac Man, sendo sua jogabilidade baseada exclusivamente em labirintos habitados pelos capangas no Coringa ao longo de diversas fases. O grande diferencial do jogo era a possibilidade de desenvolvimento de habilidades da personagem, já que a princípio Batman anda muito lentamente e possui equipamentos com pouco alcance e munição, e a medida que avança encontra power-ups para desenvolver essas habilidades.

    O jogo ainda tinha objetivos diferentes a cada estágio, no entanto a natureza repetitiva da jogabilidade era o grande problema do jogo, apesar de seus gráficos bem desenhados, as sequências de animações e o ótimo som existente pra época. De qualquer forma, interessante notar a coragem da Sunsoft  ao procurar diferenciar seus produtos.

    Batman (Data east, 1990)

    Batman é um jogo de arcade beat ‘em up, lançado pela Atari Games em 1990, e desenvolvido pela Data East. O jogo mais uma vez segue o enredo do filme de Tim Burton, de 1989, assim como alguns dos jogos anteriores. Ainda que não seja um diferencial, o jogo possui fases inteiramente baseados em locais no filme, incluindo o controle em primeira pessoa do Batmóvel e do Batwing.

    A união entre Data East e Atari proporcionou aos fãs do morcego e de games em geral um beat ‘em up bastante interessante e completamente esquecido pelo grande público. Surfando na onda do filme, conforme já falado, o jogo contou com as vozes de Michael Keaton e Jack Nicholson, diversas fotos digitalizadas do filme e ainda pode utilizar várias armas, como batarangs e granadas de gás. O jogo foi lançado para arcades, já que nessa época eles tinham muito mais poder de processamento, e processadores de vídeo muito melhores que os videogames em geral, é notável o quão melhor é o gráfico desse comparando com os mesmos jogos do morcego do mesmo ano, por conta dos recursos de voz e digitalização de imagens, impossíveis de se realizar no Yamaha YM2612, chip de áudio do Mega Drive.

    Batman: Return of the Joker (Sunsoft, 1991)

    Em 1991, a Sunsoft novamente entrou no jogo e decidiu fazer uma sequência para o seu jogo do Batman lançado em 1989 e baseado no filme do Burton. Assim como o primeiro jogo, Batman: Return Of The Joker repete a fórmula do seu antecessor entregando um jogo inesquecível, seja pelos belos gráficos e a utilização de música, como pelo nível de dificuldade. No enredo, fazendo livre adaptação de uma continuação do filme de 1989, o Coringa retorna do mundo dos mortos e cabe ao Morcego tentar detê-lo. Lembremos que Batman: O Retorno só chegaria aos cinemas um ano depois.

    Os pontos fortes do jogo da Sunsoft são os gráficos, levados ao limite o hardware do NES, algo que já era bastante elogiado no jogo anterior. Apesar de se tratar de 8-bit, os detalhes gráficos impressionam, lembrando bastante jogos antigos de Mega Drive. O mesmo destaque pode ser dado a jogabilidade, similar em muitos momentos aos jogos da série Contra, já que o Homem-Morcego utiliza apenas uma arma em seu pulso e com ela ataca seu inimigos.

    O jogo obteve tanto sucesso que tempos depois ganhou um remake para Mega Drive, já sem o mesmo brilho, e felizmente, uma versão do Super Nintendo que nunca foi levada à frente, pois era considerada ainda inferior que o remake para o concorrente. Além disso, o jogo teve uma versão lançada também para Game Boy.

    Batman Returns (Konami/Sega, 1992/1993)

    Mais um bom exemplo de um jogo que fez uma boa transição do cinema para os videogames. Batman Returns segue o mesmo roteiro do filme e foi lançado para múltiplas plataformas nos anos de 1992 e 1993, sendo que as versões dos consoles da Sega foram publicadas pela própria Sega, enquanto as versões para a Nintendo foram desenvolvidas e publicadas pela Konami. Além disso, as versões para a Sega seguiam um estilo plataforma, semelhante ao jogo anterior, enquanto as versões para a Nintendo já utilizavam um estilo beat’em up, algo que seria um dos estilos característicos dos jogos do Super Nintendo naquele momento.

    A jogabilidade e o gráfico se aproximavam bastante dos jogos da série Final Fight, enquanto a versão de NES já lembrava um pouco do estilo e jogabilidade da série Double Dragon. Um dos grandes diferenciais da versão da Sega foi aquela lançada para o Sega CD, onde o hardware fez toda a diferença, não só pela qualidade gráfica, mas também em relação ao áudio do jogo. O jogo ainda teve versões para as plataformas Amiga, Lynx (console portátil da Atari), Game Gear, DOS e NES. A versão do Amiga também se diferenciava das demais, sendo um mix de jogo de plataforma com beat ‘em up.

