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  • Crítica | Jack Reacher: Sem Retorno

    Crítica | Jack Reacher: Sem Retorno

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    Aproveitando o hype que Missão: Impossível – Nação Secreta teve, trazendo à tona o outro personagem ligado a espionagem que Tom Cruise executa, Jack Reacher Sem Retorno é uma fraca tentativa de continuar uma outra franquia com o astro de cinema, curiosamente produzido também por Paula Wagner, que antes era parceira de Cruise como cérebro de Missão: Impossível. No novo filme de Edward Zwick, Reacher retorna à base militar da Virgínia, a fim de convidar a comandante que conheceu por telefone para jantar, mas obviamente algo dá errado e ele se enfia em uma nova trama conspiratória.

    O começo do longa é repleto de clichês, com o antigo major agindo de modo silencioso enquanto a polícia o interroga sobre as pessoas que ele espancou em uma lanchonete do interior. A tal moça com quem Jack falava era Susan Turner (Cobie Smulders), uma militar de carreira que é injustamente presa, fato que faz o herói da jornada tentar trazer a luz a justiça que ele julga certa sobre ela.

    Logo, o casal está em liberdade e enfrentando todo o sistema de inteligência dos Estados Unidos, fazendo valer sua ligação e confiança mútua praticamente instantânea e injustificada. O roteiro de Zwick, Richard Wenk e Marshall Herskovitz soa infantil em suas manifestações, seja pela incapacidade de seus personagens em gerar nuances ou qualquer outro aspecto que faça a história valer a pena, ou pela tramoia conspiratória e rocambolesca.

    Se Jack Reacher: Um Tiro não era um filme primoroso, ao menos não era um exemplar tão genérico quanto este Sem Retorno. Reacher acaba por parecer mesmo uma versão menos inspirada de Jason Bourne neste volume dois, todas as rivalidades e embates tem cunho pessoal e os vilões não tem qualquer carisma ou justificativa para entrar e sair da história. A tentativa de gerar emoção no público através da personagem de Danika Yarosh é oportunista e improdutiva, uma vez que não há a menor ligação sentimental entre ela e o personagem título.

    A trama desinteressante é cortada por algumas cenas de ação legais, e como aspectos positivos há a força de Turner enquanto mulher empoderada e agente, além do lance jocoso das corridas somente de antebraço, que Cruise faz ao lado de Smulders acrescentando um pouco de humor involuntário ao filme de Zwick. A questão é que Jack Reacher: Sem Retorno não é uma comédia e causa estranhamento ao analisar a obra pregressa do diretor, mal deixando acreditar que o mesmo cineasta que havia executado O Último Samurai, Nova York Sitiada e o leve Amor e Outras Drogas tenha conseguido fazer uma continuação tão aquém do original e tão ausente de alma, substância ou conteúdo.

  • Crítica | Missão: Impossível 2

    Crítica | Missão: Impossível 2

    Missão Impossivel 2 - poster

    Após Missão: Impossível com uma narrativa de espionagem bem conduzida por Brian de Palma, Missão: Impossível 2 avança a um novo patamar com John Woo na direção, dando sequência a uma missão como base e explorando atos de ação bem realizados, um de seus grandes talentos.

    Distante de Hollywood há anos, essa produção foi a última do diretor a arrematar uma alta bilheteria e ser elogiada simultaneamente, suas produções seguintes em Hollywood, O Pagamento e Códigos de Guerra foram lançamento tímidos em relação a suas grandes obras como O Alvo e A Outra Face. Ao vermos um filme de Woo, é possível notar o quanto a indústria absorveu seu estilo. As cenas de ação filmadas com atenção, detalhes e coreografias se tornaram um produto além de seu estilo, ainda que suas cenas seja mais apuradas. Aliado a Tom Cruise, astro que sempre dispensa dublês nas cenas, o encontro foi significativo para produzir um grande filme de ação.

    A composição de Missão: Impossível formada por um grupo de inteligência cujas missões são focadas em sua dificuldade e em feitos impossíveis permitiu que cenas exageradas fossem aceitas com mais naturalidade e hoje, mesmo com o desgaste desse estilo com cenas que desafiam as leis da natureza, com introjeção do realismo brutal após Identidade Bourne, a história é funcional e coerente com a ambientação criada e a sensação de que, para a equipe, o difícil é ainda fácil de ser realizado.

    Nesta nova aventura, Ethan Hunt deve recuperar um vírus das mãos de um dissidente com o apoio de uma equipe formada por dois escolhidos e a ladra Nyah (Thandie Newton), que possui afinidade emotiva com o vilão Sean Ambrose (Dougray Scott). A ação do virus é tão devastadora que mata o hospedeiro após vinte horas, um dos motivos pelo qual ele deve ser recuperado imediatamente.

    O equilíbrio entre trama e cenas de ação é feito cuidadosamente. Mesmo que as cenas de ação se destaquem pela composição, há um bom enredo articulado na recuperação do vírus, sem parecer apenas apoio para a ação. Woo tem apuro nas filmagens das cenas de ação e demonstra porque seu estilo foi replicado por outros cineastas. Sua câmera lenta não é selecionada somente em momentos chave da luta para maior impacto. Mas sim escolhidos para destacar tanto detalhes cênicos quanto explicitar cenas em um recurso narrativo próprio. Como exemplo, o primeiro encontro de Hunt e Nyan merece destaque. Em cena situada na Espanha, em um show de dança espanhola, as personagens se observam em lados opostos do palco enquanto os dançarinos transitam em outro plano da cena. A câmera lenta registra a fluidez da dança simultaneamente aos olhares e flertes trocados um pelo outros. A sequência é retomada quando Hunt persegue a moça em uma corrida de carros que termina com uma derrapada-balé em sincronia. Mesmo beirando o impossível, a linguagem da cena demonstra a mesma intenção anterior, uma espécie de dança metálica entre carros mantendo a sincronia das personagens.

    O diretor tem habilidade para transformar cenas em signos visuais internos coerentes com seu estilo de filmagem. Faz da violência uma estética que dentro de sua brutalidade produz beleza. Não a toa, o ato final da história é o grande embate entre Hunt e Ambrose. Divido em pequenos atos, a cena atinge o ápice da história. Inicialmente, em uma excepcional fuga de motocicletas para a luta corporal. Em um breve deserto perto de um penhasco, as maquinas automotivas distantes uma da outra parecem duelar como um western contemporâneo quando avançam e, finalmente, mocinho e vilão lutam no braço. Hunt se divide entre uma luta física rápida e agil – antecipando a vertente realista – e o balé coreografado aumenta o impacto em momentos específicos ampliando a tensão e dando fluidez a luta destacando-a em pontuais momentos em câmera lenta. Diante do exagero extremo, o momento final da batalha chega no ápice do impossível, mas até este momento, sabemos que a tônica da produção é um viés misto de realidade e ficção e aceitamos o exagero.

    Com grande fôlego, Woo elevou a série ao inserir sua ação característica, expandindo-se além da narrativa de espionagem e compondo um grandioso trabalho cinematográfico de ação.