Tag: Jeffrey Tambor

  • Crítica | O Grinch (2000)

    Crítica | O Grinch (2000)

    O Grinch é um longa natalino dos anos 2000, protagonizado por Jim Carrey e dirigido pelo boa praça Ron Howard. A trama se desenrola mostrando passado e presente do famoso personagem que odeia o Natal, por um motivo que no original era um mistério, mas que seria descoberto pela pequena Cindy Lou (Taylor Momsen).

    Lendo a sinopse, o longa parece mais uma história comum que retrata a data festiva, mas o roteiro trata de uma adaptação do escritor Dr. Seuss, famoso na literatura infantil por trazer histórias cínicas, que não tratam crianças como pessoas ingênuas e tolas. Suas mensagens divergem bastante do status quo e do conservadorismo de sua época.

    A preocupação dos estúdios era apresentar uma história sobre como o consumismo arruína o sentimento natalino, quando a história é mais que isso, dado que mostra uma personagem cuja raiz de maldade é desconhecida, e esse é um dos charmes dele, diferente desta versão.

    Mas nem tudo é negativo. Cindy representa uma variação da ideia de Seuss a respeito da perversão dos valores mais puros da sociedade. Ela questiona sua família e amigos do quanto eles se entregam para o consumismo e o quão supérfluo pode ser essa linha de pensamento, e perceber que existe outra figura que também não simpatiza com a data, no caso, o Grinch, faz ela seguir na direção dele.

    Há uma dificuldade de Hollywood em lidar com a mitologia de Seuss, em O Gato, lançado em 2003, o resultado foi tão negativo que a viúva do escritor entrou na justiça para que não houvesse mais filmes live actions baseado nesses livros infantis. A Illumination atualmente tem os direitos das histórias, e dribla essa condição fazendo filmes animados baseados nos livros do escritor, todas vazias de significado feitas unicamente para vender brinquedos e afins.

    Se o leitor estiver realmente curioso para ver obras sobre a carreira e personagens do autir, nos anos sessenta foi lançada uma série de animações para a televisão, entre elas Como o Grinch Roubou o Natal, comandada pelo mestre em animações Chuck Jones, o mesmo que ajudou a imortalizar a figura sacana de Pernalonga e outras personagens Looney Tunes na segunda metade do século XX.

    A produção é peculiar especialmente pela caracterização dos Quem. Ao passo que a direção de arte acerta na figura do Grinch e no cenário de sua casa — suja, bagunçada e cavernosa, como o interior do “monstro” — toda a arquitetura da Quemlândia é caricata, parecendo mais um parque de diversões de baixo investimento do que o lar de uma raça humanoide estranha. Não há também um equilíbrio entre os momentos mais lúdicos e o humor mais  físico. Há muitos piadas de flatulência, e elas parecem estranhas ao dividir espaço com a narração prosaica de  Anthony Hopkins.

    Ao menos a atmosfera da obra denuncia a falsa moralidade de autoridades políticas e do povo em geral, mas o preço para isso é uma abordagem que chega a irritar de tão doce que é a mentalidade dos Quem ou ao que eles pregam, já que praticamente todas as pessoas do vilarejo escondem algo. É fácil entender o Grinch, odiar essas pessoas é obrigação para qualquer sujeito honesto.

    Dr. Seuss escrevia de maneira sucinta, então para ter uma história de mais de noventa minutos foi preciso inventar muita coisa. Aqui se dá um passado trágico ao personagem, que visa explicar sua rejeição ao natal. A motivação soa banal e piora quando divide tela com as desnecessárias referências a cultura pop. A ideia de transformar o vilão em alguém que se autoflagela não era ruim, e visto a qualidade das produções posteriores das adaptações do autor, essa é a mais bem sucedida nos cinemas, especialmente por não demonizar o incompreendido, embora o Grinch não necessite de redenção ou de explicação para a raiz de seus problemas. Se isso não fosse o bastante, infelizmente, o personagem ainda fica marcado demais pelo desempenho físico de Carrey, que mesmo estando bem, ajuda a descaracterizar o personagem clássico transformando-o em outra coisa.

  • Review | Arrested Development – 5ª Temporada (Parte 2)

    Review | Arrested Development – 5ª Temporada (Parte 2)

    Após a péssima recepção de primeira parte da 5ª Temporada de Arrested Development pela crítica e pública, havia uma pequena esperança de quem acompanhou a série em seus áureos tempos de que Michel Hurwitz retornaria em grande estilo, no entanto, a sensação deste tomo é muito semelhante ao primeiro, com um roteiro e desempenho do elenco fraco e entediante.

    A série retornou pela Netflix em sua quarta temporada, em duas versões, uma com cada personagem tendo sua versão contada da história e outra reeditada, que causou muita confusão nos bastidores, por conta de problemas com os direitos de imagens dos atores, além de ter causado inúmeros furos de roteiro para quem não assistiu a versão original, e ainda nesta época, se notou que talvez retomar o seriado fosse um erro, tendo como único ponto positivo tangível, o fato da fase clássica ser revisitada e voltar aos holofotes, mas nem o arco dos Bluth é bem finalizado, e a química entre personagens vai muito mal.