    Batman: The Animated Series (Konami, 1993)

    Batman: The Animates Series, desenvolvido pela Konami e lançado para Game Boy, foi o primeiro jogo que procurou adaptar a série animada de Paul Dini e Bruce Timm que havia estreado um ano antes. O jogo teve uma ótima recepção de público e crítica na época.

    A dinâmica era similares a de outros jogos de plataforma do personagem, com o diferencial de se mudar o design de fases e que ocasionalmente você podia controlar o Robin por um pequeno período de tempo. O herói tinha ainda a sua disposição uma série de gadgets para enfrentar alguns dos principais vilões da série de TV.

    The Adventures of Batman & Robin (Konami/Sega, 1994/1995)

    O sucesso do jogo anterior gerou uma continuação um anos depois, The Adventures of Batman and Robin, dessa vez lançado para várias plataformas, mas com a diferença de que a versão para Super Nintendo foi desenvolvida pela Konami em 1994, enquanto as versões para Mega Drive, Game Gear e Sega CD teve como desenvolvedor a própria Sega um ano depois, com desafios e roteiros completamente diferente, já que na versão da Nintendo seu objetivo era capturar o Coringa, enquanto na versão da Sega seu inimigo era o Senhor Frio.

    Assim como a versão para Game Boy lançada em 1993, o jogo se baseava na série animada, chegando a utilizar cenários e roteiros de alguns episódios para a composição de determinadas fases do game. Ambas as versões tiveram bastante sucesso de público e crítico, sendo que a versão da Sega ficou marcada por se ter a opção de jogar com Batman e Robin, diferente da versão para Super Nintendo, ainda que esta tivesse mais fases. Esse é um dos primeiros trabalhos, e o primeiro a ser bem notado em um jogo de sucesso do compositor Jesper Kyd, que é o mais próximo de John Williams que temos nos games. Esse também é o último jogo, pelo menos da série Batman, em que as diferenças de um mesmo jogo pra duas plataformas diferentes  não apenas de gráficos e limitações de uma plataforma específica, mas com diferenças fundamentais colocando-os em gêneros completamente diferentes, em função do que em determinado momento faria mais sucesso em uma plataforma especifica, ou com que o estúdio de desenvolvimento que conseguiu o contrato estava mais acostumado e com mais experiencia para fazer.

    Ps. Esse artigo não poderia ser escrito sem a colaboração de Rafael Moreira.

  • Resenha | Batman 70 Anos: Volume 2

    Resenha | Batman 70 Anos: Volume 2

    Batman - 70 Anos - Vol. 2 - Os Segredos da Batcaverna

    O segundo volume lançado pela Panini Comics em comemoração aos 70 anos do Cavaleiro das Trevas é uma coletânea dedicada à Batcaverna, central de operações do Morcego desde a criação da personagem.

    A escolha das histórias não busca um panorama como na edição anterior, mas centra-se na época de ouro da década de 40 e 50 para apresentar aventuras que explicam diversos dos artefatos encontrados e destacados no interior da caverna, principalmente na famosa Sala de Troféus. Como um colecionador, Bruce Wayne mantém uma sala que recorda diversos crimes solucionados em parceria com Robin. Dessa maneira, descobrimos a origem de diversos objetos conhecidos na sala de operações, como o dinossauro mecânico, a moeda gigante de um centavo, entre outras curiosidades da infraestrutura de ser um herói milionário, tal qual a criativa gama de batarangues utilizada em ocasiões diversas. Itens que, vistos com distanciamento, não são coerentes com as atuais histórias sombrias, mas fazem parte da história do encapuzado.

    As 16 histórias apresentadas estão divididas formalmente em três partes: Troféus da Batcaverna, Origem da Batcaverna e Contos da Batcaverna. Ainda que as divisões sejam arbitrárias, apresentam tramas com o mesmo tema e sem nenhuma diferença.

    Em relação aos primórdios de Batman, as histórias ganharam maior agilidade, mesmo que continuem pueris. A personalidade do Morcego é bem definida por um senso cômico de fazer piadas com trocadilhos envolvendo os bandidos, um humor de época engraçado, mas sem soar agressivo. Mesmo que por meio de outra abordagem, há consistência nas tramas, as quais ainda atingem o objeto primordial de uma leitura de entretenimento.

    Em uma seleção dedicada à caverna, há um grande equívoco de se inserir nela a história O Homem do Capuz Vermelho. Embora seja uma excelente e importante trama, a primeira que modifica a origem do Coringa e lhe dá o passado do vilão Capuz Vermelho, ela não possui nenhum vínculo com a temática em questão.

    Somente três histórias são dos últimos 30 anos. Teatro de Sombras marca a volta de Wayne à batcaverna sob a mansão. Na década anterior, com Dick Grayson indo para a faculdade, Bruce realocou a caverna em um de seus edifícios na cidade. No retorno, a personagem presta ajuda à família de Robert Kirkland Langstrom, o vilão Morcego Humano, que, na época pré-Crise, era um fã de Batman e criador de um soro para obter os poderes de um morcego de verdade.

