Tag: John Landis

  • Review | Cursed Films – 1ª Temporada

    Review | Cursed Films – 1ª Temporada

    Produzida pela rede de streaming Shudder, Cursed Films é uma série documental escrita e dirigida por Jay Cheel, que visa analisar cinco filmes cujos bastidores foram conturbados e bastante confusos. Em seus episódios curtos, de aproximadamente 30 minutos, são mostradas cenas de bastidores e entrevistas inéditas, além de uma edição bem fluída, feita de maneira única, embaladas por uma trilha incidental, com a música de Justin Small e Ohaf Benchetrit.

    O primeiro objeto analisado é O Exorcista, de William Friedkin, e a participação mais esperada era sem dúvida alguma de Linda Blair, que relata sobre como foi trabalhar com Friedkin e todos os problemas físicos e psicológicos causados na equipe durante a produção do filme. Da parte dela se sabe uma porção de traumas, entre eles o de que as pessoas tinham receio de se aproximar por achar que ela era possuída como a personagem. Sem teorias da conspiração Cursed Films não faria sentido, mas até o modo como o roteiro lida com a morte de dois atores é comedido, assim como a perda de parentes próximos de Max Von Sidow e da própria Linda. Há bons depoimentos da dublê, Eilen Dietz, além de informações sobre como o diabo se manifestaria e do receio de Blair em falar sobre andar com seguranças. O programa parece mergulhar bem na intimidade dos seus personagens.

    Com Poltergeist: O Fenômeno e suas continuações, Cheel varia entre a fofoca a respeito dos esqueletos da piscina serem reais ou não (não eram, obviamente) e a morte de Dominique Dunne, Will Sampson e Julian Beck. No entanto, a história Heather O’Rourke é a mais triste. Gary Sherman, diretor de  Poltergeist 3 conta detalhes de bastidores e do quanto ela era querida, e a descoberta de uma doença rara junto ao tratamento que realizava acelerou o processo de infecção e culminou no óbito da garota com o filme não finalizado. Sherman confessa que o final original jamais foi rodado, e filmar um desfecho com um dublê foi arrasador para ele.

    Cheel tem uma habilidade única de embalar o espectador em meio a sensação de medo. A trilha ajuda, mas o ritmo que ele escolhe empregar varia entre os depoimentos, cenas dos filmes e locações clássicas. Cada novo elemento parece algo que gera muita curiosidade no espectador para acompanhar a saga analisada. No episódio de A Profecia somos apresentando ao produtor Mace Neufeld, que fala sobre a sugestão de um amigo em filmar o nascimento do filho do demônio, mirando o terror do anticristo em uma criança. Esse talvez seja o filme que mais teve coincidências bizarras entre todos, desde um pastor que tentou dissuadir Neufeld e Richard Donner de fazer o filme, até o avião que Gregory Peck embarcaria que acabou caindo, passando por um restaurante onde o roteirista almoçava sofrendo um atentado justamente quando ele não estava lá a esposa de um dos dublês que foi decapitada exatamente como no filme.

    Os dois últimos filmes são O Corvo (Alex Proyas), famoso pelo trágico fim de Brandon Lee – fato que aumentou ainda mais os boatos sobre a morte de seu pai, Bruce Lee – e No Limite da Realidade (Twilight Zone: The Movie), que em um incidente que poderia ser promovido no set, acabou matando um funcionário. Enquanto no primeiro são mostradas fotos dos testes originais do personagem na cena fatídica, no outro há um foco maior em todo o imbróglio jurídico que quase arruinou um dos diretores, John Landis.

    É curiosa a forma com que ambas as obras são abordadas. Enquanto da parte de No Limite da Realidade todos os entrevistados eximem Landis da responsabilidade, e no caso de O Corvo, o ator Michael Berryman expressa a controversa opinião de que o estúdio mirou a economia, dispensando os especialistas no manejo de armas, deixando um profissional sobrecarregado que não percebeu a tragédia que poderia vir (e veio).

    O roteiro destaca o foco muitas vezes inconsciente de procurar maldições em filmes de terror. Filmes como Superman: O Filme e Apocalipse Now trouxeram mal agouro aos seus intérpretes, mas como não lidam com casas fantasmagóricas ou encarnações do demônio não são olhadas como malditas. Cheel consegue entregar uma série divertida, de ritmo aprazível e repleta de curiosidades e entrevistas interessantes, o que dá a cada um dos filmes analisados mais camadas ainda de discussões, além de humanizar boa parte da equipe que trabalhou nessas obras.

