Tag: Stephen Lang

  • Crítica | O Homem nas Trevas 2

    Crítica | O Homem nas Trevas 2

    Lançado no ano de 2016, o primeiro O Homem nas Trevas foi uma grande surpresa pela sua qualidade e um sucesso. Produzido pelo mestre Sam Raimi e dirigido por Fede Álvarez, o longa contava a história de um grupo de jovens ladrões que invade a casa de um homem cego indefeso em busca de um suposto dinheiro que ele ali guarda. Porém, de indefeso o homem não tinha nada.

    A produção teve um custo de cerca de 10 milhões de dólares e arrecadou uma cifra próxima de 160 milhões de dólares. Com um filme de altíssima qualidade que obteve um lucro absurdo, era óbvio que uma sequência não demoraria a ser lançada. Tendo sido filmado todo na segunda metade do ano de 2020, O Homem nas Trevas 2 foi lançado em 2021 com Rodo Sayagues substituindo Fede Álvarez na direção e mais uma vez com roteiro assinado pelos dois. Entretanto, enquanto o primeiro filme se apresenta quase como um slasher onde o antagonista cego surge como uma ameaça imparável, nesse segundo o roteiro o transforma em protagonista e dá uma guinada inexplicável rumo à redenção do personagem, o que provoca enorme estranheza no espectador.

    Na trama passada oito anos após os eventos do primeiro filme, o veterano navy seal cego Norman Nordstrom está morando com sua filha de onze anos ainda nos arrasados subúrbios de Detroit. Com convivência social restrita ao máximo, a garota é criada pelo pai para se tornar uma sobrevivente. Entretanto, ao dar um passeio com uma veterana de guerra que trabalha como florista e também é o mais próximo de um amigo que Norman conhece, a garota tem um tenso encontro com um traficante de drogas em um posto de gasolina. Esse encontro acaba tendo péssimas repercussões, com a gangue sendo sequestrada e cabendo a Norman resgatá-la.

    O primeiro grande erro do filme é eliminar o elemento claustrofóbico que seu predecessor possuía e tentar inverter a perspectiva. Na primeira película, Norman estava completamente em seu domínio, o que elevava a tensão ao máximo, pois acompanhávamos a luta do grupo de ladrões para sobreviver em um lugar sem nenhuma luz, onde eles não conheciam absolutamente nada, enquanto eram caçados por alguém extremamente inteligente e implacável. Entretanto, nessa segunda película, tal elemento ocorre por alguns minutos, mais precisamente na sequência do sequestro da garota. Infelizmente esse aceno ao original dura pouco e logo depois somos apresentados a Norman tendo que cair no mundo e ir a lugares estranhos para tentar achar a garota. Isso poderia ser bem interessante, porém o que temos é o personagem resolvendo tudo de maneira extremamente tranquila, praticamente sem nenhum desafio. Nos momentos onde Norman precisa enfrentar inimigos, seu comportamento ao super-herói cego Demolidor, ainda que com instintos homicidas.

    O outro grande erro do filme é a tentativa de criar uma jornada de redenção para o personagem. No original, fica mais do que claro que Norman é um personagem extremamente vil, ainda que um fato traumático tenha sido um gatilho para seu comportamento. Porém, desde o primeiro momento fica apontado que isso não é justificativa para ele ser como é. Já nesse segundo filme, o diretor/roteirista insere alguns momentos de ternura entre o protagonista e a garota, além da sua jornada para resgatá-la, com o único intuito de despertar simpatia no espectador. Entretanto, essa guinada beira a canalhice, tendo em vista que no primeiro filme é mostrado que o personagem sequestrou, torturou e cometeu violência sexual contra uma mulher. Mesmo com ele reconhecendo para sua filha adotiva que é um monstro, o estrago da tentativa de redenção já está feito.