    Praticamente nada funciona neste quinto ano, o programa continua com a exploração do mistério da morte de Lucille 2, mas há muito enrolação, com tramas paralelas terríveis que não capturam a atenção do espectador de modo algum. O casamento de Lucille e George Sênior está em crise, e o fato de seus intérpretes Jessica Walter e Jeffrey Tambor terem brigado nos bastidores faz com que esse núcleo ter muitos problemas, soando quase metalinguístico o que se vê em tela. O personagem de Michael (Jason Bateman) também não sai do lugar, continua fazendo trapalhadas ao tentar pôr as contas do clã em dia, e mesmo seu filho, George Michael (Michael Cera) está apagado. Até David Kross  está sem graça, com o arco mais chato de todos, onde Tobias tenta retomar seu papel como parte importante dos Bluth, mas sempre sem conseguir. É tudo tão óbvio que irrita demais.

    Os outros personagens tem participações mais longas, no entanto, são tão pífias e repetitivas que faz perguntar o porquê de retomar tais histórias. Claramente os atores não estão à vontade, e isso se reflete na participação de Portia de Rossi, que só aparece no final e ninguém sente muita falta disso, com pouquíssimas citações a Lindsay, sua personagem. Repetir o fato de os Bluth falirem poderia gerar novas aventuras e desventuras, mas claramente a fórmula está esticada, funcionando como um trunfo repetitivo. Um dos poucos momentos realmente inteligentes é a brincadeira que o roteiro faz com o discurso empreendedor e a mentalidade de coaching que invadiu o modo de trabalho atual, em especial no programa bobo que George Michael faz em Fakeblock.

    As melhores tiradas continuam no humor de constrangimento, sobretudo com Will Arnett e seu GOB, que apesar de ter um arco que discute sua sexualidade de modo cansativo, ainda continua engraçado e louco, e os poucos momentos onde Buster (Tony Hale) soa engraçado, é com seu irmão mais velho. Outro momento interessante são os flashbacks, que mostram a família lidando com a infância de Lindsay, Gob, Michael e Buster, com os pais sendo feitos por Cobie Smulders e Taran Killam, brilhantes nas imitações que fazem de Walter e Tambor. Quando se mostra as crianças competindo, repara-se que desde cedo elas eram egoístas e o quanto Lucille estragou seus filhos, deixando que George Sr. os transformasse em rivais entre si.

    Fora isso, há uma boa piada envolvendo os super advogados com os Guilty Guys, que apesar de não ser muito importante para o roteiro, soa engraçada por brincar com séries de advogados, e como o roteiro aqui é péssimo, fugir de um texto que não funciona dentro da trama principal acaba sendo um evento feliz. É triste notar como Hurwitz não consegue manter o interesse nos personagens que foram criados, e mais lamentável ainda perceber o gancho para outros acontecimentos envolvendo a família, ensaiando uma sexta temporada. É até natural que se espere um desfecho digno para eles, mas caso não haja inspiração do corpo de roteiristas, é melhor deixar como está, para não invalidar ainda mais a jornada dos Bluth, tão maltratada em todas essas tentativas de retorno, mesmo com anos entre esses marcos. É preciso maturidade até para saber a hora de parar de contar uma história.

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  • Crítica | A Morte de Stalin

    Crítica | A Morte de Stalin

    Lançado em 2017, ano do centenário da Revolução Russa, A Morte de Stalin é uma comédia, comandada por Armando Iannucci que mostra os últimos dias do político que governou a URSS após a morte de Vladimir Lênin. Curiosamente parte da premissa lembra a de A Queda, filme que mostra os últimos momentos de Adolf Hitler, outra das principais lideranças nacionais da Segunda Guerra Mundial.

    Iannucci já havia feito um comentário jocoso parecido em um filme antigo seu, Conversa Truncada, onde ele traz uma história em que Estados Unidos e Inglaterra tem um conflito muito alardeado pela imprensa americana. Depois disso, ele foi um dos principais diretores da comédia política Veep, protagonizada por  Julia Louis-Dreyfus. A questão é que neste novo empreendimento há uma necessidade de em absolutamente qualquer momento desdenhar das figuras que compuseram a vida política soviética em alto escalão

    Essa sensação de deboche puro e simples ocorre com um elenco de peso, formado por Olga Kurylenko, Jeffrey Tambor, Steve Buscemi, Tom Brooke, Jason Isaacs, etc. Algumas das piadas funcionam muito bem, com um bocado de influência do humor britânico, como por exemplo quando um dos subalternos de Josef Stalin (Adrian McLoughlin) tenta passar informações através de uma pasta por uma janela, de maneira pitoresca e atrapalhada, mas em outro, pouco tempo depois, se faz piadas escatológicas, com urina. Além disso, os que envolvem Stalin são retratados como homens idiotas, em uma abordagem parecida com a que Seth Rogen e Evan Goldberg fizeram em A Entrevista.

    Em determinado ponto se percebe que não há interesse em se discutir quaisquer caminhos ou meandros políticos soviéticos, e sim fazer graça com os personagens famosos do regime, normalmente com comportamentos estereotipados gratuitamente, em eventos que não tem muita graça. É como se esse fosse uma esquete de Monty Python onde os filósofos gregos jogam futebol, mas sem qualquer ironia mais inteligente ou comentário político minimamente embasado. O comentário social é tão distante do real que se dilui demais, quase ao ponto de não fazer qualquer sentido na direção de uma comparação entre realidade e ficção.

