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  • Crítica | Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban

    Crítica | Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban

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    Terceiro episódio da franquia, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban representa uma evolução no conjunto de linguagens apresentadas na saga e na dramaticidade da trama que, agora, ganha contornos mais sombrios que preparam o espectador para passagens mais densas da história do menino bruxo. Nessa sequência, Sirius Black, um famoso bruxo, escapa da prisão de segurança máxima de Azkaban imbuído do desejo por terminar aquilo que Lorde Voldemort começou: assassinar Harry Potter.

    Após dirigir os dois primeiros filmes da octologia, o americano Chris Columbus cedeu a cadeira de diretor para o mexicano Alfonso Cuáron (Gravidade). É significativamente perceptível as diferenças de perspectiva da mesma obra por parte dos dois diretores. Cuáron aposta em uma proposta mais soturnas, com soluções que flertam com um universo mais adulto. Existe uma clara evolução nos enquadramentos, no jogo de câmera, na lente aberta, na fotografia e montagem do longa-metragem. Aliás, talvez sejam montagem e roteiro os principais diferencias aqui. A saga abandona um roteiro simples e linear e ganha uma time line mais flexível, que exige um pouco mais da percepção dos espectadores.

    Outra mudança interessante está no figurino que deixa para trás os tradicionais uniformes da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts e investe em trajes “trouxas”, o que facilita a avatarização do público na trama. A ambientação outdoor também ajuda a transmitir a ideia de que finalmente reconhecemos o terreno que pavimenta a saga e agora temos os detalhes em função da trama central e não oposto, como visto nos dois primeiros episódios.

    Pela primeira vez é possível vislumbrar os contornos de uma excelente atuação entregue por Emma Watson que, mais tarde, viria a se tornar uma estrela internacional. Aliás, a única do trio protagonista que conseguiu transcender sua personagem, Hermione Granger. Rupert Grint e Daniel Radcliffe também entregam boas atuações, mas são absolutamente ofuscados por um elenco que conta com nomes como Maggie Smith, Gary Oldman e a supracitada Emma Watson.

    Ainda falando sobre o elenco, temos Michael Gambon substituindo o falecido Richard Harris – falecido meses antes – no papel de Albus Dumbledore. Embora Harris tenha desempenhado uma excelente atuação, Michael dinamiza o famoso diretor de Hogwarts. Claramente mais jovem, o ator empresta esse frescor ao personagem que aqui parece mais acessível e mais complexo que outrora.

    Embora tenha basicamente a mesma duração que os seus antecessores, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban oferece ao espectador uma experiência bem mais agradável em função de toda mudança de rota promovida pelo diretor. Um dos episódios mais adorados pelo público – embora não seja muito fiel ao seu livro de origem – Azkaban é um interessante e bem executado ponto de ignição para a batalha entre o menino que sobreviveu e ‘aquele que não deve ser nomeado’.

    Texto de autoria Marlon Eduardo Faria.

  • Review | Morte Súbita

    Review | Morte Súbita

    morte-subitaA minissérie de três episódios, produzida pela BBC One, é uma adaptação do livro homônimo de J.K.Rowling, publicado em 2012. Antes de continuar, é bom esclarecer que não li o livro. Assim sendo, não tenho como tecer comparações entre um e outro, por mais incoerente que seja comparar duas mídias diferentes. Mas sempre se espera que ao menos a essência da história seja preservada. Ao assistir à série, tinha apenas conhecimento do plot do livro: a morte de um membro do conselho paroquial (ou algo assim) abre uma vaga que é bastante disputada entre os habitantes da pequena cidade de Pagford, na Inglaterra.

    Por mais que se tente desvencilhar as obras literárias posteriores de J.K.Rowling do mega sucesso que foi a coleção Harry Potter, há sempre aquela pontinha de desconfiança de que, não sendo um Young Adult, a qualidade não se mantenha. Posso afirmar que escrevendo sob pseudônimo – Robert Galbraith, “autor” de O Chamado do Cuco – J.K.Rowling não decepcionou. E, mesmo que que não tenha cumprido as expectativas de muitos leitores, a história de Morte Súbita tem elementos bons o bastante para sustentar uma série televisiva. E, bem, para os saudosos de Harry Potter, um dos personagens principais nada mais é que Dumbledore, ou melhor, Michael Gambon, como Howard Mollison, outro membro do conselho paroquial.

    A própria Rowling afirmou que a série não seria exatamente uma adaptação do livro, o que talvez decepcione ou desagrade alguns dos leitores. Acredito que, para os que não leram o livro, a série funciona muito bem. Os personagens são bem construídos e as tramas secundárias se encaixam à principal de forma bem verossímil, sem furos aparentes.

    Barry Fairbrother, o ótimo Greg Kinnear (o primeiro-ministro britânico no episódio 1 de Black Mirror), é o protagonista e o narrador da história. É um dos habitantes mais queridos e respeitados do vilarejo – exceto por seu meio-irmão Simon Price (Richard Glover). Sua morte súbita deixa vaga uma posição no conselho, que passa a ser disputada ferrenhamente por três candidatos: Simon, Miles Mollison (Rufus Jones) – filho de Howard – e Colin Wall (Simon McBurney) -, diretor da escola local.

