Tag: Serial Killer

  • Review | Chucky – 1ª Temporada

    Review | Chucky – 1ª Temporada

    Desde 1988 Don Mancini vive à custa de seu principal e mais famoso personagem, Charles Lee Ray, o boneco popularmente conhecido como Chucky. Depois de um hiato de quatro anos, finalmente chegou às telas pelo canal SyFy, a primeira temporada de Chucky, que remonta as origens do assassino em Hackensack, onde um boneco Good Guy que carrega a alma do assassino é encontrado por um menino confuso e a partir daí uma estranha saga se inicia.

    Com expectativas baixas graças ao resultado do último filme, O Culto de Chucky, o piloto da série surpreende por conta das ideias que aborda, especialmente no que toca a personalidade do seu protagonista Jake (Zackary Arthur). O personagem tem questões bem complicadas a lidar, como ser  LGBTI+ e viver em uma família conservadora, sofre bullying no colégio.

    Essa última condição é um ponto bem positivo da série, pois dá espaço para mostrar uma escola que parece uma instituição real do ensino médio, e não as caricaturas de seriados e filmes que colocam pessoas de meia-idade interpretando estudantes. Chucky conversa bem com produções atuais que tem esse cuidado, como os recentes Cobra Kai e Ghostbusters: Mais Além.

    Quando se pensa em histórias do boneco serial killer se espera obviamente uma série de assassinatos e nisso o seriado não decepciona. Já em seu início há mortes criativas e tão bizarras que causam risos. Mais uma vez o boneco dublado por Brad Dourif parece à vontade ao cometer seus atos maléficos.

    Da parte da mitologia, há alguns acréscimos bem esdrúxulos, mostrando que Mancini finalmente desapegou de transformar a série em algo mais sério e já aceitou que este é um besteirol com elementos de terror — o que certamente irritará o fã mais ranzinza, mas o tom de autoparódia e o gore exagerado compensa isso.

    Da parte do elenco “novo”, é frustrante que Jake tenha um intérprete tão incapaz de variar expressões. Arthur é bem limitado, fato que ajuda de certa forma no choque inicial de ver Chucky agindo como alguém compreensivo e distante de preconceitos. Algo mudou de O Filho de Chucky até aqui. O restante do elenco juvenil compensa a dificuldade do personagem central, Lexy (Alyvia Alyn Lind), Devon (Bjorgvin Arnarson) e Júnior (Teo Briones) são bons personagens, tem camadas apesar de pouco tempo de tela.

    A série também se dedica a mostrar o passado do assassino, as primeiras mortes e até a relação que ele teve com Tiffany. As aparições do elenco dos filmes também é bem pontuado, Jennifer Tilly está hilária e Fiona Dourif também faz bem seus múltiplos papéis. Ainda assim, os flashbacks acrescentam conteúdo, ratificando a ideia de que não se ignora nada nesta cronologia, embora as participações de Alex Vincent e Christine Elise não sejam tão extensas quanto poderiam.

    Chucky acrescenta elementos bem bizarros a lógica do ritual vudu, e ainda apresenta a localidade de Hackensack como o lar da imoralidade, associando o lugar ao conto macabro Tempestade do Século. Esse lugar ter produzido o estrangulador de Lakeshore faz sentido, assim como a busca dele por um sucessor. Mancini consegue finalmente trazer um roteiro pleno em exageros e diversão.

  • Crítica | O Silêncio dos Inocentes

    Crítica | O Silêncio dos Inocentes

    O Silêncio dos Inocentes começa enigmático, mostrando a Clarice de Jodie Foster percorrendo uma cinzenta floresta em Quantico, na Virgínia. Pouco tempo depois a expectativa de perigo é substituída pela percepção de que ela está se preparando, como agente em treinamento. A personagem é uma mulher vista como alguém pequena, ainda mais em comparação com os homens altos que habitam aqueles cenários cinzas da academia do FBI. Essa questão dos tamanhos seria usada por Jonathan Demme como um prenúncio da historia, ainda que não estabeleça a gravidade e a tragédia de assassinatos de inocentes, sobretudo mulheres, que concentram os momentos mais emocionantes do roteiro.

    A atmosfera de suspense e thriller é pontuada pela música de Howard Shore que, em sua discrição, consegue sutilmente injetar ainda mais mistério nas cenas pensadas. Cenas desenvolvidas de maneira lenta, mesmo o passado de Clarice Starling é discutido de maneira paciente. Mas desde a gênese, é tratada como uma mulher forte e bem resolvida,  como aliás é bem comum nas obras de Thomas Harris, o autor do livro homônimo que Ted Daily usou como base para seu roteiro. Mirando entrar para um departamento novo que estuda a Ciência de Comportamento, ela é designada para dialogar e pedir ajuda a um serial killer, o doutor psiquiatra Hannibal Lecter.

