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  • Crítica | O Estranho Mundo de Jack

    Crítica | O Estranho Mundo de Jack

    Animação não-convencional dos estúdios Disney, O Estranho Mundo de Jack reúne elementos dos personagens criados por Tim Burton que habitam uma cidade temática de Halloween para contar uma história musical sobre o feriado natalino. Henry Selick se vale de efeitos comuns em duas dimensões e um bocado de stop-motion para introduzir esse novo universo, que apesar de ter momentos interessantes para as crianças, também reúne elementos típicos dos filmes de terror clássicos.

    Em meio a criaturas fantasmagóricas, lobisomens e toda sorte de outros mortos-vivos, se apresenta Jack Skellington, dublado por Chris Sarandon. O jovem esqueleto se mostra enfadado de todo ano preparar todos os eventos apenas para a comemoração do Halloween em outubro, até que em meio as suas cantorias – protagonizadas pela voz do compositor Danny Elfman, que também dubla outros personagens – Jack decide se aventurar pela floresta em busca de novas experiências.

    Trazer o natal as criaturas monstruosas tem um preço, de quase descaracterização de todo o cenário gótico existente. Apesar de não haver muita complexidade nos personagens, há um conflito válido entre os que não entendem o intuito de Skellington. O desenrolar dos fatos pós-decisão de levar à frente o natal é engraçado e grotesco na medida certa, brincando inclusive com o conceito de susto infantil, uma vez que os presentes macabros que Jack distribui assusta os adultos, e não as crianças que consideram cabeças decepadas e restos mortais como objetos comuns.

    Quando foi lançado, a Disney ficou com medo de ter sua marca associada a uma criatura tão horrenda quanto o protagonista, e por isso colocou o filme no selo da Touchstone, mais tarde mudando isso, trazendo o personagem para o seu hall da fama, como era merecido. O final de O Estranho Mundo de Jack remete ao resgate às origens e retorno ao status quo, basicamente para referenciar a necessidade de se preservar sua própria essência. A demora com que isso ocorre é válida para que se valorize o que acontece consigo, e a tradução que Michael McDowell faz a partir do poema de Burton ajuda a detalhar e enriquecer a história, apresentando um conjunto de eventos que faz valer sua atmosfera tragicômica.

    https://www.youtube.com/watch?v=LuvdeINbNhM

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  • Crítica | Brinquedo Assassino

    Crítica | Brinquedo Assassino

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    Criação conjunta do diretor Tom Holland – o mesmo do clássico A Hora do Espanto – e do então roteirista iniciante Don Mancini, o filme de 1989 começa genérico, mostrando uma perseguição policial a um estrangulador famoso, que resulta em um evento comum, de traição e covardia e de morte do malfeitor. O diferencial em Brinquedo Assassino é que o vilão chamado de estrangulador de Lake Shore tem hábitos ligados ao ocultismo, aspecto que o faz realizar um ritual antes de ser atingido pela bala do policial Mike Norris (Chris Sarandon) e que resulta em um raio que atinge a loja de brinquedos onde os dois estavam.

    A presença de Brad Dourif como Charles Lee Ray é curtíssima, mas é tão marcante que gerou mote para o script de Mancini e John Lafia, e para toda um seguimento de franquia. O argumento tocava em questões em voga na época: primeiro, na dificuldade que uma mãe solteira repleta de precariedades financeiras tinha em cuidar de uma criança, como é visto com Karen Barcley (Catherine Hicks) e seu filho, bem como a ambiguidade em relação aos crimes ocorridos, variando entre a criatura demoníaco e o angelical menino Andy, executado por Alex Vincent quase estreante, mais inspiradíssimo no papel que lhe propõem.

