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  • Crítica | O Grinch (2000)

    Crítica | O Grinch (2000)

    O Grinch é um longa natalino dos anos 2000, protagonizado por Jim Carrey e dirigido pelo boa praça Ron Howard. A trama se desenrola mostrando passado e presente do famoso personagem que odeia o Natal, por um motivo que no original era um mistério, mas que seria descoberto pela pequena Cindy Lou (Taylor Momsen).

    Lendo a sinopse, o longa parece mais uma história comum que retrata a data festiva, mas o roteiro trata de uma adaptação do escritor Dr. Seuss, famoso na literatura infantil por trazer histórias cínicas, que não tratam crianças como pessoas ingênuas e tolas. Suas mensagens divergem bastante do status quo e do conservadorismo de sua época.

    A preocupação dos estúdios era apresentar uma história sobre como o consumismo arruína o sentimento natalino, quando a história é mais que isso, dado que mostra uma personagem cuja raiz de maldade é desconhecida, e esse é um dos charmes dele, diferente desta versão.

    Mas nem tudo é negativo. Cindy representa uma variação da ideia de Seuss a respeito da perversão dos valores mais puros da sociedade. Ela questiona sua família e amigos do quanto eles se entregam para o consumismo e o quão supérfluo pode ser essa linha de pensamento, e perceber que existe outra figura que também não simpatiza com a data, no caso, o Grinch, faz ela seguir na direção dele.

    Há uma dificuldade de Hollywood em lidar com a mitologia de Seuss, em O Gato, lançado em 2003, o resultado foi tão negativo que a viúva do escritor entrou na justiça para que não houvesse mais filmes live actions baseado nesses livros infantis. A Illumination atualmente tem os direitos das histórias, e dribla essa condição fazendo filmes animados baseados nos livros do escritor, todas vazias de significado feitas unicamente para vender brinquedos e afins.

    Se o leitor estiver realmente curioso para ver obras sobre a carreira e personagens do autir, nos anos sessenta foi lançada uma série de animações para a televisão, entre elas Como o Grinch Roubou o Natal, comandada pelo mestre em animações Chuck Jones, o mesmo que ajudou a imortalizar a figura sacana de Pernalonga e outras personagens Looney Tunes na segunda metade do século XX.

    A produção é peculiar especialmente pela caracterização dos Quem. Ao passo que a direção de arte acerta na figura do Grinch e no cenário de sua casa — suja, bagunçada e cavernosa, como o interior do “monstro” — toda a arquitetura da Quemlândia é caricata, parecendo mais um parque de diversões de baixo investimento do que o lar de uma raça humanoide estranha. Não há também um equilíbrio entre os momentos mais lúdicos e o humor mais  físico. Há muitos piadas de flatulência, e elas parecem estranhas ao dividir espaço com a narração prosaica de  Anthony Hopkins.

    Ao menos a atmosfera da obra denuncia a falsa moralidade de autoridades políticas e do povo em geral, mas o preço para isso é uma abordagem que chega a irritar de tão doce que é a mentalidade dos Quem ou ao que eles pregam, já que praticamente todas as pessoas do vilarejo escondem algo. É fácil entender o Grinch, odiar essas pessoas é obrigação para qualquer sujeito honesto.

    Dr. Seuss escrevia de maneira sucinta, então para ter uma história de mais de noventa minutos foi preciso inventar muita coisa. Aqui se dá um passado trágico ao personagem, que visa explicar sua rejeição ao natal. A motivação soa banal e piora quando divide tela com as desnecessárias referências a cultura pop. A ideia de transformar o vilão em alguém que se autoflagela não era ruim, e visto a qualidade das produções posteriores das adaptações do autor, essa é a mais bem sucedida nos cinemas, especialmente por não demonizar o incompreendido, embora o Grinch não necessite de redenção ou de explicação para a raiz de seus problemas. Se isso não fosse o bastante, infelizmente, o personagem ainda fica marcado demais pelo desempenho físico de Carrey, que mesmo estando bem, ajuda a descaracterizar o personagem clássico transformando-o em outra coisa.

  • Crítica | O Show de Truman: O Show da Vida

    Crítica | O Show de Truman: O Show da Vida

    O Show de Truman: O Show da Vida narra a história de Truman Burbank (Jim Carrey), um sujeito cuja vida inteira foi vigiada e transmitida a partir de um experimento bizarro, transformado em programa de televisão. Dirigido por Peter Weir (o mesmo de Sociedade dos Poetas Mortos), a trama se desenrola lentamente, sem grandes exposições, dando pistas ao público de como funciona esse paradigma caótico e de como a sociedade civil vê o experimento.

    A realidade proposta não é muito diferente da nossa, seja pelas ações de empresários ligados ao ramo da comunicação, visto principalmente no criador do programa Christoff (Ed Harris), ou nos espectadores que acompanham atentos cada momento do cotidiano da pequena ilha de Seahaven, em especial na performance do protagonista do show.

    A situação de rotina de Truman é incômoda, mesmo antes dele perceber que algo está errado. O tempo todo o personagem parece ter o desejo de fuga daquele paradigma de vida perfeita. Nada parece real. Fazendo um paralelo com outra produção que discute a realidade e a ficção, em Matrix , o personagem Agente Smith (Hugo Weaving) afirma que humanidade não suporta um mundo, seja simulado ou real, onde apenas a felicidade ocorre. E embora Burbank não saiba o que acontece consigo, claramente tem a percepção de que algo está errado.

    Carrey desenvolve bem o papel de homem que perde o controle aos poucos, prestes a entrar em colapso. Mas não por conta de um trauma, mas sim por mero acaso, pelo comum a uma existência ordinária. No roteiro de Andrew Niccol a distância entre paranoia e realidade é tênue para Truman. Devaneios parecem presságios. Há prazer por parte dos telespectadores para que ele descubra algo, uma curiosidade quase incontrolável que faz com que todos fiquem ávidos por assistir passivamente os dias de uma pessoa que mesmo desconhecida compartilha de uma intimidade forçada. Mesmo que a maior parte desses momentos sejam ordinários, como são os cotidianos de pessoas normais.