    Nas conversas iniciais que a protagonista tem com o personagem de Anthony Hopkins é estabelecido com clareza o fascínio e curiosidade da protagonista que, aliás, reflete a curiosidade do espectador que se questiona como um renomado médico perdeu sua carreira e conseguiu ser pego por crimes tão bizarros quanto os que cometeu. Ainda que no início fique a sensação de que talvez o que se fala seu a respeito seja boato.

    Demme usa muito bem o misancene, tanto com Clarice, que tenta se manter durona mas demonstra momentos de fragilidade, como uma criança prester a entrar em um mundo adulto e feio, como também na insanidade e sujeira que leva até o psicoterapeuta forçadamente aposentado por seus crimes. Na cela de Hannibal os tons de marrom predominam (essa aliás, é uma cor muito utilizada dentro do filme). Mais parece uma gruta, uma caverna, onde um bárbaro ou animal predatório vive. Então, por mais que ele pareça educado e cordato, é fácil perceber sua frieza.

    A personificação de Hopkins, aliás, é outro fator diferenciado. Lecter é carismático, quase dócil ao expressar seus desejos e exigências para o grupo de investigadores. Seu sotaque característico e o cabelo ralo e bem penteado mostram o quão meticuloso é com a própria aparência, sendo esse mais uma amostra dos seus métodos bem executados como assassino serial. Mas é no olhar vazio, acompanhado da íris azul, que se percebe sua personalidade pouco dócil, ainda que não seja nem de longe um anúncio do quão destrutivo é o homem encarcerado. Por mais que ele esteja preso como outros criminosos, faz questão de se diferenciar pela elegância.

    Hannibal e Clarice estabelecem uma relação de interdependência grande, tão tangível que quase justifica alguns momentos bem irreais, como a cela meticulosamente pensada para comportar o psicopata enquanto ele está ajudando a encontrar a filha de uma senadora. A influência dele sobre a agente em treinamento é natural pela inexperiência de Clarice. Mesmo que seu caráter e índole sejam bastante fortes, ela ainda é uma agente em estado probatório, portanto, não está completa. Seu passado como órfã, por conta de uma ação policial, compromete sua mente e o compromisso em ser fria.

    Por mais que o antagonista procurado pelos agentes da lei seja Bufalo Bill/Jame Gumb (Ted Levine) que faz um papel bastante inspirado, o brilho de vilão recai sobre o conselheiro de Clarice. Demme trabalha bem o desenrolar das duas tramas, do matador baseado no real caso de Ed Gein, e no médico que serve de conselheiro para a protagonista.  Ao menos, há mais em comum entre Hannibal e Bill, eles tem uma ligação que faz o espectador entender que há certa intenção de seguir um legado.

    Ao longo dos anos, filmes de assassinos em série entraram e saíram da moda devido a essa produção. Se7en  é bem visto, mas A Cela, Rios Sangrentos e até Jogos Mortais foram sub produtos de qualidade questionável. Silêncio dos Inocentes é a fonte de inspiração para todos eles e para as sequencias e prequels baseadas no mesmo personagem. Mas as sutilezas desta versão não foram replicadas tão bem em outras histórias.

    Demme conduziu um filme simples, que não faz rodeios e que mostra o pior da alma do homem. Apesar de toda a qualidade do filme, há um conjunto de caracterizações delicadas em sua composição, ainda mais na associações fálicas da condição transexual com psicopatia, fruto dos preconceitos de sua época. Mas a produção é mais que uma peça presa ao seu tempo. É o exemplo maior dos filmes de psicopatas, que ditou tendência e moda e que se vale de dois personagens ricos, que compõem uma dupla complementar de pessoas desajustadas e incompreendidas, mas que ainda assim são geniais.

  • Crítica | Caçador de Assassinos

    Crítica | Caçador de Assassinos

    Produzido por Dino de Laurentiis, Caçador de Assassinos foi o primeiro filme baseado na a obra de Thomas Harris. Adaptação do livro  O Dragão Vermelho, primeiro com o personagem de Hannibal Lecter,  o longa de Michael Mann começa misterioso, com uma estranha filmagem caseira, observada pelo detetive do FBI Will Graham (William Petersen), um sujeito discreto e de poucas palavras que tenta equilibrar sua vida familiar comum com o ofício de agente responsável por investigar crimes hediondos.

    William é de Chicago, onde mora com a sua família, mas após o chamado a aventura a trama se muda para Atlanta, no estado da Geórgia, cuja atmosfera envolve paisagens cheias de fumaça e neblina, fato que causa no espectador um certo estranhamento. Por mais que Graham seja discreto, ao analisar uma cena do crime repleta de sangue o sujeito não parece se chocar, não há qualquer incomodo ao ver um quarto redecorado de vermelho. Ao ter acesso a fitas apresentando a vítima tem estranhas reações, uma estranha excitação a perceber a morte diante de seus olhos. Isso é uma mostra do quanto cenário apresentado é de desajustados, pois até o mocinho parece obtuso.