    Como ponto positivo, o diretor Sayagues demonstra ter aprendido bem com seu amigo Fede Álvarez a direção de cenas de suspense e ação. Ainda que fugazes, elas são bem conduzidas e eficientes. As cenas de combate são muito bem coreografadas e extremamente brutais, exigindo muito comprometimento do ator Stephen Lang e da equipe de dublês. Aliás, Lang entrega outra vez uma ótima interpretação, mesmo que dessa vez o roteiro mais comprometa do que ajude.

    É compreensível que a equipe criativa por trás de O Homem nas Trevas 2 não quisesse entregar mais do mesmo. Porém, ao se desviar demais do original e tentar estabelecer uma nova dinâmica para um personagem imperdoável, entregaram um filme que apesar de ter cenas eficientes de ação e suspense, desperta incômodo e até mesmo afastamento no espectador.

  • Crítica | Caçador de Assassinos

    Crítica | Caçador de Assassinos

    Produzido por Dino de Laurentiis, Caçador de Assassinos foi o primeiro filme baseado na a obra de Thomas Harris. Adaptação do livro  O Dragão Vermelho, primeiro com o personagem de Hannibal Lecter,  o longa de Michael Mann começa misterioso, com uma estranha filmagem caseira, observada pelo detetive do FBI Will Graham (William Petersen), um sujeito discreto e de poucas palavras que tenta equilibrar sua vida familiar comum com o ofício de agente responsável por investigar crimes hediondos.

    William é de Chicago, onde mora com a sua família, mas após o chamado a aventura a trama se muda para Atlanta, no estado da Geórgia, cuja atmosfera envolve paisagens cheias de fumaça e neblina, fato que causa no espectador um certo estranhamento. Por mais que Graham seja discreto, ao analisar uma cena do crime repleta de sangue o sujeito não parece se chocar, não há qualquer incomodo ao ver um quarto redecorado de vermelho. Ao ter acesso a fitas apresentando a vítima tem estranhas reações, uma estranha excitação a perceber a morte diante de seus olhos. Isso é uma mostra do quanto cenário apresentado é de desajustados, pois até o mocinho parece obtuso.

    A grande curiosidade do espectador em relação a esta obra, é como o famoso Hannibal foi retratado. O doutor é interpretado por Brian Cox que, até então, havia feito poucos papéis no cinema. O lugar onde está preso é um cenário todo branco não combina com a mente suja e com seu passado. O sobrenome do personagem é trocado, de Lecter para Lecktor. Hannibal é mostrado como um homem culto, leitor de psicopatologias com alguma formação em psiquiatria. Antes do encontro com Will pouco se sabe a seu respeito. Só que matou algumas pessoas e deixou outras no hospital. Seu quadro não é detalhado. Há bastante melindre em abordar a questão do canibalismo. Ele é tratado tão somente como um psicopata. Possivelmente, em 86, a situação para abordar o tema era ainda mais espinhosa.

    O filme faz do mistério em volta de Hannibal uma grande necessidade. O desempenho de Cox é razoável nesse sentido, mesmo com pouco tempo de tela. Ele consegue parecer adorável e charmoso em sua apresentação, mas também é capaz de causar desconfiança e desconforto exatamente por ter uma aparência de extrema formalidade, pois alguém tão requintado, para estar preso, deve ter feito algo realmente grave, mesmo que isso não seja tão explícito.

    Esse era só o terceiro longa de Mann, antes dos incontestáveis sucessos de Fogo Contra Fogo e Colateral. Sua visão do ideal a um filme policial ainda estava em formação. Por isso, esse produto é bem diferente de suas outras obras no gênero, claramente o diretor ainda estava preso a estética da série que produzia, Miami Vice. A produção  é mais silenciosa, não verborrágica, mostra uma historia que se desenrola lentamente, sem urgência, com uma trilha sonora característica, que quase não interfere na ação em si.

    Se escolhe também mostrar cenas onde a câmera lenta predomina, possivelmente em alusão ao cinema de ação de Sam Peckinpah, que usava isso para maximizar os confrontos no velho oeste de seus filmes. Aqui, isso é empregado para fortalecer a sensação de que algo está errado com o mundo. Que o lugar que Deus criou foi corrompido pelo homem.