    O Show de Truman mistura simulacro com reality show em uma época em que esse tipo de programa não era tão popular. Na análise de pessoas pretenciosas há uma comparação que não cabe no drama exibido com a alienação causada a quem assiste reality shows de confinamento, especialmente quando esses consomem a atenção das pessoas massivamente.

    Aqui a tragédia de alguém se torna um espetáculo, uma exibição da intimidade sem escolhas. Não há curtição alguma e sim a sensação de estar sendo enganado. O argumento que põe esta obra e os realities em perspectiva é bobo, tenta colocar o entretenimento em castas completamente desnecessárias. O final do longa exala poesia. Toda a condução de Weir ajuda a favorecer o modo que o protagonista vê a vida, mesmo que na maior parte dela seu livre arbítrio tenha sido conduzido. O roteiro de Niccol faz comentários sobre os conceitos de Sociedade de Consumo do marxista Guy Debord e os eleva a um nível que se torna palpável. No entanto, não abre mão de enxergar as contradições do que é ser humano. Os mesmos que sustentavam o sistema que escravizava Burbank também comemoram sua saída, alguns até mudam de canal após tudo acabar, procurando novas formas de gastar seu tempo, pois é para isso que vemos televisão, fugirmos de nossas próprias misérias.

  • Crítica | Os Fantasmas de Scrooge

    Crítica | Os Fantasmas de Scrooge

    Ebenezer Scrooge (Jim Carrey) é um senhor de idade avançada, rabugento e de caráter duvidoso. Nas primeiras cenas de Os Fantasmas de Scrooge ele observa o corpo de Jacob Marley, um antigo amigo que faleceu. Sovina, ele demora a pagar o agente funerário que prestou os serviços finais ao seu antigo sócio, e isso dá um pouco a dimensão de quem ele é. Dentre as muitas versões de Um Conto de Natal, de Charles Dickens, agora conduzida por Robert Zemeckis, esta é certamente a mais focada em estabelecer a personalidade do seu protagonista como a de um homem amargurado.

    Esta adaptação é bastante parecida com o longa em live action de 1984, Um Conto de Natal de Clive Donner, onde o personagem central é vivido por George C. Scott, que claramente é o molde para esse Ebenezer. Tal qual foi com O Expresso Polar, filme lançado em 2004, esse também se utiliza da técnica de captura de imagem para produzir os movimentos de seus personagens. Aqui os personagens humanos são ligeiramente melhor encaixados e menos estranhos do que foi no filme anterior.

    O conflito do filme se dá com qualquer pessoa minimamente sentimental, discutindo com o velho reclamão a respeito de seus hábitos isolacionistas. Um parente o chama para quebrar sua rotina de amargura e venha cear com eles na véspera do natal, seus empregados pedem mais tempo para ficar com a família, seus vizinhos cantarolam hinos natalinos, mas ele segue frio e gélido. Praticamente todas as pessoas amam a atmosfera natalina, confraternizam e brincam nas ruas, menos Scrooge.

    Se a animação com os coadjuvantes prossegue esquisita (principalmente os adultos que andam na periferia do protagonista), aos menos os fantasmas são bem detalhados. Suas formas espectrais tem cores vivas, e Carrey mesmo em baixa e longe dos sucessos indiscutíveis de anos anteriores consegue fazer ótimos papéis, no plural. Ele é bastante exigido, uma vez que atua não só como Scrooge, como é também os espíritos que o assolam. Por mais terror que eles causem no velho, é impossível não rir com cada um deles. Toda a jornada nesse sentido é fluida, e não causa tanto estranhamento quanto as outras empreitadas de Zemeckis nesse estilo de narrativa.

    A mensagem que Dickens passou em seu conto era bastante cabível, mas a lenda de Scrooge é um bocado vaidosa e sovina até na reflexão e arrependimento que Ebenezer tem. Ao menos no que toca as partes onde ele se compadece de seu empregado Bob Cratchit e tenta justificar para que as pessoas percebam sua mudança, antes de finalmente partir e se unir ao seu antigo sócio. Zemeckis tenta revitalizar isso para uma atualidade, mas não consegue cem por cento, ainda assim, a forma como ele trata o conto antigo é carinhosa e sentimental, resultando em uma mensagem que ao menos prega o bem final, mesmo que deixe a amarga sensação de quem os fins justificam os meios.

  • Crítica | Número 23

    Crítica | Número 23

    Após uma parceria  em Batman Eternamente o diretor Joel Schumacher e o ator Jim Carrey se reencontram, em momentos distintos de suas carreiras, ambos passando por um certo ostracismo após o auge de seus trabalhos. O filme de suspense e terror se baseia na história de Walter Sparrow (Carrey), um sujeito afetuoso, e que representa isso até na natureza de seu trabalho de domador de cães e motorista de uma van que trata animais domésticos. Aos poucos, a história do chefe de família se desenrola e o público passa a conhecer melhor o sujeito.

    Numero 23 tem uma versão para o cinema e outra, sem cortes (que vem a ser essa analisada) a narrativa entre ambas não é tão diferente, com ambas se focando bastante no núcleo familiar, cujos parentes amam muito o sujeito, a começar por sua esposa Agatha (Virginia Madsen), que compra para ele um livro velho, de capa vermelha e de mesmo nome que o filme. Também é mostrado o trabalho dele, cuidando dos cães, com ele eventualmente se machucando com a mordida de um deles, todos elementos para demonstrar o quanto ele é um homem bom.

    Dado o nível de paranoia em os dois terços finais do filme se insere, é possível pensar que o são bernardo que o mordeu passou para ele alguma doença, como raiva ou uma variação mais forte dessa. Caso seja a levada a sério, essa teoria põe o filme lado a lado com Cujo, clássico de Stephen King cujo terror em livro e filme mora em um cachorro descontrolado e assassino, sendo que aqui, esse animal “só” teria passado algo a Sparrow, como  raiva, que resultaria na paranoia e insanidade que se desenrolaria nos próximos momentos.

    A narração presente no filme incomoda demais, a tentativa de emular a narrativa literária não combina muito com o caráter de thriller. Ao ler sobre a historia de Fingerling, o personagem do livro há algumas dramatizações da imaginação do protagonista, de como seriam os dias do personagem, encontrando paralelos entre a vida dele e a que ele lê no romance. As meras coincidências passam a parecer coincidências cósmicas, fruto é claro de uma imaginação fértil e de uma condução narrativa tola e infantil, dado que nem o caráter nonsense consegue ser bem aludido na obra.

