Tag: Marton Csokas

  • Crítica | Crimes Obscuros

    Crítica | Crimes Obscuros

    Coprodução dos Estados Unidos, Inglaterra e Polônia, Crimes Obscuros é um dos filmes em que Jim Carrey faz um papel mais sério que o habitual em sua larga carreira. Lançado em 2016, o longa só chegou ao circuito brasileiro agora e tem o início de seu drama na Polônia, com uma orgia em um lugar isolado onde muitas mulheres estão acorrentadas de uma maneira esquisita até para encontros BDSM e de bondage. Aparentemente, ali não acontecem somente sexo entre ricaços.

    Inspirado no artigo True Crime, A Postmodern Murder Mistery, de David Grann, o filme logo trata de mostrar o personagem Tadek (Carrey), um homem pacato, silencioso e discreto, em clara desconexão e alienação com o mundo, incluindo sua família, ainda que ele demonstre algum apreço por eles. Seu ofício, de policial explica um pouco da anestesia geral que lhe ocorre. Quando entregam a ele o caso da morte de algumas das mulheres que participaram da tal orgia, ele enxerga semelhanças entre aquela situação e a história de um livro, do autor Koslov (Marton Csokas), e começa a cercar o sujeito.

    Mesmo em momentos comuns e rotineiros, o roteiro de Jeremy Brock apresenta alguma estranheza ou artificialidade e essa sensação é maximizada pela direção de Alexandros Avranas, o mesmo que conduziu Miss Violence. O universo que ele retrata normaliza a violência e torna estranho aos olhos do público qualquer outra relação que não tenha forte ligação com abuso ou com violência extrema. Os encontros entre investigador e investigado acontecem de maneira nada amistosa, e uma rivalidade brota dali de maneira muito natural. Aos poucos, ambos demonstram suas obsessões e desenvolvem novas, um pelo outro.

    Avranas conduz o filme de maneira claustrofóbica, usa e abusa de super closes. As cenas de sexo colocam a lente tão próxima do rosto de alguns personagens que nota-se as veias saltando no ápice do prazer. Descrevendo parece que as cenas são lascivas, mas não, o sexo é mostrado de maneira seca e impessoal, seja consentido ou não, demonstrando que nessa trama não há normalidade quando se aborda a libido ou sexualidade.

    No entanto, o resultado final é desequilibrado. O cineasta parece cair sobre o mesmo erro de Tomas Alfredson em Boneco de Neve, lançado um ano depois desse, embora seus erros sejam obviamente menos grotescos que a produção citada. O elenco composto por estadunidenses não convence como poloneses, mesmo levando a questão do idioma original do filme (inglês) se tratar de mera licença poética. Todo comentário político soa caricato e raso, sobrando apenas o desempenho de Carrey como aspecto positivo, embora em muitos momentos a nulidade do espírito do personagem faça parecer desnecessário um ator tão famoso no papel. Tadek é muitas vezes ofuscado pela figura famosa do intérprete e isso atrapalha a imersão em Crimes Obscuros, que ainda entrega um final sensacionalista e que difere demais da atmosfera desenvolvida no longa.

    https://www.youtube.com/watch?v=w8JrzmRftnQ

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  • Crítica | Triplo X

    Crítica | Triplo X

    Começando sua ação em uma região do Leste Europeu, misturando manobras radicais e heavy metal, Triplo X surfa no gênero dos filmes de espiões – lançado alguns meses após Identidade Bourne, de Doug Liman – o longa de Rob Cohen começa como inúmeros filmes de James Bond, com um agente de terno e gravata fracassando em uma missão envolvendo o vilão do filme, Yorgi (Marton Csokas).