    A grande curiosidade do espectador em relação a esta obra, é como o famoso Hannibal foi retratado. O doutor é interpretado por Brian Cox que, até então, havia feito poucos papéis no cinema. O lugar onde está preso é um cenário todo branco não combina com a mente suja e com seu passado. O sobrenome do personagem é trocado, de Lecter para Lecktor. Hannibal é mostrado como um homem culto, leitor de psicopatologias com alguma formação em psiquiatria. Antes do encontro com Will pouco se sabe a seu respeito. Só que matou algumas pessoas e deixou outras no hospital. Seu quadro não é detalhado. Há bastante melindre em abordar a questão do canibalismo. Ele é tratado tão somente como um psicopata. Possivelmente, em 86, a situação para abordar o tema era ainda mais espinhosa.

    O filme faz do mistério em volta de Hannibal uma grande necessidade. O desempenho de Cox é razoável nesse sentido, mesmo com pouco tempo de tela. Ele consegue parecer adorável e charmoso em sua apresentação, mas também é capaz de causar desconfiança e desconforto exatamente por ter uma aparência de extrema formalidade, pois alguém tão requintado, para estar preso, deve ter feito algo realmente grave, mesmo que isso não seja tão explícito.

    Esse era só o terceiro longa de Mann, antes dos incontestáveis sucessos de Fogo Contra Fogo e Colateral. Sua visão do ideal a um filme policial ainda estava em formação. Por isso, esse produto é bem diferente de suas outras obras no gênero, claramente o diretor ainda estava preso a estética da série que produzia, Miami Vice. A produção  é mais silenciosa, não verborrágica, mostra uma historia que se desenrola lentamente, sem urgência, com uma trilha sonora característica, que quase não interfere na ação em si.

    Se escolhe também mostrar cenas onde a câmera lenta predomina, possivelmente em alusão ao cinema de ação de Sam Peckinpah, que usava isso para maximizar os confrontos no velho oeste de seus filmes. Aqui, isso é empregado para fortalecer a sensação de que algo está errado com o mundo. Que o lugar que Deus criou foi corrompido pelo homem.

    Os momentos finais são eletrizantes, mesmo que a cadência da desventura de Graham seja lenta. Mann apresenta uma historia fria que também tem momentos de melancolia extrema. A história é ainda mais grave por demonstrar que a alma do detetive está perdida, dado que parece ser incapaz de ter sensibilidade graças a condição auto imposta de tentar emular a mente e o coração dos psicopatas que persegue. Por mais que em Caçador de Assassinos não haja uma versão brilhante de Hannibal (até por ser breve sua participação), é de se admirar a mistura narrativa de um estilo intimista com um noir colorido.

  • VortCast 69 | Mindhunter

    VortCast 69 | Mindhunter

    Bem-vindos a bordo. Filipe Pereira, Thiago Augusto Corrêa, David Matheus Nunes (@david_matheus) e Julio Assano Júnior (@Julio_Edita) recebem Thata Finotto (@thata_finotto), do PQPCast, comentam sobre a primeira e segunda temporada da série da Netflix, Mindhunter, baseada em acontecimentos reais, sobre a história de investigadores do FBI que desenvolver o estudo comportamental de assassinos com base na psicologia, chegando então ao termo serial killer, usado até hoje.

    Duração: 114 min.
    Edição: Julio Assano Júnior
    Trilha Sonora: Julio Assano Júnior
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

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  • Crítica | Eu Não Sou um Serial Killer

    Crítica | Eu Não Sou um Serial Killer

    Um dos temas mais recorrentes na história do cinema, sem dúvidas, são as neuroses humanas e suas derivações. De Psicopata Americano a Precisamos Falar Sobre o Kevin, o assunto já foi amplamente abordado e desdobrado em filmes que merecem a sua atenção e outros completamente esquecíveis. É nesta segunda seara que se enquadra Eu Não Sou um Serial Killer, do diretor Billy O’Brien.

    Com uma premissa interessante, o filme começa nos apresentando o background vivido por John Wayne (homenagem?), um jovem outsider interpretado por Max Records (Onde Vivem os Monstros). A maneira sincera e sensata com que o ator se entrega a trama talvez seja o ponto mais alto da mesma. Acontece que, embora fique muito claro o interesse mórbido do personagem pela morte e tudo o que ela encerra, o roteiro não consegue definir uma linha de raciocínio que nos permita caminhar pelo devaneio de John de maneira consistente. Em alguns momentos, a fita ganha tons de humor completamente desnecessários (para não dizer incômodos) em um filme que aspira seriedade.

    A família de John é dona do necrotério da cidade. Sendo assim, cadáveres são figuras de presença constante na vida do garoto. Esse contexto é brilhantemente apresentado na cena inicial. Como o rapaz ajuda a mãe em alguns procedimentos com os corpos, o fascínio que os mesmos exercem sobre ele fica muito evidente e é neste momento que o espectador compra a ideia do filme e se entrega para o que vem a seguir.

