Tag: Brad Dourif

  • Crítica | A Noiva de Chucky

    Crítica | A Noiva de Chucky

    A Noiva de Chucky é a primeira tentativa de repaginar os filmes do boneco psicopata, reunindo mais elementos de comédia que de terror. Lançado dez anos depois do clássico Brinquedo Assassino, o longa de Ronny Yu mostra Tiffany, personagem de Jennifer Tilly, que começa a história cometendo o assassinato de um policial só para resgatar os restos mortais do boneco. Logo, ela faz um ritual de vodu  graças a um manual de magia negra para amadores e faz o personagem dublado por Brad Dourif retornar a vida.

    A franquia vinha em baixa, Brinquedo Assassino 3 deixou o criador Don Mancini em espera e por mais que hajam críticas pertinentes aos novos rumos da franquia, a dinâmica deu certo. O uso do clichê de par romântico do monstro, ao estilo A Noiva de Frankenstein e A Noiva do Re-Animator casa bem com o tom satírico. Outro ponto é a quebra de quarta-parede, embora o tom aqui seja nada sutil.

    Yu tinha pouca experiência no cinema americano, vinha da produção do filme de fantasia Guerreiros da Virtude, mas ele fez bem seu papel, pois na proposta de tornar tudo mais cômico, há mais acertos que erros. Anos mais tardes, coube-lhe comandar o crossover Freddy vs Jason, que tem elementos presentes nesta obra de 1998. A atmosfera de autoparódia funciona, e a violência explícita idem, transformando ele em um bom exemplo no cinismo que tomou o cinema noventista.

    A abordagem ao estilo videoclipe é acertada e a trilha sonora é um dos pontos fortes, em especial a sequência com Living Dead Girl, de Rob Zombie — curiosamente se tornaria um diretor promissor em 2003 com A Casa dos Mil Corpos e Halloween: O Início — que estabelece quem seria o protagonista dessa história e demonstrando que as regras de transferência de alma seriam mais corrompidas ainda.

    O brilho do filme reside nas personagens femininas. Tilly estava no auge de sua beleza, o carisma da atriz a faz variar naturalmente entre a mulher hilária e tola, que ao esbarrar em clichês de romantismo barato acaba fracassando no intento de ser a mulher fatal perfeita. Tiff é incapaz de perceber  que sua relação com Charles é abusiva, exceção feita ao final, quando decide poupar Jade (Katherine Heigl). A outra moça, aliás também faz um bom papel, e acaba sendo uma scream queen tão boa que chega a destoar do que é comum em obras de slasher. O problema reside nos personagens masculinos rasos. Chucky ainda consegue ter seu brilho, especialmente quando entra em competição com seu par. É sacana, vingativo, amargurado, mas ainda assim, um coadjuvante de luxo do drama da noiva.

    O filme quando não se leva a sério acerta, embora hajam referências bobas até demais, como os souvenirs de personagens de A Hora do Pesadelo, sexta-feira 13 e Halloween, em uma clara cópia a Batman & Robin de Joel Schumacher, que um ano antes, fez uma cena semelhante mostrando quinquilharias dos vilões antigos do Morcego quando no Asilo Arkham.

    A tentativa de repetir os clichês de Assassinos por Natureza e Bonnie e Clyde: Rajada de Balas, colaboram para deixar o terço final cansativo. Os atalhos que Mancini escolhe não tem muito sentido, e o filme carece de um ritmo bom. No trecho final, ainda há um momento bom, ao menos pela bizarrice, sendo a briga entre bonecos um conceito tão sem noção que soa cômico. A Noiva de Chucky é das continuações a mais acertada, pois busca algo diferente mesmo que tenha um final apelativo e  tenha gerado tantos herdeiros bastardos.

  • Review | Chucky – 1ª Temporada

    Review | Chucky – 1ª Temporada

    Desde 1988 Don Mancini vive à custa de seu principal e mais famoso personagem, Charles Lee Ray, o boneco popularmente conhecido como Chucky. Depois de um hiato de quatro anos, finalmente chegou às telas pelo canal SyFy, a primeira temporada de Chucky, que remonta as origens do assassino em Hackensack, onde um boneco Good Guy que carrega a alma do assassino é encontrado por um menino confuso e a partir daí uma estranha saga se inicia.

