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  • Crítica | Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald

    Crítica | Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald

    Após toda uma saga de filmes e livros do bruxinho criado por J. K. Rowling, a escritora passou a escrever os roteiros que adaptavam suas obras, sem intermediários. Em Animais Fantásticos e Onde Eles Habitam a mudança do foco narrativo para um mundo de bruxos mais adulto acerta em cheio, mesmo que o personagem principal Newt Scamander, de Eddie Redmayne, seja absolutamente desinteressante, seus coadjuvantes salvam a exibição. Em Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald há uma tentativa do diretor David Yates seguir esta tônica, mas ele acerta em alguns elementos e erra em tantos outros.

    A história começa em 1927, mostrando Johnny Depp como o personagem vilanesco que dá nome ao longa, com cabelos e barba grande, por conta de seu aprisionamento. Apesar da figura de Depp ser deplorável (ainda mais depois das acusações sérias de assédio feitas por sua ex-companheira), a composição visual é boa, o grisalho dos pelos é bem fotografado e toda a sequência de ação inicial é de tirar o fôlego, valorizando toda a atmosfera barroca da obra, tendo já no início algo que faz valer o ingresso dos fãs a apreciar a adaptação dos personagens de Rowling, o problema é que esse êxito não se repete nas outras partes do filme. Redmayne continua em sua performance monotônica, como uma música que insiste demais na mesma nota, e dessa vez, nem Tina (Katherine Waterston) e Jacob Kawolski (Dan Fogler) tem brilho suficiente para balancear a falta de carisma do protagonista. Fica a interrogação sobre o motivo do retorno de Jacob, já que ele tem pouca ou nenhuma importância dramática real, servindo apenas como alívio cômico que já não funcionam tao bem como no primeiro capítulo da série.

    A nova versão de Alvo Dubledore, de Jude Law, faz um personagem sóbrio, econômico e que demonstra seu brilhantismo e complexidade de maneira bem discreta e sem exageros, como Depp as vezes faz durante os longos 134 minutos de tela. Apesar de pouco contracenarem, Newt e Alvo parecem bem íntimos e as pontas soltas que são amarradas aqui fazem um sentido tremendo.

    Ao menos visualmente o filme acerta e muito. Os tais animais fantásticos são lindíssimos e o design deles é deslumbrante. O dragão / cavalo marinho que aparece no longa é muito superior ao Smaug, de Peter Jackson, mostrado em O Hobbit: A Desolação de Smaug, como aliás havia já ocorrido em outro filme da franquia e de Yates, Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2.

    Pelo meio do filme se percebe que o roteiro deste é bastante refém do primeiro filme, ainda que não repita os momentos de brilhantismo do original. Até os personagens que aparentemente morreram retornam, incluindo aí Credence, de Ezra Miller, que tem um papel fundamental na trama, mas sem o corte de cabelo horroroso que tinha antes, ainda que sua caracterização neste episódio não ultrapasse o caráter de caricatura, uma vez que ele não evolui e segue como o garoto sem perspectivas e de olhar baixo.

    O tour pela Europa é injustificado, assim como a enrolação dramática para resolver os problemas, claramente não havia história para durar mais de duas horas e os momentos acessórios soam desimportantes ante a trama de Grindelwald. O ritmo deficitário faz lembrar O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos e Uma Jornada Inesperada. Até as referências e easter eggs soam oportunistas e mesmo o discurso segregador do vilão é também diluído, em mais uma enfadonha referência a Donald Trump e outras figuras execráveis, mas sem dar peso e importância dentro da história. Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald tem bons momentos visuais, mas não tem a mesma qualidade e maturidade do primeiro longa.

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  • A Jornada do Leitor

    A Jornada do Leitor

    Todo herói tem um arco, uma jornada. Cada personagem – ao menos de escritores que sabem o que estão fazendo com as mãos num teclado – tem um papel dentro da trama principal. É o arco narrativo, sua jornada do início ao fim, sem importar quão frívolos sejam seus motivos ou abrupta sua morte. Ao analisar narrativas dos principais textos de diferentes religiões num brilhante estudo de mitologia comparada, Joseph Campbell notou avanços narrativos semelhantes, em que personagens diferentes preenchiam partes idênticas nos mecanismos internos dos contos, assim o próximo passo do protagonista invariavelmente seguia uma lógica. O Herói de Mil Faces, Campbell chamou seu livro, pois a trilha é seguida de novo e de novo e de novo.

    O autor desenvolve seus argumentos sobre o molde narrativo do qual partilham as mais diversas histórias, desde Pulp Fiction até a epopeia de Gilgamesh. Crucial, um dos pontos mais importantes dentro de uma história é a transformação dos personagens de um estado inicial até o ponto de chegada, quando retornam para uma normalidade, profundamente mudados pelo caminho, pelo percurso da Jornada. Harry Potter, Luke Skywalker e Rick Blaine atravessaram os mesmos passos: uma velha estrada de tijolos amarelos que já foi percorrido por Dorothy. Todos eles tinham um desejo, uma aspiração que dá o pontapé inicial de suas histórias. Na Jornada, é essencial que se deseje algo. Mesmo que seja um copo de água fresca, como disse Kurt Vonnegut. São nos passos identificados no “O Herói de Mil Faces” que as histórias se desenrolam, com ou sem variações, e a vontade de virar a página ganha contornos urgentes. Ao leitor desatento, pode parecer um tanto formulaico, mas a Jornada é algo sutil, uma trama em que mãos habilidosas podem bordar qualquer coisa maluca que se passa em sua mente.

    De forma resumida, cada personagem responde com hesitação antes de aceitar o Chamado da Aventura, o acontecimento surpreendente e muitas vezes surreal que inicia, de fato, o plot: Gandalf bate à porta de Bilbo Bolseiro logo no início de O Hobbit, e, anos mais tarde, Frodo herda um certo anel, dando os primeiros passos em uma das jornadas definidoras de todo um gênero, O Senhor dos Anéis. Tal Chamado gira todas as rodas dentadas que trabalham por trás das linhas e parágrafos que você deita os olhos, jogando os protagonistas num mundo desconhecido onde contam com um Mentor – palavra que vem do grego menos, que significa desde força, propósito, até mente, espírito ou lembrança -, em que o caminho até o próximo passo da Jornada, a Caverna Misteriosa, será permeado por aliados, inimigos e provações. No Hobbit, Bilbo encontra Gollum e Frodo chega até Mordor. O herói que perseverar no caminho, retornará ao velho mundo onde sua jornada começou e, com os tesouros e ensinamentos da estrada percorrida, faz o leitor respirar aliviado depois de Bilbo ter enfrentado os perigos de um dragão ganancioso e o fiel Sam empurrar seu amigo na direção certa, um dos momentos de maior carga emocional de “O Senhor dos Anéis”. Agora, o herói precisa enfrentar seu real perigo antes de prevalecer sobre o mal: a Batalha dos Cinco Exércitos e a Montanha da Perdição, para continuar com os exemplo de Tolkien.

    É a jornada do herói, com ou sem maiúsculas; o arco. Ainda me lembro de uma das cenas preferidas de Família Soprano, quando o jovem e explosivo Christopher Moltisanti pergunta ao mentor Paulie, um mafioso da velha guarda, onde estava o seu arco, pois nada de interessante acontecia em sua vida.

    “E daí,” Paulie responde, numa calma enervante, “eu estou vivo. Eu sobrevivo”.

    Christopher enterra os dedos no cabelo. Como ele pode não entender? “Não quero apenas sobreviver. Os manuais de roteiro dizem que cada personagem tem seu arco. Entende? Todo mundo começa em um lugar, e eles fazem algo. Algo acontece a eles. E isso muda suas vidas. Isso é um arco. Onde está o meu arco?”.

    Foi a angústia de Christopher, um personagem com o qual pouco me identifico, que tomou conta de meus pensamentos quando li as últimas linhas da A Roda do Tempo, uma série composta de catorze tijolos – e um tijolinho de prefácio -, totalizando algo em torno de doze mil páginas. Doze mil páginas. Milhões de palavras. E mais arcos de personagens do que eu poderia contar de cabeça. Claro, em (quase) todos os livros da série o leitor pode encontrar começo, meio e fim para as diversas histórias que se desgarraram da linha narrativa principal e acompanhar o crescimento das personagens que mais cativam ou detestam. A Roda do tempo é uma longa jornada, talvez a maior que já percorri – com grande chance de ser a maior que jamais percorrerei -, uma estrada esburacada, com altos e baixos, longas tempestades e mais paradas que o ideal, uma viagem que talvez exija uma ou outra pausa a fim de trocar pneus carecas e reabastecer a água do radiador. É uma história épica que envolve até mesmo o Tempo em si, com T maiúsculo, onde Luz e Escuridão duelam em grande escala e a existência do mundo depende de quem sairá vitorioso. É o maniqueísmo de Tolkien em maior escala.