    Há quem elogie o filme afirmando que tirando as teorias da conspiração, a obra é agradável, mas a realidade é que sem as ilações levantadas não sobra história em Número 23. A tentativa de Carrey em atuar como um sujeito obcecado e sombrio, todo o núcleo familiar que embarca nessa empreitada tosca e falida, nada faria sentido e o acúmulo de acasos que tentam fazer parecer que tudo aquilo é parte de um destino antes traçado faz com que tudo soe bobo, pontuado ainda por aspectos técnicos bem mal pensados, como a fotografia sempre escura e sem requintes e qualidades, além de atuações tão exageradas que beiram uma comédia involuntária.

  • Crítica | O Máskara

    Crítica | O Máskara

    Fruto de um negocio envolvendo a editora de quadrinhos Dark Horse e a New Line Cinema, O Máskara de Chuck Russell reimagina a origem do anti herói das HQs de Doug Mahnke e John Arcudi com um viés bem diferente do hiper violento dos quadrinhos, suavizando o roteiro – que ficou a cargo de Mike Werb – para se encaixar no astro em ascensão Jim Carrey. Seu início mostra um grupo de mergulhadores, em Edge City, se acidentando (e possivelmente morrendo) não sem antes liberar um baú, onde uma mascara verde chega a boiar no mar.

    Logo, aparece o entediante porém charmoso bancário Stanley Ipkiss de Carrey. No original, ele era um sujeito odiável, digno de desprezo por culpar as minorias por seus problemas, aqui, ele é igualmente solitário, mas causa encanto e pena nas mulheres que o cercam, entre elas a bela femme fattale Tina Carlyle, de uma Cameron Diaz deslumbrante em seu início de carreira.

    O filme é muito rápido, estabelece logo para quem o espectador deve torcer, mostrando o cotidiano de um homem sem graça mas que também tem grandes valores, curiosamente lançado dois anos após Aladdin da Disney, em comum há o caráter dos dois personagens, embora Stanley seja muito mais tímido e menos proativo, considerado facilmente como o responsável por seus fracassos já que não consegue resolver nem os pequenos problemas que tem

    Stanley só acha a mascara por conta de seu inferno pessoal, após ter sua entrada no único lugar de entretenimento da cidade, após também ter um infortunado encontro com a garota dos seus sonhos. O carro que estava consigo se desfaz, e o cenário vira melancólico o suficiente para que ele desse fim a sua vida, mas ele tem essa situação interrompida com uma missão nobre, onde ele encontra o artefato que mudaria sua vida por acaso e também por solidariedade. Possivelmente o Máskara só é um herói graças a boa índole de diamante bruto que é Ipkiss.

    A vida de Stan passa a mudar após uma barracão em sua boate favorita, o Coco Bongo, quando está tentando voltar para casa e é atraído pelo artefato. A quantidade de informações e de características dos personagens centrais que são apresentadas em apenas 18 minutos é enorme, dá para perceber que ele é fã de Tex Avery e dos Looney Tunes, alem de também desacreditar o trabalho de psicanalistas, já que resolve por brincadeira vestir a máscara após assistir um psicoterapeuta e escritor dando uma entrevista.

    Pelas ruas de Edge City o personagem cômico anda, e Russell tem a oportunidade de utilizar de efeitos visuais e sonoros sui generis. Toda a lisergia do comportamento do personagem central, que é abrilhantada claro pela performance de Carrey, que está ainda mais anárquico do que quando fez Ace Ventura ou Debi e Loide.

    Tudo no filme é cuidadosamente pensado para gerar ambiguidade, os limites entre razão e fantasia não são fáceis de distinguir, as ações do Maskara parecem num primeiro momento como fruto da imaginação de seu portador, como a manifestação extrapolada das diferenças entre Ego e Super Ego, um conceito freudiano que sequer é aludido na maioria dos quadrinhos escapistas ou em suas adaptações.

    Ao mesmo tempo, há um cuidado para não distanciar esse de um filme sobre um personagem de quadrinhos, inserindo elementos multi coloridos, amizade entre o homem e seu animal de estimação (inclusive dando poderes ao segundo, o cachorrinho Milo) e claro, uma personagem repórter que se intromete na trama principal basicamente porque é necessário, como é com a Peggy Brandt de Amy Yasbeck.

    Há claro um sem número de momentos cômicos de cunho adulto e sexual, mas tudo levado para um verniz tão lúdico que faz disfarçar bem a malícia, tornando ela palatável para as crianças, fato que ajudou o personagem a se tornar muito popular entre as crianças, tanto que seu desenho lançado pouco tempo depois do longa fez um estrondoso sucesso, inclusive em vendas de brinquedos, bonecos e acessórios.

    Tina, ao ser beijada pelo Big Head tem seus sapatos lançados pelo ar, numa clara inversão de papeis sexuais, com a mulher fazendo referência a uma ereção. Essa é só uma das muitas subversões dessa sequencia, seguida após um número de Carrey encenando vários tipos, junto a uma quebra da quarta parede onde recebe uma pseudo premiação por sua performance.

    Como é nos gibis, Stan fica mais confiante, mais seguro de si e enfrenta seus problemas de frente, enquadrando seu chefe abusador, tendo mais coragem de flertar com Tina. Os fatos que ocorrem consigo tem uma conveniência monstruosa, mas nada tão bizarro e excêntrico quanto os números musicais que ocorrem nas ruas de Edge City durante a perseguição a ele que é um fora da lei. É como se máscara mudasse toda a realidade e destino segundo sua perversão própria, e isso condiz demais com o original da nona arte, ainda que a versão do personagem mascarado seja mais maligno que zombeteiro como é nesta versão e na do desenho animado seriado.

    As referencias a  cartoons não são vistos só nas manifestações do herói, mas também nas participações de personagens secundários, como o cãozinho Milo, que tem momentos importantes com e sem o uso. Fora toda a mensagem simples e clichês de que Stanley já era um herói com tudo o que já tinha internamente, todo o desfecho do filme é sensacional, pois apela para o escapista típico dos seriados da Hanna Barbera, ainda com tempo para mais referencias do homem de face verde, brincando com as leis da física e com o absurdo da vida.

