Tag: Grinch

  • Crítica | O Grinch (2000)

    Crítica | O Grinch (2000)

    O Grinch é um longa natalino dos anos 2000, protagonizado por Jim Carrey e dirigido pelo boa praça Ron Howard. A trama se desenrola mostrando passado e presente do famoso personagem que odeia o Natal, por um motivo que no original era um mistério, mas que seria descoberto pela pequena Cindy Lou (Taylor Momsen).

    Lendo a sinopse, o longa parece mais uma história comum que retrata a data festiva, mas o roteiro trata de uma adaptação do escritor Dr. Seuss, famoso na literatura infantil por trazer histórias cínicas, que não tratam crianças como pessoas ingênuas e tolas. Suas mensagens divergem bastante do status quo e do conservadorismo de sua época.

    A preocupação dos estúdios era apresentar uma história sobre como o consumismo arruína o sentimento natalino, quando a história é mais que isso, dado que mostra uma personagem cuja raiz de maldade é desconhecida, e esse é um dos charmes dele, diferente desta versão.

    Mas nem tudo é negativo. Cindy representa uma variação da ideia de Seuss a respeito da perversão dos valores mais puros da sociedade. Ela questiona sua família e amigos do quanto eles se entregam para o consumismo e o quão supérfluo pode ser essa linha de pensamento, e perceber que existe outra figura que também não simpatiza com a data, no caso, o Grinch, faz ela seguir na direção dele.

    Há uma dificuldade de Hollywood em lidar com a mitologia de Seuss, em O Gato, lançado em 2003, o resultado foi tão negativo que a viúva do escritor entrou na justiça para que não houvesse mais filmes live actions baseado nesses livros infantis. A Illumination atualmente tem os direitos das histórias, e dribla essa condição fazendo filmes animados baseados nos livros do escritor, todas vazias de significado feitas unicamente para vender brinquedos e afins.

    Se o leitor estiver realmente curioso para ver obras sobre a carreira e personagens do autir, nos anos sessenta foi lançada uma série de animações para a televisão, entre elas Como o Grinch Roubou o Natal, comandada pelo mestre em animações Chuck Jones, o mesmo que ajudou a imortalizar a figura sacana de Pernalonga e outras personagens Looney Tunes na segunda metade do século XX.

    A produção é peculiar especialmente pela caracterização dos Quem. Ao passo que a direção de arte acerta na figura do Grinch e no cenário de sua casa — suja, bagunçada e cavernosa, como o interior do “monstro” — toda a arquitetura da Quemlândia é caricata, parecendo mais um parque de diversões de baixo investimento do que o lar de uma raça humanoide estranha. Não há também um equilíbrio entre os momentos mais lúdicos e o humor mais  físico. Há muitos piadas de flatulência, e elas parecem estranhas ao dividir espaço com a narração prosaica de  Anthony Hopkins.

    Ao menos a atmosfera da obra denuncia a falsa moralidade de autoridades políticas e do povo em geral, mas o preço para isso é uma abordagem que chega a irritar de tão doce que é a mentalidade dos Quem ou ao que eles pregam, já que praticamente todas as pessoas do vilarejo escondem algo. É fácil entender o Grinch, odiar essas pessoas é obrigação para qualquer sujeito honesto.

    Dr. Seuss escrevia de maneira sucinta, então para ter uma história de mais de noventa minutos foi preciso inventar muita coisa. Aqui se dá um passado trágico ao personagem, que visa explicar sua rejeição ao natal. A motivação soa banal e piora quando divide tela com as desnecessárias referências a cultura pop. A ideia de transformar o vilão em alguém que se autoflagela não era ruim, e visto a qualidade das produções posteriores das adaptações do autor, essa é a mais bem sucedida nos cinemas, especialmente por não demonizar o incompreendido, embora o Grinch não necessite de redenção ou de explicação para a raiz de seus problemas. Se isso não fosse o bastante, infelizmente, o personagem ainda fica marcado demais pelo desempenho físico de Carrey, que mesmo estando bem, ajuda a descaracterizar o personagem clássico transformando-o em outra coisa.

