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  • Crítica | Rogue One: Uma História Star Wars

    Crítica | Rogue One: Uma História Star Wars

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    Um dos maiores méritos de Rogue One: Uma História Star Wars foi o de conseguir esconder a maior parte de suas tramas do marketing esclarecedor péssimo, que tomou conta de Holywood, onde a regra é revelar absolutamente tudo no material acessório. O longa de Gareth Edwards vai completamente na contramão dos outros blockbusters, que normalmente explicitam seus detalhes nos trailers, spots de tv e demais meios de divulgação.

    Apesar de já se saber o final, já que o filme conta uma sub trama essencial de Uma Nova Esperança, as revelações contidas no texto de Toni Gilroy e Chris Weitz são bombásticas, além de serem a principal característica positiva do longa. A Vingança dos Sith foi um filme da franquia que sofreu com esse estigma, já que para todos os efeitos, era obrigatório que o ansioso Anakin Skywalker fizesse a transição para o lado negro da Força. O mote principal de Rogue One são as estranhas relações que os rebeldes tem entre si, mostrando uma resistência fragmentada, com os mais moderados sendo os da Aliança Rebelde, liderados por Mon Mothma (Genevieve O’Reilly) e Bail Organa (Jimmy Smits), e os extremistas de Saw Gerrera (Forest Whitakker). Esse dois lados em alguns momentos convergem no mesmo caminho e em outros não, e essa dicotomia acrescenta uma riqueza política até então inédita na saga.

    A jornada do herói é executada por dois personagens da mesma família, primeiro com a jovem Jyn Erso (vivida por Felicity Jones na fase adulta) que sobrevive ao ataque do vilão da película, o militar imperial Orson Krennic (Ben Mendelsohn). A proximidade entre esses dois personagens se dá graças as antigas colaborações imperiais do segundo Erso envolvido na trama, Galen (Mads Mikkelsen), o pai da menina, que passou muito tempo afastado de seu clã, de maneira forçosa evidentemente. É nesse núcleo que se concentram a maioria dos eventos dramáticos importantes, fator este que traz bons e maus momentos para o script.

    A maior força dos bons filmes de Guerra nas Estrelas mora na humanidade dos seus personagens centrais que, mesmo em meio a tantas batalhas épicas, se mostram sentimentais, passíveis de erros e bem construídos. Tanto isso acontece que os trechos dignos de aplausos envolvem esses personagens clássicos. Não falta menção aos antigos aventureiros e o timing das aparições só faz melhorar quanto a qualidade das aparições. Uma em especial é de deixar o público boquiaberto, mas o sigilo quanto a identidade do personagem é importante para a apreciação do filme.

    Há um conjunto de personagens coadjuvantes bem divertida e visualmente bela. Os personagens periféricos como o crente na força Chirrut Îmwe (Donnie Yen) e o androide K-2SO (Alan Tudyk) garantem bons momentos cômicos, no entanto, o excessivo enfoque nessas personagens denuncia um problema do argumento, que é a falta de interesse causado por Jyn e por seu pseudo par romântico, o piloto Cassian Andor (Diego Luna), em especial pelo talento pouco aproveitado desse casting, fato que obviamente não ocorreu com o bom Despertar da Força, que também faz menções aos guerreiros clássicos e introduz novas figuras.

    A atmosfera do filme no entanto resgata qualquer possibilidade de amargor com o resultado final da obra que Edwards orquestra. A trilha sonora de Michael Giacchino não soa tão clássica quanto a de John Williams, mas faz um belo papel, elevando os eventos de guerra a um tom bastante dramático. A sensação terrível de uma batalha perdida é elevada a uma qualidade gritante, sentimental e tocante, ainda dando vazão a uma nova esperança, como denunciado no subtítulo do episódio IV. A fotografia de Greig Fraser é apurada e ajuda a reconstruir a mesma sensação de se explorar novamente os momentos clássicos de Star Wars, sem precisar de muletas narrativas como cópias de momentos históricos ou repetições de arcos, neste ponto, Rogue One: Uma História Star Wars é conciso e econômico, sendo equilibrado apesar dos defeitos pontuais citados.

  • Crítica | A Supremacia Bourne

    Crítica | A Supremacia Bourne

    A Supremacia Bourne

    Contrariando o desfecho positivo de A Identidade Bourne, filme anterior da franquia, o primeiro episódio dirigido por Paul Greengrass começa uma narrativa bem diferenciada de Doug Liman, tanto no clima mais pessimista estabelecido na primeira conversa de Jason Bourne (Matt Damon) e sua amada Marie (Franka Potente), quanto no modo de conduzir a câmera, com super-closes e registros em ângulos fechados, movimentados por uma mão trêmula emulando a pseudo-realidade vista em documentários. A Supremacia Bourne seria ainda mais marcante e ditaria ainda mais regras para o futuro do cinema de ação mainstream.

    A caçada se inverte, uma vez que Jason era perseguido no primeiro e se torna o agressor ao perceber que perdeu tudo o que tinha estima. O grupo, que antes o monitorava e que verificava cada um dos seus passos, passa a ser o alvo de suas habilidades de assassino nato e o senso de urgência se torna ainda mais real, especialmente nas expressões que Damon deixa transparecer ao longo de sua busca.