    Com expectativas baixas graças ao resultado do último filme, O Culto de Chucky, o piloto da série surpreende por conta das ideias que aborda, especialmente no que toca a personalidade do seu protagonista Jake (Zackary Arthur). O personagem tem questões bem complicadas a lidar, como ser  LGBTI+ e viver em uma família conservadora, sofre bullying no colégio.

    Essa última condição é um ponto bem positivo da série, pois dá espaço para mostrar uma escola que parece uma instituição real do ensino médio, e não as caricaturas de seriados e filmes que colocam pessoas de meia-idade interpretando estudantes. Chucky conversa bem com produções atuais que tem esse cuidado, como os recentes Cobra Kai e Ghostbusters: Mais Além.

    Quando se pensa em histórias do boneco serial killer se espera obviamente uma série de assassinatos e nisso o seriado não decepciona. Já em seu início há mortes criativas e tão bizarras que causam risos. Mais uma vez o boneco dublado por Brad Dourif parece à vontade ao cometer seus atos maléficos.

    Da parte da mitologia, há alguns acréscimos bem esdrúxulos, mostrando que Mancini finalmente desapegou de transformar a série em algo mais sério e já aceitou que este é um besteirol com elementos de terror — o que certamente irritará o fã mais ranzinza, mas o tom de autoparódia e o gore exagerado compensa isso.

    Da parte do elenco “novo”, é frustrante que Jake tenha um intérprete tão incapaz de variar expressões. Arthur é bem limitado, fato que ajuda de certa forma no choque inicial de ver Chucky agindo como alguém compreensivo e distante de preconceitos. Algo mudou de O Filho de Chucky até aqui. O restante do elenco juvenil compensa a dificuldade do personagem central, Lexy (Alyvia Alyn Lind), Devon (Bjorgvin Arnarson) e Júnior (Teo Briones) são bons personagens, tem camadas apesar de pouco tempo de tela.

    A série também se dedica a mostrar o passado do assassino, as primeiras mortes e até a relação que ele teve com Tiffany. As aparições do elenco dos filmes também é bem pontuado, Jennifer Tilly está hilária e Fiona Dourif também faz bem seus múltiplos papéis. Ainda assim, os flashbacks acrescentam conteúdo, ratificando a ideia de que não se ignora nada nesta cronologia, embora as participações de Alex Vincent e Christine Elise não sejam tão extensas quanto poderiam.

    Chucky acrescenta elementos bem bizarros a lógica do ritual vudu, e ainda apresenta a localidade de Hackensack como o lar da imoralidade, associando o lugar ao conto macabro Tempestade do Século. Esse lugar ter produzido o estrangulador de Lakeshore faz sentido, assim como a busca dele por um sucessor. Mancini consegue finalmente trazer um roteiro pleno em exageros e diversão.

  • Crítica | Brinquedo Assassino 3

    Crítica | Brinquedo Assassino 3

    Brinquedo Assassino 3 foi apressadamente lançado em 1991, um ano após Brinquedo Assassino 2. Na trama, após um período, a Play Pals Toys resolve reativar sua fábrica, e acaba restaurando o boneco que comporta a alma de Charles Lee Ray. Dessa vez, Andy Barclay (Justin Whalin) — oito anos mais velho que no filme anterior — vive em uma instituição militar, já que o garoto foi tão traumatizado que resolveu treinar e se armar para eventualmente enfrentar o boneco novamente.

    Essa parte três carece de originalidade, se parecendo demais com o início dos outros filmes, incluindo Brinquedo Assassino. O comentário mais inteligente se dá fora da trama entre a ganância da companhia de brinquedos, e claro, o desespero do estúdio por espremer cada vez mais a fórmula da franquia.

    Outro bom ponto é a reconstrução do boneco ocorrendo com os créditos iniciais. Jack Bender, de Hora do Terror dirige a produção. Ele ficaria mais famoso pela participação em séries como Sr. Mercedes e Família Soprano, mas pouco se percebe seus talentos nessa produção, exceção feita as mortes no quartel, que destacam o sadismo do personagem dublado por Brad Dourif.

