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  • Top 10 | Filmes para o Dia dos Namorados

    Top 10 | Filmes para o Dia dos Namorados

    Uma das forças de movimento do ser humano, o amor é um dos sentimentos mais arrebatadores e controversos que existe, principalmente, por conta de sua potência e de limites naturais que podem transforma-lo em passado e bruma. Presente na maioria das narrativas, os amantes são figuras primordiais e estão presentes no imaginário popular desde a composição do livro da criação, representados por Adão e Eva. Independentemente de seu fruto, os amantes são sempre um tema rico explorado pela sétima arte e, neste dia dedicado aos enamorados, Marcos Paulo, Doug Olive, Filipe Pereira, o recém-chegado Halan Everson e Thiago Augusto Corrêa se reuniram para compor mais uma lista, dessa vez, direcionada a pares unidos pela ficção (Em tempo, a última vez que a equipe se reuniu para o assunto foi no sexto Vortcast, “Ahhhh, O Amor…“. Porém, até mesmo no imaginário, o amor não é eterno posto que é chama. Uma justificativa que explica porque, dentre a lista desenvolvida, algumas obras são um misto de felicidade e tristeza simultânea. Ainda assim, a aventura de um amor é um dos grandes prazeres humanos. Não a toa a canção do quarteto de Liverpool assume que tudo que precisamos é de amor.

    Ela (Spike Jonze, 2013) – Por Marcos Paulo

    Filme de destaque no ano de 2013, conta com um Joaquin Phoenix irreconhecivelmente frágil no papel de Theodore e Scarlett Johansson como Samantha, sua sedutora assistente virtual. Em um mundo surreal, pessoas criam laços profundos com seres virtuais como solução para perda do sentido de contato e afeição em seu mundo físico. Questões sobre amor, necessidades e aquilo que nos faz humanos, são parte desta fábula criada por Spike Jonze refletindo aquilo que um relacionamento, seja como for, traz de mais especial: pertencer a algo maior.

    Azul é a Cor Mais Quente (Abdellatif Kechiche, 2013) – Por Doug Olive

    Uma grande brincadeira (levada a sério por parte do público) com o atual cinema francês. Um filme onde se opta por esquecer trilha sonora, montagem americana ou a tentação de muitos em definir essa “nova” geração. Ao invés disso, Azul é a Cor Mais Quente nos conquista substituindo o ritmo narrativo oriundo dos quadrinhos pelo nível excepcional de todas as atuações; em especial da protagonista, com seus inúmeros monólogos sem palavras. Cada gemido ou sugada de espaguete é sinal verde para a próxima cena, às vésperas de um novo riso ou choro para nos deixar órfãos da insensibilidade – tudo aflora! No universo sem contexto ou decretos de Adéle, nua do começo ao fim, nada é, mas tudo pode ser intencional transvestido de inofensivo. Um furacão que arrasou Cannes em 2012, e um arco-íris de sensações, pintado no limite entre a lucidez e a explosão emocional; uma homenagem crônica, afinal, à liberdade – la voie, la vérité, la vie, o lema político da França e das democracias pertinentes.

    Amor (Michael Haneke, 2013) – Por Filipe Pereira

    Evocando a fase adulta da terceira idade, como pano de fundo, Michael Haneke faz um verdadeiro filme de horror, exibindo as agruras da vida a dois através do drama de Amor. A história é contada a partir dos olhos de Georges, vivido pelo veterano Jean-Louis Trintignant, que assiste a degradação mental de seu par, Anne ( com a inspirada Emmanuelle Riva) que aos poucos perde a consciência e o controle de seus movimentos e de sua consciência mental, graças a uma variação rara de uma doença mental, além de fazer fortes alusões a proximidade da morte. O começo do filme já revela os momentos do último ato, com a decomposição corporal da pessoa do belo sexo, ainda que o ponto de vista seja absolutamente diferente da ideia “romântica” do que é um namoro/casamento. O modo como Georges trata sua combalida companheira passa por todos os estágios inerentes a uma junção de duas pessoas, mortificando qualquer fetiche de que a vida de um casal é repleta de sexo e desejo carnal mútuo, indo desde o carinho extremo a impaciência e esgotamento emocional, em uma monta russa emocional que não deixa qualquer espectador incólume.