    O filme, baseado no quadrinho homônimo de Fabien Nury e Thierry Robin não acerta muito em seu humor, uma vez que faz pouco rir e também causa pouca ou nenhuma reflexão sobre os personagens analisados, ao contrário, soam como uma comédia vazia e sem discussões inteligentes.

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  • Review | Arrested Development – 5ª Temporada (Parte 1)

    Review | Arrested Development – 5ª Temporada (Parte 1)

    A quinta temporada de Arrested Development quase não aconteceu. Em 2013 foi lançada a quarta temporada, muito criticada por quase não colocar os personagens da família Bluth juntos em tela, e posteriormente, lançaram Fateful Consequences, um remix desses mesmos episódios. Agora, para tentar concorrer ao Emmy, Mitchell Hurwitz lança a quinta (e provavelmente última) temporada, dividida em duas partes. Após muitas polêmicas, envolvendo acusações a Jeffrey Tambor de comportamento abusivo na série e em Transparent, finalmente vem a luz a quinta temporada, com cinco anos de hiato.

    O primeiro de oito episódios começa mostrando Michael (Jason Bateman), com seu destino bem encaminhado, trabalhando longe da sua família, e para variar, ele tem de voltar a casa modelo, onde encontra Buster (Tony Hale), com uma mão mecânica no lugar do cotoco, e misteriosamente, depois da sua ultima participação na temporada passada, onde estava sendo preso.

    O imbróglio com seu filho, George Michael (Michael Cera) é resolvido de uma maneira engraçada, que se choca cronologicamente com o mostrado na quarta temporada, já que o visual de Cera e Bateman claramente é de 2018, e não de 2013. As cenas com fundo falso e tela verde deixaram de ser algo vergonhoso para o programa e se tornaram parte das piadas, especialmente quando se mostra Tobias (David Cross) lidando com sua paciente, Lucille (Jessica Walter), em uma casa de praia cuja vista é tão artificial quanto os Sharknados, do canal Syfy.

    Após os acontecimentos do Cinco de Quatro passados, Lindsay (Portia de Rossi) entra para a vida política, e para melhorar sua reputação, os Bluth seriam premiados como família do ano. Basicamente isso é um pretexto para reunir todos juntos, e mostrar Tobias tentando interpretar Michael, que claramente quer se distanciar dos demais parentes, exceção é claro de seu filho, que tem uma rusga claramente não bem resolvida entre eles.

    Talvez seja o fato dessa ser uma temporada exibida pela metade, mas a sensação de que o humor que Mitchell Hurwitz impõe ficou menos afiado é nítida, enquanto a carga emocional em direção a depressão é bem maior, em especial pelo papel de George Sênior. Claramente as interações entre os personagens não é como era antes, mesmo Will Arnett e Bateman não parecem mais tão entrosados, o mesmo para Bateman e Cera.

    Se perde um tempo enorme em torno da tentativa de liberar Buster, assim como na extensão da farsa do Fakeblock, esperava-se que Arrested Development abordasse algum tema mais atual, como o uso das redes sociais e dos celulares como método de contato entre as pessoas, mas não. O único ponto que parece ter algum laço com a realidade tangível, é um pequeno comentário de Lucille a um discurso de Donald Trump, a respeito do muro entre os territórios americanos e mexicanos, mas até isso soa atrasado demais, e já bastante óbvio dentro do universo de séries e filmes americanos.

    Não é só a temporada que está inacabada, mas a maior parte das piadas também parece, e nem é pela questão dos destinos não estarem em vias de ser selados, mas porque a maioria das partes cômicas ou não são tão inspiradas, ou simplesmente não casam com os personagens que as proferem. O episódio derradeiro tem mais de trinta minutos, e é um pouco mais engraçado do que o restante da temporada. Os números em preto e branco, imitando o cinema mudo são bem divertidos, assim como a rivalidade revivida entre Tony Wong (Ben Stiller) e Gob (Arnett), mas ainda assim, é pouco. O mote do mistério relacionado ao paradeiro de Lucille 2 se arrasta e claramente só será explorado na segunda parte da série, assim como a estranha ausência de Lindsay, que faz perguntar se o fato da eleição e da campanha que fez será mais explorada, ou se Portia de Rossi está brigada com a produção e com o restante do elenco, no entanto, mesmo excluindo especulações e possíveis escândalos extra-filmagens, o resultado desta parte de Arrested Development é um produto sem fundamento e sem um mínimo desfecho. Se a ideia é tentar concorrer a premiações, certamente elas não virão, pois não está engraçada, bem atuada ou com roteiros minimamente bem escritos.

    https://www.youtube.com/watch?v=gXg2_yExgVY

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  • Review | Arrested Development – 4ª Temporada

    Review | Arrested Development – 4ª Temporada

    Após sete anos sem as aventuras dos Bluth, a Netflix assume a responsabilidade de tentar contar a história da família de desequilibrados, com um formato ainda menos usual do que o mockumentary apresentando a partir de 2003, a desunião familiar que sempre se anunciava como recurso narrativo para driblar a dificuldade de juntar o elenco, cuja agenda geral quase nunca batia entre si. O drama de Michael (Jason Bateman) começa por não ter mais capacidade de se manter financeiramente, colhendo os frutos dos desmandos de seu pai a frente da Bluth Company.

