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  • Crítica | A Um Passo do Estrelato

    Crítica | A Um Passo do Estrelato

    A Um Passo do Estrelato

    A Um Passo do Estrelato  é um documentário musical que reconstrói o manifesto de uma época em que a publicidade ainda era fiel ao artista. Em um fluxo histórico linear, a auto avaliação do período que registra é feita com alma e aura investigativa, com cada relato na linha de frente, um por um à mercê de distintas intensidades.

    O filme é uma refinada unidade do seu gênero no cinema, realçado por elementos como a emoção ao expressar a luz de um espírito musical -“Ele suava feito porco e cantava feito anjo!” -, os fatos de bastidores ainda inéditos, como a clássica interpretação feminina em Gimme Shelter dos Rolling Stones, as lições de “como impressionar de David Bowie a Stevie Wonder, passando por Ray Charles e Michael Jackson“, com o relato de quem conseguiu tal pretensão de principiante, as gravações audiovisuais e fotográficas independentes, e ainda o desafio de realizar uma retrospectiva à altura de todo o montante a se registrar do cenário eufônico americano, nos orgásticos anos das décadas de 50 à 80.

    O contexto da indústria musical pouco mudou desde então, e continua ainda influenciada por quem proporciona o céu para as estrelas brilharem com suas vozes, tentando sobreviver junto, ou contra, o brilho das outras. O documentário, em uma viagem muito bem editada de duas épocas seculares, prova que as armas para se lutar por um lugar na constelação de talentos invencíveis continuam as mesmas. Os tempos trocaram de roupa, mas não de essência, como é possível notar nos closes das divas de outrora e de hoje, em cenas valiosíssimas.

    Após a sessão do documentário, Dream Girls (2006) torna-se um mero ensaio à realidade do pulsante show business, senão uma espécie de subversão à verdade das coisas, deturpando o bom combate de mulheres que, muitas vezes, não tiveram a chance de ter uma vida digna de uma estrela de cinema, muito menos um final feliz como ponto de virada, pois quem não sabe que estrelas não morrem? Pelo menos não antes de explodirem em fragmentos audíveis chamados de discos, sacrifícios, suor e, com um pouco de sorte e dedicação, serem lembradas no mural atemporal do sucesso.

    Há uma sequência que merece ser avaliada em solo aqui: uma revoada de pássaros num céu de começo de manhã. No ar, alguma melodia leve e pouco importante, diante do simbolismo da imagem em movimento, durante instantes que poderiam ser mais largos, inclusive. Metáfora redundante em todo o documentário. Aves, uma revoada delas, disputando, num uníssono de liberdade, o mesmo espaço. Espaço em que nasceram para estar e fazer o que nasceram para performar. Algumas conseguem o voo, e para tanto, continuam a batalhar para honrar seu dom. Outras, do ninho, veem o confronto com o chão, a escuridão. Essa é a vida, essa é a ideia, seja no palco ou na plateia.

  • Resenha | Vida – Keith Richards

    Resenha | Vida – Keith Richards

    vida keith richards

    Keith Richards passou de músico à rock star e hoje em dia já está muito acima disso. O guitarrista se tornou um ícone da história da música que não será esquecido, seja pela sua importância como músico ou pelos exageros vividos em sua carreira. Muitos o consideram apenas um drogado, outros a personificação do Rock and Roll. Keith é um pouco disso tudo, o herói renegado esquisitão do Rock. Em sua biografia, Vida, Keith deixa claro que é e já foi um pouco de tudo e derruba o mito que envolve sua imagem.

    Quase todos os Stones já tiveram suas histórias contadas em livros, agora foi a vez de Keith. Nesse ano os Rolling Stones completam 50 anos de carreira, desde o início da banda o guitarrista sempre foi peça fundamental para que ela continuasse existindo. Vida conta um pouco sobre toda a trajetória de Keith, desde os anos dourados do rock and roll à pouco depois da sua turnê A Bigger Band.

    James Fox, biográfo de Keith assume a tarefa de contar sua história e que por incrível que pareça, é muito minuciosa, como descrito em sua capa, “Esta é minha vida. Acredite se quiser, eu não me esqueci de nada“. O livro conta um pouco sobre a infância difícil, seus primeiros contatos com a música ouvindo Django Reinhardt, a descoberta do Rock and Roll, suas primeiras aulas de música com seu avô, seu temperamento rebelde, entre tantos outros detalhes de um jovem nascido numa Inglaterra estilhaçada pela Segunda Guerra.