    Outro destaque é Whalin, famoso após o filme por interpretar Jimmy Olsen nas primeiras temporadas de Lois & Clark: As Novas Aventuras de Superman, além de Mamãe é de Morte, de John Waters, e pelo esquecível Dungeons & Dragons: A Aventura Começa Agora. O protagonista claramente não capturou a essência de Andy Barclay, mas isso não é condenável completamente, até porque a última vez que ele foi visto, ainda era uma criança. O grave problema é não haver personagens secundários minimamente carismáticos para dar suporte ao protagonista, são todos genéricos. O filme ainda possui boas sacadas, como o início da criatura atacando seu “criador”, com Chucky assassinando o dono da Play Pals Toys, além das cenas com outros bonecos Good Guys.

    Ao menos a obra tem boas cenas do boneco que David Kirschner criou, a movimentação dele está cada vez melhor, embora siga não fazendo sentido um assassino de menos de um metro ser tão eficiente. Brinquedo Assassino 3 fica no limiar entre a abordagem mais séria e as versões mais humorísticas que Don Mancini empregaria anos depois, mas certamente seria melhor construído caso tivesse mais tempo para amadurecer as boas ideias e podar as ruins.

  • Crítica | Brinquedo Assassino 2

    Crítica | Brinquedo Assassino 2

    Após o sucesso de Brinquedo Assassino,  o roteirista e criador do personagem Chucky, Don Mancini, ao lado do produtor e criador do boneco David Kirschner decidiram pelo óbvio: tornar o personagem o centro de uma franquia. Foi nesse contexto, em 1990, surgia Brinquedo Assassino 2, com uma trama mirabolante e engraçada, onde a companhia Play Pals Toys tentava provar que o boneco Good Guy era inofensivo, e para isso, decidiram remontar o brinquedo que recebeu a alma do estrangulador de Lakeshore, o famoso Charles Lee Ray.

    A mitologia em volta do boneco demoníaco ainda não seria flexibilizada (ou pervertida, como diriam os mais puristas) como ocorreu nos outros filmes, no entanto, não dá para levar a sério a desculpa de que um raio fez ressuscitar o psicopata — ao estilo Jason Vorhess. Mesmo com esse pontapé estranho, há bons momentos na trama.

    A maior riqueza do filme certamente está na evolução das personagens, em especial Andy Barclay (Alex Vincent). Tratado como um “órfão” traumatizado, já que sua mãe está internada por dizer que um brinquedo tentou matar sua família. Nada mais justo. O rapaz ainda consegue o feito nada desprezível de ser adotado por uma família, embora essa não seja a mais funcional e perfeita possível.

    John Lafia co-escreveu o primeiro filme com Mancini e dirige essa produção. Seu currículo anterior não era tão vasto, com destaque para as séries televisivas A Hora do Pesadelo: O Terror de Freddy KruegerBabylon 5, mas seu produto mais famosos é o “clássico” das tardes de Cinema Em Casa no SBT, Max: Fidelidade Assassina, onde um cachorro é geneticamente alterado e passa a se vingar dos homens que o maltratavam no canil. Aqui na parte dois da cinessérie de Chucky, Lafia conduz uma produção sanguinária cheia de mortes criativas, com coincidências bizarras como um caminhão de Good Guys fechando o carro da nova família de Andy e, claro, com a presença de um boneco chamado Tommy na casa dessa família. É como se o destino cercasse o garoto, impedindo-o de seguir em frente.

    Esse é possivelmente o único bom filme entre as continuações. Apesar de algumas produções ligadas a mistura de gêneros Terrir (terror com comédia) serem bastante elogiadas, esse é sem dúvida o produto que gera mais unidade entre os fãs de terror a respeito da qualidade, mesmo que sua premissa seja baseada numa ressurreição bastante esdrúxula.

    Chucky está bastante engraçado, com ótimas sacadas. Claramente, Brad Dourif se divertiu bastante, além de se mostrar um grande ator de voz. Kirschner conseguiu evoluir bem os mecatrônicos utilizados, agora o assassino tem mais expressões, parece menos uma criatura de stop motion e mais algo “real”.  Ele é um autêntico monstro de filme de terror, criativo, engenhoso e violento.

    Se Brinquedo Assassino 2 perde em efeito surpresa, pois fica óbvio que o brinquedo matará (e muito) já no início do filme, se ganha no sentimental. Há uma sequência que é bastante marcante. Andy se assusta ao perceber que em seu quarto há um boneco Bonzinho e, obviamente, não quer ele por perto. Com o tempo, ele cede ao receio de ser rejeitado, buscando não voltar ao orfanato, e se aproxima do boneco, abrindo assim brecha para que seu perseguidor se infiltre sem gerar suspeitas no menino.