    Os momentos finais são eletrizantes, mesmo que a cadência da desventura de Graham seja lenta. Mann apresenta uma historia fria que também tem momentos de melancolia extrema. A história é ainda mais grave por demonstrar que a alma do detetive está perdida, dado que parece ser incapaz de ter sensibilidade graças a condição auto imposta de tentar emular a mente e o coração dos psicopatas que persegue. Por mais que em Caçador de Assassinos não haja uma versão brilhante de Hannibal (até por ser breve sua participação), é de se admirar a mistura narrativa de um estilo intimista com um noir colorido.

  • Crítica | O Homem Nas Trevas

    Crítica | O Homem Nas Trevas

    dont-breathe-2016

    O uruguaio Fede Alvarez ganhou certa notoriedade em 2009, quando seu curta-metragem, Ataque de Pânico, viralizou pela Internet. Um tempo depois, o trabalho do diretor — que até então só tinha curtas-metragens em seu currículo, chamou a atenção de Sam Raimi e os dois iniciaram uma parceria para trazer à tela grande uma mistura de remake com reboot de A Morte do Demônio, um clássico absoluto do gênero. Embora Alvarez tenha sido competente em sua direção, principalmente no que diz respeito a efeitos práticos e situações bem gráficas como a chocante bifurcação na língua de uma personagem, A Morte do Demônio não convenceu os fãs do original, não agradando, também, aqueles que não conheciam a franquia.

    Contudo, Alvarez ganhou uma segunda chance num projeto totalmente autoral em que divide o roteiro com seu fiel escudeiro, Rodo Sayagues, que também assina quase todos os projetos em que o uruguaio esteve envolvido. Essa segunda chance é o ótimo O Homem Nas Trevas.

    A premissa do filme é bem simples e logo já podemos perceber que a protagonista, Rocky (Jane Levy), junto de seu namorado, Money (Daniel Zovatto) e de seu amigo, Alex (Dylan Minnette), formam uma quadrilha que assalta casas na cidade onde moram e veem num homem cego (Stephen Lang), veterano de guerra, a possibilidade de levantarem dinheiro suficiente para nunca mais cometerem nenhum tipo de delito, visto que o homem recebeu uma ótima indenização pela morte de sua filha, envolvida num acidente de carro.

    stephen-lang-in-dont-breathe

    Aqui, Alvarez possui duas cartas na manga, sendo que, a primeira delas foi a sua capacidade de dirigir o pequeno elenco com uma competência ímpar, haja vista a simplicidade do roteiro que acaba por desenvolver uma história que cresce a cada minuto, surpreendendo o expectador em vários momentos, sendo que, no mais, a direção é bem “redonda”, fazendo a tarefa de casa de forma competente no que diz respeito a fazer um filme de suspense/terror, já que temos os closes nos rostos apavorados dos personagens, sem mostrar a ameaça em potencial; aqueles sustos que nos fazem pular na cadeira; algumas doses (comedidas) de violência e, por fim, suspense. Muito suspense, o que faz soar justo o título original do filme, chamado Don’t Breathe, que, traduzindo para o português, seria Não Respire.

    A segunda carta na manga do diretor é o ator Stephen Lang, o personagem cego.

    Lang é um nome que figura há anos nos casts de filmes e seriados em Hollywood e ficou conhecido por ser o principal vilão em Avatar, interpretando um personagem que qualquer um poderia interpretar, mas que se supera em O Homem Nas Trevas, fazendo com que seu personagem, amargurado pela morte da filha, também soe justo ao título do filme em português. Uma grata surpresa que pode render, inclusive, uma indicação de Melhor Ator ou Melhor Ator Coadjuvante no Oscar a ser realizado em 2017.

    Se você é fã do gênero, O Homem Nas Trevas é obrigatório. Caso você não seja, o filme merece uma atenção especial mesmo assim, dado que não se observa nenhuma aresta a ser aparada.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.