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  • Crítica | Linha Mortal

    Crítica | Linha Mortal

    A premissa por trás de Linha Mortal beira o sensacional: contar como seria o além vida. Nelson Wright (Kiefer Sutherland) é um estudante de medicina e tem a ambição de realizar uma experiência com os colegas de faculdade.

    O roteiro de Peter Filardi carece de sutilezas, o texto é bem direto e Joel Schumacher impõe uma estética e ritmo bem semelhantes aos videoclipes da MTV. Além disso, Dave Labraccio (Kevin Bacon) trabalha, praticamente sem pausas, e no auge de sua impulsividade e autocobrança extrema se frusta após a morte de um paciente que ele tenta salvar. Esse é um breve resumo de quem são os amigos de Nelson, um bando de jovens, bonitos, curiosos com a função de médico, impulsivos e que possuem poucas diferenças entre si.

    O diretor de fotografia Jan de Bont deixa os tons alaranjados sobressaírem, como já se via em outros filmes de Schumacher, fortalecendo a ideia do diretor de que as cidades urbanas dos Estados Unidos têm algo em comum, como a vigilância do Sol sobre os seus dias, aqui com um significado diferente, em um tom poético que remete a cor das chamas infernais do cristianismo.

    As cores unidas a arquitetura barroca dos cenários onde a experiência é feita demarcam a sensação de apreciar interpretações de outros infernos mitológicos, sendo o dantesco no lado externo onde estão os companheiros de Dave, e onírico e paradisíaco, como é na maioria dos ritos orientais, com misturas da descrição japonesa e um pouco dos Campos Elísios gregos, o lugar de pós-morte dos servos dos deuses. As partes “suburbanas” da cidade têm grandes grafites em neon, como na Gotham de Batman Eternamente e Batman & Robin.

    O elenco recheado de estrelas não faz feio, Julia Roberts faz o estereótipo da garota inspiradora, Sutherland mesmo caricato tem muito carisma, assim como Bacon, mas ainda parece real, até as personagens que servem como escadas, William Baldwin e Oliver Platt, funcionam bem dentro dessa equação. O primeiro ato do filme faz parecer que o drama será interessante, depois o que se vê é um arremedo mal pensado de aparições sobrenaturais. O que salva é o visual que Schumacher apresenta. O uso das luzes neon para produzir o terror é um acerto, mas até esse aspecto esbarra nas tecnobaboseiras e aparições gratuitas dos espíritos.

    O filme é longo demais, ainda mais ao colocar em perspectiva a fragilidade do roteiro. É impossível não ficar uma sensação de enfado no espectador. O maior pecado de Linha Mortal são suas escolhas narrativas. Nem nas partes mais expositivas existem conclusões a se tirar, além disso, a montagem piora o quadro, sempre parece que faltam frames ou mesmo cenas inteiras, como se a intenção do diretor fosse retratar a mente de alguém com lapsos de memórias, a ideia parece sofisticada demais para a execução empregada.

  • Crítica | A Caçada ao Outubro Vermelho

    Crítica | A Caçada ao Outubro Vermelho

    Caçada ao Outubro Vermelho - Poster - dvd

    Ao longo de sua duração, a Guerra Fria rendeu histórias maravilhosas, seja sobre eventos reais que ocorreram durante seu período, seja sobre eventos ficcionais inspirados por ela. No ano de 1984, praticamente no fim da guerra, o historiador e novelista Tom Clancy nos apresentou ao livro A Caçada ao Outubro Vermelho, primeiro de uma série protagonizada pelo personagem Jack Ryan. Em 1990, o livro foi adaptado para as telas do cinema com direção de John McTiernan, protagonizado por Alec Baldwin e Sean Connery, e com ótimo elenco coadjuvante.

    A trama do filme nos apresenta Markus Ramius (Connery), lendário comandante soviético que recebe a missão de capitanear o Outubro Vermelho, moderno submarino que possui um sistema revolucionário de propulsão que o torna praticamente invisível para sonares. Porém, Ramius desobedece ordens diretas da marinha soviética, vira o submarino para os Estados Unidos e segue em viagem, fazendo com que todos pensem em um ataque nuclear ao solo estadunidense. Entretanto, o analista Jack Ryan (Alec Baldwin) não crê em um ataque, mas em deserção, o que o faz entrar numa luta contra o tempo para provar sua teoria para seus superiores e à tripulação do navio USS Dallas, embarcação que conseguiu rastrear o submarino soviético e planeja afundá-lo.

    O diretor John McTiernan estava em grande forma na época, principalmente por ter dirigido Duro de Matar, um dos maiores clássicos do cinema de ação. Porém, enquanto seu trabalho anterior primava por sequências eletrizantes de ação, o diretor aqui prioriza a construção de uma sufocante atmosfera de tensão, uma vez que o filme possui uma série de núcleos narrativos onde se passam diversas partes da ação, tais como o submarino Outubro Vermelho, o USS Dallas, a Casa Branca, o outro submarino soviético V.K. Konovalov e ainda Jack Ryan, pois o protagonista passeia por grande parte desses núcleos. Em nenhum momento o diretor deixa o ritmo do filme cair, contando com a ajuda de uma bem orquestrada edição ágil da dupla Dennis Virkler e John Wright. A fotografia de Jan De Bont também ajuda a construir a atmosfera do filme.

    O roteiro da dupla Larry Ferguson e Donald E. Stewart é bem amarrado e interessante. Novamente, é necessário ressaltar a quantidade de núcleos narrativos. Seria muito fácil que o roteiro se perdesse em algum ponto ou que viesse a negligenciar algum dos núcleos, mesmo todos sendo tão importantes e necessários para o desenvolvimento da história, ainda que o foco principal da narrativa seja Jack Ryan e Markus Ramius. Porém, todos têm a sua importância bem delineada no roteiro. Os diálogos dos personagens são bem claros e objetivos, ainda quando vêm carregados de alguma linguagem mais técnica que precise de esclarecimento para o espectador. Nada fica didático demais, ou mesmo gratuito. Talvez o grande problema do roteiro seja a questão do sabotador, que até é abordada pontualmente, mas acaba ganhando uma importância excessiva no final. Por falar em final, a reviravolta que ocorre e se relaciona ao submarino Outubro Vermelho é muito inventiva e crível.

    O elenco do filme esbanja competência. Sean Connery entrega uma excelente interpretação para o comandante Markus Ramius. Sua imponência em cena reflete bem a importância da patente do personagem. Por ser um analista da CIA e não um agente de campo, Alec Baldwin cria um Jack Ryan meio deslocado e vulnerável, e isso acaba sendo uma escolha muita acertada do ator, afinal o personagem não se familiariza com o mundo em que acabou entrando quase que por imposição. Sam Neill interpreta o imediato do Outubro Vermelho e grande amigo do comandante Ramius com bastante competência, assim como Scott Glenn, que interpreta o implacável e inteligente comandante do USS Dallas. As breves aparições de James Earl Jones como o diretor da CIA a quem Jack Ryan é subordinado, e de John Gielgud como um diplomata soviético abrilhantam a fita. E um ainda desconhecido Stellan Skarsgard entrega ótima performance como o alucinado comandante do V.K. Konovalov, ainda que também tenha pouco tempo de cena.

    A Caçada ao Outubro Vermelho é um ótimo exemplar de thriller de espionagem e mostra que nem sempre os filmes do gênero precisam apelar para superespiões e sequências mirabolantes de ação.