  • Uma Luz no Fim do Ano: O Natal e a Cultura de Massa

    Uma Luz no Fim do Ano: O Natal e a Cultura de Massa

    Não se deixe enganar: toda a dimensão mitológica do natal no cinema passa, exatamente, pela importância que essa data exerce, na nossa vida. Para Hollywood, a Coca-Cola e outros ases indispensáveis do capitalismo, o natal é mágico. Para nós, é uma data que transmite um período de compras sem fim, nos exageros mercadológicos de uma sociedade que só pensa em gastar e se endividar com chocottones e amigo secreto, mas que “na tela do cinema”, ela sempre simbolizou um doce escapismo tanto individual (Um Duende em Nova York), quanto familiar (Um Herói de Brinquedo). Na ficção, o Papai Noel tem consigo a união das famílias, e uma felicidade que aflora em dezembro, caracterizando assim o mito natalino das histórias cinematográficas nas gerações, a fio. Mais nelas do que na vida real, talvez, uma vez que o brilho do natal está, a cada ano que passa, mais ligado ao consumismo do que a qualquer outra coisa.

    Será? Para “fugir” da nossa sina de consumidores por 120 minutos, ou menos, o que esperamos sentir em um típico filme de natal? Muito além do seu peso icônico, e boas risadas, os grandes tratados sobre essa célebre data apelam para os signos visuais da festa de fim de ano, mesmo que distorcendo-os um pouco, como no caso de O Estranho Mundo de Jack, de Tim Burton, ou ainda nos terrores Trabalhar Cansa e Krampus, ótimas pedidas irônicas à ocasião. Aos subverter a sua verossimilhança, as obras provocam e pervertem nossas ideias mais básicas sobre o natal, e ao invés de esperança, são adoravelmente imprevisíveis. De repente, nossas expectativas podem recair em um Grinch, aquele que odeia jingle bells e quer acabar com a ceia de todo mundo. Nada agrada a todos, por mais conflitante que seja desprezar as mensagens de amor e paz, do feriado. Assim, é curioso a forma como o natal é retratado, e não apenas diversificado, pela cultura pop, mas isso tem a ver tanto com a data em si, quanto pela própria lógica da adoração do consumo midiático de massa.

    Sendo a celebração anual que melhor se encaixa em todos os gêneros das artes (drama, terror, comédia, aventura), também devido a força de sua simbologia universal, Hollywood em especial há muito idolatra o natal, mas sem conectá-lo a sua tônica fundamental, a religião. Isso porque a cultura pop tem como princípio esvaziar algo de sentido, e massificar essa ideia para o maior número de pessoas (e se tem algo que americano é mestre, é nisso). Desta forma, ficam intactas as mensagens do momento, e sem fazer alusão a Jesus Cristo e outras figuras emblemáticas. Ademais, ótimas animações como Klaus e Rudolph homenageiam o Papai Noel, tendo nele a representação de um ser quase que “sobrenatural”, em que nele reside a dimensão do mito, ou melhor, do período que personifica (Cristo). Um bom velhinho, generoso e incapaz do mal: Hollywood vê no barbudo a dignidade de uma época, vencendo barreiras religiosas em prol de uma audiência sem limites.

    O natal, como quase tudo, virou mais um produto, um jogo de itens, e apenas o enredo de um filme amplamente prestigiado conseguiu fugir à noção capitalista – mesmo fazendo parte do showbusiness. A importância de A Felicidade Não se Compra para com o natal, está enormemente acima das óbvias qualidades artísticas do filme de Frank Capra. Já em 1946, Capra, mestre da Era de Ouro, conseguiu encapsular de forma poderosa que a vida, e o valor de um homem e a sua comunidade, não pode estar à venda, em uma trama que envolve o natal como um momento, quase que delirante, de redenção a essa vida totalmente controlada pelo dinheiro que os americanos (e nós) vivemos. Mesmo pela ótica da fantasia, do sonho, A Felicidade Não se Compra faz-se uma fábula imbatível sobre o anticapitalismo, explorando em imagens maravilhosas a imensidão de princípios humanitários que não podem ser liquidados na black friday.