    O longa expande o universo da franquia, com a personagem de Kyle (Christie Elise), que faz às vezes de moça adolescente rebelde, mas que nutre carinho pelo recém-chegado. O trauma une Andy e Kyle, e esse vínculo foi espertamente retomado nas produções A Maldição de Chucky e no seriado Chucky.

    A remasterização executada para lançamento do filme em mídia física é ótima, ajuda a apontar as evoluções da produção, sem falar que reforçam o caráter gore da produção. A automutilação e a caça implacável do assassino ao garoto é uma representação da completa falta de lógica da mente de Charles, mostrando que o sujeito não aceita morrer, nem permanecer morto e ainda tenta arrastar um menino inocente para esse estranho caminho. Andy e Chucky aparentemente teriam suas vidas para sempre atreladas, mas jamais com consequências e abordagem tão graves quanto nesta obra.

  • Crítica | O Culto de Chucky

    Crítica | O Culto de Chucky

    Quase todo filme de terror, por mais problemático que ele seja, consegue ter continuações e ser transformado em franquia, desde que dê algum dinheiro aos seus produtores. Alguns nem sequer lucram direito, mas mesmo assim tem terríveis continuações e remakes, que vão desde ressurreições terríveis a reaparições cafonas e inoportunas. Com a franquia Brinquedo Assassino não foi diferente, e após o terrível A Maldição de Chucky, Don Mancini reassume a direção em O Culto de Chucky, iniciando no mesmo ponto onde o filme anterior terminou.

    O espectador acompanha Andy Barclay (Alex Vincent) tentando viver sua vida normalmente, mas graças a internet todos sabem de seu passado com o boneco Chucky (voz de Brad Dourif), que inclusive, ainda permanece vivo, com somente sua cabeça – estourada pelo tiro de doze que tomou na cena pós crédito de Maldição – armazenada em um cofre de segurança máxima. Os dias do rapaz consistem em torturar o assassino que tomou posse do corpo de seu presente de natal nos idos de 1988.

    Enquanto isso, Nica Pierce (Fiona Dourif) continua internada numa casa de reabilitação, onde sofre experimentos psíquicos, sendo tratada como uma louca que chacinou as pessoas de sua casa. Lá dentro, ela passa por uma terapia que traz à tona alguns brinquedos como o Good Guy, fato que obviamente é estabelecido somente para trazer à tona o assassino em forma de boneco, algo que já havia sido explorado nos filmes anteriores, em especial Brinquedo Assassino 2.

    Assim, se estabelece um novo arremedo na mitologia da cinessérie, em que um culto é capaz de reproduzir a maldição entre os bonecos, fazendo outros brinquedos também ganharem vida. A questão é que Mancini não explicita os detalhes desses ritos, tão pouco produz curiosidade no espectador quanto aos métodos dessas convenções. A única coisa que meramente lembra o processo de transferência via vodu é a presença de Jennifer Tilly, como Tiffany, personagem que leva um dos “bonzinhos” até o sanatório onde Nica está para começar assim a proliferação de assassinos.

    A explicação a respeito do modo que Charles Lee Ray encontra para se multiplicar é porca e mal construída, mesmo o gore é mostrado de um modo mal construído, uma vez que Mancini não consegue sequer produzir um impacto visual interessante nas cenas mais violentas. A possessão via canto de Dumbala não tem impacto. As cópias de Chucky ao serem assassinadas parecem abóboras pisoteadas e a tentativa de reunir Andy e Nica soa boba e apressada, além de ilógica em alguns pontos.

    A tentativa de amarrar a mitologia presente nos outros seis filmes faz esse parecer um greatest hits, ou uma tentativa de o ser, já que não há nada de grandioso nele para ser louvado, ao contrário. Mesmo os elementos que poderiam gerar bons momentos, como a presença de Vincent no longa é mega sub-aproveitado. A cena pós-créditos com o cliffhanger também pouco acrescenta, servindo apenas como mais um arremedo de uma boa ideia, ou como promessa de segmentos melhor pensados. O que resta é apenas a promessa de que haverão outras situações mais inspiradas, mas elas não chegam, a realidade é mais um filme oportunista e a promessa de Mancini de virem mais objetos como esses, o que é uma lástima.