    Os sub-plots e aliterações dos personagens periféricos perdem força, especialmente no referente a Ward Abbott (Bryan Cox) e Nicky (Julia Stiles), que são importados do primeiro episódio para fazer ponte entre uma história e outra, sem ter absolutamente importância nenhuma em comparação com o visto anteriormente. No entanto, até a obsolescência de ambos serve bem à trama, mostrando o quão terrível e inevitável poderia ser o destino de ambos.

    Karl Urban faz às vezes de Clive Owen neste segundo filme, servindo de embate para o personagem principal como Kirill, um sujeito que também é um espelho maligno do herói. Sua presença, de certa forma, contradiz parte do argumento do primeiro longa, ainda que acrescente mais uma camada de discussão em relação à paranoia que habita o ideário da franquia Bourne, que se torna ainda mais grave e adulta graças aos temas debatidos pelo texto de Toni Gilroy.

    Se em Identidade Bourne o assunto mais profundo era a busca por uma identificação e a consequente fuga da verdade, em Supremacia é o controle da informação que gera todos os dramas, desde os pessoais até os males sociais. A sociedade moderna tem de lidar com o volume cada vez maior de dados circulando, e é esse tráfego de informação que facilita a execução dos personagens caros ao roteiro, conjecturando uma teia de dados que, ao invés de ajudar o homem, o faz caçar-se mutuamente, aumentando o receio de ter a própria privacidade e intimidade invadidas.

    A escalada narrativa em Supremacia Bourne é muito bem construída e ainda é adequada, ainda mais em relação à histeria generalizada que tomou conta dos Estados Unidos na década de 2000. Além de ser fruto de seu tempo e de estabelecer ainda mais o paradigma do herói que faz tudo sozinho, ainda une a isso uma história coesa e com conteúdo relevante, diferenciando-se assim do arquétipo dos brucutus dos anos 1980, determinando que, dali para frente, os action movies precisariam de algo a mais, seja uma abordagem temática mais redonda ou inventividade com a câmera em mãos, fatores muito abundantes nesta segunda parte da franquia.

  • Crítica | A Identidade Bourne: Renascido em Perigo

    Crítica | A Identidade Bourne: Renascido em Perigo

    A Identidade Bourne

    Um homem de origem e nome desconhecidos é encontrado à deriva, navegando sozinho e próximo de morrer. Resgatado por um navio pesqueiro, o tal sujeito é tratado por Giancarlo (Orso Maria Guerrini), um homem que cuida de suas feridas, além de acolhê-lo, sem maiores delongas ou indagações, excluindo o fato de ter extraído do corpo do estranho uma bala. O personagem de Matt Damon demora a se encontrar no tempo e espaço, ainda mais quanto a sua própria identidade, uma vez que guarda consigo uma porção de carteiras falsas. O pouco que sabe é que possui capacidades sobre-humanas e habilidades de fuga e sobrevivência irreais para os padrões comuns.

    Baseado no livro de Robert Ludlum – que já havia sido adaptado em uma minissérie de TV protagonizada por Richard Chamberlain –, A Identidade Bourne: Renascido Em Perigo foi um exercício de escapismo com superespiões, ainda que seu caráter seja de uma realidade bem mais palpável e visceral do que observada em Missão Impossível e nos filmes clássicos de James Bond, inclusive influenciando a nova faceta em 007 – Cassino Royale, já com o novo intérprete.

    Apesar de não ser o ápice da cinessérie, o diretor Doug Liman consegue imprimir todas as características ímpares do personagem e de seus dramas já neste primeiro filme, estabelecendo sua confusão mental e a dificuldade de encontrar seu código ético e motivação para viver. O encontro casual que tem com a personagem Marie (Franka Potente) serve bem ao propósito de espelhar a sensação de extrema insegurança que assola o personagem-título, servindo quase a perfeição na montagem desse paradigma de busca pela normalidade do homem, em contraponto com a completa utopia vista nas mínimas atitudes dos outros personagens, com um grupo de vilões que beira a canastrice e caricatura. Artifícios que visam um inteligente comentário social, associando a paranoia dos Estados Unidos pós-11 de setembro a algo bobo e pueril, enquanto o homem comum – no caso, Bourne – tenta virar-se como dá.

    A busca por encontrar a si mesmo faz o herói se encarar como algo bem diferente do que sua nova moral estabelece como certo e errado. O contato com Conklin (Chirs Cooper) faz com que relembre as memorias suprimidas pelo superego, enxergando finalmente a faceta que sempre lhe foi comum, justificando o motivo que o fez tentar ser resgatado. Ao ser retirado das águas, o antigo Jason Bourne estava morto, e sua nova vida deveria começar a partir dali, cortando qualquer laço com os que o viam apenas como uma máquina de matar.

    A paz alcançada no final mais se assemelha a um fantasioso prólogo, um evento entrópico na vida de um personagem que é bruto por natureza e que teria por regras o caos e a guerra, não só aventados nos sinais presentes no roteiro de W. Blake Herron e Toni Gilroy, mas também no modo com que Liman conduz as cenas, utilizando luz difusa e completamente destoante de todo o filme. Apesar de inferior em relação às sequências comandadas por Paul Greengrass, A Identidade Bourne consegue alcançar o status de um competente filme de ação, contendo cenas muito bem construídas e uma discussão filosófica madura, especialmente para uma exploitation de super espião.