    Com um juízo de valor parcialmente esvaziado, em que quarto nós guardamos a essência do natal? Em qual baú? Resposta: nenhum. Suas tradições seguem suportadas, e resguardadas pelas compras de fim de ano, caso contrário o natal já teria virado, há muito, um Dia do Índio: ninguém comemora, mas todo mundo acha legal colocar um cocar na cabeça, como se fosse uma máscara de carnaval. Sem o capitalismo, o natal no século XXI seria esquecido (exceto por grupos religiosos), destituído do grande apelo da festa. A festa dos presentes, em primeiro lugar, ainda que no cinema e na publicidade suas mensagens sejam preservadas, em troca do lucro. Se n’A Felicidade Não se Compra, o natal serve para inspirar James Stewart a encarar a vida e a família com coragem, e menos lamentação, na dimensão paralela a ficção, o natal ainda pode servir para encerrar longas brigas familiares, longas distâncias, e reatar ou reafirmar os laços mais importantes das nossas vidas, como seres pensantes e emotivos que somos.

    O natal vive, existe, e não apenas como memória ou experiências de faz de conta. E muito por causa do fascínio que há nele, seja pelas férias no trabalho, seja pelas suas luzes no fim do ano. Luzes que iluminam o nosso presente após tantas batalhas vencidas ao longo dos meses, e o nosso caminho aos eventos desconhecidos que estão por vir, imitando a arte, e vice-versa. O futuro das histórias natalinas no cinema segue concordante aos caminhos realistas do mundo, valendo-se das liberdades que a arte tem para, ora simbolizar as tradições típicas dessa época pela fantasia e aventura, ora reverenciando os contornos reais da nossa vida pelo drama e comédia.

    Agindo como uma defesa acessível ao lado idílico, humanitário e esperançoso do natal, o cinema (historicamente mais atraente às massas que os livros) reproduz o espírito natalino entregando escapismo, e garantindo com isso boa parte da longa vida, da magia revitalizadora, e da perpetuação da energia (ainda que panfletária, hoje em dia) do natal. Porque de Grinch, já basta a realidade.

  • Crítica | Um Duende Em Nova York

    Crítica | Um Duende Em Nova York

    Apesar do nome diferente, Um Duende em Nova York trata de elfos, e começa com uma apresentação do Papai Elfo, interpretado por Bob Newhart, falando a respeito dos três trabalhos que cabem aos seres dessa raça, que vem a ser: fazer sapatos a noite enquanto o sapateiro dorme, fazer biscoitos em árvores, e o emprego das elites, fabricar brinquedos no ateliê do Papai Noel. O especial infantil com roteiro de David Berenbaum tem uma apresentação animada, que mostra vários desses seres lidando com as festividades de natal.

    No Brasil, convenciona chamar os seres pequenos de duendes ou gnomos, até para diferenciar o “elf” dos elfos de J.R.R. Tolkien em Senhor dos Anéis, seres poderosos e imortais, diferente dos quase pigmeus das fábricas do Papai Noel. Logo, aparece Buddy, um humano que nasce no Polo Norte e que é adotado por Noel logo cedo, e que é treinado para ser um elfo. Ele cresce e se torna o astro de comédia pastelão Will Ferrell, cujo humor escatológico o faz um não candidato a contos infantis, naturalmente, mas curiosamente, ele casa bem, principalmente por conta do dueto que faz com o narrador Papa.

    Logo o paradigma do filme muda, quando Buddy é incumbido de procurar seu pai, Walter (James Caan), na cidade de Nova York, um homem de negócios importante que não tem tempo para ele e nem para ninguém. Nesse meio tempo, ele trata de andar pela metrópole, interpretando o perfeito idiota que normalmente faz, e o palco de seu novo emprego é perfeito cenário para esse teatro dele.