    Essa Noite Você é Minha (David Mackenzie, 2011) – Por Halan Everson

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    Quando a música é parte essencial da trama de um romance, me soa muito mais agradável querer acompanhar esse tipo de filme porque certamente a música será utilizada além dos mesmos recursos batidos algo diferente do usual. E é nessa pequena pretensão de ser algo diferente que Essa Noite Você é Minha faz uso da fórmula sem ficar engessada nos clichês dela. Dirigido por David Mackenzie (do excelente Sentidos do Amor, também de 2011), acompanhamos uma fábula de romance acontecendo durante um festival de música, que não existem de hoje, mas acredito ser um dos poucos filmes dedicado a ficar exclusivamente nesse mesmo ambiente espiritual do inicio ao fim. Na trama, um líder de uma banda famosa do evento (Adam, Luke Treadaway) é algemado á uma vocalista de outra banda (Morello, Natalia Teña), que está tentando ganhar seu reconhecimento. Simples assim, essa premissa acontece derrepente e você vai junto ou não engole todo o resto. Geralmente esse tipo de filme está relacionado ao ambiente urbano fazendo essa experiência algo diferente. A música é personagem integrante da trama e realça muito dos momentos mais interessantes do filme, tanto de fundo como cantadas incluindo um incrível duo de Tainted Love feito por Teña e Treadaway. É uma excelente forma de fugir da cidade e viver um conto jovial e musical.

    A Bela e a Fera (Gary Trousdale e Kirk Wise, 1991) – Por Thiago Augusto Corrêa

    Bela e a Fera

    Considerado um dos clássicos supremos da Walt Disney Pictures, A Bela e a Fera dá continuidade as histórias adaptadas de fábulas e a trajetória de personagens femininas denominadas popularmente de princesas Disney. Composta por uma bela e simples história, a narrativa tem alcance em adultos e crianças, cada um lendo a obra de maneira diferente, conforme sua experiência. Como fábula, a história é conduzida pelo contraponto entre virtudes e vícios, deixando explícito a moral de nunca julgar pela aparência. A sensibilidade da trama e o crescimento da relação entre as personagens centrais é o principal enlace com o público, uma relação que se modifica na magnífica – e perfeitamente produzida – cena do salão de dança enquanto a canção A Bela e a Fera (Tale As Old As Time) é entoada.

    Namorados Para Sempre (Derek Cianfrance, 2010) – Por Marcos Paulo

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    Embora seu título original, Blue Valentine, pareça distante de sua tradução, o título é bastante adequado à este anti romance estrelado por Ryan Gosling e Michelle Williams, como o casal Cindy e Dean. Unidos por um acaso, a paixão do amor desintegram-se num relacionamento incapaz de se doar e amadurecer para além de um namoro juvenil, tornando os para sempre namorados. A falta de perspectiva, cobranças ocultas e a insatisfação os tornam amargurados e perdidos entre o que foram e o que gostariam de ser.

    Desencanto (David Lean, 1945) – Por Doug Olive

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    Em 2015, o diamante em estado bruto de David Lean completa setenta anos, com o tempo o fazendo cada vez melhor, e mais relevante que nunca, no Olimpo do gênero que representa fácil e esplendorosamente bem, a medida que é lapidado pela evolução do Cinema. A fumaça do trem separando um casal, porém, ainda não abaixou na estação, enquanto os olhos de lua da atriz Celia Johnson aguardam para sempre o eterno amor do passado, naquela mesa de bar, sozinha. Mesmo com Lawrence da Arábia e A Ponte do Rio Kwai, épicos devido a escala de produção, é o sentido mais puro e cru de épico, do tipo que chega a tocar na perfeição, que torna Desencanto, primo tímido de Casablanca, um dos mais sensíveis e amargos romances da Era de Ouro em Hollywood, o testamento supremo de Lean. Chico Buarque, no álbum de 1968, canta no hino. Desencontro a definição perfeita a um dos mais doces e fatalistas romances, onde o preço do amor é cobrado a partir de suas polaridades, valor e capacidade de colorir vidas condenadas ao mundo preto e branco dos desejos não-correspondidos.

    Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (Daniel Ribeiro, 2014) – Por Filipe Pereira

    A singela historieta pensada por Daniel Ribeiro, primeiro em seu curta Eu Não Quero Voltar Sozinho, ganha ares de maturidade no belo longa Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, contando a história do duplamente excluído Leonardo (Guilherme Lobo) que, além de cego, começa a explorar vagarosamente sua sexualidade, no apogeu de sua puberdade, eclodindo uma paixão improvável com seu novo amigo, Gabriel (Fabio Audi), que também passa a descobrir os próprios desejo e pulsões de paixão e sexo na prática. A condução de atores tão jovens é belíssima, dá ainda mais sentido para a trama, relembrando filmes semelhantes de descoberta das manifestações de amor, com a obra que alude ao quadrinho de Julie Maroh, Azul é a Cor Mais Quente, ainda que a identidade da fita de Ribeiro seja carregada de brasilidade e identidade visual típica do país, unindo o formato bem urdido com um drama interessante e sensível ao extremo.

    Romances e Cigarros (John Turturro, 2005) – Por Halan Everson

    romances e cigarros

    John Turturro é um cara que é muito mais lembrado por ser coadjuvante. Pode ser por uma dessas que quando ele resolve tomar as rédeas de um projeto saiam peças tão únicas quanto esse belo romance/musical produzido com a ajuda dos Irmãos CoenJames Gandolfini vive o marido infiel de Susan Sarandon que tem um caso com Kate Winslet. É nessa simples trama de adultério que temos excelentes performances musicais dos protagonistas e dos coadjuvantes usando de uma sutil sincronia com as músicas originais enquanto cantam. Obviamente uma ideia que quebra toda a seriedade de uma discussão ou uma briga não poderia se levar a sério, e Turturro faz questão de brincar com o surreal de maneira agradável com aparição de mortos que quebram a quarta parede, conversas aleatórias numa obra e montagens de videoclipe dão o tom mais que divertido para o filme. Ele não perde o compasso entre a seriedade e os momentos de comédia em nenhuma das suas passagens, sabendo dosar cada uma da melhor forma o possível até o final.  Certamente um filme para rever varias vezes.

    Casablanca (Michael Curtiz, 1942) – Por Thiago Augusto Corrêa

    Image: FILE PHOTO: 70 Years Since The Casablanca World Premiere Casablanca

    Presente nas listas de Melhores Filmes de Todos os Tempos, Casablanca também é uma grande história de amor explorando, com a ironia característica de  Rick Blane, a beleza e a amargura de uma relação. O roteiro de Julius J. EpsteinPhilip G. EpsteinHoward Koch é uma das composições mais perfeitas da sétima arte, construindo uma gama de temas profundos sem desequilibrar nenhum aspecto narrativo. A guerra se contrapõe ao amor como metáfora fatalista de afastamento, o par central que se enlaça e se afasta representa a potência da união em contrapartida ao repertório interno de cada ser amado. A personagem de Bogart é tão miserável que é quase impossível não se identificar simultaneamente.

  • Crítica | Ela

    Crítica | Ela

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    O quarto longa dirigido por Spike Jonze – o segundo sem Charlie Kaufman – inicia mostrando Theodore Townbly, o solitário personagem de Joaquin Phoenix exercendo seu ofício de desenvolvedor de mensagens amorosas para quem não tem tanta poesia nas palavras como este tem. Seu traquejo e talento visam esconder o sentimento de isolamento que o preenche, mas isto não funciona, pois a princípio observa-se o quão vazio é o seu cotidiano e a falta que sente de sua antiga parceira.