    O Máskara não merecia um final tão ligado a questão básica de moral da historia, e nisso, o desenho animado (que faz retcon com muitos fatos do filme) serve bem, não só para adaptar vilões e personagens secundários dos quadrinhos, mas também para mostrar um personagem tão rico quanto esse em muitos outros momentos. Jim Carrey consegue imprimir um estilo só dele em tela, e Russell conduz bem, variando entre o simples e o lúdico nesta versão do icônico personagem da Mike Richardson, cuidadosamente adaptado para que seu astro brilhasse.

  • Crítica | Sonic: O Filme

    Crítica | Sonic: O Filme

    Primeiro episodio de uma possível saga de filmes baseado em vídeo games da companhia Sega nos cinemas, Sonic – O Filme, dirigido por Jeff Fowler (que foi indicado ao Oscar de melhor curta animado por Gopher Brooke em 2004 e foi o responsável pelos efeitos especiais de Onde Vivem os Monstros) começa brincando com o logo da Paramount Pictures, com os anéis de energia iguais aos dos jogos do ouriço azul no Mega Drive Genesis e nos portes para Master System.

    A introdução é bem bonita, ocorrendo após uma perseguição do Ivo Robotnik de Jim Carrey para logo depois ir até a ilha de origem do velocista azul, em South Island, onde o mesmo é mostrado que o personagem tinha que manter seus poderes em segredo. Há todo um componente sombrio e simples, que ajuda a situar o quão complicada foi a vida do ouriço até ali, além de conter referências a raça ancestral do personagem Knuckles o Echdina.

    A historia se passa em Green Hill, um lugar na Terra, onde o animalzinho se esconde e observa a vida dos humanos. O herói animalesco brinca com os homens a distância, apelidando-os e mostrando os receios do personagem, em ser perseguido pelos homens e por isso ele se refugia. A utilização dos anéis de poder como portais lembra as fases especiais de Sonic 1, mas também tem um bom componente dramático, mostrando ele com medo de sair de sua zona de conforto. Toda essa construção narrativa apesar de ser cunhada em clichês infantis é bem construída e funciona entre outros fatores pelo apuro visual que Fowler estabelece aqui, pois todas as revisões visuais do CGI de Sonic.

    Apesar de restar em alguns possíveis espectadores uma curiosidade mórbida por assistir a versão presente nos primeiros materiais de divulgação, a nova composição desta obra é satisfatória, faz uma boa interseção entre as versões do mascote da Sega, e  até  se tem boas piadas com o quão grotesca seria o formato da figura e do quão apelaria para o Vale da Estranheza.

    O roteiro de Patrick Casey e Josh Miller é formulaico, tem uma série de referências a esportes clássicos praticados nos Estados Unidos, como Baseball, Tênis de Mesa, além de atletismo, mas todo o drama de solidão do porco-espinho é levado de uma maneira até madura se considerar que o foco aqui é bem encaixado. O problema realmente ocorre com os núcleos humanos, pois fora a figura do policial de James Marsden como o policial Tom, que é o perfeito homem legal e faceiro, e claro, Ivo que é uma versão super careteira de Carrey, não há personagens humanos legais, sorte que a versão de Ben Schwartz do ouriço azul consegue segurar bem a trama como um todo, mesmo que seja bem diferente da face descolada e descompromissada com eventos importantes como é a versão melancólica apresentada aqui.

    Os momentos cômicos emulam  as participações de Mercúrio em X-Men Dias de Um Futuro Esquecido mas possuem identidade própria, até porque seria reducionista e tolo achar que o  recurso de usar câmera lenta para representar a super velocidade é algo exclusivo da obra  de Bryan Singer. A personalidade do personagem-título é carismática, a de doce garoto carente, sem amigos e com uma lista de desejos emotivos bem extensa.

    Mesmo as pontas soltas, como a origem, as relações com o governo e o destino de Ivo funcionam bem, e podem ser encaradas como eventos positivos dado que o filme não tem exatamente compromisso em ser uma obra de consumo para um público mais maduro ou seleto, além do que, por ser divertido nessas pequenas manifestações, faz quem assistiu querer mais aventuras como essas, acompanhadas claro do desejo que Jim Carrey tope retornar a franquia, pois tanto a animação dos créditos finais, a cena pós crédito e o modo super otimista que termina a trama faz ter vontade de que as aventuras sigam sendo bem adaptados, pervertendo qualquer receio de fãs ou do estúdio que produziu de que esse seria um fracasso de crítica e público, pois embora esteja longe da perfeição, Sonic- O Filme ainda resulta numa obra bem divertida e cheia de  momentos que deixam o espectador feliz por acompanhar a jornada do ouriço azul.

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  • Crítica | Crimes Obscuros

    Crítica | Crimes Obscuros

    Coprodução dos Estados Unidos, Inglaterra e Polônia, Crimes Obscuros é um dos filmes em que Jim Carrey faz um papel mais sério que o habitual em sua larga carreira. Lançado em 2016, o longa só chegou ao circuito brasileiro agora e tem o início de seu drama na Polônia, com uma orgia em um lugar isolado onde muitas mulheres estão acorrentadas de uma maneira esquisita até para encontros BDSM e de bondage. Aparentemente, ali não acontecem somente sexo entre ricaços.

    Inspirado no artigo True Crime, A Postmodern Murder Mistery, de David Grann, o filme logo trata de mostrar o personagem Tadek (Carrey), um homem pacato, silencioso e discreto, em clara desconexão e alienação com o mundo, incluindo sua família, ainda que ele demonstre algum apreço por eles. Seu ofício, de policial explica um pouco da anestesia geral que lhe ocorre. Quando entregam a ele o caso da morte de algumas das mulheres que participaram da tal orgia, ele enxerga semelhanças entre aquela situação e a história de um livro, do autor Koslov (Marton Csokas), e começa a cercar o sujeito.

    Mesmo em momentos comuns e rotineiros, o roteiro de Jeremy Brock apresenta alguma estranheza ou artificialidade e essa sensação é maximizada pela direção de Alexandros Avranas, o mesmo que conduziu Miss Violence. O universo que ele retrata normaliza a violência e torna estranho aos olhos do público qualquer outra relação que não tenha forte ligação com abuso ou com violência extrema. Os encontros entre investigador e investigado acontecem de maneira nada amistosa, e uma rivalidade brota dali de maneira muito natural. Aos poucos, ambos demonstram suas obsessões e desenvolvem novas, um pelo outro.

