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  • Crítica | A Luz Entre Oceanos

    Crítica | A Luz Entre Oceanos

    Derek Cianfrance de certa forma decidiu abordar novamente o legado que a vida dos pais pesam sobre seus filhos, como seu último longa metragem, O Lugar Onde Tudo Termina, e agora em A Luz Entre Oceanos. Logo de inicio a quebra de narrativa de seus dois últimos trabalhos é notada pela atmosfera em que nos encontramos; não se trata mais da paisagem urbana que parecia ser tão confortável tanto em seu último filme como em Namorados para Sempre. Seu novo trabalho é ambientado na Austrália pós-primeira guerra, e apesar da estranheza, o diretor repete um maneirismo em filmar o protagonista andando enquanto a câmera o segue de costas assim, como seguia Ryan Gosling em seus filmes anteriores.

    Na trama, seguimos Tom (Michael Fassbender), um veterano da primeira guerra que se encontra desolado após quatro anos no campo de batalha e decide trabalhar no farol da ilha de Janus, próxima a cidade de Porto Patageuse. Ele se hospeda na casa dos Graysmark para embarcar em sua viagem para a ilha e acaba se apaixonando pela filha da família, Isabel (Alicia VikanderEx-Machina).

    O contraste entre as cores é quase inexistente caracterizada por tons pastéis bem diluídos em decorrência da alta carga suave porém sempre presente de luz na paleta em toda as cenas. A escolha do local a beira-mar também não parece ter sido ao acaso, pois remete de certa maneira com as ações voltam e refletem como um espelho o que ocorre durante o longa. O ponto mais interessante é como o filme quebra a própria narrativa dividindo-o em dois atos de maneira improvável. É uma surpresa e um respiro muito bem vindo em algo que parecia uma simples história de amor a lá Nicolas Sparks. Os mesmos tons de cores já citados vão ficando cada vez mais pesados e sombrios ao decorrer desse segundo ato, fotografados com maestria por Adam Arkapaw, que mesmo sendo dirigido em um romance parece a vontade capturando quase três histórias e sabendo dosar de diferentes cores ao faze-lo para reforçar andar de cada uma delas.

    O tom, aparentemente, genérico da história de amor existente na trama pode ter ocorrido por conta do trabalho ser uma adaptação do romance homônimo de M. L. Stedman. É praticamente desse ponto que encaramos toda a estranheza de imersão no trabalho do diretor, mas que no final das contas parece se encaixar perfeitamente com os temas que ele sempre vinha a trabalha.

    A Luz Entre Oceanos é um drama de peso com atuações convincentes. A satisfação é ainda maior quando você é enganado pelo primeiro ato e agradece por ter um segundo tão diferente.

    Texto de autoria de Halan Everson.

  • Resenha | A Luz entre Oceanos – M. L. Stedman

    Resenha | A Luz entre Oceanos – M. L. Stedman

    Todo grande livro trata, em maior ou menor escala, daquilo que se convém chamar de moral – o que define o aceitável e o condenável na ação humana, distinguindo o bem e o mal, a virtude e o vício. E quando o conflito moral transcende o universo ficcional no qual atuam seus personagens – fazendo com que o leitor, pautado em seu próprio conjunto de valores, se pergunte se reproduziria aquelas ações ou se agiria diferente caso se encontre em situações análogas às descritas ao longo das páginas -, a excelência de um texto se confirma. É o que tenta fazer M. L. Stedman em A Luz entre Oceanos, no qual apresenta um casal de pessoas essencialmente boas tendo que tomar e lidar com as consequências de decisões moralmente ambíguas. Mas, infelizmente, o romance de estreia do autor australiano está longe de ser um grande livro.

    A trama se desenrola na isolada ilha de Janus Rock, para a qual Tom Sherbourne, o distante protagonista da histórica, partiu em uma espécie de exílio autoimposto ao qual se submete para fugir dos fantasmas da recém-findada Primeira Guerra Mundial. Trabalhando como faroleiro, ele conhece Isabel Graysmark, que representa sua antítese: jovial, alegre e otimista. Desnecessário dizer que ambos se apaixonam. Porém, essas figuras com personalidades e experiências tão diferentes compartilham do mesmo desespero perante a incapacidade de ter filhos; desespero que os leva ao extremo de, após um acidente, tomar para criar o bebê trazido por um navegante morto que chegara às imediações, sem, contudo, informar o fato às autoridades.

    A atitude desses heróis – que, vale repetir, nos são apresentados como pessoas de boa índole, para as quais somos levados a torcer – é certamente errada, até mesmo criminosa. No entanto, o autor tenta fugir do julgamento meramente legal, preto e branco, e narra a situação em seus infinitos tons de cinza, construindo um jogo em que justiça e tragédia se chocam, sem que haja respostas fáceis à disposição. Ainda que passando por trechos demasiadamente dramáticos e que beiram o melodrama, A Luz entre Oceanos é caracterizado por um tom agridoce, nada pessimista, mas também não muito otimista, que consegue prender até mesmo um leitor não muito afeito a romances – categoria na qual me enquadro – em suas 363 páginas.

    No entanto, ainda que tenha méritos temáticos, o livro deixa muito a desejar no tocante ao estilo. Janus Rock, por exemplo, jamais passa a sensação de ilha afastada do restante do mundo, pois diálogos entrecortam praticamente todas as cenas da história, sendo raros os momentos descritivos que poderiam nos dar a impressão requerida de isolamento. A natureza dos capítulos, sempre muito curtos (são 37 ao todo, resultando numa média de menos de 10 páginas para cada um) e fragmentados em pequenas sequências, também não nos permite absorver todo o impacto de algumas situações que logo se dilui no avançar dos acontecimentos subsequentes.

    Quanto ao principal conflito do livro, o dilema entre a ação emocional e a ação “correta”, a meu ver, seria mais eficaz se Stedman não tomasse abertamente o partido de seus protagonistas, conferindo um aspecto mais profundo a essa obra que, vez por outra, soa clichê e pouco original. A Luz entre Oceanos é, enfim, um texto ágil e, considerando que se trata do primeiro livro de um autor, competente. É, de certo, uma leitura recomendada para os apreciadores do gênero. Mas, no final das contas, não passa disso – é somente mais um livro do gênero.

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    Texto de autoria de Alexandre “Noots” Oliveira.