    Recentemente, o criador da série Mitchell Hurwitz remixou a quarta temporada, então há duas versões do mesmo programa, e ambas serão analisadas aqui. Essa postura inclusive sofreu com algumas polêmicas, já que o elenco não gostou de ter recebido apenas por quinze episódios, quando a versão nova tem vinte e dois.

    Temporada Quatro Original.

    Antes de mais nada, é mostrado um flashback mostrando Lucille e George Sênior novos, não interpretados por Jessica Walter e Jeffrey Tambor, e sim por Kristen Wiig e Seth Rogen (com uma peruca horrorosa). Boa parte dos famosos que fizeram participações especiais no seriado voltam aqui, inclusive, Liza Minelli, que faz Lucille 2 (ou Lucille Austero).  A situação do “protagonista” – essa condição sempre foi discutível, uma vez que cada Bluth tem um bom tempo de tela na série, dividindo assim os holofotes – é muito dificultada ao se deparar com a rejeição por parte do seu filho, que quer se mantar longe do pai, para não repetir os erros dele em não cortar a excessiva intimidade com a própria parentela.

    O formato da retomada se passa inteiro no primeiro episódio, que conta a tentativa de Michael em fundar a própria companhia, cujo fracasso ocorre pelo azar tradicional dele, talvez uma expiação pelos pecados familiares, visto no decorrer dos outros anos. Um dos pontos altos é a participação de Ron Howard, produtor-executivo e narrador do seriado, que se insere na trama como uma visão em meio a realidade, fazendo um papel auto-caricatural que desafia até os limites metalinguísticos da série. O motivo seria a feitoria de um filme sobre os Bluth, o que iria de encontro a realidade, já que a ideia de Hurwitz seria fazer um longa, que acabou transformando-se no seriado da Netflix.

    Em paralelo, George Sr. e Lucille resolvem se divorciar, forçando o último bastião familiar, fato que se torna ainda mais evidente ante a situação legal da matriarca, que será julgada segundo as esdrúxulas leis marítimas. Para variar, o momento mais constrangedor do  programa envolve Tobias, que mistura suas duas profissões, de terapeuta e ator para tentar ajudar Brie (Maria Bamford), uma ex-atriz falida que havia trabalhado em uma produção barata do Quarteto Fantástico, e que o conheceu por acaso. Para tentar ajudá-la a ganhar dinheiro, ele começou a posar como os personagens da Marvel, e foi impedido pelos advogados de Stan Lee, essa trama evolui com ele sendo preso, e depois trabalhando em um musical, na clínica de reabilitação de Lucille Austero, fato que ajuda a mostrar o quão degradante é a vida de Brie e o quão vergonhoso pode ser a de Tobias e dos demais Bluth.

    Os últimos dez episódios acontecem sob um mergulho profundo na melancolia, seja na versão tosca de Entourage que Gob (Will Arnett) vive, assim como sua reaproximação inoportuna de Steve Holt (Justin Grant Wade). É nesse pedaço também que Lindsay (Portia de Rossi) lida com o candidato Love (Terry Crews) um político direitista que quer erguer um muro para deixar os mexicanos longe do território americano, se envolvendo como prostituta de fato. Nessa parte, a personagem confronta sua hipocrisia, e motivação política torpe, se assumindo como uma patricinha que jamais trabalhou para conquistar nenhuma das posses que tem, mas obviamente que o roteiro não seria moralista, e trataria isso de maneira engraçada, como o é.

    Ainda assim, essa versão parece diferente demais da fase clássica. Há muita repetição de cenário e situações, e o fato das agendas dos atores não baterem fez com que a sensação de que esse ano foi feito unicamente por obrigação seja ainda mais grafado, tanto que boa parte das cenas foi feita com fundo verde, e isso faz perder demais a interação e química que fez de Arrested Development um objeto raro.

    Remix – The Fateful Consequences

    Pouco se mudou nas participações dos atores principais, que inclusive reclamaram por terem suas imagens exibidas em mais episódios – que curiosamente tem menos tempo de exibição que a quarta temporada original – e ainda estariam em regime de sindicato, que é um modo de exibição muito particular dos Estados Unidos. Quem teve que realmente trabalhar mais foi o narrador Ron Howard, que praticamente redublou tudo.

    Essa versão chama-se Fateful Consequences e tem 22 episódios, com um pouco mais de vinte minutos cada. Há cenas inéditas, e já no primeiro episódio dessa versão se estabelece um novo misterio, envolvendo uma morte inesperada. Seu formato lembra o vai e vem típico das temporadas anteriores, ainda que hajam diferenças drásticas na história, é como se fosse um gigantesco retcon (continuidade retroativa, em tradução livre), implantado

    As cenas inéditas certamente foram retiradas do material cortado da versão original, e esses acréscimos ajudam a amplificar a sensação de irregularidade do show, uma vez que em alguns momentos ele se torna mais confuso que a quarta temporada comum e em outros, explicita mais os fatos, com explicações bastante expositivas.

    Neste recorte, a questão da festa do Cinco de Quatro é ainda mais grafada. A vingança de Lucille Bluth sobre o feriado mexicano não serve apenas para sustentar a questão de segregação do muro que Love queria levantar, mas também a propagação do aplicativo antissocial Fakeblock, de George Michael, e claro, o terrível destino de Lucille Austero.