    Entretanto, os arcos mediano e final caem significativamente no que diz respeito ao arco dramático do personagem. Embora, a série de assassinatos que ocorrem na cidade seja um forte catalisador para as tendências psicóticas e psicopatas de John, o diretor escolheu caminhos não muito inteligentes para evidenciar esse fenômeno. Os diálogos parecem ensaiados demais, pensados demais. Pouco críveis mesmo para alguém que atravessa um momento árido como este.

    Algo que funciona muito bem é a fotografia. Por diversas vezes, os recursos visuais se tornam muito mais interessantes que a própria história a ser contada. Algo que não é exatamente o objetivo de um filme. Apesar disso, não se pode considerar o longa um desastre. A fita carece também de ritmo, de uma concatenação de ideias que estimule no espectador o interesse por saber mais sobre aquilo que está se desenrolando diante dos seus olhos. A trilha sonora do filme cumpre bem seu papel, tentando suprir essa carência rítmica, mas ainda de maneira insuficiente.

    Aparentemente, O’Brien escalou uma montanha alta demais para aquilo que estava preparado a executar. Exemplos recentes, como o já citado Precisamos Falar Sobre o Kevin, apesar de pasteurizados, conseguem ser mais sensíveis ao sentimento do protagonista e, consequentemente, são obras melhor executadas.

    Texto de autoria Marlon Eduardo Faria.

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  • Crítica | Presságios De Um Crime

    Crítica | Presságios De Um Crime

    Presságios de Um Crime - Poster

    Pensado inicialmente para ser uma sequência de Se7en: O Sete Crimes Capitais, Presságios de Um Crime rodou durante muito tempo nos noticiários de cinema nos últimos anos. O projeto foi atrelado a diversos diretores ao longo do tempo, com rumores fortes apontando, em meados de 2005, que Paul Verhoeven finalmente tiraria o filme do papel. Bruce Willis e Morgan Freeman chegaram a ser apontados como protagonistas, mas, como podemos ver, nada disso aconteceu. No final das contas, o roteiro foi filmado pelo brazuca Afonso Poyart – diretor de 2 Coelhos – e o elenco encabeçado por Anthony Hopkins.

    Na trama, o eterno Hannibal Lecter interpreta John Clancy, um médico com poderes psíquicos que vive em isolamento após a morte de sua filha. Ele é recrutado por seu grande amigo e agente do FBI Joe – interpretado por Jeffrey Dean Morgan – para auxiliar em uma série de mortes perpetradas por um serial killer que não parece seguir nenhum tipo de padrão para escolher suas vítimas. Ainda que relutante, Clancy aceitar ajudar seu amigo e se une a ele e a sua cética parceira Katherine, vivida por Abbie Cornish, para tentar prender o assassino.

    Percebe-se de início todo o senso estético de Afonso Poyart. O diretor filma com uma minuciosa atenção a todos os detalhes que compõem o ambiente onde acontece cada cena. É interessante perceber como cada cenário de crime possui uma “temperatura de cores” de acordo com o momento de cada vítima. No que diz respeito à relação dos personagens, existe uma atenção especial em demonstrar a tentativa do protagonista em se manter sempre distante, mesmo do seu amigo. Porém, ao começar a se aproximar da agente Katherine, o diretor brasileiro não consegue esconder a falta de química e sincronia entre Hopkins e Abbie Cornish. Na condução de algumas sequências de ação, o diretor também faz um bom trabalho, principalmente na primeira hora de filme. Entretanto, na sequência final Poyart acaba errando a mão, além de ser extremamente prejudicado por efeitos especiais ruins.

    O roteiro do filme começa interessante, mas ao longo do tempo vai perdendo força e passa a sucumbir a soluções fáceis ou que já foram utilizadas em películas de histórias semelhantes. A maneira como o assassino, interpretado por Colin Farrell é introduzido, é bem interessante e remete a uma cena do filmaço Fogo Contra Fogo, dirigido por Michael Mann e estrelado por Al Pacino e Robert DeNiro. Há ainda um grave problema de mudança de tom no terço final da obra. A forma como o “complexo de Deus” do assassino é apresentado por ele é bem interessante, porém poderia ser melhor trabalhada. Ele conta tudo de uma maneira parecida com o que fazem os vilões dos filmes de 007, deixando pouco espaço para a imaginação do espectador ou para uma possível surpresa. Enquanto durante todo o tempo o filme exibe um trabalho de investigação com pitadas sobrenaturais de maneira sóbria, ao se aproximar do filme tudo isso é substituído por um tom histérico que destoa completamente de tudo que gere algum tipo de apreensão, mas somente uma vontade de que o final chegue logo antes que o filme se torne constrangedor.