    Avranas conduz o filme de maneira claustrofóbica, usa e abusa de super closes. As cenas de sexo colocam a lente tão próxima do rosto de alguns personagens que nota-se as veias saltando no ápice do prazer. Descrevendo parece que as cenas são lascivas, mas não, o sexo é mostrado de maneira seca e impessoal, seja consentido ou não, demonstrando que nessa trama não há normalidade quando se aborda a libido ou sexualidade.

    No entanto, o resultado final é desequilibrado. O cineasta parece cair sobre o mesmo erro de Tomas Alfredson em Boneco de Neve, lançado um ano depois desse, embora seus erros sejam obviamente menos grotescos que a produção citada. O elenco composto por estadunidenses não convence como poloneses, mesmo levando a questão do idioma original do filme (inglês) se tratar de mera licença poética. Todo comentário político soa caricato e raso, sobrando apenas o desempenho de Carrey como aspecto positivo, embora em muitos momentos a nulidade do espírito do personagem faça parecer desnecessário um ator tão famoso no papel. Tadek é muitas vezes ofuscado pela figura famosa do intérprete e isso atrapalha a imersão em Crimes Obscuros, que ainda entrega um final sensacionalista e que difere demais da atmosfera desenvolvida no longa.

    https://www.youtube.com/watch?v=w8JrzmRftnQ

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  • Crítica | Dirty Harry na Lista Negra

    Crítica | Dirty Harry na Lista Negra

    Quinto capítulo da saga de Harry Callahan, Dirty Harry na Lista Negra começa mostrando a violência em São Francisco, e logo depois, foca nas mãos do vilão, um homem misterioso que faz uma lista com oito nomes. Um dos nomes é exatamente o de Callahan, fato que faz com que ele seja pessoalmente interessado em resolver a questão.

    Em determinado momento são mostrados dois personagens, o diretor de filmes baratos Peter Swan (Liam Neeson) e o problemático ator Johnny Squares (Jim Carrey), um junkie que após fazer um escândalo no set de filmagem e se picar com heroína, é assassinado dando à famigerada lista um caráter maior que mera especulação. É engraçado ver ambos em início de carreira, dando o pontapé inicial em um filme tão criticável.

    Buddy Van Horn é o diretor, o mesmo que já havia trabalhado com Clint Eastwood, em Punhos de Aço – Um Lutador de Rua e Cadillac Cor de Rosa, mas o roteiro de Steve Sharon, faz com que esse seja o capítulo mais combalido e fraco da saga, série cinematográfica que ia caindo de qualidade de filme a filme. Ao menos, Horn consegue algumas boas imagens, ao manter incógnito seu vilão, utilizando a visão em primeira pessoa para emular os monstros e assassinos slashers que atacavam suas vítimas, como em Tubarão ou Halloween. Há momentos bem icônicos e divertidos, como a utilização de um carrinho remoto com uma bomba atrás dos heróis ou o desempenho de Carrey ainda muito novo, como uma estrela inconsequente que reúne elementos de rockstar e ator mimado.

    No entanto, o final do longa é confuso, envolvendo personagens periféricos à rotina de Harry, que são postos em perigo e o detetive deve ir até lá, para resolver o caso. Toda a questão é mostrada de uma forma extremamente artificial. A maior parte dessa série de acontecimentos é simplesmente jogada, não há muito desenvolvimento, somente uma série de coincidências incômodas, tornando este Dirty Harry na Lista Negra um dos produtos menos inspirado da franquia, e claramente Eastwood já não parecia à vontade interpretando um de seus célebres personagens.

    https://www.youtube.com/watch?v=2wuMFMR04rg

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  • Crítica | Debi & Lóide: Dois Idiotas em Apuros

    Crítica | Debi & Lóide: Dois Idiotas em Apuros

    Debi e Loide A

    O começo tímido, que se vale de piadas sexistas pouco ofensivas, introduziria uma dupla de protagonistas estúpidos, pensada pelos irmãos Peter e Bobby Farrelly. Lloyd (Lóide) Christmas (Jim Carrey) é um condutor de limousine de moral frágil e que tem na figura de sua patroa Mary Swanson (Lauren Hoolly) a sua musa. Seu pouco traquejo com as mulheres garante momentos de absoluta comicidade e falta de noção, com explosões tomando a estrada enquanto pratica direção perigosa. A despedida de sua amada – que acabara de conhecer – é emocionante, segurando o público de imediato, inserindo-o no drama. Logo ao acenar o “tchau” para a moça, após uma trapalhada, o espectador percebe uma trama policial escondida atrás de toda a pataquada da fita.

    Do outro lado da cidade, sua contraparte Harry Dunne (Debi, na versão brasileira, interpretado por Jeff Daniels) exibe todas as suas inabilidades como cuidador de cães. Ao final do dia, os dois amigos voltam ao apartamento que compartilham, desempregados, fruto, é claro, da incompetência de ambos. Cansados de fracassos sucessivos, eles resolvem se aventurar, viajando para Conneticut a bordo de seu cachorro-móvel.

    Na estrada, eles arrumam confusão com alguns caipiras, demonstrando covardia e instinto de sobrevivência, algo que os faz pregar peças nos bullyers e até nos policiais. A hilaridade idiota é a tônica dessas interações. No decorrer da viagem, Lóide tem sonhos de cunho erótico com Mary, imaginando os momentos em que o romance finalmente se concretizaria, incluindo rodas de amigos cujo centro das atenções era ele e suas piadas. Em determinados pontos, ele fantasia discussões intensas nas quais destila seus supostos dotes de briga, espancando um restaurante inteiro, como um Bruce Lee retardado, tomando o coração do chef, à força, para logo depois sonhar com as curvas de Mary, em que os seios expostos da garota como faróis de caminhão demonstram que a virgindade é o maior trunfo do personagem.

    A química entre Carrey e Daniels se dá especialmente pela troca de ofensas e pegadinhas entre um e outro, uma eterna competição para provar quem é mais infantil e imbecil, quase sempre sendo Lóide o vencedor. Qualquer um que atravessa o caminho da dupla sofre as agruras de estar ao lado de pessoas tão incrivelmente irritantes, mas absurdamente gentis e solícitas. Curioso como a ingenuidade dos dois consegue cooptar também um bom coração.