    O fato de Buddy ser completamente alheio a tudo o faz parecer uma criança, sua alienação não o faz estranhar, por exemplo, o fato de andar com roupas élficas o tempo todo. As loucuras como as guerrs de bola de neve não o fazem estranhar, ao contrário, ele é especialista nesse tipo de conflitos. Por não entende ironia, sarcasmo ou qualquer coisa que o valha, o elfo simplesmente não tem capacidade de compreensão para perceber como funciona o rito do natal ensaiado nos shoppings, quando se fala que haverá um Papai Noel ele acredita que é O Original, e toda essa literalidade gera ótimos momentos no filme. A aproximação que o personagem central tem dos seus rivaliza com a magia da fantasia realista que se estabelece em torno dos personagens natalinos, e o modo como Favreau apresenta esses aspectos lúdicos são muito bonitos, contendo tudo o que Meu Papai é Noel tentou estabelecer ao longo dos seus múltiplos filmes, com pouquíssimo tempo de tela.

    Tudo que envolve os momentos finais é bem bonito e grotesco em simultâneo, a variação entre o mágico e o escrachado funciona de maneira singular. Buddy alcançar seu intento, de ser um bom auxiliar da festa natalina, a sociedade lida bem com a realidade de que o Papai Noel existem e até os números musicais fazem sentido. Há alguns problemas com a computação gráfica, principalmente nas renas que fazem o trenó voar pela cidade símbolo dos EUA, mas o filme sabiamente não foca muito nelas, deixando com que Ferrell e seus colegas de elenco capturem a atenção das crianças e dos demais espectadores.

    Um Duende em Nova York é quase como um anti Grinch, e curiosamente guarda bastante semelhanças com o humor ácido dos livretos do Dr. Seuss, embora seja mais para o público geral que os livros infantis do autor citado, e tenha um caráter mais generalista, mas ainda assim contém uma mensagem otimista bem bonita e que foge da ideia materialista do natal, mesmo com os presentes sendo um objeto bem importante de sua trama, mesmo sendo uma ode a glutonaria tipica das festas de fim de ano, mesmo sendo focado num personagem que claramente sofre de retardos mentais.

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  • Crítica | O Grinch (2018)

    Crítica | O Grinch (2018)

    A clássica história do Dr. Seuss sobre como um ser desprezível tentou roubar o natal da Quemlândia ganhou em 2018 um remake dos estúdios da Ilumination – mesma empresa responsável por Meu Malvado Favorito e Minions: O filme. O conto de natal, que já havia sido adaptado para televisão em 1966 e para o cinema no ano 2000, é apresentado nessa nova versão de uma forma mais fofinha e colorida. O Grinch segue a linha de outros filmes animados do estúdio, com um roteiro pouco imaginativo e com mudanças cruciais nos personagens do livro.

    Claro que certas mudanças e adições ao roteiro são necessárias, pois o livro original é bem curto – afinal, é feito para crianças – e o filme deixa muito espaço para se preencher em seus 90 minutos além da história básica. No entanto, muito do que foi acrescentado está lá apenas para fazer volume ao longa, como a rena Fred, que não faria falta alguma se fosse retirada do filme. O personagem título é bastante diferente de sua concepção original. No livro e nas duas outras adaptações, Grinch é um ser cruel e detestável, que odeia o natal com todas as suas forças. No novo filme, nem tanto. Grinch não parece odiar o feriado, mas sim guardar um ressentimento devido a um trauma de infância, o que faz com que desde o começo o público possa se identificar melhor com o personagem. Não odiamos o Grinch nesse filme, temos empatia por ele. Ele demonstra o tempo todo querer participar do natal, e isso se reflete em suas expressões faciais, seu olhar e seu esforço para odiar algo que claramente ele deseja. O Grinch do estúdio dos minions é menos rabugento e mais “recalcado”.