    E desse jeito, parecido demais com a terceira temporada, termina Fateful Consequences. Mais irregular que a outra, envolta na tentativa de emular o formato dos episódios antigos, pavimentando também o futuro da saga, mas seu resultado é discutível, apesar de ligeiramente mais positivo que a versão falada por cada personagem. A sensação de comida requentada não sai do paladar do espectador, o que é uma pena, pois qualquer que seja a versão desta quarta temporada, soa melancólica.

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  • Review | Arrested Development – 1ª a 3ª Temporada

    Review | Arrested Development – 1ª a 3ª Temporada

    A sufocante rotina familiar e necessidade de fuga deste paradigma é o principal mote de Arrested Development, que usa Michael Bluth (Jason Bateman) como avatar dessa sensação incômoda. O clã dos Bluth é uma desajustada família que faz questão de tornar a existência do protagonista algo desgraçado. A engraçadíssima narração (de Ron Howard, produtor do programa) exibe uma miséria existencial, de um homem entorpecido pelos que lhe são próximos e que tem poucos objetivos edificantes, além de ter na presença de seus parente a garantia de infelicidade.

    Para o espectador não familiarizado com o todo de AR – lançado no Brasil como Caindo na Real em suas primeiras temporadas –  as situações cômicas demoram a engrenar, porque as disfunções são mostradas aos poucos, bem como as fobias e situações tragicômicas. O que é evidente já nos primeiros episódios da primeira temporada é a briga de ego de pessoas absolutamente medíocres e preguiçosas, mostrada de um modo charmoso e capaz de gerar empatia por cada um dos estranhos personagens.

    Michael por exemplo é inábil com as mulheres, ainda em luto por conta de sua esposa falecida. Já Lindsay Bluth (Portia de Rossi) e Tobias Funke (David Cross) claramente vêem um divórcio que em breve deverá acontecer, ainda que se arraste por muito mais tempo, entre os motivos, a possibilidade de Tobias ser um homossexual que não se percebe como tal. Eles tem uma filha, Mae “Maeby” (Alia Shawkat) que por sua vez causa os instintos mais primitivos em seu primo, George Michael (Michael Cera), fazendo-o ter um desejo incestuoso. Lucille (Jessica Walter) é a mãe mesquinha da família, ela se sente desamparada por seu esposo, George Sr. (Jeffrey Tambor) quando o mesmo é preso. O filho mais próxima dela é o desfalcado mentalmente Buster (Tony Hale) e ainda há o primogênito aficionado por mágica e ilusionista GOB (Will Arnett). Depois de toda a crise, todo esse núcleo – com exceção de Lucille e Buster – vão morar no mesmo lugar, a casa modelo — um lar fake que serve como exemplo para outras obras imobiliárias da Bluth Company, tão falso quanto a unidade desses e o sucesso da empresa.

    Michael é o mais trabalhador do grupo, na verdade é o único que tem uma vida normal. Ele espera a promoção a presidente da Bluth Company mas antes de ser pego seu pai dá o posto de CEO a Lucille. A acusação de fraude recai sobre a empresa e revela de modo categórico a ganância da família, que não valoriza o irmão tanto quanto merece, nem mesmo na iminência da miséria.

    A única alternativa que os estúpidos parentes tem é de implorar ajuda ao homem justo, o mesmo que foi rejeitado por seu pai e desprezado por seus irmãos, fato que o faz parecer como o mito bíblico de José do Egito. Diante dessa situação, Michael quer obviamente uma bela compensação por ter de aguentar tanta idiotice acumulada, para logo depois perceber que a sua não-nomeação como sucessor de seu pai foi uma ação estratégica, para que ele não fosse preso também, o que até faz balançar seu coração, já que ele decidiu mudar seus planos de ir para Chicago seguir em frente abandonando tudo e todos, levando consigo seu filho. Por ser um sujeito de bom coração ele obviamente freia esses planos e tenta arrumar a confusão da companhia, e claro, de seus parentes.

    Os primeiros anos se focam na convivência nada sadia dentro da família, com competições imbecis dos filhos GOB, Buster e até de Michael por atenção dos pais – num comentário pseudo-freudiano ímpar, que envolve não só Complexo de Édipo mas tantas outras síndromes mais complexas – e claro, ganância, debochando da incessante busca  dos americanos por tentarem alcançar o American Dream, ainda que claramente sejam todos os personagens comuns.

    Parte do sucesso de Arrested Development é a persona de Bateman, e seu recorrente papel do homem normal, esforçado e de caráter ilibado que têm de lidar com as loucuras alheias, como foi em quase todos seus papéis posteriores ao seriado. Cada uma das situações esdrúxulas e nonsenses tornam-se mais interessantes por ter um forte pé na realidade, fazendo lembrar a todo momento o quanto os distúrbios comportamentais do grupo são perturbadores ante a ótica normativa dos outros homens. A tenacidade de Michael apesar de ser uma bela qualidade, se confunde com um defeito, por grafar ainda mais sua condescendência e complacência com os erros dos que o cercam.

