Tag: James Coburn

  • Crítica | Fugindo do Inferno

    Crítica | Fugindo do Inferno

    Após o sucesso de Fuga de Alcatraz, soberba aventura com Clint Eastwood no auge de sua forma, todas as obras de fugas mirabolantes (ou não) ficaram eclipsadas pelo brilho desse clássico de Don Siegel. Sendo assim, talvez o filme mais esquecido deste subgênero que continua a encantar plateias, ao redor do mundo, seja Fugindo do Inferno, de John Sturges, que mesmo situado no auge da Segunda Guerra Mundial, passa longe de ser tão memorável como o filme de Siegel. Como se não bastasse, o grande elenco não se destaca como deveria, e sua estética é absolutamente normal aos padrões cinematográficos da década de 60 em Hollywood – bem menos ousados em sua linguagem que hoje. Mas o grande às do filme, ainda não foi esclarecido…

    Baseado numa história real (e homenageada no final do filme), a Gestapo está cansada de rebeliões, da rebeldia de seus capturados mais perigosos. Para evitar fuzilamentos, os transfere sob muito stress para um campo de segurança máxima, mas sem suspeitar que juntando o velho Danny (Charles Bronson), o esperto Hilts (Steve McQueen) e muitos outros, na mesma prisão, ninguém iria aceitar ser mantido na gaiola por muito tempo. Assim, um projeto quase suicida de escapatória começa a germinar, com a ajuda de infiltrados americanos entre os guardas. Mas mesmo com instrumentos para perfurar o chão, e chegarem até o outro lado da cerca, será que o orgulho individual deles não vai atrapalhar o plano? Jamais sufocado pelo peso do elenco, e visando um bom entretenimento acima de tudo, Fugindo do Inferno aposta 2/3 da história no desenrolar dessa fuga, tendo neles os melhores momentos do filme de Sturges.

    Uma ótima pedida para entediantes noites de inverno, a direção de Sturges (diretor de muitos faroestes) e o seu talento de extrair, precisamente, o que de melhor e mais dramático existe em cada cena, é um deleite para uma história de prisioneiros de guerra, e que só querem se ver livres de um regime autoritário, fora dos Estados Unidos. Seja nos campos de concentração alemães, seja em emocionantes perseguições de carro nas pradarias da Europa, John Sturges nos faz sentir uma angústia onipresente, como se o espectador estivesse junto de um bando de soldados capturados e que, às vezes, são loucos o bastante para planejar uma escapada subterrânea, com 0% de certeza se vai funcionar. Com um protagonismo coletivo, uma encenação quase teatral, e um equilíbrio bem orquestrado entre o tragicômico, e o suspense, esse Prison Break com nazistas não é tudo que poderia ser, mas não desaponta até os mais exigentes.

  • Crítica | Sete Homens e Um Destino (1960)

    Crítica | Sete Homens e Um Destino (1960)

    sete-homens-e-um-destino-classico

    Clássico  reunindo um elenco estelar em mais uma mostra do revival dos westerns clássicos que corriam em paralelo com a onda de bangue bangue à italiana, Sete Homens e Um Destino é mais um exemplar de remake faroeste dos filmes de Akira Kurosawa, adaptando Os Sete Samurais assim como Por Um Punhado de Dólares havia feito com Yojimbo alguns anos depois. Como no clássico japonês, a história se foca nas desventuras de uma cidade interiorana, que é atormentada por malfeitores e precisa da intervenção de homens honrados, que estejam dispostos a se lançar em uma jornada perigosa e que pagaria pouco.

    É nesse interím que surgem Chris Adams (Yul Brynner) e Vin (Steve McQueen), dos cowboys solitários, que sequer se conhecem e que estão dispostos a encarar os que causam flagelo aos latinos. John Sturges faz uma direção certeira e condizente com o cinema de estilo clássico americano, misturando o otimismo típico dos filmes de John Ford, com um revisionismo raso , que busca semelhanças com o visto na Nova Hollywood, mostrando os estadunidenses como homens capazes de causar o mal também, lançando mão da ideia maniqueísta de heroísmo puro e simples desses. Ainda assim, o longa é bem mais rápido na abordagem do que era o filme original, especialmente na construção do chamado à aventura.

    Aos poucos, os homens são recrutados. Bernardo O’Reilly (Charles Bronson), Britt (James Coburn), Chico (Horst Buchholz), Lee (Robert Vaughn) e Harry Luck (Brad Dexter),  formando então a força tarefa que tentaria derrubar a tirania de Calvera (Eli Wallach), um mexicano que buscava a exploração dos seus conterrâneos latinos. Apesar da fálica questão de mostrar o homem branco em um patamar supremo da justiça e bons costumes, há o cuidado de não pasteurizar tanto os personagens, uma vez que até a entrega dos homens para o trabalho é feita de um modo resignado e servil.

    A música atípica de Elmer Bernstein se assemelharia mais com os hinos instrumentais de Ennio Morricone e demais compositores de trilhas dos faroestes italianos do que o ouvido nos clássicos westerns. O texto de William Roberts não ousa quase nada, ao contrário, entrega uma história conservadora em termos de heroísmo, não contendo grande parte da linguagem subliminar do filme de Kurosawa, tendo dificuldades também em desenvolver o destino de cada um dos sete pistoleiros, em especial Lee, que aparenta ter um arco dramático interessante, e o latino Chico, que serve de alívio cômico na maior parte do longa.