    A Roda do Tempo e o leitor

    Não vou perder nosso tempo com um resumo do mundo ou da história quando dezenas de análises e críticas estão aparecendo aqui e ali, enquanto a série começa a fazer sucesso na Terra Brasilis. Basta dizer que há altos e baixos, defeitos e virtudes, grandes lições de escrita; Vale lembrar que a última porção da história foi escrita por Brandon Sanderson por causa da morte do criador, Robert Jordan, afinal é difícil escrever depois de morto. Sanderson fez um ótimo trabalho e o último volume é um clímax de novecentas páginas – o maior capítulo, A Última Batalha, tem mais de 180 páginas.

    Levei seis anos para ler “A Roda do Tempo”. Partindo do meu Chamado de Aventura – inspirado por uma música da banda alemã Blind Guardian – até o Retorno com o tesouro, anos se passaram e centenas de outros livros, sem exagero, foram lidos, tanto para trabalho quanto lazer. Nesse meio tempo, comecei e terminei outras séries e trilogias, mas a Roda do Tempo sempre esteve no fundo de minha mente, ganhando novos contornos enquanto eu me reabastecia com outros autores, escritas e gêneros diferentes.

    Em paralelo a narrativa, analisava minha jornada de leitor, sobre como os dias podem girar em torno do livro em suas mãos, sobre nosso próprio crescimento, mudanças, derrotas e vitórias enquanto vivenciamos tantas outras jornadas. Da mesma forma que nosso herói tem mil faces, também as temos, cada um de nós. Desejamos, buscamos e nos transformamos em algo… bem, em algo diferente. Pergunte ao Kafka, se quiser.

    Quando li o primeiro livro, O Olho do Mundo, estava deitado no meu quarto, sozinho, febril e em Lisboa, morando numa casa cheia de gatos. Eu era um mestrando em História da Expansão e dos Descobrimentos, dissertando com a ajuda de mapas antigos sobre a formação do Japão na mentalidade ocidental entre os séculos XV e XVIII. O primeiro volume de “A Roda do Tempo” segue uma estrutura fixada por Tolkien, com um protagonista seguindo o estereótipo Luke Skywalker, o jovem e ingênuo fazendeiro que se descobre envolvido em acontecimentos maiores e perigosos.  E não foi O chamado de aventura, mas foi UM chamado. É como nos livros da série: não há começos ou fins em “A Roda do Tempo”, mas esse foi um começo. Ao menos isso.

    Eu morava sozinho e seguia uma rotina bem definida. Acordava, engolia meio litro de café e tomava banho para, depois, mergulhar no submundo metroviário de Lisboa e percorrer os corredores úmidos da Faculdade de Letras, onde ficava o centro de pesquisa em que trabalhava. Escrever, pesquisar e realizar enfadonhas tarefas administrativas tomava quase todo o meu dia, além de conversas e risos com pessoas que marcaram minha vida. Eu vivia um arco, afinal. Recém-formado, mergulhado em arquivos de fama internacional, lendo e observando mapas, cartas ânuas de jesuítas que foram ao Japão, além de manifestos de embarcações. Tudo no passado. Todos, viajantes e religiosos, europeu e japoneses, de volta ao pó, uma grande bacia de cinzas e poeira onde eu tinha me enterrado até os cotovelos na mais pura – elétrica – euforia.

    Já no segundo livro da série, vaguei por Londres, onde estava pesquisando a sessão de mapas da British Library. Foi no café do British Museum – onde fui ver a A Grande Onda  – que terminei o livro e já tirei o terceiro da mochila. Antes, pedi outro café. Saí de lá quando me expulsaram, mais de sessenta páginas depois. Voltei para a casa da minha irmã no escuro, a cabeça perdida no mundo criado por Robert Jordan. No meu arco, hoje enxergo que estava numa fase que podia me permitir vagar por mundos imaginários sem prestar muita atenção nos problemas do mundo real. Morando sozinho na Europa, com poucas aulas na semana e um trabalho com horário flexível que me permitia trabalhar em casa, um quando que permitia o luxo de focar nos estudos, conhecer melhor Portugal e afundar meu nariz nos livros. Ler até derrubar o livro no meu rosto, até esfregar olhos queimando e resolver fazer café às quatro da manhã, para tentar extrair mais um capítulo, quem sabe dois. Olhando para trás, eu deveria ter saído mais de casa, pergunte à Rosa.

    Quando voltei ao Brasil e morei em Campinas, comecei a escrever ficção. Corria quase todos os dias. Li mais. Enrolei minha dissertação e fiquei noivo. O tempo passou e eu estraguei um dos joelhos, começando um lento caminho de volta ao sobrepeso, quando meus quilos perdidos na corrida voltaram com novos amigos e a ficção ganhou espaço no meu cotidiano e nas minhas ambições. Foi talvez no sexto livro de “A Roda do Tempo” que decidi – ou melhor, fui empurrado a aceitar o que estava diante do meu nariz – trocar de profissão. Adeus vida acadêmica, olá rotina de escrita e edição. E desespero, claro.

    Atravessando a narrativa

    Conforme riscava os títulos de minha lista de leitura, meu próprio arco avançou. Aniversários, discussões, risadas, bebedeiras e jogatinas, tudo envolvido em muita escrita, leitura e edição. Eu me casei. Terminei meu primeiro livro, com mais de quatrocentas páginas, muitas delas desnecessárias e cortadas com um coração em prantos. Percebi depois que um livro de quatrocentas páginas é um erro se você ainda é um escritor desconhecido. Criei histórias menores, deixei outras depois de duzentas páginas. Meu filho nasceu. Páginas escritas dividiram espaço com mamadeiras e fraldas pedindo atenção. E então, alcancei a Última Batalha e, depois dela, o final de “A Roda do Tempo”. Bem, não O final, mas UM final. “A Roda do Tempo” não tem começos nem fins. Foram seis anos. Foram catorze livros.

    Claro, há relatos, principalmente no Reddit, de monstros que leem uma série deste tamanho em seis meses; outros estão na quinta, sexta, décima sexta – não é mentira – leitura da série. São arcos, tenho certeza: ninguém lê tantos livros – mesmo que seja uma só história – e fecha a última capa sem mudar, sem passar por uma transformação. Mesmo que a transformação seja pela necessidade de livros com fontes maiores para olhos cansados, essa pessoa mudou. No meu caso, a mudança foi gigantesca. Seis anos se passaram. Porcaria. Eu mudei, e muito. Do quarto escuro, iluminado apenas por um abajur amarelado, doente e trancado para deixar os gatos de outra pessoa fora do alcance de minha alergia, para um sofá confortável em nosso apartamento, numa cidade do interior de São Paulo; de minhas pretensões de conseguir ingressar num bom doutorado e viver de aulas e pesquisas, para a perspectiva de pagar contas com as mentiras que saem de minha cabeça e encontram caminho às pontas dos dedos; de namoro à distância – altos e baixos, altos e baixos – para a feliz paternidade dentro de um casamento estável, carinhoso e sincero. Eu cresci e, como um camaleão, minhas cores se transformaram em resposta ao ambiente em que agora vivo. Firmei convicções políticas e agora faço oposição a um governo que não me parece correto, brigo com unhas e dentes contra o monopólio dos veículos midiáticos, contra ambos analfabetismos, científico e político. Não sou apenas um historiador em outro país, cheio de perguntas sobre o que acontecia no passado, em ondas que banhavam o Japão tantos séculos atrás, enquanto o cenário atual me alcançava apenas como murmurinhos incômodos. De um historiador um tanto egoísta e recluso, tornei-me um escritor um pouco menos egoísta e recluso. Um pai, com sono e um sorriso bobo no rosto.