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  • Crítica | Brinquedo Assassino

    Crítica | Brinquedo Assassino

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    Criação conjunta do diretor Tom Holland – o mesmo do clássico A Hora do Espanto – e do então roteirista iniciante Don Mancini, o filme de 1989 começa genérico, mostrando uma perseguição policial a um estrangulador famoso, que resulta em um evento comum, de traição e covardia e de morte do malfeitor. O diferencial em Brinquedo Assassino é que o vilão chamado de estrangulador de Lake Shore tem hábitos ligados ao ocultismo, aspecto que o faz realizar um ritual antes de ser atingido pela bala do policial Mike Norris (Chris Sarandon) e que resulta em um raio que atinge a loja de brinquedos onde os dois estavam.

    A presença de Brad Dourif como Charles Lee Ray é curtíssima, mas é tão marcante que gerou mote para o script de Mancini e John Lafia, e para toda um seguimento de franquia. O argumento tocava em questões em voga na época: primeiro, na dificuldade que uma mãe solteira repleta de precariedades financeiras tinha em cuidar de uma criança, como é visto com Karen Barcley (Catherine Hicks) e seu filho, bem como a ambiguidade em relação aos crimes ocorridos, variando entre a criatura demoníaco e o angelical menino Andy, executado por Alex Vincent quase estreante, mais inspiradíssimo no papel que lhe propõem.

    Alguns fatores tornam a produção um filme curioso, primeiro pela hiper atividade de Andy, fator comum a crianças nessa fase de crescimento, em torno dos seis anos, postura que se torna inversa nos momentos futuros, graças ao trauma que sofre. Outro aspecto interessante é o desfile da câmera de Tom Holland, de uma perícia monstra, primeiro traçando o caminho que seria o das perseguições pela casa antes mesmo do acréscimo do vilão, além do uso irrestrito da lente como olhar do “monstro”, semelhante ao já feito em Tubarão, Halloween e Psicose. Tal cuidado com a fita não seria repetida nas continuações.

    A arma do primeiro crime é um martelo, um objeto comum em qualquer casa ordinário, mas que é mortal ao acertar o olho da personagem Maggie Peterson (Dinah Manoff) e que a faz percorrer um trajeto praticamente impossível, rumo a janela e à sua morte, mas não antes de serem produzidas provas contra o menino, que já dormia, dentro de outro cômodo da casa. A trama bastante fantasiosa discorre sobre a possibilidade de esquizofrenia infantil, um terror tão ou mais maligno quanto a possibilidade de um assassino serial dormir agarrado com um menino de tão pouca idade.

    Não há incongruência pior que os erros de continuidade e quantidade enorme de coincidências, como por exemplo, o fato de Norris ser praticamente o único policial designado para os casos estranhos de assassinato na cidade, que resulta na enorme coincidência dele ser o responsável pela morte de Lee Ray e o curioso fato envolvendo Andy e seu boneco Chucky. As cenas que contém diferenças nos cabelos do brinquedo visavam mostrar a transformação do personagem ao longo da fita, tendo descartado em pré produção até o crescimento de barba no objeto antes inanimado.

    A cidade de Chicago parece ter propriedades explosivas, já que qualquer esbarrão mais forte em suas construções resulta em uma estouro pirotécnico gigantesco. Outro fato curioso é que um infante de seis anos não tem qualquer problema em circular pela cidade, inclusive entrando e saindo de metrôs que levam até o subúrbio do município.

    A noite, quando a cidade parece cenário de um filme noir, ocorre a melhor sequência do filme, com a louca batalha dentro do carro, entre Norris e Chucky, onde a predação do menor e maior se inverte, com o boneco levando vantagem sobre o homem feito, enclausurado por uma claustrofobia forçada.

    Apesar dos problemas técnicos, datados ao extremo se analisados atualmente, a criatura de David Kirschner funciona quase à perfeição, sendo assustadora em inúmeros momentos, fortificado pela construção em volta do vilão. O brinquedo se revela uma abominação ligada ao voodoo, refutado mesmo pelos que prestam fé ao ocultismo, com um cuidado do roteiro para não tornar a figura de Damballa em algo necessariamente maligno, pondo toda a carga do mal no ideário do assassino, e não do religioso crente em reencarnação.