    À procura da bela mulher, os amigos sofrem muitas perdas, até terem noção de que carregam uma maleta repleta de dinheiro. O consumo indiscriminado de dinheiro nos eventos mais supérfluos possíveis. Suas atitudes fazem mal a praticamente tudo que os envolve, deixando um rastro de destruição ao matarem aves raras e esmigalhando propriedades públicas enquanto tentam se divertir.

    A rivalidade entre os dois se acirra ao perceberem estar os dois emotivamente envolvidos pela(s) mesma(s) mulher(es), algo natural, uma vez que há falta de tato de ambos com o sexo oposto. Logo, Lóide acaba por passar pelo destino da mesma moça que flertou antes com Harry, enquanto o amigo loiro se diverte na neve com Mary. A mágoa atinge a personagem de Jim Carrey, que não consegue esconder sua frustração e se vinga dele, pondo laxante na solução alimentícia do amigo.

    A disputa faz com que Lóide se jogue desesperadamente nos braços de sua amada, tentando se declarar a ela, se frustrando após descobrir que ela é na verdade uma pessoa casada. Após muita discussão e situações das mais toscas possíveis, os dois seguem seu caminho, retomando o valor da amizade, salvando um ao outro, mostrando uma inexoravelmente unida relação que suporta toda e qualquer barreira. A comédia dos Farrelly não tem qualquer mensagem edificante ou evolução aparente, mas dá voz a valores simples, como companheirismo e desapego material, sob uma ótica boba que fez muito sucesso entre o público infantil e ajudou a salientar um subgênero da comédia, que se vale de pastelões e de piadas físicas.

  • Crítica | Debi & Lóide 2

    Crítica | Debi & Lóide 2

    Debi e Loide 1

    Quase 20 anos depois da estreia do primeiro filme, após uma pouco inspirada prequência, Jeff Daniels retorna ao papel pelo qual ficara marcado ao lado de Jim Carrey, cuja carreira bastante deficitária exigia um sucesso comercial urgentemente. Sob a rédea da dupla de diretores que também comandou o filme de 94, a obra inicia-se mostrando a melancolia que está a vida de Harry/Debi (Daniels) cuidando de seu catatônico amigo, traumatizado após a rejeição de Mary Swanson – obviamente não aventada no episódio anterior. Lloyd/Lóide (Carrey) finalmente acorda, saindo do estado débil para mostrar que era apenas uma piada que durou duas décadas.

    Assim como com seus intérpretes, os tempos contemporâneos não são gloriosos. Harry está com um grave problema de saúde, com os rins danificados, e morrerá caso não consiga um órgão novo. Após uma visita aos pais adotivos de Debi, a dupla descobre que o loiro possui uma filha com Fraida Felcher, citada no filme original. Já idosa, a personagem vivida por Kathlen Turner diz que a menina foi levada para a adoção, e que não tem contato com ela desde então.

    O chamado à aventura realiza-se e eles finalmente põem o pé na estrada, repetindo e refilmando inúmeras situações cômicas, como a paixão de Lóide por uma mulher inalcançável – no caso, Penny Pinchlow (Rachel Melvin), a herdeira de Felcher –, e também os percalços na estrada e as fantasias em forma de sonho que acometem os dois protagonistas. É curioso notar que nestas imaginações há dois factoides distintos: o primeiro normalmente exclui um amigo do sonho do outro, como se as vidas deles só pudessem ser perfeitas caso a interdependência se findasse, a despeito da longa parceria; o outro mostra ambos agindo em prol da honra alheia – esse, da parte de Lóide.

    O esqueleto do roteiro contém semelhanças com Debi & Lóide – Dois Idiotas em Apuros, tanto nas lutas imaginárias fantásticas quanto as com um núcleo de bandidos, que buscam satisfazer sua ganância financeira a partir da exploração de alguém rico. Uma dupla de vigaristas acompanha o doutor Pinchelow (Steve Tom), tentando roubar seu patrimônio, constituído de recursos conquistados por sua carreira promissora de cientista. O casal formado por Adele (Laurie Holden) e Travis (Laurie Holden) decide então vigiar a dupla de estúpidos numa viagem até uma conferência a fim de entregar uma descoberta valiosa a Penny mas, atrapalhada, esqueceu a encomenda em casa.

    As rugas e sobrepeso dos astros argumentam contra o filme, especialmente por repetirem-se demasiadamente as fórmulas que deram certo antes. Ao ser resgatado e engasgar no primeiro solavanco, o velho carro/cachorro é o símbolo visual mais claro desse inconveniente, uma piada auto imposta de modo bastante humilde, não se levando a sério. Apesar da limitação física, Carrey ainda consegue fazer as piadas corporais ao estilo de Jerry Lewis, no entanto ainda existe espaço para o humor escatológico, mas com doses moderadas, já que se trata de um produto para toda a família e que visa atrair o americano médio.

    Obviamente, grande parte da graça de Debi & Lóide 2 vem da nostalgia dos fãs de Carrey e Daniels, crianças e adolescentes que cresceram com os protagonistas sentindo saudade do humor pueril, descompromissado e baseado no velho besteirol que faz muito sucesso com as plateias estadunidense e brasileira.

    Após uma briga, Debi e Lóide rompem sua unidade, indo cada um para o seu lado. Nas posições distintas que assumem, cada um à sua maneira tenta alcançar Penny. Apesar de não aparentarem, ambos sentem demais a falta um do outro, não conseguindo se sentirem plenos sem o amigo ao lado. E a iminente morte de Harry faz com que Lóide perceba que a vida é curta demais para ficar longe de quem se ama.

  • Crítica | Batman Eternamente

    Crítica | Batman Eternamente

    O sucesso de Batman e Batman – O Retorno, dirigidos por Tim Burton, não impediu o descontentamento por parte da Warner, incomodada com o resultado da bilheteria da segunda produção, aquém do esperado pelo estúdio. A fotografia escura e tradicional do diretor, além da violência em cena, foi motivo que inspirou uma nova leitura do Morcego nos cinemas, com Burton delegado à função de produtor, e Joel Schumacher, escolhido para assumir a cadeira de direção.