    Anthony Hopkins claramente atua em piloto automático, tendo pouquíssimos momentos de brilhantismo. Abbie Cornish e Jeffrey Dean Morgan, intérpretes da dupla de agentes do FBI que procura o personagem de Hopkins, defendem com dignidade seus papéis e funcionam bem quando estão juntos. Porém, somente Morgan funciona em dupla com Anthony. Quando chega a vez da lindíssima Abbie contracenar com o veterano, as coisas não funcionam tão bem assim. Colin Farrell chega a beirar a caricatura, mas é verdadeiramente o melhor do elenco em cena. Ainda que tenha pouco tempo em tela, ele consegue roubar o filme para si. Seu olhar enlouquecido e sua inquietação constante o transformam em um personagem assustador.

    Não dá pra saber se todo o tempo que demorou a ser produzido e as inúmeras vezes que o roteiro foi reescrito afetaram a qualidade do projeto, mas Presságios de Um Crime não foi a estreia dos sonhos do brasileiro Afonso Poyart. O resultado final é um filme irregular, que possui alguns poucos bons momentos.

  • Crítica | O Biscoito Assassino

    Crítica | O Biscoito Assassino

    Tomando por base a fúria urbana, mostrada através de um perigoso assalto a uma lanchonete, e sem qualquer introdução, O Biscoito Assassino inicia-se com um fugitivo da lei chamado Millard Findlemeyer (do sempre canastrão Gary Busey), que ouve vozes do além, supostamente de sua falecida mãe. O vilão tem em sua mira uma família inteira, mas após assassinar um pai e um filho, ele opta por permitir que Sarah Leigh (Robin Sydney), a moça mais nova, viva, ignorando as ordens de sua mãe, que se comunica mentalmente com ele, como um Norman Bates mal instruído. Claro, sem que isso seja esclarecido jamais.

    O aspecto paupérrimo faz a fita parecer oriunda dos anos 70, mesmo que tenha surgido em 2005. Um entregador de capuz e capa preta deixa uma caixa de papelão, cujo conteúdo é incógnito, e misteriosamente vai parar dentro do estabelecimento, o que mostra que a personagem Sarah está fadada a sofrer. Neste momento, ela surge como uma confeiteira de mão cheia, que seguiu junto a sua “pinguça” mãe Betty Leigh (Margaret Blye) em uma padaria de pequeno porte.

    Nesse ínterim, percebe-se que Findlemeyer foi condenado à cadeira elétrica e, por isso, pereceu. Aliviados, os Leigh podem enfim concentrar-se em seus problemas mais flagrantes, que é o advento de uma megaestrutura, que feriria o público da panificadora, atrapalhando demais o sustento da família. É uma ode ao micro empresariado e uma crítica à globalização, mas feito nos moldes das esquetes cômicas do Chespirito, ainda que a defasagem de O Biscoito Assassino seja de três décadas posteriores.

    O padeiro abre a caixa da discórdia, que contém um saco de farinha deveras suspeitos. Após se cortar, gotas de sangue caem sobre o pó, em uma velocidade reduzida, num esforço do diretor Charles Band em emular um movimento sacro, de origem sobrenatural. Dentro da massa, em meio à batedeira gigante surge uma mão, preconizando o monstro que atacaria as pessoas dentro de muito pouco tempo.

    Após uma série de acontecimentos escabrosos, Sarah faz um biscoito com aquela massa, e a põe dentro do forno – que aliás é grande o suficiente para comportar ao menos dez pessoas. No entanto o patrimônio dos Leigh está bem mal, os amigos de Sarah atentam para isso, insistindo para que ela olhe para uma reforma do local. A moça prontamente diz algo, mostrando estar ciente dessa situação e de tantas outras: “não é só aqui que precisa de reforma, nossas almas também, mamãe voltou a beber”. Por onde passam os personagens, encontram-se garrafas e mais garrafas de Jack Daniels.

    O gestual das atrizes se assemelha muito às peças tipicamente encenadas em teatros de colégio. Todo o rami-rami tipicamente adolescente envolvendo Sarah, Lorna Dean (Alexia Aleman), e Amos (Ryan Locke), namorado da última é absolutamente desprezível e desinteressante. Um raio atinge o forno gigante para dar vida à massa assassina, que começa a atacar os pobres meninos.

    A continuidade do filme inexiste. Não há qualquer compromisso por parte da produção em fazer quaisquer as situações mostradas em tela terem lógica ou sentido. Repentinamente, um biscoito de pão e gengibre ganha vida graças ao raio, à farinha e graças a um roteiro completamente louco e que não explica nenhuma motivação para que essas coisas ocorram. Pior do que isso é quando o tal assassinato, com seu espírito preso ao tal alimento, passa no meio de todos os homens sem ser impedido em momento algum.

    Os personagens entram e saem sem justificativa e morrem do mesmo modo louco com que são apresentados. Mas isso é desimportante, uma vez que Sarah pretende reatar a relação antiga com Amos, eliminando a friendzone existente e deixada em segundo plano há anos. Na prática, ela guardou sua virgindade para um sujeito que não sabe nem ligar um gerador de energia, e que é péssimo de conta, já que sua principal fala é “não erro duas vezes” – frase proferida exatamente após disparar para o ar três tiros.