    O final do primeiro ano um ocorre com mais uma tentativa de Michael em sair do seio familiar, para viver uma vida distante daqueles que fazem de si um ser miserável. Após o julgamento de seu pai, ele é mais uma vez, por força das circunstâncias, proibido de seguir seu caminho. O começo da segunda temporada prossegue em mais uma tentativa fracassada de retiro, para mostrar uma predileção pelo drama e pelos anúncios de saída, o que faz com que seus parentes narcisistas não acreditem em sua saída, tampouco sentindo sua falta como pacificador dentro do clã.

    A situação piora, quando George Sênior consegue enfim fugir da prisão, para então ser indiciado, fazendo daí algumas piadas com foragidos famosos, em especial o caso de Saddam Hussein, no ano de 2003 (aqui há até uma desconfiança de traição à pátria). Depois de ser encontrado em um túnel subterrâneo, Michael o abriga no sótão da casa modelo, para que ele esteja minimamente sob seu controle. Nesse momento também há a inserção do irmão gêmeo do patriarca, Oscar, que por sua vez abre a possibilidade de mais uma quantidade exorbitante de piadas, pondo os dois personagens em perspectivas bem diferentes, tendo ambos como amantes de Lucille.

    Uma das melhores coisas no segundo ano certamente é a imitação de Uma Babá Quase Perfeita que Tobias faz e todos fingem não saber quem ele é, para que permaneça sem incomodar ninguém. A relação estremecida entre ele e sua esposa parece realmente resultar em nada mais que o fracasso total, já que ela só o quer quando ele parece um fruto proibido, e quando ambos estão juntos, não conseguem ser felizes. Essa questão é obviamente hilária, mas esconde um comentário óbvio e sério, acusando uma hipocrisia comum a muitos casais, que só se mantém juntos por conta de convenções, e claro, por comodidade.

    O final da segunda temporada mostra George Sênior se entregando de bom grado, obviamente em um movimento mentiroso, já que o que ele tentou fazer foi mandar seu gêmeo Oscar em seu lugar para o cárcere, ao mesmo tempo em que consegue proferir um discurso hipócrita e moralista para GOB e Michael, dizendo que pelo fato de compartilharem do mesmo sangue, não deveriam brigar. A duplicidade de vida e discurso é só mais uma mostra do quão canalha o patriarca pode ser, dado a quantidade de prejuízos que causou a sua família, ou seja, seu sangue.

    A sensação de que a série de Mitchell Hurwitz é uma comédia de erros dos Bluth é na verdade um pretexto para contar uma história de constrangimento sobre a vergonha que a existência humana pode proporcionar, e isso fica ainda mais evidente e nítida ao se aproximar de 2005, o ano da terceira (e última até então) temporada comum de Arrested Development. As falcatruas que todos os parentes cometem fazem o (a princípio) ingênuo Michael ser mais cínico e capaz de, pelo menos, entender como eles funcionam, mas sem conseguir retribuir.

    Quando é posto a prova, Michael nega que tem uma família, finalmente verbalizando de modo categórico o desejo reprimido que sempre lhe tomou, e a vontade de se ver livre disso o torna cego até para coisas óbvias, mesmo quando ele se aproxima de uma linda mulher que na verdade esconde um segredo – que nem é tão secreto assim. O personagem claramente está anestesiado demais para entender sequer as coisas óbvias.

    É nesse momento do seriado que Tobias acredita que ganhará mais chances de interpretar bons papéis se tiver mais cabelo, tendo fracassos óbvios nisso. A deterioração dele deixa de ser apenas mental e sentimental, para ser também física. O implante alem de dar errado no início, fazendo seu coro cabeludo sangrar, causando um choque visual no espectador e até em personagens periféricos. Ele ao lado de GOB formam um dueto de idiotas carismáticos, que a princípio causariam ódio por suas inabilidades, mas compensam com um carisma absurdo. A personalidade do personagem de Arnet é ainda mais chamativa e magnética, e faz um enorme sentido no universo caótico que o programa estabelece. A inabilidade de GOB é mais discutida ainda nesse ano, graças a aproximação dele com Steve Holt (Justin Grant Wade), seu filho não reconhecido.

    O roteiro é tão mergulhado em metalinguagem, que pede aos seus espectadores e fãs que contem aos seus conhecidos sobre este show, através de mais uma ação arrecadação de fundos organizada pelos Bluth, ainda que Lucille e outros parentes sejam orgulhosos e arrogantes demais para receber ajuda externa. Os Bluth realmente não precisam de ninguém para sabotá-los, já que eles são especialistas nisso, um bom exemplo disso é Boys in Fight (ou no mercado mexicano Luchas y Muchachos), uma série de vídeos onde a competição entre GOB e Michael era incentivada por George Sênior, basicamente para tentar ter algum lucro, de maneira bem desonesta.

    George Michael finalmente tem coragem de assumir perante seu pai o desejo reprimido que tinha por sua prima, após descobrir que ela realmente era filha de Lindsay – somente para, após mais uma reviravolta, descobrir que Lindsay era na verdade adotada. O programa de TV recorre a sua fórmula, com a capacidade incrível de não desgastá-lo apesar da recorrência enorme de reviravoltas e autorreferências.