    Encontrei o final de “A Roda do Tempo” e dele passei. Pode apostar que me senti decepcionado com o final e tenho perguntas que nunca serão respondidas, mas estou satisfeito com a clareira no final do caminho. Quando se termina uma série, a sensação que se tem é um misto da nostalgia precoce e liberdade literária. O homem que sou hoje é bem diferente do estudante que ouviu uma música inspiradora e sentiu arrepios nos braços. Os livros da série tiveram pouco impacto nas minhas mudanças – Haruki Murakami, Carl Sagan, Yuval Noah Harari, Eric Hobsbawm e outros tantos tiveram mais importância -, mas servem de perfeito exemplo para o meu arco de herói. Afinal, sou o herói de minha história, assim como você é o personagem principal da sua.

    Minha jornada não é (nada) épica. A sua também não, até que você me prove o contrário. Mas é uma jornada e, caramba, ela é muito importante para quem está preso em seus quilômetros. Desejamos um emprego melhor, perder peso, que amanhã seja feriado e que, pelo amor de Deus, essa chuva dos infernos pare antes do sábado. Desejamos e buscamos, adaptamo-nos ao nosso próprio arco, nosso plot. Oras, estudamos para concursos públicos, brigamos contra chefes gananciosos e discutimos política; dançamos para a chuva parar e, como é um assunto que foge de nossa alçada, traçamos um plano alternativo para o sábado chuvoso, com pizza e jogos de tabuleiro. Talvez pedir meia frango com catupiry e meia calabresa não tenha o mesmo impacto que recuperar a Excalibur ou descobrir que o caminho para casa estava em você esse tempo todo, mas – por Crom! – essa pizza é o seu Chamado da Aventura e, se você não pisar na bola, será o herói de muita gente. São arcos diferentes. Nossa jornada é tediosa. Enfadonha. O oposto de épica. Mas, você sabe, é real.

    Quando Christopher Montisanti pergunta a Paulie onde está o seu arco, ele com certeza enfrentava a terrível angústia de não ser o que idealizava em outros tempos. Naquele fascinante mundo de violência, drogas e incertezas existenciais, Chris tentava se agarrar em algo para continuar sendo ele mesmo. Sem perceber, o jovem mafioso percorria um arco em si mesmo: o bloqueio, a desorientação. Quando chegasse na outra ponta do labirinto, ele seria – fatalmente – um mafioso mais forte. Um homem mudado. E outro arco teria início.

    Mas estou divagando e você já está se perguntando se realmente sou um escritor, tamanha verborragia. Você está lendo um texto sobre a passagem do tempo. Sobre como a saga de Robert Jordan me acompanhou em parte do caminho. Talvez você tenha sua própria Roda do Tempo e possa se identificar com o que exponho aqui. Talvez tenha crescido com Harry Potter e seus terríveis professores, ou tenha acompanhado Roland Deschain em cada passo no difícil caminho até a Torre Negra. Provavelmente sentiu os sóis de Tatooine queimando na pele. Minhas mudanças são acompanhadas de livros marcantes justamente porque sou um leitor antes de ser escritor. Filmes, músicas, relacionamentos, empregos… talvez até casamentos. Com toda certeza, o seu arco também tem um pano de fundo com variáveis e constantes.

    Agora que terminei uma série, meu arco continua. Talvez encontrou outras aventuras e chamados no meio do caminho. Quem sabe precise ir para um Mundo Especial e dele retornar com o Elixir do qual falou Campbell.

    Terminei de ler “A Roda do Tempo” muito, muito tempo depois de ter começado. E agora? Eu não sei para onde meu arco me levará, mas o próximo livro já está presente, com o marca páginas entre o final de um capítulo e o começo do próximo.

    Os passos da Jornada do Herói

    A Jornada do Herói

    Ato 1

    Mundo comum
    Chamado à Aventura
    Recusa do Chamado
    Encontro com o Mentor
    Travessia do Primeiro Limiar

    Ato 2

    Provas, Aliados e Inimigos
    Aproximação da Caverna Secreta
    Provação
    Recompensa

    Ato 3

    O caminho de Volta
    Ressurreição
    Retorno com o Elixir

    Livros para levar na estrada

    Trilogia dos Espinhos – Mark Lawrence (Darkside)

    Série Os Cavalheiros Bastardos – Scott Lynch (Arqueiro)

    Os livros da Cosmere – Brandon Sanderson (Leya)

    A Roda do Tempo – Robert Jordan (Intrínseca)

    A Torre Negra – Stephen King (Suma de Letras)

    Livros da Terra Média – J. R. R. Tolkien (Martins Fontes)

    Crônicas de Gelo e Fogo – George R. R. Martin (Leya)

    Série A Companhia Negra – Glen Cook (Record) – Resenha

    Série O Livro Malazanos dos Caídos – Steven Erikson (Arqueiro)

    Discworld – Terry Pratchett (Conrad/Bertrand) – Resenha

    – The Dresden Files – Jim Butcher

    – Traitor Son Cycle – Miles Cameron

    Série Revelações de Riyria – Michael J. Sullivan (Record)

    Série Ciclo das Trevas – Peter V. Brett (Darkside)

    A Saga de Ender – Orson Scott Card

    A Guerra do Velho – Jon Scalzi (Aleph)

    Elric de Melniboné – Michael Moorcock (Generale)

    Crônica do Matador do Rei – Patrick Rothfuss (Arqueiro)

    – The Expanse – James S. A. Corey

    – The Rain Wild Chronicles – Robin Hobb

    Trilogia Oryx e Crake – Margaret Atwood (Rocco)

    Maurício Ieiri é um historiador que não faz História. Atualmente, tentando descobrir o que fazer com sua vida, partindo deste exato momento até o dia em que morrer. No meio tempo, escreve ficções. Participou do blog coletivo Os Caras do Clube.

  • Sai de Cena o ator britânico John Hurt

    Sai de Cena o ator britânico John Hurt

    O estimado ator John Hurt faleceu. Ele tinha quase 77 anos de idade. O duas vezes indicado ao Oscar e vencedor do Globo de Ouro tinha uma longa e rica carreira, tanto em crítica quanto público através dos seus quase 60 anos na indústria do entretenimento. Em 79 ele sofreu uma das mortes mais famosas da história do cinema ao ter o peito explodido em Alien.

    No ano seguinte, ele conseguiu sua primeira indicação ao Oscar interpretando John Merrick no Homem Elefante, de David Lynch. E também marcou presença no icônico personagem do proletariado no distópico 1984 (1984), anos depois interpretou o berrante ditador em V de Vingança em 2005. Aos fãs mais jovens provavelmente lembram dele pelo seu papel de Ollivaras nos três filmes do Harry Potter. Em 2011 ele participou da web-série The Confession ao lado de Kiefer Sutherland.

    A voz distinta e chamativa de Hurt junto a suas expressões doces porém claramente sérias o destacam de seus colegas, adicionando uma textura aos seus papéis e traçando uma linha performática aos seus personagens através de sua carreira. O ator continuou a trabalhar mesmo tendo sido diagnosticado de câncer no pâncreas em 2015. Hurt contribuiu para um número diverso de filmes que ainda não foram lançados, seu último papel nas telas já exibido foi o indicado ao Oscar Jackie.

    Texto de autoria de Halan Everson.

  • Crítica | Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte II

    Crítica | Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte II

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    No último minuto de O Mundo de Apu, clássico indiano soberbo, não há dúvida de ter assistido o término de uma das melhores trilogias do mundo dos filmes. Curioso que, além disso, vem à cabeça como fechar uma história com mais de 2 ou 3 capítulos parece fácil, e não é. Entre diversos arcos e expectativas, fica a impressão que o show deve continuar na memória de quem acompanha tudo até o fim, e se divide: “O fim será épico, mas trocaria isso por outros bons capítulos”. Esse foi o sentimento conflituoso quando as luzes se acenderam, em 2011, enquanto o rosto da trindade (Harry, Rony e Hermione) sumia na tela, junto de um marco da geração 2000, e com o prenúncio que não iriamos mais esperar por outra aventura em Hogwarts; mais de cinco anos depois, estreia Animais Fantásticos e Onde Habitam, oriundo deste universo de varinhas e vira-tempos, posto que irá desnudar ainda mais essa realidade (expandir as noções que J. K. Rowling não achou espaço de imprimir na septologia original). Mas será que David Yates, desde A Ordem da Fênix no comando desse show, conseguiria tornar o espetáculo realmente inesquecível sem o apelo emocional deste ter sido “o último”?