    Alguns fatores tornam a produção um filme curioso, primeiro pela hiper atividade de Andy, fator comum a crianças nessa fase de crescimento, em torno dos seis anos, postura que se torna inversa nos momentos futuros, graças ao trauma que sofre. Outro aspecto interessante é o desfile da câmera de Tom Holland, de uma perícia monstra, primeiro traçando o caminho que seria o das perseguições pela casa antes mesmo do acréscimo do vilão, além do uso irrestrito da lente como olhar do “monstro”, semelhante ao já feito em Tubarão, Halloween e Psicose. Tal cuidado com a fita não seria repetida nas continuações.

    A arma do primeiro crime é um martelo, um objeto comum em qualquer casa ordinário, mas que é mortal ao acertar o olho da personagem Maggie Peterson (Dinah Manoff) e que a faz percorrer um trajeto praticamente impossível, rumo a janela e à sua morte, mas não antes de serem produzidas provas contra o menino, que já dormia, dentro de outro cômodo da casa. A trama bastante fantasiosa discorre sobre a possibilidade de esquizofrenia infantil, um terror tão ou mais maligno quanto a possibilidade de um assassino serial dormir agarrado com um menino de tão pouca idade.

    Não há incongruência pior que os erros de continuidade e quantidade enorme de coincidências, como por exemplo, o fato de Norris ser praticamente o único policial designado para os casos estranhos de assassinato na cidade, que resulta na enorme coincidência dele ser o responsável pela morte de Lee Ray e o curioso fato envolvendo Andy e seu boneco Chucky. As cenas que contém diferenças nos cabelos do brinquedo visavam mostrar a transformação do personagem ao longo da fita, tendo descartado em pré produção até o crescimento de barba no objeto antes inanimado.

    A cidade de Chicago parece ter propriedades explosivas, já que qualquer esbarrão mais forte em suas construções resulta em uma estouro pirotécnico gigantesco. Outro fato curioso é que um infante de seis anos não tem qualquer problema em circular pela cidade, inclusive entrando e saindo de metrôs que levam até o subúrbio do município.

    A noite, quando a cidade parece cenário de um filme noir, ocorre a melhor sequência do filme, com a louca batalha dentro do carro, entre Norris e Chucky, onde a predação do menor e maior se inverte, com o boneco levando vantagem sobre o homem feito, enclausurado por uma claustrofobia forçada.

    Apesar dos problemas técnicos, datados ao extremo se analisados atualmente, a criatura de David Kirschner funciona quase à perfeição, sendo assustadora em inúmeros momentos, fortificado pela construção em volta do vilão. O brinquedo se revela uma abominação ligada ao voodoo, refutado mesmo pelos que prestam fé ao ocultismo, com um cuidado do roteiro para não tornar a figura de Damballa em algo necessariamente maligno, pondo toda a carga do mal no ideário do assassino, e não do religioso crente em reencarnação.

    A arquitetura da casa dos Barclays compreende cômodos que tem sempre duas saídas, e os adultos tem o poder de mesmo em um ambiente familiar, conseguir tropeçar a todo momento, demonstrando a superioridade que o assassino tem sobre todos, exceto com Andy, que não teima em executar seu antigo “amigo”, queimando-o vivo. Ao menos carbonizado, Chucky causa um terror imenso, graças ao assustador semblante que tem. Karen rende-se a crueldade, de esquartejar a base de tiros o algoz de seu filho.  O sadismo de Lee Ray é imparável, mesmo deformado ele segue com sede de sangue, atacando qualquer detentor da mesma vida e condição humana que lhe foi tirada, fazendo de sua perseguição um manifesto de ódio a vida.

    O close em Alex Vincent amedrontado, olhando pela fresta da porta do quarto de sua mãe revela o medo infantil de ser extinto, apegando-se de um modo a vida de um modo que somente um homem feito poderia sentir, mostrando que toda a jornada sangrenta pela qual passou, o talhou para uma nova experiência, para o decorrer de uma existência completamente diferente da eu lhe ocorreu até então, cercada de tragédias emocionais tremendas, que não o fariam jamais dormir tranquilo novamente.