    Após três anos de exibição, a audiência baixa fez com que a Fox decidisse por encerrar as atividades de seus personagens, para um futuro sem certeza e com um desfecho abrupto. De certa forma, percebendo que o fim se aproximava, Hurwitz conseguiu amarrar bem até a desolação pelo fim de seu show, e um dos últimos momentos mostra uma intervenção de Ron Roward (em pessoa, e não só em narração), dizendo que a história da família não daria uma série, talvez um filme, provavelmente na tentativa de cavar uma oportunidade para isso. E dessa forma cara de pau, termina Arrested Development, mostrando uma família se decompondo, no auge de sua qualidade humorística, interrompida de maneira precoce por conta do público pequeno de telespectadores. O fato dela nunca ter sido tão popular quanto merecia passa por muitos motivos, entre elas, o fato de mais da metade das suas piadas só fazerem sentido para quem já é aficionado pelo programa, o que obriga seu espectador a entender profundamente sua mitologia, e outro fato é que, para quem abraça o programa, a sensação ao final é extremamente prazerosa, de tão reais que seus personagens parecem.

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  • Crítica | Se Beber, Não Case! – Parte II

    Crítica | Se Beber, Não Case! – Parte II

    Depois da arrecadação de bilheteria do primeiro filme era óbvio e evidente que Tod Phllips iria repetir a fórmula de sucesso. A continuação tem o mesmo esqueleto narrativo e os mesmos tipos de conflito, mas dessa vez em terreno selvagem e com uma interação um pouco maior entre os personagens. O escopo de escrotidão e exageros aumentou consideravelmente e, por esse motivo, Se Beber, Não Case! Parte II merece ser assistido.

    O roteiro pode parecer pueril e sem substância, mas toca em muitos temas capciosos, discutindo estereótipos raciais, uso abusivo de drogas lícitas e ilícitas, overdose, amnésia alcoólica, utilização de medicação prescrita sem autorização médica, “homossexualismo”, violência urbana e crimes internacionais. Discute também a universalidade de piadas sexuais, que a priori seriam entendidas por qualquer um independente de nacionalidade ou idioma.

    As viagens e devaneios de Alan (Zach Galifianakis), especialmente quando está meditando, mostram um pouco de sua psique, e como enxerga de forma particular o mundo. Ao viajar por sua mente, enxerga a si e aos amigos (Chow, Stu, Phill e Doug) como crianças – essas cenas tornam croncreto o que já era óbvio ao público: a forma de Alan enxergar a vida é infantil. Mas até ele supera muitos obstáculos – como o medo de se distanciar de seus amigos – e perdas – como o chapéu roubado e o macaco baleado, com a clássica frase de despedida emocionada – “queria que macaquinhos usassem Skype, talvez um dia…”.

    A jornada do herói dessa vez é centrada em Stu (Ed Helms): ele continua inseguro mesmo após a experiência em Las Vegas, e considera aquele episódio um grande erro – mesmo que este tenha levado-o a se separar e encontrar sua nova esposa. Sua condescendência agora é exercida à figura do pai da noiva, que o humilha sempre que tem oportunidade. O roteiro mostra o desenrolar da recuperação de sua autoestima perdida, muito ligada à aceitação do que ele é: um sujeito que parece contido, mas que internamente abriga um demônio que o faz se envolver com prostitutas, e também possuindo o poder de resgatar memórias suprimidas pelo uso contínuo de drogas soníferas.

    Um fato curioso é que o tatuador de Bangcoc seria interpretado por Mel Gibson, mas graças às últimas declarações afáveis aos judeus, sua participação foi proibida pelos produtores do longa.

    A maior participação de Ken Jeong fazendo Chow torna o filme mais engraçado ainda: seu personagem rivaliza com Alan pelo posto de caracterização mais hilária e esquisita. Mais uma vez a química entre Cooper, Galifianakis e Helms é o ponto alto do filme, que, ao seu final, repete o desfecho do primeiro, mostrando as fotos da fatídica noite perdida. Se Beber, Não Case! Parte II é uma versão maior, melhor e sem pudor de uma comédia de erros.

  • Crítica | Se Beber, Não Case!

    Crítica | Se Beber, Não Case!

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    Um filme pequeno, sem grandes pretensões que alcançou o posto de comédia censurada para maiores de 18 com maior bilheteria da história do cinema – algo em torno de 458 milhões de dólares. Foi responsável por alçar seu diretor Todd Phillips e o elenco principal ao estrelato. A comédia de erros aliada ao humor politicamente incorreto e sem frescuras garantem a graça para praticamente todos os públicos, mas analisar o sucesso de Se Beber Não Case somente por isso é simplificar o bom trabalho da produção.

    O diferencial desta fita começa pelas filmagens in loco. Em tempos em que até séries de TV de baixo orçamento utilizam-se amplamente de CG, ver um filme com tamanha qualidade artesanal e sendo registrado nos cenários reais é no mínimo louvável. Poucas obras cinematográficas conseguiram capturar o clima e o espírito de Las Vegas como aqui, e isso empresta muita credibilidade à trama principal.

    Logo no começo é mostrado o “bando de lobos” metidos num apuro absurdo, e este é o lugar comum do grupo: em meio à agitação, loucuras, bebedices, prostituição, vida desvairada. O espectador é convidado a mergulhar na história junto com os “heróis”.