    Filmes que se promovem sozinhos são raros, e quando conseguem a briga já está vencida antes da estreia – vide Toy Story, o último Crepúsculo e qualquer coisa do UCM (universo cinematográfico da Marvel). Já outros, feito Aquarius, Star Wars e dramas do Oscar, só fazem sucesso por uma intensa campanha publicitária, tendo que nos convencer a ir vê-los na pompa de uma sala de Cinema. No caso deste Relíquias, Parte II, tanto o primeiro como o segundo conseguiram ir além do coração dos fãs, tornando-se um fenômeno pop apostando no carisma de um mundo tão vasto quanto a Terra Média, de J.R.R Tolkien, tornando o filme extremamente comodista. Não há nenhum esforço para tornar este segundo Relíquias algo a mais do que ele significa para o fã, feito a maioria dos filmes da sala, fechados em seu mundo e sendo nada além do que esperávamos. Essa é a falta de credibilidade que os fãs não aceitam enxergar: Diferente de outras grandes sagas, Harry Potter não trouxe nada de novo à arte.

    Por isso mesmo, Yates sabe que a diferença entre quem vai adaptar um universo, e um garimpeiro de petróleo é o tamanho da ambição, e o diretor dos últimos quatro Harry Potter se esforça para que as suas cenas de ação fiquem à altura do esperado, mas falha, e falha quase miseravelmente. Fato é que as cenas dramáticas, como a morte de várias figuras amadas pelos fãs, são muito mais impactantes que os duelos coloridos (super mal-coreografados), confusos, de uma conotação espacial péssima, com a barulheira de sempre (Fico imaginando o incômodo de Paul Greengrass, gênio da ação, assistindo a batalha final de Hogwarts), e que aqui só empolga quem sabe o nome de cada feitiço e personagem, mesmo. Destaque apenas para a fuga do dragão logo no começo do filme, essa sim, diferente de tudo o que havia sido visto no Cinema. Adendo extra: O filme não precisava ser em 3D, mas é o legado de Avatar ao mercado. A gente entende tão bem quanto as pessoas lacrimosas ao se despedir de Harry, um personagem bem evoluído por oito filmes, que… espera, não eram sete livros?

    Lembro de ler, ainda em 2011 críticos julgando o filme como um longo clímax, o que discordo em partes, já que sendo apenas um filme vários momentos de Relíquias, Parte II iriam se perder, mas… seria essa uma justificativa cabível? Deve-se duvidar, sobretudo, de um filme dividido em dois para dar conta do recado, sendo que há uma teoria que “nenhum filme precisa de mais que 2 horas pra mandar a mensagem”, quanto mais apelar para a técnica que só funcionou, num período de 20 anos, com os dois Kill Bill de Tarantino, cujo segundo só existe para aprimorar ao máximo a jornada da Noiva, e não para lucrar ao máximo com a jornada do bruxo. Esse último Harry não atrapalha em nada, pelo contrário, usa e abusa de referências boas do livro, mas é o motivo que faz isso acontecer que atrapalha. Fãs existem, devem ser valorizados como qualquer empresa faz, mas um filme dividido e que existe apenas para quem sabe cada diálogo do que está na tela sempre terá uma qualidade questionável. A verdade dói, mas hoje só consigo me lembrar da memorável cena de Snape, o lendário Alan Rickman. Aquela sim, de cortar corações.

  • Crítica | Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1

    Crítica | Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1

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    São tempos sombrios, não há como negar.

    É com esta frase de cunho pessimista que se inicia Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte I, ou resumindo, HP 7.1, filme que deu início definitivo ao encerramento de uma das franquias mais rentáveis já concebidas. Durante exatos 10 anos, as aventuras de Harry e seus amigos, Rony e Hermione, levaram multidões aos cinemas, encantando platéias de todas as idades e gêneros. Como resultado, a franquia arrecadou mais do que outras famosas séries do cinema, como Star Wars e as missões do agente James Bond.

    Nesse volume temos a continuação da subtrama das Horcruxes, objetos que garantem a imortalidade de Lord Voldemort. Agora em uma jornada solitária, Harry (Daniel Radcliffe), Rony (Rupert Grint), e Hermione (Emma Wattson) precisam procurar as Horcruxes restantes e destruí-las. Nesse contexto, o mundo dos bruxos passa por uma imensa crise e fica cada vez mais difícil de confiar nas pessoas, onde essas acabam por sucumbir à pressão do desespero. Ainda temos a revelação das relíquias da morte, artefatos que podem garantir poder superior a quem possuí-las.

    A opção de dividir o último livro da série em duas películas, de primeira, nos garantiu a impressão de que tal escolha era unicamente a de encher ainda mais os cofres do estúdio, numa última tentativa de gerar um lucro maior com a série. Mas quando analisado, percebe-se que tanto esta primeira parte, quanto a próxima ganharam, e muito, com esta divisão. Diferente dos outros filmes, onde os inúmeros cortes prezavam pela menor duração possível, HP 7.1 aproveita a possibilidade para investir em um ritmo de compreensão sensorial, calcado principalmente no desenvolvimento dos fatos que nos ajudarão a entender todas as pontas soltas deixadas pelos filmes anteriores. Alguns ainda reclamam da letargia do filme após um tempo, o que não deixa de ser compreensivo, já que tais problemas realmente existem, mas é inegável o quanto 7.1 se beneficia de sua paciência, podendo trabalhar com mais clareza os arcos que cercam os personagens.

    E não apenas construindo a narrativa com maior cuidado, o roteirista Steve Kloves (que não participou somente do quinto filme, A Ordem da Fênix) aproveita para definir melhor os personagens, e como a relação entre eles se tornou mais conturbada e complexa. Harry, Rony e Hermione ganham um filme “isolado”, onde a atenção é voltada única e somente para eles, onde seus conflitos são aprofundados com um carinho não visto antes. O roteiro analisa muito bem as reações dos personagens diante das situações apresentadas, e é aqui que vemos, definitivamente o trio deixar qualquer vestígio de infantilidade para trás, assumindo responsabilidades ainda maiores. Harry é obrigado a encarar a difícil tarefa de destruir as Horcruxes, e assim, dar fim ao tão sonhado regime que Lord Voldemort deseja impor (algo que lembra a época do Nazismo, fato histórico onde J.K claramente se inspirou). Rony, apesar de ainda ser o principal veículo cômico do filme, desenvolve uma personalidade mais intensa, pontuada pela incerteza sobre a segurança de sua família, e este sentimento faz florescer desejos antes completamente desconhecidos pelo público (e talvez pelo próprio personagem). Hermione também é atingida pela incerteza, não por sua segurança, mas pelo risco de não poder rever seus pais novamente, já que a garota se viu obrigada a apagar a memória dos mesmos, a fim de que suas vidas não fossem prejudicadas pela atual situação do mundo bruxo. Assim como ocorreu em Ordem da Fênix e que teve seguimento em O Enigma do Príncipe, os personagens se tornam figuras mais completas e carregam consigo um peso parcamente explorado nos anteriores.

    E David Yates merece mais do que parabéns por conseguir traduzir todas estas diversas emoções com eficácia. O diretor sempre teve uma forte tendência em apostar nos conflitos dramáticos, e aqui não foi diferente, com Yates tomando liberdades para com a obra de Rowling, e apresentando uma notável audácia. Momentos como a dança envolvendo dois dos personagens principais, a tortura executada por Bellatrix Lestrange ou o ousado beijo entre outros dois personagens demonstram a coragem de Yates em tornar esta uma obra mais adulta, que beira um filme de horror.

    Também chama a atenção a apropriação que Yates faz dos cenários exóticos que surgem durante a projeção. Optando por tomadas abertas e longos momentos contemplativos, o diretor denuncia toda a beleza, mas também o vazio das paisagens, investindo em um clima pesado e depressivo. A sensação de que nenhum lugar é seguro pontua cada segundo da narrativa, trazendo um constante clima de tensão. Em contraponto, o diretor capricha nas cenas de ação, mais vigorosas e empolgantes do que nos capítulos anteriores.

