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  • Crítica | 007: Os Diamantes São Eternos

    Crítica | 007: Os Diamantes São Eternos

    007 - Os Diamantes São Eternos

    Em 007: Os Diamantes São Eternos a demanda pelo retorno de Sean Connery foi finalmente atendida, mas sem desconsiderar os momentos urgentes da última aventura de James Bond, em 007: A Serviço Secreto de Sua Majestade. O início da trama mostra o personagem em uma jornada de vingança violenta, indo atrás dos homens da Spectre em busca da vingança pela morte de sua amada esposa.

    O curioso aqui é o tom desse início, bastante diferente do restante da aventura, funcionando como um prólogo.  Resolve as questões pendentes para enfim apresentar uma nova trama, a última envolvendo a super organização Spectre. Connery, volta bem envelhecido, por mais que entre esse e Com 007 Só Se Vive Duas Vezes tenha se passado apenas quatro anos, o tempo parece pesar. A maquiagem não disfarça as marcas de expressões e sinais da idade, e até a peruca com tons grisalhos denuncia que Bond está velho demais para esse tipo de ação.

    Essa obra também marca um tom mais humorístico nas ações de 007. A dupla de vilões secundários também colabora para essa sensação, Mr. Wint (Bruce Glover) e Mr. Kidd (Putter Smith) são caricatos e, claramente, um casal gay. Para além da condição homofóbica com que são tratados, possuem visual bastante esquisito, acompanhado de um comportamento obsessivo e compulsivo. Colocar no papel de vilania pessoas que fogem da normalidade do herói branco heteronormativo era uma das marcas mais tortas da franquia, e com a saída de Connery isso pioraria, já que era ainda mais comum apelar para isso na fase mais cômica protagonizada por Roger Moore.

    Até existe alguma coragem no filme ao colocar a Moneypenny de Lois Maxwell como agente de campo, algo inédito e que seria referenciado por Sam Mendes em 007: Operação Skyfall, mas geralmente, a trama gira em torno dos chavões de 007. A versão de Blofeld feita por Charles Gray por sua vez é menos empolgante que a de Donaldo Pleasence ou Ted Savalas, a máxima de colocar sempre um novo intérprete para fazer o vilão atingiu aqui seu desgaste.

    Além do começo truncado, o desenrolar dos fatos soa estranho. Guy Hamilton já havia feito 007 Contra Goldfinger, filme menos pretensioso, mas bastante divertido dessa fase, entre outros aspectos por ser repleto de coadjuvantes carismáticos. Isso passa longe de acontecer em 007: Os Diamantes São Eternos, pois é arrastado e pouco dinâmico, com reviravoltas tolas e um protagonista indisposto e preguiçoso, fato que fazia jus a procura dos diretores por uma nova encarnação do agente de Ian Fleming.

  • Crítica | 007 Contra Goldfinger

    Crítica | 007 Contra Goldfinger

    O início de 007 Contra Golfinger apresenta o James Bond original, Sean Connery, lidando com uma ação “típica” de espiões (ao menos dos super espiões) ao sair de um submarino para plantar uma bomba. O espião britânico era um sujeito único, bem humorado, charmoso e elegante. Era capaz de sair ileso, ostentando paletó e gravata elegante mesmo após causar tumulto com explosivos.

    Para além da estrondosa música de abertura, executada por Shirley Bassey, Goldfinger possui a maior parte das marcas da franquia: a violência extrema que Bond é obrigado a impor, a sedução de belas mulheres, uso de carros de luxo, a presença de Félix Leiter (Cec Linder), o machismo galopante do herói, vilões característicos, as péssimas cenas em chroma key e, claro, todo o garbo do interprete escocês. Uma estrutura que seria utilizada em filmes posteriores com marcas que acompanhariam outros Bond.

    A produção é a primeira dirigida por Guy Hamilton que faria ainda outros três da franquia, além do icônico Remo: Desarmado e Perigoso. O diretor ficaria tão marcado pela grandes cenas de ação em sua filmografia que foi cotado para conduzir Superman: O Filme, e, posteriormente, o Batman de 1989. Sua direção se destaca  emvcenas de perseguição em alta velocidade, sempre muito tensas, e pelas inúmeras trocas de tiro e pelas lutas entre mocinhos e bandidos. Hamilton é também responsável pelos melhores momentos dramáticos de Connery, embora neste papel o que mais se exija dele é uma face sedutora e charmosa, não necessariamente dramática.

    A trama apresenta a tradição narrativa de Bond, com o vilão central, o criminoso magnata Goldfinger, tentando destruir uma reserva de ouro americana. O personagem entra em cena antes dos personagens icônicos parceiros de Bond como M, Q e Moneypenny. Sua representação é de um sujeito maligno, mas não necessariamente megalomaníaco com planos de dominação mundial. Seu conflito com Bond se resume ao incômodo de ver seus golpes atrapalhados, além de dar vazão a sua extrema competitividade no  golfe e o carteado. Mas também possui traços exagerados como as mulheres pintadas de ouro devido a traição. Um escapismo fantasioso que destoa um pouco da abordagem sempre austera do espião de Ian Fleming. A partir disso, o grau de eventos fantásticos ocorreriam mais vezes em produções futuras.

    Além do personagem-título, o capanga Odjjob, um havaiano halterofilista executado por Harold Sakata, se destaca. Principalmente devido a sua estranha arma: uma cartola com abas afiadas, capaz de decepar até mesmo estátuas de gesso. As filmagens do capanga com o herói foram tão intensas ao ponto de lesionar Connery nas cenas de luta. O bandido se tornou tão icônico que foi representado fora das delas como no clássico jogo Goldeneye de  Nintendo 64, como personagem para utilizar via código.

    Já a parte dos artefatos tecnológicos são bem mais tímidos do que produções recentes. Desmond Llewelyn apresenta para James um Aston Martin DB-5 modificado com radar e capacidade de mudar a placa de localidade e assento ejetor. O roteiro é cuidadosamente feito para dar vazão a cada uma dessas funções, não é exagerado como seriam nas fases menos comedidas.

    A produção tem momentos bem engraçados, como a recorrência da piada do personagem principal estar sempre sendo desacordado, e outros de tensão, com direito a uma arma a laser que miram suas partes íntimas em um claro simbolismo a um ataque a sua virilidade, evento revisitado deem 007: Cassino Royale, quando o vilão chicoteia as partes do agente.

    O final de 007 Contra Goldfinger embora seja um bocado estranho e confuso, cheio de reviravoltas, é charmoso, sabendo conduzir bem seus clichês. Resultando na adaptação mais acertada do diretor com o personagem, uma das narrativas mais icônicas baseada na literatura de Fleming.