    Uma parte de destaque é sem dúvida os relatos de Keith durante o início da banda, a falta de dinheiro e como a inexperiência não os impediram de tocar o que queriam. Apesar da banda ter se revelado como um sucesso muito rapidamente, o livro deixa claro o comprometimento de todos. O apartamento onde Keith vivia com Mick Jagger e Brian Jones era paupérrimo e por vezes passaram fome pela falta de dinheiro. Todos esses detalhes são narrados de maneira clara e fascinante.

    Em todo livro, Keith mostra não se importar ao contar sobre seus problemas com drogas ou mesmo a crise criativa no início da carreira, um tabu para boa parte dos músicos. O músico não mede palavras para falar do seu relacionamento conturbado com Brian e Mick, as brigas internas pelo poder dentro da banda, seus problemas com as autoridades. O interessante do livro é que em nenhum momento você sente uma postura de autocensura, aparentemente, o que há para ser dito está escrito, sem meias palavras.

    As brigas internas, o consumo de drogas e o relacionamento conturbado com Anita Pallenberg são capítulos à parte da história de Keith, nenhum retratado de maneira que tente transformar o homem em mito, o biógrafo mostra uma faceta que o humaniza. Sua dependência é mostrada de forma transparente, Richards afirma ter abandonado a heroína no final da década de 70, mas não tenta fazer um discurso anti-drogas como o da biografia do Eric Clapton. O mesmo ocorre para as suas notórias prisões.

    Apesar de sempre alegar que as drogas nunca afetaram seu trabalho, sua própria biografia demonstra o quanto afetou toda a banda. Esse quadro acaba culminando numa postura de líder obsessivo do grupo por parte de Jagger, no entanto, no entanto, ao se recuperar do vício, Keith bate de frente com o frontman ao se tornar um membro mais participativo, principalmente dos negócios da banda, o que quase culmina no fim dos Rolling Stones. Esse ambiente é muito bem relatado durante as gravações de alguns álbuns dos anos 80.

    Sua relação com as mulheres é interessante, diferente de Mick, Keith se apaixonou poucas vezes e diz não entender a obsessão de Mick e Bill Wyman em se deitar com inúmeras mulheres. A cereja do bolo fica por conta de detalhes de execução de músicas e gravações, a forma como o guitarrista encara a música, sua postura em relação as pessoas que o influenciaram. Um capítulo interessante é dedicado aos músicos pela forma como Keith toca sua guitarra e as afinações que ele utiliza.

    Em certo ponto do livro, Keith fala sobre o preconceito racial que existia no meio musical, algo que ele nunca entendeu, já que pra ele o que sempre importou era apenas o som. Sua paixão pela música é relatada de forma simples em um trecho que transcrevo a seguir:

    “…ficava fascinado assistindo às pessoas fazerem música. Se estavam na rua, eu ficava orbitando em volta delas. Meus ouvidos captavam nota por nota. Não importa se estava desafinado, havia notas acontecendo, havia ritmos e harmonias, e tudo isso começou a entrar em foco nos meus ouvidos. Era muito parecido com as drogas. A bem da verdade, era uma droga muito mais forte que a heroína. Eu consegui chutar a heroína; mas não consegui me desvencilhar da música. Uma nota leva a outra e você nunca tem exatamente certeza do que vem depois, nem quer saber. É como andar numa corda bamba maravilhosa.”

    O livro é recheado de detalhes relatados de maneira sincera, desde sua vida pessoal, seu distanciamento com Mick, a descoberta do câncer de Charlie Watts, entre tantos outros. Tudo isso em mais de 600 páginas biográficas, repletas de fotos, cartas e depoimentos de pessoas próximas, de um mito da música mundial. E para quem insiste em afirmar que os Stones já deveriam ter terminado, concluo essa resenha com uma frase do próprio Keith:

    “Tem gente que me pergunta por que eu não paro. Só vou me aposentar quando bater as botas, Acho que eles não entendem o que isso me dá. Não é só pelo dinheiro ou por você. Faço isso por mim.”

  • [Na Vitrola] A rebeldia inspiradora de Brian Jones

    Os Stones são conhecidos, por muita gente, como a maior banda de rock do mundo. Não por ser a banda mais técnica ou criativa, mas por carregarem o espírito do rock and roll, puro e simples. Bandas como os Stones influenciaram e influenciam movimentos e tendências em todo mundo. Dentro dos Stones existia um cara que exalava transformação, e ele não era o Keith Richards, muito menos Mick Jagger. Estou falando de Brian Jones.

