Tag: Max Von Sidow

  • Crítica | 007: Nunca Mais Outra Vez

    Crítica | 007: Nunca Mais Outra Vez

    Durante o decorrer da década de 1980 várias obras infames ganharam projeção e publicidade em meio ao público médio, e sem dúvida, 007: Nunca Mais Outra Vez se destacou por fazer parte desse cenário. O filme que traria Sean Connery para seu papel mais famoso tem trama muito semelhante a 007 Contra a Chantagem Atômica e é fruto de uma briga judicial entre os escritores desse roteiro. Na trama, Bond recebe uma convocação para recuperar bombas nucleares roubadas pela organização Spectre, tradicionalmente presente nos livros de Ian Fleming.

    Para além da exibição, a obra é mais conhecido pela polêmica envolvendo os direitos autorais. Kevin McClory produtor e co-autor do roteiro do filme de 1965 ganhou ação na justiça dos Estados Unidos e pôde fazer seu próprio filme com o personagem desde que este fosse produzido após 1975. Nas discussões a respeito disso Connery sugeriu que o personagem estivesse de fato mais velho e maduro, mas a ideia foi descartada e fingiriam que ele era o mesmo personagem de sempre, mesmo com o intérprete já vivendo personagens mais veteranos, a exemplo de Robin e Marian, O Homem Que Queria Ser Rei e tantos outros.

    O filme não possui boa parte das marcas do personagem, como os créditos iniciais, a trilha musical, etc. Sobraram os personagens M, Moneypenny, Q e, claro, a organização Spectre. Irvin Kershner, diretor de O Império Contra-Ataca foi responsável por conduzir Nunca Mais Outra Vez. O filme tem como bondgirl principal a belíssima Kim Basinger, que tem seu corpo explorado de modo mais agressivo do que era comum aos filmes do espião britânico. Max Von Sidow como Blofeld, tem em sua ação uma abordagem semelhante aos filmes de brucutus, com violência mais franca e estética semelhante aos filmes de soldado. Em alguns pontos, as brigas lembram o visto em Rambo: Programado Para Matar.

    O filme é repleto de momentos bobos, como quando o herói derrota um brutamontes após jogar um líquido estranho, que parecia ser ácido, para depois descobrirmos se tratar da urina do espião. O filme ainda chega ao cúmulo de ter Rowan Atkinson, intérprete do clássico personagem Mister Bean, que anos mais tarde faria Johnny English, uma paródia aos clichês de 007.

    Reza a lenda que McClory desejava que esse fosse apenas um de uma nova série de filmes do agente britânico, mas essa intenção não se materializou. Durante os anos 90, sua intenção era refilmar essa mesma história com o título Warhead 2000, e chamaria Timothy Dalton para fazer Bond, porém a justiça americana freou esse projeto. A julgar pela qualidade deste, foi melhor assim. Para Connery o filme ainda causou sensações mistas. Ao passo que ele recebeu o maior cachê pago a um ator britânico até a 1983, ele também conseguiu quebrar seu pulso, enquanto ensaiava uma coreografia de luta com o instrutor Steven Seagal.

    Nunca Mais Outra Vez desperdiça o talento de Klaus Maria Brandauer, ator austríaco acostumado a papéis mais dramáticos e que aqui parece um bobo alegre. Além disso, o roteiro é fraco, as atuações são genéricas, a música tema é pouco marcante, e nem ao menos os cenários remetem às histórias de Fleming.

    https://www.youtube.com/watch?v=0RIICiAaEwI

  • Review | Cursed Films – 1ª Temporada

    Review | Cursed Films – 1ª Temporada

    Produzida pela rede de streaming Shudder, Cursed Films é uma série documental escrita e dirigida por Jay Cheel, que visa analisar cinco filmes cujos bastidores foram conturbados e bastante confusos. Em seus episódios curtos, de aproximadamente 30 minutos, são mostradas cenas de bastidores e entrevistas inéditas, além de uma edição bem fluída, feita de maneira única, embaladas por uma trilha incidental, com a música de Justin Small e Ohaf Benchetrit.