    O Homem Que Cai é uma das tradicionais edições que recontam elementos da origem da personagem. Com uma ambientação próxima da contemporânea e utilizando-se do roteiro de Danny O´Neil, a trama foca Bruce Wayne desde sua adolescência, no que se tornaria o ponto de arranque para a fundação da caverna, momento em o jovem cai em um buraco perto da mansão Wayne – cena repetida em outras histórias e vista também no início de Batman Begins, de Christopher Nolan.

    Publicado em janeiro de 82 em The Brave And The Bold #182, Interlúdio na Terra 2 apresenta, também pré-Crise, uma aventura de Batman na outra Terra. A aventura é bem executada e demonstra ao público pós-Crise como era a interação das diversas Terras ante a grande saga que modificou as estruturas da DC Comics.

    Finalizando a seleção, uma pequena história publicada em Bizarro Comics (2001), com roteiro de Paul Pope – que produziria depois o interessante Batman: Ano 100 – e desenhos de Jay Stephens. Uma narrativa doce em que um pequeno garoto descobre a existência real da batcaverna. Um argumento sensível que apresenta um viés raro da personagem sempre sombria.

    Sem a obrigatoriedade de histórias representativas de cada época, este segundo volume ganha coerência em relação ao primeiro e com a qualidade da Era de Ouro, ainda que muito diferente das atuais narrativas soturnas. Ao contrário da edição anterior, o segundo volume apresenta quatro páginas indicando as modificações da caverna através das décadas. Porém, a coleção continua sem nenhum texto introdutório e nenhuma outra informação extra deste rico material.

  • Resenha | Batman 70 Anos: Volume 1

    Resenha | Batman 70 Anos: Volume 1

    Batman 70 Anos - Vol. 1

    Na celebração dos 70 anos de criação do Cavaleiro das Trevas, a Panini Comics lançou quatro volumes em homenagem ao Morcego. Batman 70 Anos – Volume 1 apresenta um compilado amplo de histórias publicadas em décadas diferentes, demonstrando como a personagem sofreu modificações durante vários períodos.

    Mesmo um leitor de anos das histórias do Batman precisa confiar no editor quando se tratam de edições compiladas. Salvo quem se aprofundou na personagem e conseguiu lê-la em sua totalidade, a seleção é filtrada pela visão do editor, cuja exigência é de que tais histórias não possam ultrapassar as tradicionais 25 páginas. Deixa-se de fora, portanto, a maioria das narrativas de 20 anos para cá em que se difundiram os arcos em diversas edições.

    A capa é dedicada a uma das imagens mais realistas do herói, desenhada pelas talentosas mãos de Alex Ross. O conteúdo apresenta nove histórias, cada uma representada por uma década, salvo a década de 80, com três aventuras.

    A primeira história é a única que foge da cronologia temporal com uma narrativa de 1986, Origens Secretas: Estrelando o Batman da Era de Ouro. É uma abertura interessante se considerarmos que a edição pode ser a porta de entrada para novos leitores. Mesmo contando uma história de um Batman anterior ao contemporâneo, a base de sua origem está presente, sendo uma boa alfabetização-morcego que resume a essência da personagem.

    Professor Hugo Strange e Os Monstros é o primeiro gibi de Batman a ser lançado oficialmente – na primavera de 1940 – e a segunda história a ser apresentada na edição. A questão de escolher uma primeira aventura é arbitrária. Poderia ser a estreia do herói na Detective Comics, mas optou-se por uma das histórias do primeiro número de Batman (1940). Com desenhos de Bob Kane, criador do herói, a trama apresenta o retorno de Strange de maneira simples se comparada às tramas atuais.

    Mais de 100 edições à frente, mesmo tendo estreado quase que em sincronia com Batman, o menino prodígio Robin entra em cena em uma história lúdica. O Morcego ajuda um carro desgovernado e salva a família Jones. De presente, o bebê do casal ganha o nome de Batman e, ao crescer, sente-se impelido pelo senso de justiça. A trama não tem nada do conhecido lado sombrio da personagem e chega a cometer um erro referencial estranho. No interior das histórias, não se passaram dez anos para que o garoto – recém-nascido nas primeiras páginas – alcançasse uma idade suficiente para se aventurar em ser um Batman postiço. Por outro lado, observamos como o herói era visto na época e como os temas eram mundanos, sem uma elaboração maior de sagas.