    A exceção de Eli Wallach e Yul Brynner, o restante do elenco era ainda desconhecido, ao menos não era tão famoso quanto seria num futuro próximo. Chega a ser surpreendente como ofilme não foi bem de bilheteria caseira, possivelmente graças a queda de popularidade ocorrida no gênero western que começava a ocorrer na segunda metade do século XX, especialmente nos anos sessenta. Outro fator atribuído a isso é a dificuldade que o filme tem em terminar sem um clímax condizente com o restante do longa, tendo um combate aquém do que havia sido prometido em toda a trajetória da força tarefa.

    Ainda assim, Sturges entrega um western escapista e reverencial a obra do diretor japonês, que faria mais sucesso em terras europeias do que em seu país natal, ainda assim gerando um hype tão grande que fez o longa ter outras três continuações. Sete Homens e um Destino é um filme divertido, com performances que se não são um primor dramatúrgico, ao menos são carregadas de carisma, servindo de esboço para o que a maioria dos atores faria em seus tempos áureos vindouros, além de conter uma fotografia de qualidade e um conjunto de imagens belíssimas orquestradas por Sturges.

  • Crítica | Quando Explode a Vingança

    Crítica | Quando Explode a Vingança

    quando explode a vingança

    O italiano Sergio Leone se tornou um dos principais nomes no faroeste, não só por dirigir alguns dos filmes clássicos como a Trilogia dos Dólares ou Era Uma Vez No Oeste, mas também por ser um dos principais cineastas que ajudou a modernizar o gênero. É o que ele fez neste Quando Explode a Vingança.

    Sinopse: um irlandês perito em explosivos e ex-membro do IRA se alia a um bandido mexicano e acabam sendo jogados no meio da revolução mexicana e acabam ajudando na luta.

    O filme começa com um impressionante assalto à uma diligência por Juan Miranda, interpretado por Rod Steiger, e logo depois promove um encontro explosivo entre os dois protagonistas que se estranham, dando a entender que se trataria de mais um filme com história similar à da trilogia dos dólares. Felizmente, o diretor segue por outro caminho ao escolher uni-los em favor da revolução mexicana, trazendo algo diferente ao espectador.

    Os traços da direção de Sergio Leone, que o acompanham desde Por Um Punhado de Dólares (1964), mostram porque ele se tornou um dos principais nomes do faroeste: os closes e planos detalhes, além dos característicos zooms, são filmados para tornar a edição fluida nos momentos de tensão; a direção de atores com pouca ou nenhuma marcação, aliado as improvisações deixa os atores soltos para construir os personagens e tornar a mise-en-scene mais realista, menos conservadora, sem as interpretações teatrais dos filmes clássicos. No entanto, Leone também filma demais algumas das cenas, elas acabam sendo mais longas do que deveriam. O filme de 2 horas e meia poderia ter menos 40 ou 50 minutos que não faria muita diferença para a narrativa.

    James Coburn interpreta o irlandês John Mallory, enquanto Rod Steiger faz com que o bandido mexicano Juan Miranda ganhe vida. Ambos os atores fazem o que é exigido deles, no entanto, sem tornar nenhuma cena memorável ou digna de nota para a história do cinema do ponto de vista da atuação.

    Já do ponto de vista do roteiro a coisa muda de figura. O filme é bem escrito, e, fugindo um pouco da tradição dos faroestes do diretor, aqui temos constantes flashbacks em pontos chaves do filme que fazem o cruzamento entre a narrativa atual e passada, ajudando a criar a personalidade de Mallory e o seu passado revolucionário, o que dá ao espectador motivo suficiente para que o personagem participe da revolução mexicana quase que por vontade própria, diferente um pouco do mexicano Juan Miranda, que só pensa em tirar proveito próprio de situações da guerra. Este, até então resoluto em participar, muda de lado na impressionante cena de revelação da caverna.

    A fotografia realista mais uma vez denota o cuidado de Sergio Leone com uma mise-en-scene menos fantasiosa. Os constantes tons de marrom criam contraste com a filmagem no deserto, além dos figurinos igualmente marrons de quase todos os atores e figurantes. A decupagem das cenas é outro ponto alto: os já citados zooms, os closes e os planos americanos são recorrentes, no entanto, quase não há câmera na mão, recurso que alguns diretores de vanguarda passaram a usar nos anos 60 e 70 para quebrar com o cinema clássico. O resultado são as impressionantes cenas de batalhas que Leone ainda filma de forma conservadora, com a câmera no tripé.

    A edição do filme, como já dito, reforça a importância de Sergio Leone para o cinema e principalmente para o gênero do faroeste. Ela se utiliza dos inúmeros closes para aumentar a tensão do espectador nas cenas de conflito. No mais, o editor Nino Baraglia seguiu o roteiro e a direção mantendo as principais características do diretor. Ennio Morricone empresta o seu talento na criação da identidade musical do filme, que apesar de bonita, também passa batido no geral.

    Para finalizar, quem se interessa pelo gênero ou principalmente pelos filmes do Sergio Leone, este filme é obrigatório.

    Texto de autoria de Pablo Grilo.