    É curioso notar como o roteiro de Jonze trata a questão da ausência de alguém, mostrando o desenvolvimento de um sistema operacional que vem para suprir essas carências. Samantha, dublada por Scarlett Johansson, causa uma impressão imediatamente chamativa e apelativa em Theodore, invadindo seu mundo idílico de escritor recluso para arrebatar a sua atenção, primeiro pela novidade, depois pelo conjunto de interesses atingido junto ao artista, que parece frustrado com sua condição não diferente do resto do mundo. A solidão é uma praxe na prática mundana, e seu ofício é uma das ofertas que buscam suprir essas demandas.

    Suas prioridades se rivalizam entre pornô, videogames e internet, como a rotina de muitos solteiros de meia idade da contemporaneidade. O rombo que ficou após seu término o deixou vulnerável às “investidas” de uma máquina que emula as características de um ser do sexo feminino, especialmente nos aspectos ligados à graça e leveza das mais doces mulheres. Além, é claro, da sensual e rouca voz.  Exceto pela ausência de carne, este seria o par perfeito, e a percepção de Theodore sobre isso se dá muito cedo e aumenta com a chegada dos e-mails que destacam a papelada do divórcio.

    Samantha busca ter manias e defeitos, a fim de ser falha como os humanos e transpirar uma maior verossimilhança. A avidez por tentar reabilitar o protagonista da sua separação é irônica, pois num mundo moderno onde os problemas humanos têm dificuldade em subsistir, é um ser mecânico que tende a solucionar a questão de maior problema naquele tempo. A mecanização das relações encontra em um objeto inorgânico uma solução paliativa e que age entropicamente, supostamente por uma ação fora dos padrões de programação. Até a dúvida a respeito entre a veracidade dos sentimentos e a programação original é discutida com afinco, e gera interessantes dúvidas sobre a solidão de ambas as figuras. A relação sexual consegue ser perfeita sem uma imagem sequer. Ele inclusive prefere discutir com ela o pós-coito, algo que talvez não fizesse com uma mulher de carne e osso. Ou seja, a todo tempo sua existência é posta a prova.

    Jonze tem uma predileção por assuntos e temáticas lúdicas e repletas de situações idílicas, mesmo quando justificadas pelo leve avanço no futuro e na tecnologia. Apesar de utópico, o porvir ainda contém uma aura fantástica exacerbada e repleta de lirismo visual. A amplitude da sala em que Theodore vive aumenta a sensação de vazio, pois a casa mal parece ter outro cômodo que não aquele, assim como a falta de opções em que a personagem se vê depois de provar Samantha. Ele e ela agem tolamente, como apaixonados experimentando uma arrebatadora sensação de forma pioneira.

    É a carência de Theodore que permite a ele se afeiçoar por Samantha, e a necessidade parece gerar nela também as sensações únicas e até a capacidade dos humanos de pensar de forma diferenciada. A conclusão de que “o passado é só uma história que contamos a nós mesmos” não seria tirada pela maioria dos homens viventes.

    O modo como as pessoas vivem seu tempo é engraçado, com jogos que simulam a maternidade, mas que são consumidos por solteirões sem filhos. O desamparo e solidão não permeiam só a vida de Theo, mas a de seus amigos também, mostrando que tal mal assola a sua geração como um todo. A predominância da cor vermelha nos ambientes após alguns percalços do protagonista ajuda a evidenciar o quão triste é sua vida após uma autoanálise. Até o SO de Samantha é julgado neste momento, e, claro, discutida a validade de manter viva uma relação como esta. Até avatares físicos são usados para apimentar o caso, tornando-o mais tácito, mas a concentração é quebrada por um gesto banal, de forma equivalente a diversas outras relações entre um homem e uma mulher.

    A proximidade de Samantha da realidade torna-se incômoda para o seu parceiro, é como um banho de água fria nas suas intenções. O que ele procurava era algo ideal, irrealista e sem confrontos. Mas a amante é tão emotiva, desequilibrada e passional como qualquer mulher (e o alarme de feminismo apita um som estridente e ensurdecedor). O limite entre a existência ou não deste relacionamento é tênue e discutível. A generalização feita a respeito da ausência de sentimentos de um SO é muito semelhante ao lugar comum de algumas mulheres ao julgar os homens como ser igualmente insensíveis entre si.