    A arquitetura da casa dos Barclays compreende cômodos que tem sempre duas saídas, e os adultos tem o poder de mesmo em um ambiente familiar, conseguir tropeçar a todo momento, demonstrando a superioridade que o assassino tem sobre todos, exceto com Andy, que não teima em executar seu antigo “amigo”, queimando-o vivo. Ao menos carbonizado, Chucky causa um terror imenso, graças ao assustador semblante que tem. Karen rende-se a crueldade, de esquartejar a base de tiros o algoz de seu filho.  O sadismo de Lee Ray é imparável, mesmo deformado ele segue com sede de sangue, atacando qualquer detentor da mesma vida e condição humana que lhe foi tirada, fazendo de sua perseguição um manifesto de ódio a vida.

    O close em Alex Vincent amedrontado, olhando pela fresta da porta do quarto de sua mãe revela o medo infantil de ser extinto, apegando-se de um modo a vida de um modo que somente um homem feito poderia sentir, mostrando que toda a jornada sangrenta pela qual passou, o talhou para uma nova experiência, para o decorrer de uma existência completamente diferente da eu lhe ocorreu até então, cercada de tragédias emocionais tremendas, que não o fariam jamais dormir tranquilo novamente.

  • Crítica | Alien: A Ressurreição

    Crítica | Alien: A Ressurreição

    Alien A Ressurreição Versão Estendida

    A versão estendida, como anunciada por Jean Pierre Jeunet, não é uma versão do diretor, mas uma versão alternativa, com novas cenas. A primeira apresenta-se com um hiperclose nas mandíbulas de um inseto, algo semelhante à arcada dentária do Alien. Seus oito minutos a mais de exibição tentam resgatar algo de bom em meio à continuação que segue a pós-morte da protagonista, mas sem qualquer ressalva ou arrependimento por parte de seu realizador.

    O adentrar da nave, exibindo o corpo nu de Sigourney Weaver, só não é mais assustador em sua figuração do que a noção de que o roteiro do filme é assinado por Joss Whedon. O milagre por trás do reavivar da heroína de ação  é dado por uma experiência sem qualquer consentimento da personagem, em que a liberdade de escolha é ignorada e completamente contrariada. Aos poucos, Ripley toma conhecimento do que ocorreu consigo, ainda que sua mente esteja tão diferente que qualquer noção de identidade torna-se bastante discutível.

    A direção de Jeunet imita os elementos de filmes de ação franceses, com exageros em diversos aspectos, como no modo tosco em que os doutores tratam a mulher, correndo risco de morrer o tempo inteiro, dada a força descomunal de Ripley, ainda que nenhum deles tome qualquer precaução. A postura deslocada da personagem lembra o comportamento de Leeloo, personagem de Milla Jovovich em O Quinto Elemento, de Luc Besson. A caricatura da modernidade inclui identificadores que funcionam através do hálito dos indivíduos, abrindo mão de qualquer praticidade para exibir uma alternativa grotesca.

    Os tripulantes da nave/laboratório são ainda mais sádicos do que os vistos em todo o decorrer da franquia, executando experiências com espécimes vivos, pessoas amarradas contra a vontade à espera de terem suas vidas cerceadas em frente às ovas de Alien. Paralelo a isto, um grupo de mercenários entra a bordo, sem qualquer desculpa minimamente plausível, uma intromissão que inclui o contato com a antiga tenente, que se mostra um ás no esporte, a máquina perfeita de combate e predação, e com habilidades semelhantes aos xenomorphos, como a propriedade de sangue corrosivo. O esquadrão de assassinos, que a princípio deveriam ser uma versão dos mariners de Aliens: O Resgate, é caricato, com arquétipos retirados de desenhos animados, só perdendo para os cientistas estúpidos que permitem a fuga de uma das criaturas, do modo mais vergonhoso que o roteiro poderia construir.

    Após a fuga, uma correria desenfreada começa, seguida de uma extensa carreira de eventos bizarros, exibidos à moda da comédia, onde nem o conteúdo gore/trash consegue salvar qualquer suspensão de descrença. Até mesmo a chocante cena em que Ellen Ripley encontra o laboratório repleto de cópias defeituosas, que deveria prioritariamente causar emoção, provoca náuseas, na personagem e no espectador.