    Sem qualquer razão aparente, o padeiro Brick Fields (Jonathan Chase) retorna para acabar com Fiflemeyer, mas o ocaso se inverte e ele se torna o assassino de gengibre para logo depois ser assassinado, dentro do forno gigantesco. Impressiona como, apesar da curta duração (60 minutos, fora os créditos enormes de 11 minutos), todo o conteúdo da fita é muitíssimo enfadonho e pouco divertido. No quesito trash, há pouco gore, as atuações são tacanhas, claro (ponto positivo), e nem há tantas mortes. Havia um potencial enorme do filme em dar certo por seu caráter bronco e agreste, mas a obra não se mostrou tão exitosa quanto o esperado, nem em matéria de comicidade involuntária.

  • Resenha | Neonomicon

    Resenha | Neonomicon

    Neomicon - Alan MooreExplorando um filão em que Alan Moore (seu principal autor) é um verdadeiro especialista, Neonomicon traz uma história baseada em temas mágicos, mas sem a pasteurização comum dos produtos infanto-juvenis que invadiram as prateleiras das livrarias nos últimos dez anos. Uma série de assassinatos estranhos toma a atenção do FBI no decorrer das investigações, apresentando-se uma esquisitíssima série de coincidências.

    O lápis de Jacen Burrows é de uma fluidez pouco vista nos trabalhos com roteiros de Alan Moore. Seu traço é limpo e moderno, fazendo uma contraposição com o soturno e bizarro presentes na trama, uma dicotomia semelhante ao que o desenho clássico de Dave Gibbons fez com a desconstrução heroica em Watchmen, ainda que Burrows consiga passar mais do que a premissa semelhante de discussão, uma vez que seu trabalho é esmerado o suficiente para ser mencionado até a despeito do expediente de Moore.

    A dupla de detetives é formada por dois arquétipos muito diferentes, com um homem, negro, de meia-idade – Gordon Lamper – e uma mulher, branca, loira, – Merril Brears – num estereótipo muitíssimo ligado ao ideal de beleza. Em comum há o ceticismo inerente aos profissionais detetivescos, assinalado de modo a maximizar o sentimento, uma vez que eles se destacam da mediocridade da polícia local, ao menos aparentemente. Ao se designarem pelo primeiro nome de cada um, uma intimidade entre o par é demonstrada, porém com certa distância, cuidadosamente escolhida pelas partes.

    Curiosamente, eles se tratam de modo jocoso, usando palavras torpes para se referir ao parceiro sem qualquer cerimônia, o que denota que eles estão há um bom tempo juntos. Não há espaço para explicações. Talvez pelo fato da publicação se basear em um texto de prosa do mago britânico, a trama é conduzida como uma das mais sutis de sua carreira, especialmente quando se mergulha no background dos homens abordados. Os dois são encarregados de falar com um preso, visto que alguém parece estar copiando o seu método de matar. O nome do interrogado é Agente Sax, um encarcerado que usa uma pseudo-linguagem, apesar de aparentemente ter sido instruído em inglês. Além disso, o personagem carrega um signo visual inconfundível, que é uma suástica na testa. Mas eles não logram êxito, só conseguem informações em períodos espaçados e muito tempo depois da entrevista.

    É possível notar algumas referências bastante evidentes, e até óbvias, à obra máxima de Robert Chambers, O Rei de Amarelo, e um pouco da de Ambrose Pierce, porém com uma roupagem moderna. As investigações se elevam, mostrando a possibilidade de um culto de raízes ocultistas e uma série de assassinatos bizarros e sanguinolentos. A variação da arte garante um fôlego de comoção, tanto pelas vítimas quanto pelo mistério em si, instigando a curiosidade do leitor.

    Os crimes hediondos são ligados quase que obrigatoriamente a desvios morais de comportamento, especialmente os relacionados à sexualidade. A primeira vítima é uma mulher de alta idade, de compleição física “prejudicada” ao extremo, que possui uma cômoda com ao menos dois jogos de gavetas repletas de consolos e outros brinquedos sexuais. No decorrer da trama, o casal de policiais, disfarçados de fãs de literatura lovecraftiana, se embrenha em uma caçada e chega até o dono de uma loja de artigos culturais, e se alinha a ele, mergulhando em sua intimidade parental e se surpreendendo com tudo aquilo.

    A nudez dos “outros” é mostrada como algo decadente, diferente, e muito, do padrão estético visto em revistas pornográficas, o que revela uma crítica em muitos níveis, tanto ao comércio do sexo e do corpo quanto ao desnecessário julgamento com base nas aparências, especialmente em relação ao sentimento de subestimar o homem, tratando-o como ofensivo, seja por presunção ou por sua aparência física.