  • Crítica | Trocando as Bolas

    Crítica | Trocando as Bolas

    O ano era 1983. Egressos do mítico programa Saturday Night Live, Dan Aykroyd e Eddie Murphy viviam momentos interessantes em suas carreiras. Dan procurava se consolidar como grande comediante nos cinemas após o sucesso de Os Irmãos Cara-de-Pau e Eddie estreava apenas o seu segundo longa-metragem vindo de um estrondoso sucesso já no seu primeiro longa-metragem, o policial 48 Horas. Coube então a John Landis unir os dois nessa sensacional comédia.

    Na trama, Louis Winthorpe III (Dan Aykroyd) é um janota executivo de sucesso que vive uma vida praticamente perfeita, enquanto o vigarista Billy Ray Valentine (Eddie Murphy) luta para poder aplicar pequenos golpes e seguir sua vida. Suas vidas se cruzam em um insólito evento que ocorre no clube onde Winthorpe é sócio. Testemunhas do evento, Randolph Duke e Mortimer Duke (respectivamente interpretados por Ralph Bellamy e Don Ameche), donos do banco de investimentos onde Louis trabalha, fazem uma aposta para saber qual o fator preponderante que determina o sucesso de uma pessoa e para isso, tratam de inverter as vidas dos protagonistas em plena época de Natal.

    O que se sucede no filme é uma série de piadas brilhantemente encadeadas pelo roteiro escrito por Timothy Harris e Herschel Weingrod. Com clara inspiração no livro O Príncipe e o Plebeu, escrito em 1881 por Mark Twain, o texto de Harris e Weingrod, além de apresentar situações divertidíssimas, privilegia a verve cômica do elenco, principalmente a dos protagonistas. Uma sacada muito interessante é o uso de As Bodas de Fígaro, ópera-bufa composta por Mozart que satirizava costumes da nobreza, como trilha para a rotina de vida do janota Louis Winthorpe. Landis aqui também se mostra em grande forma, dirigindo de forma ágil e inspirada, além de permitir o improviso do elenco em vários momentos.  O único momento comprometedor do filme é uma piada de “black face” que ocorre no final, já quando a fita abraça uma vertente mais alucinada para que um golpe seja aplicado pelos protagonistas.

    Trocando as Bolas é um dos raros casos de casting perfeito. Aykroyd e Murphy dão um verdadeiro show como os protagonistas. O primeiro interpreta um perfeito babaca que ao passo que vai apanhando de tudo e todos, vai se tornando alguém mais humano. Dan se equilibra bem demais na comédia e nos momentos dramáticos, quando Louis desiste de lutar para ter sua vida de volta. Já o segundo, atua com o brilhantismo que demonstrou ao longo dos anos 80. Murphy é uma metralhadora de piadas, intercalando momentos em que segue o roteiro com seu improviso característico. Há também espaço para alguns momentos de comédia física, em que ele mais uma vez se destacava. Jamie Lee Curtis, faz uma prostituta encantadora, alternando entre acidez e ternura, em uma interpretação que lhe rendeu uma indicação ao Globo de Ouro e fez com que vencesse o prêmio BAFTA de melhor atriz coadjuvante. Denholm Elliot é outro que também ganhou um BAFTA de melhor ator coadjuvante por sua interpretação de Coleman, o mordomo de Louis. A sobriedade da interpretação de Elliot cede espaço a um momento engraçadíssimo em que ele precisa personificar um padre irlandês bebum. Bellamy e Ameche, intérpretes dos irmãos Duke, também estão maravilhosos em suas atuações, principalmente Ameche. O ator atua de forma quase cartunesca o preconceituoso Mortimer Duke, o que provoca risada e raiva no espectador.

    Clássico da década de 80, é um conto moral natalino que influenciou até mesmo o mercado financeiro, uma vez que a “Norma Eddie Murphy” foi criada para negócios na bolsa de valores. O regramento foi criado visando transparência nas transações e banindo o uso de informações governamentais sigilosas no mercado de commodities. Enfim, um grandíssimo exemplar de comédia que vale a pena ser visto e revisto.

    https://www.youtube.com/watch?v=OYi8xCDaN8Q

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