    Para compreender o sucesso de Batman Eternamente, devemos observar a época de seu lançamento. Em 1995, o Morcego era o único herói nas telas em um período em que não havia uma demanda cinematográfica favorável aos quadrinhos. A popularidade de Batman foi suficiente para atrair o público, mas é difícil levar a produção a sério e não imaginá-la como um diálogo explícito com a série sessentista.

    Desde a primeira cena, é notável a transformação do ambiente. As cenas são iluminadas, e há uma comicidade que anteriormente existia somente em comentários pontuais. Na cena de apresentação do herói, não há traço de verossimilhança quando, em resposta a Alfred e ao jantar, Batman informa ao mordomo que comerá em algum drive thru. Como se a personagem risse de sua própria concepção.

    Devido ao rumo diferente desta produção, Michael Keaton declinou o convite para retornar como o personagem, e coube a Val Kilmer vestir o manto, em uma interpretação que nada acrescenta ao personagem. Se Keaton apresentava um Batman/Wayne correto e um pouco inócuo, Kilmer funciona como um chamariz para o público feminino.

    O vilão Coringa, apresentado no primeiro filme e, nesta cronologia, responsável por matar os pais de Batman, não é citado. Uma nova origem é apresentada e sem confirmá-lo como assassino. Uma prova de que não só as origens dos quadrinhos são frágeis como também, conforme o desejo dos roteiristas, passam por modificações ou atualizações. Desta vez, dois novos vilões são introduzidos na trama: Duas-Caras e Charada, porém somente acompanhamos a trajetória de origem de um deles. Interpretado por Tommy Lee Jones, o promotor Harvey Dent está transformado em Duas Caras, mas sem nenhuma explicação além da inferência de que a mudança aconteceu há aproximadamente dois anos. Quem se transforma em cena é Edward Nigma, um empregado das empresas Wayne que, após uma experiência mal sucedida e rejeitada por Bruce Wayne, transmuta-se no exagerado Charada. Além dos vilões, um novo interesse amoroso surge para Wayne no papel da psiquiatra Chase Meridian (Nicole Kidman), obcecada pela figura do Cavaleiro das Trevas. O excesso no elenco piora quando entra em cena Dick Grayson, o órfão que se torna Robin, o sidekick do Morcego.

    Se já não bastasse a quantidade exagerada de personagens em cena e um roteiro que não os desenvolve ao menos de maneira satisfatória, comentários dizem que Jones e Carey não conheciam a essência de suas personagem e não procuraram leituras a respeito. Comentam que Jones foi orientado pelo diretor a seguir o estilo de Carey e seu Charada, um motivo coerente para explicar tanta afetação em dois vilões. Duas Caras parece acompanhar literalmente o estilo histriônico de Charada, e, além de mostrar uma descaracterização da figura de vilão, a dupla não parece em nenhum momento ameaçadora.

    O plano estabelecido para destruir a cidade é um recurso digno de produções antigas vindas de uma visão de mundo maniqueísta. Um sistema inserido na televisão que extrai os pensamentos da população de Gotham City. Outro aspecto em que é impossível não se recordar das estratégias de roteiro Soc! Tum! Pof! do seriado com Adam West.

    Se considerarmos o pastiche cômico e essa referência clássica, a produção pode ter certo valor como uma visão alternativa do Morcego, mas não como obra cuja intensão era se tornar sequência cinematográfica do bom ponto de partida estabelecido por Burton.

    Dentro das situações propostas, nada parece bem desenvolvido. Duas-Caras e Charada são exagerados, e a presença de Robin não chega a ser um definitivo estrago final, até porque os personagens contracenam apenas nas cenas finais. No entanto, parece um argumento precipitado. Assim como nas demais interpretações, Chris O´Donell também está exagerado e nos entrega algumas cenas que passam do limite de qualquer constrangimento ou riso.

    A direção de Schumacher é espantosamente errada. Gotham transformou-se em um cenário falso, misturado com luzes exageradas, como uma festa rave eterna. Não há frame que não contenha ao menos duas cores aberrantes em cena. Se a concepção era fazer uma Gotham diferente, acertaram em cheio, mas com exagero grotesco. Talvez a concepção da cidade fosse propositadamente abusiva nos elementos sensoriais, como um grande município. Mas nada justifica um local que não pareça em nada com uma metrópole real.

    Vista hoje, parece impossível compreender como a obra conseguiu se destacar e fazer sucesso na época, com bilheteria de 336 milhões. Triste é saber que este ainda não seria o momento mais baixo do Morcego. A seguir, veríamos uma Batgirl, mais uniformes com mamilos em relevo e um Batcard para qualquer momento de necessidade.

  • Crítica | Kick-Ass 2

    Crítica | Kick-Ass 2

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    Quando foi lançado em 2010, o primeiro Kick-Ass assumiu ares de um pequeno cult. Parodiando super-heróis com humor negro, visual e trilha sonora marcantes e a direção competente de Matthew Vaughn (responsável depois pelo ótimo X-Men: Primeira Classe), o filme surpreendeu e agradou aos desavisados. Mas pra quem havia lido a HQ de Mark Millar e John Romita Jr., o resultado foi até interessante, mas inegavelmente uma versão suavizada da escrotidão existente na mídia original. Dessa forma, se o segundo volume da saga nos quadrinhos já se mostrou repetitivo e menos inspirado, no cinema o prejuízo foi ainda mais evidente.

    Nesta nova aventura, Dave/Kick-Ass (Aaron Taylor-Johnson) junta-se a um grupo de vigilantes mascarados chamado Justiça Eterna, cujo líder é o ex-mafioso e hoje cristão Coronel Estrelas e Listras (Jim Carrey). Mindy/Hit-Girl (Chloe Grace Moretz) vive em conflito entre continuar o legado de seu falecido pai e trucidar marginais, ou respeitar o desejo de seu atual guardião e viver como uma adolescente normal. E o ex-Red Mist e agora MotherFucker (Christopher Mintz-Plasse) usa o dinheiro de sua família mafiosa pra formar uma equipe de supervilões e buscar vingança.