    Os elementos que ocorrem, ao final, reúnem horrores inimagináveis, que esmagam os protagonistas daquela jornada e os reduzem a nada. As pouco mais de 50 páginas da obra são nauseantes e asquerosas se analisadas sob uma ótica normativa e comum. Além de conter um elemento sobrenatural indistinguível e indescritível, o roteiro é uma ode ao trabalho de Lovecraft, Pierce e Chambers, inclusive no que se refere à incomplacência com o leitor.

  • Dexter: O Fim do Passageiro Sombrio

    Dexter: O Fim do Passageiro Sombrio

    Dexter-Season

    Atenção: o artigo a seguir contêm spoilers do final da série. 

    O despertar cotidiano transformado dubiamente em cenas agressivas foi o primeiro encontro do público com Dexter, série do canal Showtime, programa este que, após oito temporadas, chega ao seu derradeiro fim.

    Desde a retomada das séries americanas, há pouco mais de dez anos, Dexter foi – perdoem o trocadilho – uma das mais viscerais dos últimos tempos. Poucas causaram uma comoção tão grande em seu público, muitas vezes mascarando um roteiro mal executado dos últimos anos da série.

    Em diversos episódios, durante estes oito anos, o público permaneceu fiel, prendendo o fôlego a cada revelação, e, tomado pela catarse. A incredulidade por se reconhecer em uma personagem que, embora com um desvio perturbador, refletia dúvidas existenciais presentes em qualquer ser humano.

    A oitava temporada da série foi composta com a percepção de que seria a última. Porém, desde a quarta temporada, Dexter perdeu a excelência unânime após oscilar em histórias ou desfechos que não conseguiram se sustentar como o público esperava (a morte de Rita no final da quarta temporada foi um excelente gancho, mas o desenrolar desta trama não foi bem sustentado pelos roteiristas).

    O último ano da série utiliza-se de um interessante argumento que, resgatando o passado da personagem, teria potencial para se tornar um excelente desfecho. Introduzir a doutora Evelyn Vogel como a segunda idealizadora do Código criado por Harry Morgan, aproximava Dexter de uma análise psicológica, finalizando o ciclo de sua trajetória que se iniciou com a quebra de seu sistema autômato, reconhecendo em si não um monstro, mas vislumbrando um ser humano e, por consequência, a noção dos sentimentos.

    Tentando esconder as reais intenções da doutora para promover um dos ganchos da temporada, a personagem de Vogel parece estranha a princípio. Não há uma intenção declarada além de fazer de Dexter um objeto de estudo. Sua mentora ganha maior profundidade – e posteriormente um também profundo corte no pescoço – quando fala de sua família, da psicopatia de um de seus filhos que, por competição, assassinou seu próprio irmão, e do elemento traumático que o acontecimento se tornou em sua vida.

    A presença da Dr. Vogel seria melhor executada se focasse na concepção do Código e de como a doutora e Harry condicionaram Dexter a um caminho específico por medo de que o garoto não conseguisse adquirir qualquer sociabilidade – elemento possível que o público reconhece temporada a temporada. Ao ser colocado dentro de um sistema pré-estabelecido, o garoto Dexter intensifica sua índole psicopata que se transforma nestes últimos oito anos.

    Como há a necessidade de um mistério, um criminoso a ser perseguido, a trama explora um assassino que retira parte da massa encefálica das vítimas e um possível sucessor do Código de Harry. Além disso tudo, há ainda os desdobramentos naturais da relação Dexter / Debra na temporada.

    Como série prestes a se finalizar, é questionável o porquê de abrir um leque tão amplo de histórias em vez de focar em fechar as tramas de maneira satisfatória. Se o assassino neurocirgião revela-se filho da Dr. Vogal e este elemento torna-se importante para o desfecho, o mesmo não pode ser dito de Zack, o possível pupilo.

    A relação de Dexter e Debra volta aos trilhos mas, como na temporada anterior, comete cenas desnecessárias. Primeiro, é necessário refletir se havia a necessidade, na sexta temporada, de Debra se apaixonar por Dexter. Não seria o amor fraterno suficiente para que ela protegesse o irmão ao descobrir que ele era um assassino em série? A história surge de maneira tão agressiva ao público e ao mesmo tempo é menosprezada tão rapidamente que, no sétimo ano, mal é mencionada. Explicitando a relação de irmãos sem nenhum elemento sexual.

    Se tais histórias no cerne da narrativa poderiam ser melhores estruturadas, retirando seus excessos, a sub-trama de Masuka parece um subterfúgio para dar destaque, no último momento, a uma personagem que sempre foi o alívio cômico. A trama ocupa parte de alguns episódios e, assim como a história de Zack, não leva a lugar algum. Masuka sempre foi o companheiro de Dexter no trabalho, nunca o enfoque. Mas, como se para não esquecê-lo, os roteiristas decidiram dar-lhe uma pequena história quando poderiam focar melhor em todos os desfechos necessários (Quinn se torna um interessante personagem que nem é lembrado para chorar a morte de Debra).