    Se Brian estivesse vivo, hoje ele faria 70 anos. Jones ficou conhecido não apenas por ser o lider dos Stones durante o início da banda, mas também pelo seu comportamento transgressor e autodestrutivo. Sua importância na formação dos Stones é gigantesca, sem ele é impossível conceber que os Stones sequer sobrevivessem aos anos 60.

    Jones sempre foi o melhor e mais versátil músico da banda, aos 10 anos já tocava piano com sua mãe, que era professora. Além do piano, Brian tocava clarinete, executando um concerto de Weber para clarinete aos doze anos. Quando conheceu o jazz, abandonou a música clássica e passou a tocar Sax e aos 15 anos saiu de casa e começou a fazer dinheiro tocando em bares.

    Brian acabou se apaixonando pela guitarra ao ouvir um disco de Muddy Waters, o que acabou motivando o músico a formar uma banda pra tocar este tipo de música. É importante lembrar, que nessa época, Brian já era conhecido como um grande músico, apesar da pouca idade. Em uma dessas apresentações, Brian conheceu Mick e Keith. Keith ficou maluco pela forma como Brian tocava slide guitar, enquanto Brian fica extremamente feliz por encontrar jovens de sua idade com o mesmo interesse musical que ele.

    No entanto, enquanto Mick e Keith ainda moravam com seus pais, Brian já tinha dois filhos com duas mulheres e não era casado com nenhuma delas, havia saido de casa há muito tempo. Tudo isso influenciou o que viria a se tornar os Rolling Stones.

    Algum tempo depois, Brian convida Jagger para tocar com ele, este só aceita se Keith pudesse participar também. A primeira formação oficial da banda era Brian e Keith nas guitarras, Ian Stewart no piano, Tony Chapman na bateria, Dick Taylor no baixo e Jagger nos vocais. A banda foi batizada de ‘Rollin’ Stone’ em homenagem a canção de Muddy Waters, segundo Brian, o nome era uma referência ao trecho “A Rollin’ Stone gathers no moss (pedras que rolam não criam musgo). Daí pra frente a história virou lenda.

    Não quero aqui comentar sobre as maluquices de Brian e seu temperamento violento com os outros e consigo mesmo, e sim relembrar a importância desse músico para a história do Rock and roll, do movimento beatnik e da contracultura. Brian foi genuinamente tudo o que representa (ou representava) o rock and roll. Sem ele os Stones jamais teriam existido. Brian influenciou seus amigos de banda, desde o visual andrógino de Mick à rebeldia de Keith; ditou moda; foi um multi-instrumentista dedicado a novas sonoridades e extremamente versátil; e dono de uma personalidade forte.

    Brian Jones morreu em 03 de julho de 1969 aos 27 anos e até hoje sua morte é rodeada de mistérios e teorias da conspiração, mas como essas bobagens pouco importam para a música, vamos celebrar o que Brian deixou de melhor. Logo abaixo, confira algumas perfomances de Brian.


    The Last Time – Riff clássico de guitarra 


    No Expectations – O slide guitar da faixa é de Brian 


    Under My Thumb – Brian tocando marimba


    Ruby Tuesday – Brian compôs a melodia em um piano e ainda contribuiu com a flauta doce da faixa


    Jumping Jack Flash – Guitarras épicas de Keith e Brian se complementando  


    Paint it Black – Atacando com uma cítara


    Lady Jane – Brian utiliza um dulcimer


    Em um belo solo de slide guitar em Little Red Rooster do blueseiro Howlin’ Wolf


    Dear Doctor – Contribuição com a bela gaita que se ouve na faixa


    Brian toca guitarra e mellotron em She’s a Rainbow. Além disso, os backing vocals são de ninguém menos que Lennon e McCartney, com um arranjo de cordas de John Paul Jones 


    Brian toca saxophone em ‘You Know My Name’ dos Beatles 

  • Agenda Cultural 14 | Tarantino e um Exílio Francês

    Agenda Cultural 14 | Tarantino e um Exílio Francês

    Agenda Cultural agora também dentro da vertente ‘moda’. Felipe Morcelli (@multiversodc) do site Multiverso DC se reúne a Flávio Vieira (@flaviopvieira) e Mario Abbade (@fanaticc) para discutir as tendências da moda que regem o mundo dos super heróis. De quebra você ganha uma aula sobre Tarantino e o ‘way of life’ dos Stones e seus excessos.

    Duração: 53 min.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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