    Ainda que Dave e Mindy tenham algumas divertidas interações (como a garota deixando claro quem é o “Robin” da dupla), na maior parte da história os três protagonistas seguem em tramas paralelas, o que enfraquece a narrativa. Fica a impressão de ser um seriado de tv mal planejado, que não consegue juntar os personagens e investe em encheção de linguiça até o final da temporada. E por incrível que pareça, o vilão acaba sendo o mais interessante. Enquanto Kick-Ass e seus colegas oferecem um sonolento mais do mesmo e a Hit-Girl embarca num dispensável clichê teen/high school, os melhores momentos do filme são com o McLovin. De início ele paga para ter um treinamento ninja hardcore, se achando um Batman do mal (com direito a um “Alfred” vivido por John Leguizamo), mas naturalmente não aguenta o tranco, e resolve contratar outros para lutar por ele – afinal, o dinheiro é seu super-poder.

    Porém, a narrativa entrecortada não é o único, nem o principal, problema do filme. Com Vaughn apenas como produtor, a direção e o roteiro ficaram com o inexpressivo Jeff Wadlow. Ele se limita a emular, sem a mesma habilidade, o estilo do original, enquanto adapta com grande fidelidade a HQ Kick-Ass 2 (e usa também elementos da minissérie solo da Hit-Girl). E com isso, escancara as falhas de Millar. Além da perda do fator novidade, o escritor resolveu exagerar mais, tentando um tom mais grandioso. Tanto o quadrinho quanto o filme se perderam completamente, indecisos entre fazer piadas ou se levar a sério.

    O caso é que no gibi fica mais fácil ignorar isso e se divertir com os absurdos, pensando algo como “ah, é uma história de super-herói, que venham os clichês”. Mas no filme fica muito mais perceptível a ruptura com o conceito inicial de “realismo”. Ao tentar incluir momentos dramáticos, mortes, sofrimento, consequências para a vida pessoal de um mascarado, a violência deixa de ser engraçada e se torna incômoda. O humor não passa mais nem como negro/politicamente incorreto, fica apenas mal-colocado. Até é possível fazer graça com qualquer absurdo, desde que se mantenha o tom de zoeira constante. Aqui, a chave é desligada em algumas cenas, para tentar incluir um peso dramático, e quando é ligada de novo, a estranheza é chocante.

    Chega a ser irônico que a “culpa” maior de Kick-Ass 2 seja sua fidelidade ao material original. Pelo menos fica o exemplo de que na transposição de mídias, a adaptação precisa ser feita com mais cuidado.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Crítica | O Incrível Mágico Burt Wonderstone

    Crítica | O Incrível Mágico Burt Wonderstone

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    Steve Carell ganhou notoriedade com seu papel de Michael Scott na versão americana de The Office, onde o principal mérito do ator era o fato de não emular a versão original – e muito mais constrangedora – encarnada por Ricky Gervais. No entanto, o que deveria ser apenas um papel tornou-se uma máscara, um modo de atuar, que fracassa algumas vezes e acerta em outros, e este é o caso de O Incrível Mágico Burt Wonderstone, onde o estereótipo funciona.

    Apesar de já ter flertado com filmes onde se exige uma maior capacidade dramática, dando mostras de que não é um ator incompetente, é no filão de comédias de conteúdo estúpido com uma mensagem fofa por trás que Carell se sente mais a vontade e agrada mais o público. Burt Wonderstone, seu personagem, é mais um desajustado, excêntrico, egocêntrico, sexista, além de ser um artista ultrapassado, que teme a novidade e tem óbvias dificuldades em mudar.

    A história mostra desde a sua infância, onde se inspira em Rance Hanson (Alan Arkin), um famoso mágico, para seguir seu caminho. Com o tempo, forma uma bela dupla com seu amigo de infância Anton Lovecraft, Steve Buscemi, com quem faz inúmeros shows em Las Vegas. Sua popularidade é consideravelmente alta, o que o deixa confortável até o surgimento de uma nova “espécie” de mágicos/ilusionistas, muito mais visceral e extrema do que ele, encarnado por Steve Haines.

    A nova forma da mágica não tem limites ou normas de segurança muito bem estabelecidas, pondo em perigo o profissional o tempo todo, e isso deixa o público maravilhado, mais por deixá-lo impressionado, confundindo o receptor, do que por sua qualidade em si. A escolha de Jim Carrey para o papel é curiosa e até emblemática por este ser um humorista de uma geração mais tradicional do que a do protagonista, mas fazendo um humor escatológico, que flerta com artistas novos, a exemplo, Jackass. Haines é um agente do caos, com um ar nonsense e bizarro, além dos limites do suportável, que evidencia que os tempos são outros.

    Em contrapartida, após cair em decadência e perder tudo o que tinha, Wonderstone se volta para um público antes desprezível, em um asilo de idosos, e para sua surpresa reencontra a paixão por seu ofício, através do seu mentor Rance Hanson, que com toda sua rabugice e insensibilidade restaura o seu amor pela mágica, fazendo-o lembrar que esta é a responsável pelo rompimento com a realidade dura e cruel.

    A prática do ilusionismo representa algo antiquado, que já foi adorado – em especial por crianças – mas está fora de moda, mais uma vez reforçando a mudança como dificuldade de vida, e rompimento com a rotina como um desafio quase insuperável. Don Scardino, acostumado a dirigir episódios de sitcom, consegue levar o tom de humor e equilibrar o elenco de estrelas de uma forma competente, e apesar da mensagem final ser um pouco piegas, não há  grandes motivos para reprimendas em sua direção.

  • Agenda Cultural 08 | Delorean’s, Filosofias de Boteco e as Aventuras de um Imigrante Dançarino

    Agenda Cultural 08 | Delorean’s, Filosofias de Boteco e as Aventuras de um Imigrante Dançarino

    Agenda Cultural está de volta com força total: Flávio Vieira (@flaviopvieira), is back! Ock-Tock (@ocktock) do site e podcast Máquina do Tempo e Tockaí se junta ao time do Vortex Cultural. Contamos também com Amilton Brandão (@amiltonsena) e Mario Abbade (@fanaticc). Se reúnem para comentar tudo o que está rolando no circuito cultural dessa semana, com as principais dicas em cinema, teatro, seriados, quadrinhos e cenário musical.  Não perca tempo e ouça agora o seu guia da semana.

    Duração: 59 min.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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