Tag: Charles Bronson

  • Crítica | Fugindo do Inferno

    Crítica | Fugindo do Inferno

    Após o sucesso de Fuga de Alcatraz, soberba aventura com Clint Eastwood no auge de sua forma, todas as obras de fugas mirabolantes (ou não) ficaram eclipsadas pelo brilho desse clássico de Don Siegel. Sendo assim, talvez o filme mais esquecido deste subgênero que continua a encantar plateias, ao redor do mundo, seja Fugindo do Inferno, de John Sturges, que mesmo situado no auge da Segunda Guerra Mundial, passa longe de ser tão memorável como o filme de Siegel. Como se não bastasse, o grande elenco não se destaca como deveria, e sua estética é absolutamente normal aos padrões cinematográficos da década de 60 em Hollywood – bem menos ousados em sua linguagem que hoje. Mas o grande às do filme, ainda não foi esclarecido…

    Baseado numa história real (e homenageada no final do filme), a Gestapo está cansada de rebeliões, da rebeldia de seus capturados mais perigosos. Para evitar fuzilamentos, os transfere sob muito stress para um campo de segurança máxima, mas sem suspeitar que juntando o velho Danny (Charles Bronson), o esperto Hilts (Steve McQueen) e muitos outros, na mesma prisão, ninguém iria aceitar ser mantido na gaiola por muito tempo. Assim, um projeto quase suicida de escapatória começa a germinar, com a ajuda de infiltrados americanos entre os guardas. Mas mesmo com instrumentos para perfurar o chão, e chegarem até o outro lado da cerca, será que o orgulho individual deles não vai atrapalhar o plano? Jamais sufocado pelo peso do elenco, e visando um bom entretenimento acima de tudo, Fugindo do Inferno aposta 2/3 da história no desenrolar dessa fuga, tendo neles os melhores momentos do filme de Sturges.

    Uma ótima pedida para entediantes noites de inverno, a direção de Sturges (diretor de muitos faroestes) e o seu talento de extrair, precisamente, o que de melhor e mais dramático existe em cada cena, é um deleite para uma história de prisioneiros de guerra, e que só querem se ver livres de um regime autoritário, fora dos Estados Unidos. Seja nos campos de concentração alemães, seja em emocionantes perseguições de carro nas pradarias da Europa, John Sturges nos faz sentir uma angústia onipresente, como se o espectador estivesse junto de um bando de soldados capturados e que, às vezes, são loucos o bastante para planejar uma escapada subterrânea, com 0% de certeza se vai funcionar. Com um protagonismo coletivo, uma encenação quase teatral, e um equilíbrio bem orquestrado entre o tragicômico, e o suspense, esse Prison Break com nazistas não é tudo que poderia ser, mas não desaponta até os mais exigentes.

  • Crítica | Sete Homens e Um Destino (1960)

    Crítica | Sete Homens e Um Destino (1960)

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    Clássico  reunindo um elenco estelar em mais uma mostra do revival dos westerns clássicos que corriam em paralelo com a onda de bangue bangue à italiana, Sete Homens e Um Destino é mais um exemplar de remake faroeste dos filmes de Akira Kurosawa, adaptando Os Sete Samurais assim como Por Um Punhado de Dólares havia feito com Yojimbo alguns anos depois. Como no clássico japonês, a história se foca nas desventuras de uma cidade interiorana, que é atormentada por malfeitores e precisa da intervenção de homens honrados, que estejam dispostos a se lançar em uma jornada perigosa e que pagaria pouco.

    É nesse interím que surgem Chris Adams (Yul Brynner) e Vin (Steve McQueen), dos cowboys solitários, que sequer se conhecem e que estão dispostos a encarar os que causam flagelo aos latinos. John Sturges faz uma direção certeira e condizente com o cinema de estilo clássico americano, misturando o otimismo típico dos filmes de John Ford, com um revisionismo raso , que busca semelhanças com o visto na Nova Hollywood, mostrando os estadunidenses como homens capazes de causar o mal também, lançando mão da ideia maniqueísta de heroísmo puro e simples desses. Ainda assim, o longa é bem mais rápido na abordagem do que era o filme original, especialmente na construção do chamado à aventura.

    Aos poucos, os homens são recrutados. Bernardo O’Reilly (Charles Bronson), Britt (James Coburn), Chico (Horst Buchholz), Lee (Robert Vaughn) e Harry Luck (Brad Dexter),  formando então a força tarefa que tentaria derrubar a tirania de Calvera (Eli Wallach), um mexicano que buscava a exploração dos seus conterrâneos latinos. Apesar da fálica questão de mostrar o homem branco em um patamar supremo da justiça e bons costumes, há o cuidado de não pasteurizar tanto os personagens, uma vez que até a entrega dos homens para o trabalho é feita de um modo resignado e servil.

    A música atípica de Elmer Bernstein se assemelharia mais com os hinos instrumentais de Ennio Morricone e demais compositores de trilhas dos faroestes italianos do que o ouvido nos clássicos westerns. O texto de William Roberts não ousa quase nada, ao contrário, entrega uma história conservadora em termos de heroísmo, não contendo grande parte da linguagem subliminar do filme de Kurosawa, tendo dificuldades também em desenvolver o destino de cada um dos sete pistoleiros, em especial Lee, que aparenta ter um arco dramático interessante, e o latino Chico, que serve de alívio cômico na maior parte do longa.