    E para manter essa evolução equilibrada, Radcliffe, Grint e Watson, enfim, nos entregam atuações dignas de grandes atores, com interpretações mais seguras e expressivas. Daniel Radcliffe sempre foi o mais criticado do trio, o que é verdade, já que seus tiques incomodavam nos filmes anteriores. Mas Radcliffe parece finalmente ter se livrado de tais tiques, interpretando Harry com mais naturalidade. Rupert Grint, assim como seu personagem, eleva Rony para um novo nível, apresentando muito bem a confusão emocional que toma conta do personagem. Mas Emma Watson continua sendo o destaque do trio, e as expressões fortes da garota revelam o potencial para uma futura grande atriz do cinema.

    Mas os verdadeiros mestres estão mesmo é no elenco de apoio. Enquanto que o frio e charmoso(!) vilão Lord Voldemort continua sendo brilhantemente interpretado por Ralph Fiennes, tenho cada vez mais vontade de levantar e aplaudir a performance de Helena Bonham Carter cada vez que a vejo como a lunática Bellatrix Lestrange, que aqui atinge o ápice da insanidade. Alan Rickman, apesar da curta aparição, ainda fascina com seu misterioso Severus Snape, e até outras participações menores, como Rhys Ifans e Bill Nighy possuem seu valor.

    Aliás, uma das maiores injustiças que a série sofreu em sua passagem pelos cinemas é o desprezo que as premiações deram ao departamento técnico dos filmes, tão digno de elogios quanto os outros méritos. Os efeitos especiais, apesar de simples, dão um interessante ar de realidade (como pode ser visto na original animação que narra o conto das relíquias da morte). Os efeitos sonoros também são muito bem trabalhados, e trazem um bom nível de impacto em certos momentos. A fotografia de Eduardo Serra, apesar de não ser tão sofisticada quanto a de Bruno Delbonnel para O Enigma do Príncipe, auxilia na construção do perfeito clima sombrio do filme, e a trilha de Alexandre Desplat, apesar de sutil, não passa despercebida, e configura-se com facilidade entre as melhores trilhas daquele ano, junto com outro maravilhoso trabalho de Desplat em O Escritor Fantasma, de Roman Polanski.

    HP 7.1 traça excepcionalmente bem o caminho para a batalha que há tempos era anunciada, e talvez seja o mais completo de todos os filmes da saga do bruxinho. É tenso, é divertido, é emocionante, é sombrio, faz rir e faz chorar. Um pacote completo. 

    Texto de autoria de Rafael W. Oliveira.

  • Crítica | Animais Fantásticos e Onde Habitam

    Crítica | Animais Fantásticos e Onde Habitam

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    Muito se especulou sobre uma possível sobrevida para a franquia Harry Potter nos cinemas, principalmente, depois que sua criadora, J. K. Rowling, começou a defender a ideia de que o universo idealizado por ela é muito mais complexo do que os oito filmes já exibidos apresentaram ao público. Após três anos, dois meses e cinco dias do anúncio de sua produção, Animais Fantásticos e Onde Habitam finalmente chega aos cinemas com a missão de transportar os fãs de volta ao universo mágico e, ao mesmo tempo, conquistar o público mais adulto, que pode ser considerado um dos principais alvos do longa-metragem.

    Apesar de existir no mesmo universo da octologia original, Animais Fantásticos é um prequel, ou seja, uma produção que preserva os mesmos elementos e a dinâmica da história original, mas que antecede os eventos da mesma. Situada na Nova Iorque dos anos 1920, a trama apresenta não mais um trio, mas um quarteto protagonista encabeçado por Eddie Redmayne na pele de Newt Scamander, um magizoologista (estudioso da fauna mágica) que, ao chegar a cidade, acaba trocando sua maleta, onde vivem os seres que dão nome ao filme, com a de Jacob Kowalski (Dan Fogler), um novaiorquino em busca de auxílio bancário para realizar seu sonho de abrir uma confeitaria. As criaturas mágicas espalham-se pela cidade e são confundidas como uma outra ameaça que anda provocando estranhos fenômenos.

    Compondo o quarteto protagonista, temos ainda Katherine Waterston e Alison Sudol vivendo as irmãs Tina e Queenie Goldstein. A primeira, no passado, foi uma auror do Congresso Mágico dos Estados Unidos, mas teve seu cargo retirado. Já Queenie, possui o dom da legilimência, ou seja, leitura de mentes. Embora todos os atores centrais entreguem boas atuações é necessário destacar o brilhantismo de Dan Fogler que poderia facilmente cair no lugar comum do gordinho engraçado, mas que supera o estereótipo mostrando-se não só fundamental na trama, mas também como agente da avatarização dos espectadores, já que é o único trouxa do elenco central.

    Eddie Redmayne também está muito bem em cena, mas a sensação que fica é a de que Newt Scamander possui muito mais para apresentar. O personagem possui um modus operandi muito curioso. Cercado de trejeitos, ele é tão misterioso quanto os animais que estuda. Aliás, o subtexto da preservação da vida animal é um grande acerto do filme. Scamander dedica a vida para protegê-los e essa relação rendeu cenas muito bonitas do personagem.

    Deve-se deixar claro o tom mais maduro que o roteiro imprime. A sociedade bruxa novaiorquina vive oculta do mundo humano. São terminantemente proibidos os relacionamentos, negócios e qualquer outro vínculo entre os bruxos e os ‘não-majs’, forma como são chamados os trouxas nas Ámericas. O Ministério da Magia americano tenta ocultar as situações que possam por em risco a existência do mundo bruxo, temendo uma guerra ou uma caça às bruxas.

    É curioso como um universo tão fantasioso como o de J K Rowling consegue emular a realidade, abordando questões como preconceito, classismo, fanatismo religioso, defesa dos animais, entre outros. Credence, personagem de Ezra Miller, e sua família são exemplos claros da intolerância (quase religiosa) e do quanto a negação ao outro revela sobre nós mesmos. Fã da franquia original, Ezra mostrou-se muito à vontade no papel, sendo inclusive um dos destaques positivos do longa.

    Diferente do que aconteceu nos primeiros filmes de Harry Potter, onde a paleta de cores vivas e mais infantil deu o tom da ambientação de cenários, Animais Fantásticos possui uma fotografia acinzentada do início ao fim. A cidade de Nova Iorque é vista quase sempre nublada, o que facilita o entendimento do público sobre os contornos da obra. Tal solução é clássica predileção do diretor David Yates que, depois de dirigir quatro dos oito filmes do menino bruxo, retoma a parceria com Rowling e assina a direção deste filme. Yates apresenta uma clara evolução daquele que foi considerado seu ponto fraco no passado: o ritmo. Nesse longa, apesar de existir uma clara dualidade entre drama e comédia, a passagem de um terreno para outro é feita de maneira gradual, sem que o espectador tropece em piadas desnecessárias.

    Apesar de ser o primeiro filme de uma pentalogia, trata-se de uma história com início, meio e fim. Não prevalecendo a sensação de ter sido esticada somente para os executivos da Warner lucrarem. Além disso, não se faz necessário quase ou nenhum conhecimento acerca da saga original para um perfeito entendimento dessa nova série de filmes.

    Animais Fantásticos e  já pode ser considerado a melhor adaptação para o cinema de uma obra literária de J K Rowling. Sim, pois, ao longo da trama, os seres são apresentados um a um e em tom enciclopédico, assim como sugere o livro/almanaque que dá nome ao filme. Divertido, leve e com subplots extremamente relevantes, temos aqui um belo começo para uma saga que aponta no horizonte.

    Texto de autoria Marlon Eduardo Faria.

  • Crítica | Harry Potter e o Enigma do Príncipe

    Crítica | Harry Potter e o Enigma do Príncipe

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    Quinto filme da saga do menino bruxo, Harry Potter e o Enigma do Príncipe, é o segundo episódio da octologia sob a batuta do diretor David Yates, que mais tarde dirigiu ainda as duas partes de As Relíquias da Morte. Na trama, Lorde Voldemort (Ralph Fiennes) e seus comensais da morte estão em franca ascensão no mundo bruxo, cometendo seus assassinatos de forma indiscriminada e minando pouco a pouco o espaço que o separa de Harry, para onde conflui toda a sua fúria.