    A passo seguinte é o de apresentar a versão do super agente moderno, caindo de paraquedas, como em 007: A Serviço Secreto de Sua Majestade. Cohen retornaria a sua parceira começada com Velozes e Furiosos com Vin Diesel, que teria em Xander Cage uma versão tatuada, rebelde sem causa e mais tagarela e canastrona de Toretto, trocando o amor exclusivo por carros por manobras radicais, que eram transmitidas via internet, muito tempo antes da febre que se tornaria o paradigma do youtuber. O roteiro de Rich Wilkes é simples e sua proposta é banal e infantil, como a maioria das comédias onde trabalhou anteriormente, e consiste basicamente em renovar os alistados, usando o bad boy metido a anti-herói para cumprir uma missão suicida.

    Xander passa por maus bocados, mas mesmo entre eles, consegue deixar claro seu caráter espirituoso e péssimo timing para piadas, em meio a cenas de ação genéricas, que servem para mostrar que ele é um homem honrado e preocupado com a vida das pessoas, em especial de desconhecidos, o que faz dele o oposto do que seria um candidato ideal. Misteriosamente ele atrai a atenção de Yorgi, e consegue enfim cumprir as ordens de seu mandatário o deformado Augustus Gibbon, vivido por Samuel L. Jackson, que faz questão de repetir todos os trejeitos de seus personagens canastrões, sendo diferenciado unicamente pela ferida que tem no rosto, soando genérico no restante.

    Cage se aproxima do antagonista, seduzido por sua namorada Yelena (Asia Argento), que guarda uma verdade bastante intrigante. Enquanto prepara sua infiltração ele recebe o auxílio de Toby Lee Shavers (Michael Roof), que serve como análogo a personagem Q de 007. O modo de agir do agente X envolve subornos, chantagens e mais um conjunto de corrupções, que servem para esconder seu estreito senso de justiça, que passa a ficar mais intenso ao perceber o drama de Yelena.

    O agente interpretado por Diesel é uma versão de Bond igualmente mulherenga, mas com muito menos escrúpulos, já que era esse um anti-herói, motivado por um código ético capaz de se corromper em pequenos delitos – uma vez que ele é um fora da lei no início – mas também capaz de rompantes moralistas que condenam o simples fato de um dos coadjuvantes fumarem, mostrando que a construção do personagem não envolve só palavras de ordem retiradas de letras de harcore e punk, mas também aparenta uma caretice típica dos adultos que o mesmo combate. O mais curioso é que o argumento faz questão de introduzir um sem número de personagens que aparentam ter alguma importância, mas que se mostram um completo desperdício de tela e cachê, uma vez que não tem qualquer ação que não envolva uma frase de efeito ou uma sequência de gírias datadas da década de noventa.

    O paraíso para o grupo de vilões é uma mansão onde há espaço para jogar boliche (com obras de arte clássica) além de quartos suntuosos, onde há mulheres sensuais a espera de seus pares. A construção do cenário íntimo é risivel, com dezenas de velas armadas, capazes de causar um incêndio que consumiria o castelo em segundos, e mulheres dançando no mastro da luxuosa cama que aguarda a ação. Esta sequência é um bom resumo da artificialidade do filme. 

    Incrivelmente Yorgi consegue ser o entusiasta de bandas metal, pretenso revolucionário com armas biológicas e perfeito vilão de filmes dos anos trinta, maniqueísta em todas as manifestações de sua alma. A tentativa de dar importância para seu conjunto de ideias esbarra nas péssimas coincidências e conveniências de roteiro, e tornam-se piores se somadas as cenas de ação na neve, com efeitos em CGI terríveis mesmo para os idos de 2002.

    Apesar do início frenético e da trilha sonora repleta de sucessos roqueiros da época, Triplo X passa por sérios problemas de ritmo, soando lento demais, apesar da gravidade e da urgência  das situações mostradas, especialmente no que tange a questão das bombas e foguetes de destruição em massa. Mesmo o desfecho é bastante semelhante aos momentos finais de 007: Um Novo Dia Para Morrer, que também era lançado naquele mesmo ano, mostrando que o inconsciente coletivo dos produtores de filmes de espião estavam no mesmo deserto de ideias que gerou filmes de ação terríveis. Exceto pela musicalidade, não há personalidade ou identidade dentro do filme, somente um arremedo, tanto de clichês de action-movies, quanto de referências a principal personagem de Ian Fleming, em uma repaginação nada inspirada do mito.