    Sob este aspecto, há exagero didático. As narrativas, que acompanham os desenhos, ainda não pareciam compostas para o mesmo objeto. Considerando que os quadrinhos engatinhavam na época, é perceptível a falta de arrojo técnico entre texto e imagem, ainda não tão bem integradas neste início. Outro ponto de referência sobre a mudança paradigmática do Morcego é que não havia problema algum com eventuais baixas de vilões, elemento que, hoje, impede Batman de dar um fim definitivo a diversas personagens.

    Publicada em fevereiro de 1963, Prisioneiro de Três Mundos dá um passo além na narrativa, melhor integrada entre desenho e texto e demonstrando talentosamente como uma história de 25 páginas pode ser enxugada em três partes bem desenvolvidas. Indo além dos crimes mundanos, Batman lida com a chegada de um alienígena que o transporta para outra dimensão. Se a história parece diferente de início, ao menos é bem explorada e demonstra bom crescimento narrativo com tramas narradas em paralelo. Há a presença das primeiras encarnações de Batwoman e Batgirl, personagens da Era de Prata que sumiram (recentemente Batwoman foi reintegrada no reboot). Apresenta também um Bruce Wayne tão devotado ao crime que evita deixar-se seduzir pela Batwoman, evidenciando sua retidão em relação ao crime e somente ela.

    Estas histórias também apresentam um recurso não mais utilizado atualmente, o de fazer a primeira página da história uma abertura que apresenta um quadro significativo da narrativa. Nos dias de hoje, as tramas utilizam o flashback narrativo como gancho, porém as primeiras páginas com um desenho impactante eram um bom teaser do que iria acontecer e, sem dúvida, agitaram os leitores da época que folheavam as edições.

    As três histórias seguintes foram lançadas na década de 80 em período anterior a Crise Nas Infinitas Terras. De Quantas Maneiras Pode Se Matar Um Robin traz parte do elemento sombrio que atualmente parece necessário para o funcionamento de uma boa narrativa do encapuzado. A trama é um jogo psicológico entre Batman e um vilão que sequestrou Robin e demonstra quantas formas o menino-prodígio poderia morrer. Novamente, o habilidoso recurso de utilizar capítulos em uma história de 25 páginas é utilizado, dando dinamicidade à trama, além de uma boa dose de suspense.

    Dialogando com a morte dos pais de Bruce Wayne e com a tradição de que Thomas Wayne sempre foi um exemplo dentro de Gotham, O Último Natal do Batman é um retorno ao passado que coloca em xeque a integridade de Thomas. Na época, o herói encapuzado possuía traços mais pesados, com uniforme mais ameaçador e os olhos na máscara funcionando como traços pontudos de um olhar sempre irritado. Helena, sua filha com Mulher-Gato, é o apoio que o ajuda a desvendar se o pai foi um criminoso ou apenas incriminado.

    Todos Os Meus Inimigos Contra Mim! é a primeira menção ao Coringa, o conhecido grande arqui-inimigo do Morcego. Apesar de aparecer somente na quinta história do compilado, o roteiro de Gerry Conway produz um grande plano em que o vilão convoca diversos outros comparsas conhecidos para um ataque definitivo a Batman. A trama marca a 500ª aparição de Batman na Detective Comics, o que explica a reunião épica para a edição. Também marca a primeira aparição de Jason Todd, que se tornaria o futuro segundo Robin. Antes da Crise, a origem de Todd era exatamente a mesma de Dick Grayson, menino-prodígio primordial. A diferença é que é o próprio Grayson que adota o garoto nesta história, terminando em final feliz, com direito à união das personagens de mãos dadas caminhando juntas em um dia ensolarado.

    A primeira história pós-Crise surge seis anos depois, originalmente publicada em The Batman Chronicles 5: uma aventura infantil do pequeno Bruce Wayne e de sua relação com Alfred. Embora demonstre com eficiência o paternalismo do mordomo, a escolha desta história serve como diferencial das habituais tramas do Morcego. Até porque nesta época a maioria das narrativas era dividida em diversas partes.

    Fechando a edição, mais um exercício dentro de muitos que surgiram a partir da origem oficial de Bruce Wayne como herói. Dessa vez, Brian Michael Bendis e Michael Gaydos situam a biografia da personagem em uma história em preto e branco que faz referência direta ao clássico de Orson Welles, Cidadão Kane. Uma bonita história que aproxima os elementos do filme – popular e rico homem é morto e um repórter investiga sua história para uma matéria –, entrelaçado com os amigos e inimigos do Morcego, num interessante final que trata a origem da palavra Rosebud neste contexto.

    Como primeiro volume de uma seleção comemorativa, o início é mais funcional do que seu fim. Como todo compilado, a escolha é limitada, dando-nos a impressão de que muito ficou de fora em razão das páginas dentro das necessárias. Infelizmente, há total falta de textos informativos ou qualquer aditivo que ampliem o brilho desse panorama que, apesar de não parecer completo, é uma edição importante, ainda mais se considerarmos que boa parte desse material nunca saiu em formato americano no país.