    As sequências de ação mal feitas, as situações constrangedoras e o roteiro repleto de personagens estranhos ainda não são suficientes. O bizarro se instala ao apresentar uma evolução da Rainha, cuja herança da amálgama com Ripley resulta num parto semelhante ao humano, com um útero fértil, dito pelo doutor Jonathan Godiman (Brad Dourif), que narra o nascimento do Alien albino, o qual, ao invés de simbolizar o avanço interespécie, acaba mostrando-se uma criatura rudimentar risível.

    Não bastasse unir os inimigos mortais numa tensa relação de familiaridade e sedução, a fita de Jeunet ainda consegue apresentar uma caracterização de Ripley assustadoramente diferente de tudo que foi visto antes, desconfigurando por completo sua persona. A luta final e a solução encontrada para assassinar o Alien são um acinte, apresentando a despressurização e dilaceração da criatura em um movimento tão mortífero que encerraria a franquia, apesar dos desejos de continuar a partir dali. Nem mesmo a desolação da Terra parecia ser algo diante de tamanha catástrofe cinematográfica que é Alien: A Ressurreição.

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  • Crítica | Halloween: O Início

    Crítica | Halloween: O Início

    Halloween - O Inicio - 2007

    Ao lado de Wes Craven, o diretor John Carpenter popularizou o Terror na década de 80, abusando de maníacos e personagens bizarros em histórias assustadoras. A cada geração, muitos filmes do gênero são produzidos mas poucos destacam-se no panteão do medo. A saga Jogos Mortais teve um bom início em uma trama policial dirigida por James Wan, depois exagerou na violência gore e repetiu a si mesma diversas vezes até o capítulo final. Neil Marshell foi considerado promissor com Abismo do Medo, mas ainda não realizou outra produção tão eficiente quanto sua primeira. Além destes, muitos filmes atuais são regravações do passado, repetindo as mesmas histórias, modificadas somente pelo estilo narrativo em vigor, com elementos nem sempre assustadores.

    Em meio a este marasmo, o músico Rob Zombie compôs uma duologia cruel sobre uma família de assassinos. Compondo o grotesco com naturalidade, sem poupar sangue, A Casa dos 1000 Corpos e Rejeitados pelo Demônio destacavam que o roqueiro possuía talento e estilo ao filmar, diga-se, melhores produções do que alguns diretores atuais. Sucesso que lhe garantiu a possibilidade de readaptar uma das mais famosas histórias de Carpenter: Halloween: A Noite do Terror.

    Utilizando o mesmo argumento do original, Zombie parte da infância do personagem para desenvolver e justificar sua crueldade. Insere a criança Michael Myers em um ambiente hostil, com uma mãe stripper, um padrasto inválido que o odeia, uma irmã adolescente que, como qualquer jovem, despreza tudo que não seja seu próprio umbigo, além de uma pequenina irmã, por quem Myers nutre um sentimento positivo. Este é primeiro ato que fundamenta as motivações do personagem.

    Em um avanço de 30 anos, o curto segundo ato apresenta Myers preso, evento já previsto por seu psicólogo infantil, Dr. Loomis (Michael McDowell), que, desde a infância do garoto, acreditava que seu paciente romperia os laços do mundo exterior ao demonstrar uma psiquê corrompida e incapaz de absorver a problemática de seus próprios atos. O terceiro ato marca a fuga do personagem do manicômio em que está preso e a procura dos sobreviventes de sua família.

    Ao introduzir o escopo psicológico da infância de Myers, Zombie produz uma temerosa figura real. Ao compreender suas motivações psicológicas, o público contempla uma sensação dúbia: reconhece a monstruosidade do personagem, mas se apieda por compreendê-lo dentro de um sistema analítico-psicológico. Uma análise que, no entanto, não retira a potência do medo causada pela figura aficionada em esconder-se atrás de máscaras, temerosa da própria aparência.

    Dando uma nova visão da história sem perder os elementos clássicos, Zombie produz uma regravação sólida, diferentemente de outras obras adaptadas, como Sexta-Feira 13, Terror em Amityville e O Massacre da Serra Elétrica; tais produções, ao serem contextualizadas no estilo narrativo contemporâneo, não necessariamente souberam adaptar-se ao novo público, que não tem mais medo de monstros rasos da década de 80.

    Atualizando o personagem, cria-se um monstro à espreita, dono de grande agressividade e um temor que parece mais sensível pela concepção da realidade. Uma versão que, ao aprofundar-se na composição humana de Myers, transforma-o em ainda mais insano.

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