    Essa etapa da história apresenta personagens já bastante amadurecidos e calejados. Yates faz uso de técnicas bem mais consistentes do que o seu arsenal técnico utilizado em Harry Potter e o Cálice de Fogo. Entretanto, existem entraves que atrapalham consideravelmente o andamento do longa-metragem por vias mais adultas como, por exemplo, a plot amorosa que ocupa um tempo de tela desproporcional em relação a real importância do elemento romance para o andamento dos arcos dramáticos dos personagens centrais.

    Apesar disso, talvez seja aqui o momento em que a franquia consegue emular a realidade que vivemos em sua ficção. O discurso de caça aos “sangue ruins” – diz-se dos bruxos filhos de ‘não bruxos’ – se assemelha muito aos movimentos fascistas ao redor do mundo, sobretudo ao nazismo e a pregação da raça ariana como soberana. Voldemort surge não só como um vilão mais palpável e crível, mas como um líder para um grupo de bruxos que o segue.

    Em termos de roteiro, o filme não consegue traduzir nem um terço do conteúdo do texto original. Cenas muito importantes foram desprezadas ou subutilizadas. Embora, um texto sobreviva sem o outro fica evidente a carência dramática da versão cinematográfica. A montagem também carece de certo dinamismo, passando certa morosidade na resolução das subplots e tornando a experiência do espectador bastante cansativa.

    Como ponto positivo, o longa apresenta as melhores atuações da octologia. Emma Watson novamente rouba a cena e o protagonismo, mas o destaque aqui fica para o vilão interpretado por Ralph Fiennes. A direção de elenco parece ter acertado a mão ao extrair dos atores emoções mais reais e ao migrar o centro cênico das faces dos atores para os eu gestual.

    Pode-se dizer que O Enigma do Príncipe não faz um bom serviço ao pavimentar o caminho para o desfecho da saga. São grandes as falhas que fazem desse filme um dos mais frágeis dos oito. Ainda assim, os atores conseguem acertar o seu tom dramático, o que ajuda a camuflar parte dos defeitos. Entre erros e acertos, temos um filme burocrático, arrastado, mas fundamental para o pleno entendimento dos segredos que servem de insumos para o final da saga Harry Potter.

    Texto de autoria Marlon Eduardo Faria.

  • Crítica | Harry Potter e a Ordem da Fênix

    Crítica | Harry Potter e a Ordem da Fênix

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    Vale dizer que Harry Potter e A Ordem da Fênix, o quinto filme da cinessérie veio pra colocar nos trilhos o que já estava perdendo a direção, logo após o desorientado e azedo O Cálice de Fogo. Quando o filme foi lançado em 2007, ninguém esperava uma pegada (pela primeira vez na saga) tão realista e sombria ao mesmo tempo. Isso porque David Yates tem o mesmo estilo aceitável que Chris Columbus apresenta na direção de A Pedra Filosofal, mas o que poucos estavam dispostos a entender (Fã é assim, ama ou odeia) é que o segundo nos iniciou à magia da forma mais clássica e infantil possível, enquanto Yates teve de pegar as crianças de bochechas rosadas e atirar num mundo cada vez mais ligado tanto ao universo real, quanto ao universo adulto que a série iria alcançar em Relíquias da Morte – Parte II, 4 anos depois.

    Uma transição difícil, cuja mudança de tom reflete no nosso contato com um conto de fadas pessimista, azul tal a famosa fase de Pablo Picasso, onde girassóis dão lugar a espinhos e ao invés de humor, doses de drama e romance exageradas, mesmo para quem cresceu vendo Daniel Radcliffe se enterrar cada vez mais na pele de um bruxo finalmente humano! Reparem que não se deve mais citar “bruxinho”, já que o Harry do começo encontra o canto do cisne de sua ingenuidade neste quinto filme, logo no começo bastante revoltado, hormônios à flor da pele, lutando contra forças das trevas para salvar o que restou de sua família e pagando o preço disso. Nota-se como Hogwarts nunca tinha sido tão pouco explorada antes, afinal: Há vida fora da escola.

    Além de traçar novos contornos na tradução ao Cinema do mundo de J. K. Rowling, contrastando por exemplo o mundo real, do mundo da magia, para criar um significado mais amplo à odisseia, Yates também nos propõe o seguinte: Ele desobedece a nossa noção de Harry que tínhamos até O Cálice de Fogo (herói básico de personalidade unilateral) para subverter sua figura à um moleque cheio de falhas, e que se intimidado não ficará encolhido diante dos perigos à tona. Del Toro teceu essa “desconstrução” do herói em contexto político e sensacional, no belo O Labirinto do Fauno, filme de narrativa fantasiosa, cheia de paralelos com esse A Ordem da Fênix, e o mais importante: Livre das exigências de fãs fanáticos que Yates, tadinho, não pôde (ou não quis) se libertar.

    Como se grilhões é o que faltasse nesse cineasta: Suas cenas de ação simplesmente não funcionam, dando muito mais peso ao drama que a vibração das emoções do momento. Para Yates, ação é câmera tremida e muito barulho, mais nada. Um cineasta pintor, onde a imagem funciona bem enquanto não se grita AÇÃO! Talvez por isso, o clímax do bem contra o mal é dramaticamente vibrante para fazer os fãs pularem, mas ao mesmo tempo frustrante no viés do espetáculo. Em 2007, ao assistir a aventura no cinema com vários colegas da escola (sim, cabulamos aula afinal era Harry Potter, matemática vem depois), o grande conflito descrito no livro vem com tanta fidelidade às páginas que nem a batalha final, nem qualquer outro momento do filme, longo demais, usa do potencial completo que suas bem arquitetadas cenas poderiam oferecer.

    E aqui chegamos ao motivo da crítica: Quando a gente começa a desenhar hipóteses e especular o lado would das coisas, bem, é porque a gente sente que a luta no Ministério da Magia (um cenário gigantesco), ou mesmo a presença de Voldemort que só cresce a partir deste episódio (sem esquecer o beijo assexuado e virginal de Harry e Cho-Chang) poderiam ser mais, muito mais e melhor, tornando um episódio 100% esquecível na saga, assim, em um belo filme de autoconhecimento, transição, com possíveis e desperdiçados momentos-chave na jornada de Potter e seus amigos; um longo e moralista conto de fadas, onde não temos certeza se Yates planejava um final feliz para uma história calcada em morte, já que aqui, a única força capaz de vencer seus demônios é o poder e a harmonia das amizades duradouras – algo naturalmente mágico e irresistível, aliás.

  • Crítica | Harry Potter e o Cálice de Fogo

    Crítica | Harry Potter e o Cálice de Fogo

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    Harry Potter e o Cálice de Fogo tinha tudo pra ser o melhor filme das adaptações de J.K. Rowling. Não apenas por se basear num dos melhores livros da série, mas também por abordar temas mais apropriados a evolução dos personagens e com maior intensidade, como a chegada definitiva da adolescência e a afloração dos hormônios, mais especificamente, a atração pelo sexo oposto. Este também é o que marca um dos maiores acontecimentos da saga: o retorno de Lord Voldemort.

    Quem lê assim, logo pensa que achei o filme ruim, não é? Pelo contrário, o filme está bem longe disso. Mike Newell (Quatro Casamentos e Um Funeral), que substitui Alfonso Cuarón no comando de um longa da série, faz um trabalho excelente, cria um filme divertido, repleto de cenas eletrizantes, e um visual belíssimo. Mas falta sutileza no próprio estilo de Newell, entre uns e outros exageros, que veremos mais adiante.

    O Cálice de Fogo foi uma das adaptações mais difíceis da série. Não apenas o número de personagens é maior, como também a existência de detalhes que seriam essenciais não apenas para o entendimento da trama, mas para a compreensão de muitos fatos que iriam se seguir nos próximos filmes. A preocupação com a produção era tanta que o roteirista Steve Kloves chegou a cogitar que o livro fosse dividido em duas películas, ação que não aconteceu graças ao dedo de Mike Newell, que exigiu que os cortes fossem feitos, a fim de que tudo coubesse em um só filme. Não surpreendentemente, as reclamações dos fãs caíram em cima de Newell.

    Mas se existe algo em que a compreensão seja essencial, é de que os cortes sempre existirão, sendo eles pequenos ou não. O que importa é se tais modificações irão ajudar a melhorar a qualidade do que iremos ver, e Newell fez isso muito bem. Jogando seus holofotes em apenas dois temas (a chegada da adolescência e o retorno de Voldemort), o diretor não apenas manteve o que já havia sido iniciado em Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, como soube manter uma única linha narrativa, mantendo o filme distante de outras discussões inúteis.