    O primeiro episódio é, obviamente, introdutório. Apresenta ao público a maioria dos personagens, mas foca principalmente em Barry, mostrando sua posição no conselho e seu relacionamento com os habitantes de Pagford.

    No segundo episódio, após a morte de Barry, os plots vão se desenrolando e os jogos de interesses começam a vir à tona, deixando a trama mais interessante e complexa. O espectador mais atento começa a perceber pistas sobre atividades e comportamentos dos personagens, ainda não explicitados totalmente. Apesar de, ao final, algumas pistas se mostrarem bastante óbvias, é sempre interessante ir seguindo as migalhas que os roteiristas – e, provavelmente, a autora – deixam à medida que a história avança.

    No terceiro episódio, finalmente ocorre a eleição do novo membro do conselho. Com um dos candidatos desacreditado pelo “fantasma” de Barry, a disputa entre os outros dois é bastante acirrada. E a vitória de um deles dá-se por um evento quase cômico, apesar de previsível. O que se segue, a exemplo de desfechos de novelas, é uma série de revelações (algumas nem tão surpreendentes assim) que selam o destino das personagens da pequena vila.

    O elenco tem uma atuação excepcional, com destaque especial para o núcleo adolescente, que tem papel bastante importante na trama. A fotografia não tem nada de excepcional, mas cumpre bem a missão de acompanhar o clima de história de forma a fazer o espectador se sentir morando em Pagford.

    Não sei dizer se o livro é melhor, pior, ou se apenas diferente. Mas a série, que consegue em meio ao drama encaixar ótimos momentos de humor negro (às vezes nem tão negro), vale as quase três horas passadas em frente à TV.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Crítica | O Quarteto

    Crítica | O Quarteto

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    O Quarteto é o primeiro filme dirigido por Dustin Hoffman – excluindo o não creditado Straight Time de 1978 – e toma a 3ª idade e a velhice como cenário e ambientação para sua história. O lugar comum é um asilo especial para músicos e cantores aposentados e mostra o seu cotidiano, a rotina dos artistas com suas carreiras findadas.

    O quarteto de protagonistas: Tom Courtenay (Reginald Paget) Maggie Smith (Jean Horton) Billy Connolly (Wilf Bond) Pauline Collins (Cissy Robson) – concentra quase a maior parte das atenções emocionais do filme, e mesmo neste núcleo, mostra que Quartet tem lados opostos e distintos, que variam de abordagem, caráter e clima. Enquanto em um lado há uma postura de abordar-se a fragilidade, outro é quase todo cômico.

    Maggie Smith e sua Jean Horton mostram uma artista que não lida bem com as agruras da idade, e os problemas consequentes disso – principalmente a derrocada pela qual passou com a chegada da velhice. Em determinado momento ela diz a um serviçal: Tome cuidado com ela (uma de suas malas de bagagem), ela é frágil – o objeto era um símbolo de sua mudança para a casa de repouso, e serve de signo para a sua situação em que vivia, ela se sentia mal e decadente.

    Já para Wilf Bond, tudo é motivo para fazer gracejos ou comentários de cunho sexual – segundo o personagem, é isso que o faz ter ânimo para acordar de manhã. Billy Connolly é impagável e sua personagem é a coisa mais espirituosa da obra, possui as melhores tiradas e é ridiculamente engraçado e hilário – assim como a maioria dos outros residentes do Asilo, que encaram a velhice não como um fardo. São exploradas inúmeras variações de senilidade, e na maioria dos casos não se apela para a misericórdia, pena ou dó, tais coisas são só retratados como percalços rotineiros, fatos inexoravelmente inevitáveis aos seres humanos.

    Reggie também é um personagem riquíssimo – o que denota um padrão, Hoffman consegue retirar o melhor de seu elenco. O cantor é retratado como alguém antiquado, mas ao ministrar uma aula a uma classe predominantemente jovem, traça um paralelo entre o Rap e a Opera, mostrando que – guardadas as devidas proporções – não há tanta distância entre uma e outra.

    O roteiro de Ronald Harwood é repleto de mensagens reflexivas (é até natural que isso aconteça, devido ao tema), mas uma das mais fortes é a que, com o passar dos anos e com a velhice chegando, a reputação e memória dos tempos áureos ficam cada vez menos importantes, em detrimento do prazer e do pouco tempo de vida que ainda sobra – tal discurso é professado pelo inspirado Wilf Bond.

    A reconciliação que ocorre no final é um pouco forçada, mas não estraga o todo. O Quarteto é tocante e belíssimo, retrata um final de vida digno para artesões e artistas, que poderiam ser solitários e esquecidos, mas que mesmo nesse derradeiro momento, são figuras memoráveis, e esse acima de tudo é o caráter deste filme, muito bem realizado por Dustin Hoffman.