    A história começa no dia 20 de novembro, quando toda a Quemlândia está animada se preparando para o natal, enfeitando as casas e ensaiando corais. O tempo de cinco dias para o natal acaba sendo desnecessariamente longo e faz com que tenhamos várias cenas de café da manhã, que servem basicamente para mostrar a subserviência do cãozinho Max – muito mais jovem e ativo do que suas outras versões. Nesse meio tempo, Grinch visita a vila dos Quem e, ao invés da aversão odiosa aos elementos natalinos, ele parece ter algum tipo de fobia, fugindo de um grupo de coristas. Suas “maldades” não passam de pequenas traquinagens pueris – talvez com uma dose bem pequena de sadismo – mas ainda assim insignificantes. Quando Grinch finalmente resolve “roubar o natal”, ainda temos um bom tempo de tela sendo preenchido com os planos e um arco sobre a rena Fred que, como já citado, não leva a nada.

    Talvez o roubo do natal seja a parte mais interessante do filme, pois é seu momento mais criativo. O Grinch dessa película é uma espécie de “engenhoqueiro”, e utiliza todos os tipos possíveis de gadgets para realizar a façanha. Em paralelo, acompanhamos a história da família da pequena Cindy-Lou Quem e seu plano para prender o Papai Noel – a quem ela tem um pedido importante a fazer que acaba sendo o motivo da redenção final do personagem título.

    O ritmo alucinante deixa pouco tempo para introspecção e dá a impressão de que a história não pareça tão esticada. A trilha sonora assinada por Danny Elfman acerta poucas vezes, na maioria ao emular as faixas apresentadas na versão de 1966 – embora a versão de You’re a mean one, Mr. Grinch, do rapper Tyler, tenha ficado bastante dissonante com o restante. Quanto às vozes, nada que justificasse o alarde em torno de Benedict Cumberbatch ou do brasileiro Lázaro Ramos na versão dublada. Embora ambos tenham realizado um bom trabalho, essa versão não apresenta uma voz tão marcante e com tantos trejeitos quanto a do filme de 2000.

    Claramente, a Illumination criou sua própria estética visual baseada nos livros do Dr. Seuss, mais alegre e fofinha. Nisso, o filme se aproxima muito de outras obras do estúdio baseadas no autor, como Horton e o Mundo dos Quem e O Lorax: Em Busca da Trúfula Perdida. Temos então uma versão fofinha, limpinha e sanitizada do personagem que deveria ser asqueroso e rabugento. O Grinch da Illumination é um cara legal que está um pouquinho confuso, demonstra afeto e carinho ao seu fiel companheiro Max e respeita uma rena caçada nas montanhas. Adultos devem facilmente se cansar do filme, mas para o público infantil, O Grinch pode se tornar um novo Meu Malvado Favorito.

  • Review | Como o Grinch Roubou o Natal

    Review | Como o Grinch Roubou o Natal

    No ano de 1966, Chuck Jones dirigiu uma das adaptações mais fieis a obra de Dr. Seuss, o famoso escritor infantil. O especial de televisão em curta-metragem de apenas vinte cinco minuto chama-se Como O Grinch Roubou o Natal é extremamente colorido, e mostra a terra dos Quem, a Quemlândia (Whoville) se preparando para a chegada das festas de fim de ano, com uma cantoria bem bonita, que conta com letra de Seuss e harmonia de Albert  Hague.

    Foi nessa versão que a criatura do Grinch foi mostrado como um ser verde, pois nos livretos, ele era sem cor. A maldade que o personagem dublado por Boris Karloff é um mistério, tal qual é na obra original, e a produção de Jones e Ted Geisel até teoriza o motivo dele ser assim, talvez por conta dos sapatos apertados, ou de ter um parafuso a menos, ou por ter um coração menor que o da maioria.

    O fato de não responder a tudo é uma escolha brilhante do roteiro de Irv Spector e Bob Ogle (que nos créditos, são marcados como escritores de historia adicional e não como roteiristas, de tão fiel e com poucos acrescimos que é o texto), pois para as crianças, não é necessário saber de absolutamente todos os detalhes das historias de contos de fadas preferidos. Seuss nunca subestimou seu leitor, sempre o tratou de igual para igual mesmo que a idade do público, seja leitor ou espectador fosse diferente da sua e esse talvez seja o maior diferencial desta versão para a de Ron Howard e Jim Carrey e ainda mais a da Illumination, que é feito claramente para vender merchandising, algo que vai no inverso da ideia central das obras do escritor.