    A exceção de Eli Wallach e Yul Brynner, o restante do elenco era ainda desconhecido, ao menos não era tão famoso quanto seria num futuro próximo. Chega a ser surpreendente como ofilme não foi bem de bilheteria caseira, possivelmente graças a queda de popularidade ocorrida no gênero western que começava a ocorrer na segunda metade do século XX, especialmente nos anos sessenta. Outro fator atribuído a isso é a dificuldade que o filme tem em terminar sem um clímax condizente com o restante do longa, tendo um combate aquém do que havia sido prometido em toda a trajetória da força tarefa.

    Ainda assim, Sturges entrega um western escapista e reverencial a obra do diretor japonês, que faria mais sucesso em terras europeias do que em seu país natal, ainda assim gerando um hype tão grande que fez o longa ter outras três continuações. Sete Homens e um Destino é um filme divertido, com performances que se não são um primor dramatúrgico, ao menos são carregadas de carisma, servindo de esboço para o que a maioria dos atores faria em seus tempos áureos vindouros, além de conter uma fotografia de qualidade e um conjunto de imagens belíssimas orquestradas por Sturges.

  • Crítica | Era Uma Vez no Oeste

    Crítica | Era Uma Vez no Oeste

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    Sergio Leone já era considerado um dos maiores gênios do gênero ao resgatar os faroestes como grandes filmes e não mero entretenimento, tudo isso graças aos excelentes Por um Punhado de Dólares e suas continuações, ele agora queria trilhar novos horizontes, mas por uma imposição da Paramount, que só arcaria com os custos de seu novo filme caso ele fizesse mais um Western e graças a essa imposição, Leone traz ao público um faroeste muito diferente de tudo o que já havia feito até então e se reinventa com Era uma Vez no Oeste.

    Cheio de conceitos e cenas brilhantes como o próprio início do filme, onde em plena tarde, sob um sol escaldante, três homens armados chegam a estação de trem, aparentemente, não querem viajar, apenas aguardam algo. E como aguardam. Com enquadramentos belíssimos, que remetem ao mais puro tédio, Leone amplifica o som de uma goteira onde estava um dos homens que esperava, enquanto o outro é incomodado por uma mosca persistente e irritante. Todo o som é voltado para essas pequenas coisas, tornando-as mais irritantes do que já são, tudo isso somado ao excelente trabalho de câmeras de Leone, transforma a cena uma das mais antológicas do cinema.

    Finalmente surge o que esperavam, o trem, mas o que querem ali? Os três homens procuram por alguém, de arma em punho, pistolas engatilhadas, mas nada encontram. O apito do trem soa novamente, sinalizando sua saída e começa a andar. Os três homens não encontram o que queriam e dão as costas, eis que ouve-se o som de uma gaita e todos viram bruscamente em direção ao trilho e se deparam com um homem com uma gaita em suas mãos. Corte.

    Toda a cena inicial descrita acima, não tem um diálogo sequer, apenas o poder da imagem, e Leone usa isso como ninguém durante todo o filme. Mostrando um estilo muito diferente da clássica trilogia dos dólares que o havia consagrado, o Diretor se reúne com Sergio Donati, Bernardo Bertolucci e Dario Argento para escrever o roteiro de um Western diferente de tudo que já havia sido feito. Se engana aquele que julga Era uma Vez no Oeste como um mero “bang bang”, pois ele está muito mais para um drama ambientado no velho oeste. O Roteiro é profundo, não deixa espaço para canastrices, como era comum nos filmes com o Clint Eastwood, talvez por isso, a escolha de Charles Bronson é tão acertada, o personagem dele é frio, calado e impõe sua vontade à força quando se faz necessário.

    A motivação de seu personagem é um mistério até o final da sequência, vamos apenas nos deliciando com seu desejo de vingança cena-a-cena. O antagonista interpretado por ninguém menos que Henry Fonda é mais um entre tantos pontos acertados. Fonda foi imortalizado pela suas interpretações de bom moço, e aqui temos ele como o vilão sujo e implacável da história. Há de se ressaltar as brilhantes interpretações de Claudia Cardinale, faz o papel de uma ex-prostituta que acaba de chegar na cidade para se casar com um fazendeiro víuvo e pai de três crianças, álias, o que é a primeira cena dela, onde temos a personagem descendo do trem e Leone com o plano fechado nela, seguindo seus passos para de repente se afastar e abrir o plano bem ao alto, para vermos toda a grandiosidade do cenário. A personagem de Cardinale, Jill, tem papel fundamental na trama e isso é muito importante para entender a evolução do Cinema de Leone, que nunca havia dado nenhum papel importante para mulheres. O outro personagem que merece ser comentado é Cheyenne, interpretado por Jason Robards, este é o personagem que faz contraponto ao jeitão sisudo de Bronson, e consegue tirar um pouco o peso dramático, remetendo ao velho estilo de faroeste que todos estavam acostumados. O fato é que Cheyenne é um dos melhores personagens do filme.

    O filme cria tensão a cada cena, tudo em ritmo bem calculado. Leone buscou um sentido para cada cena que captava, o close nos olhos de Bronson e Fonda no duelo final é um bom exemplo disso. Outro ponto que merece ser comentado é a trilha sonora composto por Ennio Morricone, ou mesmo a ausência desta e a maximização dos sons naturais, como o vento, ou mesmo a goteira e a mosca, já comentados anteriormente, e é claro, a gaita de Charles Bronson, que se tornou até o nome do personagem “O Gaita”. Sem dúvida, o melhor trabalho de Morricone até então.

    Era uma Vez no Oeste é uma obra de arte dos cinemas. Obrigatório não só para os apaixonados por western, Sergio Leone ou os atores citados, mas sim para todos os amantes de cinema.