  • Crítica | O Protetor

    Crítica | O Protetor

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    Em 2001, o diretor Antoine FuquaDenzel Washington fizeram uma parceria que incendiou as telas de cinema. Juntamente com Ethan Hawke e o roteirista David Ayer, a dupla lançou o incensado Dia de Treinamento, excelente filme policial que rendeu o Oscar de Melhor Ator para Denzel por seu controverso personagem Alonzo Harris. Agora, em 2014, Fuqua e Washington retomam a parceira, mas com um resultado aquém do esperado

    Neste O Protetor, Denzel encarna Robert McCall, um cidadão aparentemente comum, com uma estranha mania de cronometrar seus atos mais mundanos. Conhecido por sua camaradagem com seus colegas de trabalho, McCall sofre de insônia e sempre passa suas noites em uma lanchonete próxima à sua casa. Lá, acaba criando amizade com uma prostituta adolescente vivida por Chloë Grace Moretz (em aparição fugaz). Quando a garota é surrada por seus cafetões, Robert resolve tomar a justiça com suas próprias mãos. Entretanto, seus atos acabam levando-o a uma guerra com o crime organizado, guerra essa que vai exigir que McCall desperte algumas habilidades especiais há muito adormecidas.

    O roteiro escrito por Richard Wenk não se aprofunda muito nos personagens. McCall, o personagem de Denzel, é retratado como um homem pacato e metódico. Logo adiante, fica claro que ele possui um transtorno obsessivo-compulsivo. Isso é interessante, mas fica uma sensação de vazio, pois não se apresenta um motivo claro para aquele comportamento e nem como ou quando aquilo se iniciou na vida do personagem. A maneira como esse distúrbio é apresentado nas cenas de ação toma uma clara inspiração em filmes de super-herói, pois o transtorno é filmado quase como um superpoder. Uma saída interessante do diretor Fuqua, mas pouco explorada. Seu passado também é pouco trabalhado, sendo apenas mencionado superficialmente quase ao final do filme. Os personagens secundários são pouco desenvolvidos, provocando uma centralização excessiva do filme na figura do seu protagonista e na prostituta vivida por Chloë Moretz, que, ainda que peça central para o ponto de ignição da trama, pouco aparece. A personagem faz um pouco de falta, mas pelo menos foge-se da figura da donzela em perigo.

    O ritmo do filme é um pouco arrastado em certos momentos, mas pelo menos o diretor Antoine Fuqua está mais contido e não tenta emular o chinês John Woo, seu colaborador em Assassinos Substitutos. Fuqua filma algumas sequências sensacionais, principalmente o primeiro embate de Denzel com os exploradores sexuais. Também se esmera ao filmar algumas sequências mais violentas, tornando-as quase poéticas. Tomem como exemplo a cena do saca-rolha e a da pistola de pregos. Porém, o ritmo um pouco arrastado e alguns exageros da trama acabam por diluir o impacto da obra. A fotografia é estilosa e se aproveita muito bem de algumas paisagens urbanas da cidade de Boston. Entretanto, uma sequência mais carregada de efeitos digitais torna-se superficial e desnecessária em meio ao desenvolvimento do filme.

    Denzel Washington, aqui, atua quase como se estivesse no piloto automático, uma vez que seu personagem não exige muito de seus talentos dramáticos. Mas, mesmo que sua interpretação esteja em modo autômato, ainda está bem acima da média dos atores da atualidade, e seu Robert McCall é um personagem carismático. Merece destaque Marton Csokas, que vive o bizarro vilão incumbido de matar McCall. O restante do elenco apenas desfila pela tela, e nem as participações de Melissa Leo e Bill Pullman acrescentam muita coisa.

    Ainda que possua muita falhas, O Protetor é uma diversão escapista que merece uma espiada. Principalmente porque fica claro que esse filme poderá representar o início de uma nova franquia cinematográfica. Vamos torcer para que o próximo seja mais caprichado que esse filme.