    O natal que Seuss pinta é uma desconstrução do consumismo desenfreado, aliás esse talvez seja um dos motivos pelos quais protagonista odeie tanto a época natalina, pois o lugar comum sobre o natal mostra todos comemorando com uma alegria fabricada, fazendo uso de uma felicidade comprada em prestações e regada por presente de uma figura mitológica que sequer existe. Grinch não é menos mesquinho que qualquer Quem, ele utiliza Max, seu cachorro como escravo, seja na confecção da roupa de Papai Noel, como também para conduzir o trenó, uma vez que as renas já estão extintas na literatura.

    Sendo detestável, o ser maligno rouba não só os presentes, mas também os biscoitos, as fitas, embrulhos,  material de decoração, absolutamente tudo e diferente das outras versões, os Quem aqui são inofensivos, só vivem suas vidas, não fazem mal a ninguém, ele só faz isso porque quer fazer, porque sente algum tipo de prazer em subtrair alegria. Mas a surpresa do personagem principal é notada após a cantoria dos habitantes da vila, quando eles continuam cantarolando os versos natalinos, mesmo sem ter os presentes para tocar, ou sem fitas, etiquetas e embrulhos.

    Seuss pensa sobre as datas festivas de maneira profunda, mas não sente qualquer anseio em mastigar isso para as crianças, ou fazer juízo de valor de maneira gratuita. O Grinch evolui sozinho, sem lição de moral, mostrando uma redenção sentimental, que simboliza o crescimento de seu coração e claro, retorna os presentes e as comidas, para enfim celebrar as festividades que simbolizam a união das pessoas e dos povos como jamais havia feito. A tradução que Jones e Geisel acerta por ser bem literal mesmo, já que o sub texto é melhor digerido pelas crianças e adultos quando se permite a eles consumirem ele puro e sem firulas. A tolice de querer colocar sub tramas e encheção de linguiça é pura futilidade e de certa forma, mata a ideia de Seuss de falar sobre festas e como reagir ao consumom criticando-as de maneira simples e direta  como o livro faz milimetricamente.

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  • 10 Filmes Com Temática Natalina

    10 Filmes Com Temática Natalina

    Filipe Pereira, Doug Olive, David Mattheus e Bernardo Mazzei resolveram fazer um revival do post Top 10 Filmes de Natal, de 2012, citando filmes marcantes que utilizam a temática do Natal.

    Batman: O Retorno, de Tim Burton (por David Mattheus Nunes)

    O sucesso de Batman, em 1989, permitiu que o diretor Tim Burton alçasse um voo mais alto na continuação da saga do Homem-Morcego. Com um elenco ainda mais estrelado que o de seu antecessor, que contava com Danny DeVito na pele de Oswald Cobblepot, o Pinguim; Michelle Pfeiffer, sensualíssima, vivendo Selina Kyle, a Mulher-Gato; e Christopher Walken, como Max Shreck. A trama, que se passa durante a época natalina, é marcada pelo retorno de Cobblepot a Gotham City, sendo considerado a salvação da cidade, uma vez que impede o sequestro do filho do prefeito, algo que foi arquitetado pelo próprio Oswald, contando com a ajuda de Max Shreck, que quer colocar o Pinguim como prefeito de Gotham. Em paralelo, a jovem secretária Selina Kyle descobre os planos malignos de Max e é jogada do alto de um prédio, sobrevivendo à queda. Selina, uma solteira azarada no amor e que sofre da tradicional síndrome da “louca dos gatos”, se apaixona pelo Batman a ponto de se aliar ao Pinguim para matar o Morcego. O filme tem o estilo de Burton, bem mais acentuado, acrescentando um visual mais gótico a Gotham City. É também uma fita mais violenta, acompanhada de um sarcasmo bastante peculiar e certeiro, o que faz com que certos momentos sejam memoráveis, principalmente aqueles em que Pfeiffer está em cena, como o arco do assassinato de Selina Kyle e sua transformação, ou o momento em que ela engole um passarinho do Pinguim, ou o beijo eletrizante dado em Max ao final do terceiro ato. DeVito não fica atrás, mas seu personagem parece caber mais como um alívio cômico mimado, com sua coleção de guarda-chuvas ou seu patinho no melhor estilo fliperama. Em contrapartida, seu visual é asqueroso, o que contribui com o visual o qual o filme propôs. Infelizmente, Batman: O Retorno tem alguns momentos bem fracos, mas, sem dúvida, colocou o Batman para trabalhar na noite de Natal.