    Harry Potter e o Cálice de Fogo é um filme que marca a chegada da maturidade, e sendo assim, Newell aproveita para tornar a produção bem mais evoluída em outros aspectos, e o maior exemplo é no nível de violência. Nossos protagonistas não são mais crianças, e sabendo disso, o diretor aproveita isso para investir em cenas de ação mais sangrentas e um clima muito mais sombrio: é aqui que os personagens tem seu primeiro contato com a morte. Tanto que quando lançado, o filme recebeu, nos EUA, a classificação PG-13, ou seja, menores de 13 anos só poderiam assistir ao filme acompanhados dos pais ou de um responsável.

    Mas o filme não é apenas feito de violência. Com os hormônios em ebulição, temos boas pitadas de romance, paqueras, choros e ciúmes. É o típico momento em que o adolescente começa a se descobrir, é o momento em que os garotos, por exemplo, precisam descobrir o melhor jeito de convidar uma garota para o baile. E aqui se encontra um dos maiores acertos, mas também um dos maiores erros de Newell. Aproveitando todo esse clima tenso entre os adolescentes, o diretor opta por levar quase tudo para o lado cômico, gerando momentos cujo único objetivo é fazer rir. O diretor até consegue, existem momentos verdadeiramente hilários, mas Newell poderia ter sido menos duro com os sentimentos dos personagens. A impressão é que ele deixou toda a sua sutileza e discrição para trás, talvez no objetivo de deixar o filme mais leve. Não precisava de tanto.

    O roteirista Steve Kloves também comete alguns outros deslizes, como o envolvimento da platéia com o mistério do filme: se Potter tem apenas 14 anos, como o nome dele surgiu do cálice de fogo? Alguém pôs o nome dele lá? Se foi, quem teria sido? Potter nunca pensa no porquê de tantas coisas misteriosas acontecerem, e o resultado é que tais indagações são quase que completamente esquecidas durante a projeção, deixando o laço entre os temas irregular.

    E quem também sofre com esses problemas são os personagens coadjuvantes, a maioria deles mal trabalhados pelo roteiro de Kloves. Alan Rickman, Maggie Smith e Robbie Coltrane possuem apenas uma ou duas curtas cenas. Mas nada é mais decepcionante do que ver Sirius Black, personagem de importante adição em Prisioneiro de Azkaban, ser relegado a apenas uma única cena, onde nem em sua forma física ele aparece. A única ressalva é que Michael Gambom, intérprete de Dumbledore, ganha mais espaço e importância do que nas aventuras anteriores, numa composição de personagem claramente mais adequada que a de Richard Harris.

    Para compensar estes deslizes, o filme nos brinda com um visual de encher os olhos. O desenhista de produção Stuart Craig cria cenários grandiosos e fiéis a descrição do livro, como é o caso do impressionante estádio de Quadribol e o Salão Principal no dia do Baile de Inverno. O diretor de fotografia Roger Pratt ressalta o clima sombrio dos cenários com uma fotografia escura e suja, mas sem que agrida os olhos do espectador. Patrick Doyle, que substitui o compositor John Williams, que trabalhou nos três filmes anteriores, faz um trabalho competente e de momentos interessantes, mas nunca chegando aos pés do veterano Williams. Os efeitos especiais encantam, assim como o visual dos seres mágicos do filme, como o surpreendente dragão e os estonteantes Sereianos.

    Mas é nas cenas de ação que o filme encontra seu ponto alto. É impressionante o domínio que Newell possui sobre sua câmera, levando-a de um lado para o outro, e conferindo maior dinamismo às cenas. Todo o clímax é de um domínio impressionante de clima e ambientação.

    Divertido, sombrio, engraçado (em excesso) e eletrizante, O Cálice de Fogo acaba ficando um passo abaixo do filme de Cuarón, devido aos excessos na direção de Newell e no roteiro de Kloves. Mas é fato que é um filme que capta a essência da trama, desenvolve-a muito bem e leva a série a um grau de qualidade mais elevado.

    Texto de autoria de Rafael W. Oliveira.

  • Crítica | Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban

    Crítica | Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban

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    Terceiro episódio da franquia, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban representa uma evolução no conjunto de linguagens apresentadas na saga e na dramaticidade da trama que, agora, ganha contornos mais sombrios que preparam o espectador para passagens mais densas da história do menino bruxo. Nessa sequência, Sirius Black, um famoso bruxo, escapa da prisão de segurança máxima de Azkaban imbuído do desejo por terminar aquilo que Lorde Voldemort começou: assassinar Harry Potter.

    Após dirigir os dois primeiros filmes da octologia, o americano Chris Columbus cedeu a cadeira de diretor para o mexicano Alfonso Cuáron (Gravidade). É significativamente perceptível as diferenças de perspectiva da mesma obra por parte dos dois diretores. Cuáron aposta em uma proposta mais soturnas, com soluções que flertam com um universo mais adulto. Existe uma clara evolução nos enquadramentos, no jogo de câmera, na lente aberta, na fotografia e montagem do longa-metragem. Aliás, talvez sejam montagem e roteiro os principais diferencias aqui. A saga abandona um roteiro simples e linear e ganha uma time line mais flexível, que exige um pouco mais da percepção dos espectadores.

    Outra mudança interessante está no figurino que deixa para trás os tradicionais uniformes da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts e investe em trajes “trouxas”, o que facilita a avatarização do público na trama. A ambientação outdoor também ajuda a transmitir a ideia de que finalmente reconhecemos o terreno que pavimenta a saga e agora temos os detalhes em função da trama central e não oposto, como visto nos dois primeiros episódios.

    Pela primeira vez é possível vislumbrar os contornos de uma excelente atuação entregue por Emma Watson que, mais tarde, viria a se tornar uma estrela internacional. Aliás, a única do trio protagonista que conseguiu transcender sua personagem, Hermione Granger. Rupert Grint e Daniel Radcliffe também entregam boas atuações, mas são absolutamente ofuscados por um elenco que conta com nomes como Maggie Smith, Gary Oldman e a supracitada Emma Watson.

    Ainda falando sobre o elenco, temos Michael Gambon substituindo o falecido Richard Harris – falecido meses antes – no papel de Albus Dumbledore. Embora Harris tenha desempenhado uma excelente atuação, Michael dinamiza o famoso diretor de Hogwarts. Claramente mais jovem, o ator empresta esse frescor ao personagem que aqui parece mais acessível e mais complexo que outrora.

    Embora tenha basicamente a mesma duração que os seus antecessores, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban oferece ao espectador uma experiência bem mais agradável em função de toda mudança de rota promovida pelo diretor. Um dos episódios mais adorados pelo público – embora não seja muito fiel ao seu livro de origem – Azkaban é um interessante e bem executado ponto de ignição para a batalha entre o menino que sobreviveu e ‘aquele que não deve ser nomeado’.

    Texto de autoria Marlon Eduardo Faria.

  • Crítica | Harry Potter e a Câmara Secreta

    Crítica | Harry Potter e a Câmara Secreta

    Eis o mais interessante dos Potter, e por muitos motivos ligados ou não ao filme; primeiro sua própria pegada, mais sombria do que nunca, sendo que parece uma obrigação toda sequência ser sombria, séria, dark desde O Império Contra-Ataca, coisa que às vezes dá certo (O Cavaleiro das Trevas), e outras vez não. Tipo aqui. A Câmara Secreta é um filme de suspense adolescente feito para criança, consumado para ser mais adulto até que alguém aparentemente gritou: “Ei, mas esse é um filme para crianças, esqueceram?”. A sensação é sempre essa, enquanto o sangue corre pelas paredes e vítimas de bruxaria das trevas aparecem aos montes nos corredores de Hogwarts, entre crianças curiosas e fantasmas da escola. Chris Columbus volta a dirigir a aventura, muito mais cético e pessimista ao potencial do mundo de J.K. Rowling que antes, afinal a mensagem é clara: Harry Potter está crescendo, e com isso a ambição de quem financia suas travessuras e vê Cinema pela ótica do dinheiro, jamais da magia. Além da história e a pressão dos produtores, existe outra explicação para a Câmara Secreta ser o mais fraco da saga?