    Após metade da temporada, Hannah retorna como era esperado e anunciado desde o início da produção do último ano. Sua presença dá um pouco de fôlego à trama, inserindo em Dexter a camada de um amor pleno, já que ela reconhece ambos os lados da personagem: pai e serial killer.

    E será este mundo duplo a tensão do desfecho. Dexter tentando fugir com Hanna e Harrison-filho enquanto Oliver Saxxon / Daniel Vogel mata a própria mãe e, posteriomente, deseja matar Debra.

    O antes sistemático serial killer se apresenta vulnerável ao expor o filho e se aventurar em uma fuga com uma mulher procurada pela justiça. Evidenciou-se o amor pleno que o casal tem entre si. Escolher a família em vez da pulsão assassina é mais uma transformação de Dexter que, desde a temporada anterior, ao jogar sua coleção-troféu de lâminas de sangue, nega seus rituais assassinos embora não cesse de matar (até o modus operandi muda ao evitar cerrar os mortos que são jogados ao mar).

    Como exigência do público, e certo padrão narrativo errático, é necessário que o desfecho tenha ou um final feliz ou uma morte trágica que obrigatoriamente promova a emoção. Assim, Debra, que leva um tiro no penúltimo episódio, mesmo após uma breve recuperação, sofre um AVC que a deixará para sempre em coma.

    O último episódio marca a jornada final da personagem e coloca um ponto final nesta trilha dupla entre a família residente (a irmã) e a fuga apaixonada (com Hannah e Harrison-filho).

    A necessidade de símbolos e cenas finais épicas faz com que Dexter roube o corpo da irmã, após desligar seus aparelhos respiratórios, para realizar um último ritual de cuidado em pleno mar. Mesmo que a princípio pareça inverossímil, o ritual da água como transformação para a morte é um elemento presente na vida da personagem. Como irmão mais velho que sempre cuidou da irmã, há a necessidade de manter cuidado até o final. Por isso o ritual de que o corpo da irmã seja embebido pelo oceano.

    Reconhecendo na morte de Debra uma das perdas mais importantes da sua vida, Dexter assume seu potencial destrutivo e, de maneira racional, abandona o próprio filho e a futura mulher, ciente de que sua natureza só desperta a dor e, assim, fechando a cena simbólica da morte, caminha em encontro à tempestade, como se enfrentasse a própria fúria.

    Matar Dexter seria um daqueles desfechos que o público espera, como se sua morte expiasse a dor causada. A morte seria solução fácil para quem reconhece o próprio potencial destrutivo. A maior pena para o serial killer é permanecer vivo, vivendo a culpa por ter destruído todos a quem amou, Harrison pai, Rita, Hannah, Debra, seu próprio filho, e ainda ter deixado no caminho um rastro de desolação e decepção.

    A cena final em que Dexter senta à mesa com um rosto impassível nos dá a sensação de que a personagem viverá o resto da vida mais isolado do que antes, vivendo da culpa dos próprios atos que destruíram aquilo que não só conheceu como amou de fato.

    Uma reportagem em um portal americano mencionou que boa parte da rentabilidade de Dexter como série se devia ao seu início muito bem executado e as boas personagens que fizeram o público, mesmo em momentos ruins, acompanhá-las.

    Adiciono a esta afirmação a sensação de que, em parte, a identificação do público ajudava a manter a fidelidade com a série. Reconhecendo nos passageiros sombrios de cada um certo senso de justiça em um serial killer responsável por retirar o lixo da sociedade. Além do próprio dilema de se ver na personagem principal com suas diversas descobertas emotivas e psicológicas que desestabilizaram aquilo que conhecia como si próprio. Um reconhecimento mordaz, sem dúvida, mas que justifica também o fascínio pela série, pela cumplicidade com que o público reconhece em Dexter uma figura moralmente ruim, mas dotada de sentimentos como qualquer pessoa comum.

    Mesmo com oscilações, o desfecho final da série não é tão infeliz quanto se previra, até porque o desfecho é um detalhe que muitas vezes não agrada à maioria do público. Porém, fica a impressão de que gastou-se tempo demais no início da temporada desenvolvendo uma trama não significativa e depois deixaram desfechos que poderiam ser possíveis (Quinn, como citado, e Hanna / Harrison). Resultando em um final fraco mas esperado em uma temporada com poucos bons elementos.

    Como série, Dexter demonstrou que há vida em outros canais fechados além da HBO e demonstrou ao máximo o talento dramático de Michael C. Hall, grande responsável pela dubiedade que tanto incomodou o público. Destacando-se em muitas cenas em que deu vazão ao drama, bem como em momentos furiosos em seu ritual de morte.

    Porém, compreender a total potência da série é ainda impossível. Caberá ao tempo observar como a série será vista daqui a cinco, dez anos. Por enquanto, é válido afirmar que, enquanto exibida, Dexter foi um grande sucesso. Fica a torcida para que Michael C. Hall não caia no esquecimento e consiga ainda maiores papéis de destaque em uma promissora carreira.

    A lua de Miami não mais sangra.