    Gremlins, de Joe Dante (por Filipe Pereira)

    Após algumas viagens ácidas pelo mundo dos filmes trash de Roger Corman, Joe Dante começa a adentrar no cinema familiar se juntando a Chris Columbus para produzir Gremlins. Com uma forte influência de A Pequena Loja de Horrores, o filme conta a história de um pai que pensa em um criativo presente de Natal para seu filho, dando-lhe alguns animais de pequeno porte, fofos em essência, mas que guardam um potencial destrutivo tremendo. O poderio do caos das criaturas pode ser analisada no viés da infantilidade exacerbada, repleta de travessuras, como também de uma rasa metáfora com a voracidade do capitalismo selvagem e destrutivo, em uma data que deveria significar o renascer de uma figura ecumênica.

    Feliz Natal, de Selton Mello (por Doug Olive)

    Um filme amargo e cínico – no bom sentido. Antítese sob forma de mural do espírito do Natal, mural de relações humanas alheio a Frank Capra, mas se apoiando em Iñarritú numa versão alternativa e não radicalmente contrária ao belo e lenitivo sentido familiar dos clássicos apaziguadores de Ozu e Capra, o próprio. Qualquer diretor que no primeiro filme aposta mais na linguagem visual que na literal merece respeito, afinal isso não é garantia de sucesso ou aceitação, e Selton Mello se dá notavelmente bem sendo esse seu primeiro tiro ou décimo, em termos de harmonia a favor da desarmonia de personagens desequilibrados, todos se aturando em convívio cínico – daí o cinismo já apontado – no reencontro em uma festa que era pra ser tão diferente do que acaba sendo em muitas famílias, lares afora. Feliz Natal trata cada figura como mundos em colisão, pois de cada choque é oriunda sua presença válida em muitas listas natalinas, subversivas ou não, ao leve contexto da festa. O fim de ano foi o começo da expansão de Selton, de ator a cineasta, para a direção do quadrante onde o artista se ergueu.

    Rocky IV, de Sylvester Stallone (por Filipe Pereira)

    O mais galhofado filme da franquia – ao menos até então – do boxer ex-fracassado tem na gélida Rússia o seu cenário principal, lembrando o estado de nevasca típica da propaganda do American Way of Life em tempos  de 25 de dezembro. A vitória de Rocky Balboa é fechada com um discurso de conciliação, semelhante ao estado de hipocrisia de muitas mesas familiares pelo mundo.

    Papai Noel às Avessas, de Terry Zwigoff  (por Bernardo Mazzei)

    Totalmente oposta ao conceito de filmes natalinos, essa comédia de humor negro, dirigida por Terry Zwigoff e produzida pelos irmãos Coen, traz Billy Bob Thornton em uma inspirada interpretação de um vigarista beberrão, viciado em sexo e que trabalha como Papai Noel em shoppings e lojas apenas para roubá-los depois. Apesar do título brasileiro meio infantil, o filme é totalmente voltado ao público adulto, com gags bastante pesadas e diálogos bem ofensivos. A obra merece ser apreciada por quem gosta de uma boa comédia e não é um hipócrita entusiasta do politicamente correto.

    O Expresso Polar, de Robert Zemeckis (por Filipe Pereira)

    Contando uma história bastante clássica, O Expresso Polar remonta a uma orfandade não literal ao apresentar um protagonista sem fé infantil, desacreditado no arquétipo do Papai Noel e do Natal em geral. Baseado no conto de Chris Van Allsburg, o filme de Zemeckis é leve, como toda sua filmografia, e marcou época por ser a primeira fita totalmente digitalizada em captura de filme, pressuposto que abriu as portas para inúmeras outras obras, como As Aventuras de Tintim.