    Numa cena, Harry, Rony, Hermione e cia. precisam desenterrar Mandrágoras, plantas vivas de alguns vasos numa aula interativa de herbologia, bem no meio do filme. Bingo! Essa é a chave para entender o filme todo, já que toda obra (artística ou civil) tem AQUELA parte que resume o todo, fazendo seus modeladores perderem suas horas de sono, mas é inevitável sentir o toque macabro e satírico da situação quando assistimos batatas assassinas guinchando fora do vaso. A gente ri, com nojo mas ri, sendo essa a única cena d’A Câmara Secreta cujo equilíbrio de sensações que o filme tenta passar é consumado, antes ou depois jamais atingido ao longo da projeção (mesmo na cena dos diabretes da cornualha onde o humor é bobo e fácil). Se no livro há uma especulação mais refinada sobre o que esconde essa misteriosa câmara, o filme parece estar mais do que ansioso à nos mostrar logo o que existe, lá, inseguro se mergulha de cabeça na investigação do lado negro da magia, ou se mantém o lado doce de antes. Em resumo: Uma antítese agridoce ao filme anterior.

    E nem o quadribol salva os momentos mais divertidos de um filme com muitos interesses em jogo, o que só azeda o gosto do bolo: Manter ou ampliar o descomunal sucesso de A Pedra Filosofal, capturar com mais fidelidade esse universo de magia e prestar atenção no que os fãs querem assistir, sendo qualquer um dos filmes de Potter, mesmo o ótimo Prisioneiro de Askaban, produtos de fantasia feito quase que exclusivamente para o agrado dos fãs de Rowling. Se com De Volta Para o Futuro ou a primeira trilogia de Star Wars seus realizadores se preocuparam em elevar o nível do cinema de ficção-científica, Potter em oito filmes nunca se interessou em fazer parte do hall dos grandes filmes de fantasia, nunca pensou em maneiras criativas de explorar as narrativas do surreal, algo que os filmes de Nárnia até tentaram, mas falharam de forma não tão grande quanto este desnutrido e deslocado segundo filme do menino-bruxo. Pois o que salva tudo é seu carisma, afinal, e claro, a presença de Dobby, um dos melhores personagens deste universo.

  • Crítica | Harry Potter e a Pedra Filosofal

    Crítica | Harry Potter e a Pedra Filosofal

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    Magia.
    substantivo feminino
      1. arte ou ciência oculta com que se pretende produzir efeitos e fenômenos contrários às leis naturais; bruxaria, mágica.
      2. magnetismo, encanto.
      3. conjunto de crenças e saberes relativos aos possível uso ou domínio de forças impessoais que agem na natureza ou nos indivíduos.

    (Fonte: Mini-Dicionário Aurélio da L. Portuguesa.)

    No rápido livro Conversas com J.K. Rowling, a escritora afirma que recusou todos os convites para seu mundo bruxo ser traduzido na tela de Cinema, até mesmo a proposta da Warner, com medo do material não ser fiel aos livros que escreveu arduamente, muito antes de ser mais rica que a rainha da Inglaterra, ou a mais famosa escritora do mundo dos trouxas, por sinal. E é justamente esse cuidado e o apreço da Warner Bros. em assegurar, nas telas, a paixão em detalhes que até 2001 só constava no livro que fazem de Harry Potter e a Pedra Filosofal não um filme, mas uma adaptação feita mais para o público, que para a arte imparcial de se fazer filmes. Pois, mais de 15 anos após os fãs mais antigos assistirem Hogwarts, ao invés de apenas lerem Hogwarts, o primeiro filme carrega o principal sintoma a aparecer até o derradeiro da saga: A dificuldade de equilibrar, por mais de uma década, a fidelidade com o livro junto à fidelidade e peculiaridades do Cinema; duas mídias que nas mãos certas vivem felizes para sempre: Fato difícil e não atingido por um simples passe de mágica.

    Chris Columbus sempre foi O Cara com crianças no cinema gringo, vide Esqueceram de Mim, Goonies e Gremlins (cujo roteiro do primeiro e da sensacional sequência dos monstrinhos são dele), sendo então o artista óbvio pra comandar a entrada da garotada ao universo infantilizado de Wicca e outras charlatanices embelezadas pela mitologia juvenil de Rowling. Columbus esculpe simbologias e transmite todo um amor de fã pra qualquer fã babar, frutos de uma leitura rica mas, tal o filme, mágica apenas para quem não precisa de muito para sentir o efeito 3D da jornada de Harry, órfão que sai das trevas de um armário, pega um trem e vai para a luz, por mais que essa jornada possa parecer com a jornada de muitos paulistanos… Harry é o escolhido, o sortudo, primeiro humilhado, no fim celebrado por seus passos de fé típicos de qualquer aluno da badalada Grifinória (uma das quatro casas estudantis de Hogwarts), e quem não quer ser da Grifinória, jogar quadribol ou aprender poções?

    Assim, A Pedra Filosofal, a mais leve e despretensiosa obra da saga consumou, logo no início do século, o vício eterno pelo irresistível que nasce na literatura e acaba num cinema moderno regido pelos 3B’s do sucesso: Brilho, barulho e bajulação. De qualquer forma, o primeiro filme estabelece de forma graciosa um universo coerente, palco para o todo que Rowling promove realmente acontecer, com um elenco insubstituível e que marcou uma geração, mas jamais se apropriando da magia do Cinema para ser mágico – de acordo com suas definições “discionarescas”, lá de cima. Pois na tradição do extraordinário que escondem as imagens dos filmes do inglês Michael Powell, ou dos clássicos de Federico Fellini, entre poucos outros autores realmente admiráveis, tal Chaplin, o francês Cocteau e o indiano Raj Kapoor, A Pedra Filosofal é um divertido truque de Mister M diante das belas ilusões de Houdini que viriam a seguir, em Askaban. O mais impressionante, mesmo, é como o músico John Williams conseguiu resumir tudo com uma trilha sonora, essa sim, encantadora.

  • Agenda Cultural 29 | Retrospectiva de Cinema

    Agenda Cultural 29 | Retrospectiva de Cinema

    Estamos de volta após um longo inverno. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Levi Pedroso (@levipedroso), Mario Abbade (@fanaticc) e Felipe Morcelli (@multiversodc) retornam com tudo para comentar os principais lançamentos que rolaram no cinema durante nossa ausência. Mutantes, piratas, soldados bombados e muito mais você irá encontrar nessa edição.

    PS: Voltamos com a programação normal em nosso próximo episódio.

    Duração: 108 mins
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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    Filmes Comentados na edição

    Piratas do Caribe 4: Navegando em Águas Misteriosas
    Transcendendo Lynch
    Um Novo Despertar
    O Poder e a Lei
    Se Beber Não Case 2
    O Gringo
    X-Men: Primeira Classe
    Namorados Para Sempre
    Kung-Fu Panda 2
    A Casa
    Corações Perdidos
    Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2
    Capitão América – O Primeiro Vingador

  • Agenda Cultural 23 | Maluquices, Mulheres e um Kit de Maquiagem

    Agenda Cultural 23 | Maluquices, Mulheres e um Kit de Maquiagem

    Sincronizem suas agendas. Edição com Flávio Vieira, Amilton BrandãoMario AbbadeLevi Pedroso (Johnny Depp), Bruno Gaspar e o convidado Carlos Tourinho.  Opniões à altura de tamanha bizarrice. A louca vida de Ozzy, dinossauros no teatro, zumbis na TV, Necromorfos nos games e um review do Kinect como você nunca viu. Além das mais absurdas declarações em nossa sessão de extras no final do podcast, por isso, não deixe de ouvir até o final!

    Duração:102 mins.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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    Comentados na edição

    Literatura

    Eu sou Ozzy – Ozzy Osbourne

    Música

    Grave Digger – The Clans Will Rise Again
    Early Man – Death Potion
    Early Man – Beware of the Circling Fin
    Vídeo do He-Man ao som de Early Man

    Teatro

    Pterodáctilos
    A Garota do Bikini Vermelho

    Série

    Human Target
    No Ordinary Family
    The Walking Dead

    Games

    Dead Space
    Playstation Move
    Atriz porno testando o Kinect
    Kinect – Coleção de vídeos ”vergonha alheia”

    Cinema

    Um Homem Misterioso
    A Vida Durante a Guerra
    Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1

    Produto da Semana

    Saquinho para o seu chá!