    A situação chega a um impasse quando o homem percebe que não usufrui de um sentimento exclusivo e que Samantha é apaixonada por mais 641 homens. A percepção de que o amor é expansivo e quanto mais é praticado mais há a necessidade de ser compartilhado, é um ótimo paralelo ao argumento poligâmico. Samantha era para Theodore como uma compensação, um substituto para a sua carência afetiva e para o vazio que ficou em seu peito após o rompimento com sua alma gêmea. A busca para uma solução para a dor o fez moldar sua musa segundo suas vontades e isso causou nele dores insuportáveis, mas o fizeram se aproximar de outra alma igualmente desolada pelo abandono, mas ainda assim sem muita expectativa de êxito. A última rejeição o fez amadurecer ao ponto de não querer projetar mais nada quanto a vida sentimental e até a perdoar quem o feriu no passado.

    Ela é uma ode à luta entre a solidão e a carência. Spike Jonze traz um roteiro fino, tocante e emocional, abrilhantado pela ótima encarnação que Joaquin Phoenix dá ao solitário homem comum e real.

  • Crítica | Onde Vivem Os Monstros

    Crítica | Onde Vivem Os Monstros

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    Onde Vivem os Monstros é o último filme de Spike Jonze, diretor de Adaptação e Quero ser John Malkovich.  Trata-se de uma adaptação de um clássico da literatura infantil americana e conta a história de Max, um menino endiabrado que foge de casa e vai parar em uma ilha fantástica onde vivem “coisas selvagens”.

    Jonze toma uma história muito curta e adiciona elementos conhecidos de seu cinema, uma certa estranheza e uma tendência para o obscuro, e confere profundidade e melancolia a fábula infantil, tornando-a um filme sobre amadurecimento e solidão.

    Desde o início  Max é apresentado como uma pequena coisa selvagem: quando os amigos da irmã destroem seu iglu, a raiva que ele sente só pode ser extravasada destruindo o quarto dessa; quando ele vê a mãe com o novo namorado sua reação é vestir uma fantasia de lobo, correr pela casa e mordê-la. A mãe de Max está certa quando diz ao menino que ele está fora de controle, as coisas começaram a mudar e ele é só uma criança que ainda não sabe lidar com fato de que o mundo nem sempre responde as expectativas.

    A ideia de um abrigo percorre todo o filme: Max constrói um iglu e uma tenda em casa, já na ilha ele desenha um forte (que é na verdade um enorme casulo) e dorme com os monstros em um bolinho. Os próprios monstros são fofos, peludos e aconchegantes. O que o menino busca é a sensação de proteção e cuidado, a certeza de que estará seguro não importa o que aconteça.

    É isso que ele acredita achar na ilha, os monstros o acolhem, selvagem como ele é, e o amam e elegem rei apenas por ele ter prometido um “escudo anti-tristeza”. Jonze contrasta muito bem o mundo real ao de fantasia: a primeira parte do filme tem cores frias e uma textura quase de vídeo caseiro, enquanto na ilha a luz é dourada e a fotografia tem uma beleza notável.

    No entanto esses monstros são bastante humanos e Carol se parece demais com o próprio Max, principalmente na violência com que reage ao abandono. Ao nomear Max como rei o que essas criaturas buscam é exatamente o que o menino também quer, alguém que os projeta e evite que machuquem uns aos outros, alguém que nunca se decepcione ou fique bravo, mesmo quando eles são terríveis.

    Ao cuidar de seres tão vulneráveis quanto ele mesmo Max percebe a fragilidade e a solidão da própria mãe e começa a entender que não tem nada que ela possa fazer para evitar que sua vida mude, ou para que ele lide melhor com os próprios sentimentos. Ele então volta para casa, consideravelmente mais velho.

    Jonze contrasta a violência das coisas selvagens com a organização exigida pela vida adulta e cria um filme repleto de nuances, símbolos e sutilezas, mas que ao mesmo tempo é engraçado e divertido. Onde Vivem os Monstros talvez seja seu filme mais complexo e um dos mais subestimados dos últimos tempos.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.