    O Grinch, de Ron Howard (por Doug Olive)

    Quem vê Jim Carrey como o Grinch não esquece. Difícil afirmar que esta seja a sua melhor atuação, mas ser inesquecível debaixo de duas toneladas de maquiagem não faz da afirmação um exagero. Uma caricatura sadia nos limites do cômico e do overacting, uma corda-bamba entre extremos que Carrey transita sem aparentes dificuldades, quase que de forma natural devido ao carisma do comediante. O ator é a alma da adaptação poética, e muito bem produzida, do livro infantil do escritor Dr. Seuss, não devendo em nada ao material de origem, sendo, tal qual o livro, um exercício de graça e comicidade e que, se houvesse caído nas mãos de Tim Burton, talvez seria um exagero. O forte sentido natalino e extrovertido se deve também à versatilidade do cineasta Ron Howard, que consegue ter o hilário O Grinch e o sério (e seu melhor) Frost/Nixon no mesmo currículo. Mas, diferente do chato O Código da Vinci, fábulas descompromissadas e de caráter universal como essa, um patinho feio verde que se orgulha de ser o que é, sempre terão o seu lugar.

    Um Herói de Brinquedo, de Brian Levant (por Bernardo Mazzei)

    Depois de enfrentar alienígenas assassinos, cyborgs de metal líquido, ser irmão gêmeo de Danny DeVito e se transformar num tira no jardim de infância, Arnold Schwarzenegger enfrenta um enorme desafio: comprar o brinquedo mais procurado dos EUA na véspera do Natal. Comédia leve com algumas situações divertidas (e uma ode ao consumismo), Um Herói de Brinquedo não é das mais inspiradas películas sobre o feriado natalino, mas compensa pelo fato de vermos Arnoldão desfilando sua sublime canastrice no papel de um homem normal. Vale uma espiada.

    De Olhos Bem Fechados, de Stanley Kubrick (por Doug Olive)

    Kubrick e sexo, só faltou o rock’n roll, que não iria combinar com o clima de suspense e subclima de terror em De Olhos Bem Fechados – um piano de notas apreensivas veio mais a calhar como trilha-sonora impecável, compondo-se, entre inúmeros elementos, uma tortuosa escada de surpresas, sempre pra baixo e sob hipótese nenhuma pra cima. O mundo acontece debaixo do tapete, e, após o personagem de Tom Cruise ver o que pessoas… normais, digamos, não precisam ou devem ver, ele nunca mais andou na rua, na reles superfície de uma Terra profunda, em paz. De segredo em mistério, o filme é um striptease europeu em Nova York. É o casamento sensorial e audiovisual de 2001 – Uma Odisseia no Espaço com Da Vida das Marionetes, visto serem os truques de câmera, a cor, o clima tenso crescente, a sensação de insegurança e o jeito elegante e emocionalmente rígido de Kubrick e Bergman de se contar uma história, os responsáveis por tornar a atmosfera asfixiante do filme a obra mais perturbadora do diretor – aluno de si mesmo ao usar em seu derradeiro filme conceitos próprios, de O Grande Golpe a Barry Lyndon. Um grande filme conjugal, obra almejada por David Fincher ao nos apresentar seu Garota Exemplar 15 anos depois, e acima de tudo, ironicamente à luz dos pisca-piscas de Natal sobre a oculta solidão humana em mina bergmaniana, na qual poucos pisaram sem detonar a própria reputação.

    A Origem dos Guardiões, de Peter Ramsey (por Filipe Pereira)

    A animação de 2012 reúne personagens de múltiplas culturas, ligados, entre outras coisas, a célebres datas. O Papai Noel abre mão do egoísmo para agir junto ao Coelho da Páscoa, Fada do Dente e Sandman, que, juntos, protegem a infância e a inocência típica da idade. A valorização da ingenuidade prioriza a pureza de espírito em uma fita que consegue entreter satisfatoriamente crianças e adultos.