    O primeiro objeto analisado é O Exorcista, de William Friedkin, e a participação mais esperada era sem dúvida alguma de Linda Blair, que relata sobre como foi trabalhar com Friedkin e todos os problemas físicos e psicológicos causados na equipe durante a produção do filme. Da parte dela se sabe uma porção de traumas, entre eles o de que as pessoas tinham receio de se aproximar por achar que ela era possuída como a personagem. Sem teorias da conspiração Cursed Films não faria sentido, mas até o modo como o roteiro lida com a morte de dois atores é comedido, assim como a perda de parentes próximos de Max Von Sidow e da própria Linda. Há bons depoimentos da dublê, Eilen Dietz, além de informações sobre como o diabo se manifestaria e do receio de Blair em falar sobre andar com seguranças. O programa parece mergulhar bem na intimidade dos seus personagens.

    Com Poltergeist: O Fenômeno e suas continuações, Cheel varia entre a fofoca a respeito dos esqueletos da piscina serem reais ou não (não eram, obviamente) e a morte de Dominique Dunne, Will Sampson e Julian Beck. No entanto, a história Heather O’Rourke é a mais triste. Gary Sherman, diretor de  Poltergeist 3 conta detalhes de bastidores e do quanto ela era querida, e a descoberta de uma doença rara junto ao tratamento que realizava acelerou o processo de infecção e culminou no óbito da garota com o filme não finalizado. Sherman confessa que o final original jamais foi rodado, e filmar um desfecho com um dublê foi arrasador para ele.

    Cheel tem uma habilidade única de embalar o espectador em meio a sensação de medo. A trilha ajuda, mas o ritmo que ele escolhe empregar varia entre os depoimentos, cenas dos filmes e locações clássicas. Cada novo elemento parece algo que gera muita curiosidade no espectador para acompanhar a saga analisada. No episódio de A Profecia somos apresentando ao produtor Mace Neufeld, que fala sobre a sugestão de um amigo em filmar o nascimento do filho do demônio, mirando o terror do anticristo em uma criança. Esse talvez seja o filme que mais teve coincidências bizarras entre todos, desde um pastor que tentou dissuadir Neufeld e Richard Donner de fazer o filme, até o avião que Gregory Peck embarcaria que acabou caindo, passando por um restaurante onde o roteirista almoçava sofrendo um atentado justamente quando ele não estava lá a esposa de um dos dublês que foi decapitada exatamente como no filme.

    Os dois últimos filmes são O Corvo (Alex Proyas), famoso pelo trágico fim de Brandon Lee – fato que aumentou ainda mais os boatos sobre a morte de seu pai, Bruce Lee – e No Limite da Realidade (Twilight Zone: The Movie), que em um incidente que poderia ser promovido no set, acabou matando um funcionário. Enquanto no primeiro são mostradas fotos dos testes originais do personagem na cena fatídica, no outro há um foco maior em todo o imbróglio jurídico que quase arruinou um dos diretores, John Landis.

    É curiosa a forma com que ambas as obras são abordadas. Enquanto da parte de No Limite da Realidade todos os entrevistados eximem Landis da responsabilidade, e no caso de O Corvo, o ator Michael Berryman expressa a controversa opinião de que o estúdio mirou a economia, dispensando os especialistas no manejo de armas, deixando um profissional sobrecarregado que não percebeu a tragédia que poderia vir (e veio).

    O roteiro destaca o foco muitas vezes inconsciente de procurar maldições em filmes de terror. Filmes como Superman: O Filme e Apocalipse Now trouxeram mal agouro aos seus intérpretes, mas como não lidam com casas fantasmagóricas ou encarnações do demônio não são olhadas como malditas. Cheel consegue entregar uma série divertida, de ritmo aprazível e repleta de curiosidades e entrevistas interessantes, o que dá a cada um dos filmes analisados mais camadas ainda de discussões, além de humanizar boa parte da equipe que trabalhou nessas obras.