    Após acordar da ressaca, Stu – personagem de Ed Helms – é mostrado de frente por uma steadcam, imitando a sensação de tontura após uma noite de excessos, este é um ótimo recurso para mostrar como são os hábitos da trinca de protagonistas. A história explora basicamente a relação desse estranho grupo e como eles aprendem a viver suas vidas sem muito desprendimento moral.

    Alan (Zach Galifianakis) é infantil, insano e algumas vezes até irracional, suas tiradas são a melhor coisa do filme: “Se masturbar no avião é mal visto graças ao 11 de Setembro, obrigado Bin Laden”, “Tigres adoram pimenta, mas odeiam canela.”, ou quando este encontra Chow, um personagem oriental que os ataca: “Pare de me bater, eu também odeio Godzilla, ele destrói tudo”. Seus hábitos, sua bolsa de Indiana Jones e trejeitos efeminados, além da clara falta de convívio social fazem dele um personagem riquíssimo, que foi incorporado a praticamente todos os papéis de Galifianakis. Phil (Bradley Cooper) é um professor casado e entediado, que busca uma noite memorável enquanto Stu vive sua vida mais ou menos, controlado por uma mulher que o destrata o tempo todo. Os três precisam de algo mais, principalmente a libertação de si mesmos. A química entre o elenco é o fator primordial para que a fórmula dê certo, Helms, Galifianakis e Cooper formam um time entrosado e tudo se encaixa graças a eles.

    O conjunto de absurdos que acontecem no desenrolar da trama e suas desventuras tornam tudo ainda melhor, pois a empatia pelo trio é quase automática da parte de quem vê.  Se o espectador mais crítico forçar um pouco, dá até para achar semelhanças entre o filme e “Os Boas Vidas” de Federico Fellini, obviamente deixando de lado o estofo da película italiana. Ambos têm temas parecidos, explorando a boêmia como estilo de vida e fuga da realidade, por vezes cruel – e claro que o caráter e a mensagem final são completamente diferentes.

    Próximo do final, Stu enfrenta seus fantasmas e tem uma atitude, demonstrando que após toda aventura, ele evoluiu. Os créditos finais com as fotos mostrando as lacunas perdidas devido à amnésia do grupo se consolida como um desfecho magnífico para a noite épica dos amigos.

  • Crítica | Se Beber, Não Case! – Parte III

    Crítica | Se Beber, Não Case! – Parte III

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    O último capítulo da Saga Hangover começa de forma grandiosa, nas primeiras cenas o público tem uma prévia do que está por vir. Todd Phillips opta por fugir do lugar comum em que a franquia estava, sai de sua zona de conforto e explora pela primeira vez uma história fora de sua fórmula usual.

    Dessa vez a jornada heroica cabe a Alan – Zach Galifiniakis. Suas atitudes impensadas dão início a uma cadeia de eventos, que culminaria em uma tragédia familiar. Após o ocorrido, é mostrado um pouco do background do personagem, e escancara algo que antes já era apenas sugerido: os problemas de ordem mental de Alan. A situação se agrava pela recusa dele em tomar seus remédios prescritos. Stu, Phill e Doug voltam para tentar conscientizá-lo de que precisa se tratar, e as desventuras do grupo começam a partir daí. Os absurdos e as tiradas únicas do protagonista ainda são frequentes, as gags e piadas de humor ácido continuam afiadas, mas o foco na evolução do personagem mais memorável da série é o mais importante.

    Mesmo sendo uma fita de comédia, nessa continuação os gêneros acabam se misturando. Em alguns momentos é um filme de assalto, em outros é de espionagem, contém elementos de drama em quase toda sua totalidade, etc. O roteiro toca em temas pesados como psicopatia, esquizofrenia, assassinato, latrocínio, criminalidade internacional, rixas entre criminosos, assim como nos filmes anteriores, mas dessa vez o enfoque é um pouco menos superficial.

    A qualidade na direção aumentou muito, Todd Phillips evoluiu a olhos vistos e o seu script – unido a Craig Mazin – está mais maduro e assim como seus enquadramentos, o realizador parece querer demonstrar as suas influências, pegando emprestado estilos e modos de filmar de seus contemporâneos – o repertório de imagens emula desde Christopher Nolan, a Sam Mendes e Paul Greengrass, ainda que em um tom de paródia. Sua câmera deixou de ser tão estática, agora ela é móvel e viaja junto com os personagens. Certamente esse é o episódio mais épico e bem realizado da franquia.

    Mais uma vez a química entre Bradley Cooper, Zach Galifiniakis e Ed Helms provou-se eficaz. Mesmo as pequenas participações de Heather Graham e do Bebê Carlos enriquecem a trama. Ken Jeong e seu Leslie Chow ganha ainda mais destaque, seu personagem é o melhor explorado (fora o trio de protagonistas), e tem até bastante substância, guardadas as devidas proporções.

    O espectador que procura uma comédia despretensiosa certamente irá rir muito nesse Se Beber, Não Case! – Parte III, mas o filme é realizado para o fã dos personagens, pois demonstra como cada um dos integrantes da alcateia está após tantas aventuras juntos, o quanto a relação entre eles se fortificou e tornou-se algo estritamente necessário e simbiótico. E o final extraordinário mostra que não importa o quanto eles podem crescer e evoluir, não há como fugir ou negar a própria natureza.