Michael Nyqvist, ator sueco que se tornou conhecido por interpretar Mikael Blomkvist, ao lado de Noomi Rapace, na trilogia original que adaptou os livros da série Millenium, de Stieg Larsson, faleceu aos 56 anos de idade, após lutar contra um câncer no pulmão, segundo informações do The Guardian.
A família de Nyqvist lançou uma declaração nesta terça-feira informando “com profunda tristeza o nosso amado Michael, um dos atores mais respeitados e completos da Suécia faleceu tranquilamente cercado por sua família após uma batalha de um ano contra um câncer no pulmão. A alegria e a paixão de Michael eram contaminantes para aqueles que o conheciam e o amavam. Seu charme e carisma eram inegáveis, e seu amor pelas artes eram sentidos por todos que tinham o prazer de trabalhar com ele”.
Nyqvist além de seu trabalho na série Millenium, ganhou notoriedade ao participar de Missão: Impossível – Protocolo Fantasma, De Volta ao Jogo, além de trabalhos mais intimistas como A Jovem Rainha, Amor e Revolução, A Garota do Livro e a minissérie de TV Madiba, que conta um pouco da história do líder político Nelson Mandela.
O astro sueco está no elenco dos ainda inéditos Hunter Killer, ao lado de Gary Oldman e Gerard Butler, e Radegund, de Terrence Malick.
Houve um tempo em que eles eram exemplos de virtude. Encarnavam os maiores valores, as melhores qualidades: coragem, bondade, honestidade, justiça. Eram fortes como Hércules, perspicazes como Teseu, astutos como Perseu. Mirávamos naqueles exemplos e seguíamos nossa jornada.
Um pouco depois, não bastavam seus músculos e temperança. Foi preciso mais. E eles passaram a vestir trajes coloridos e a ostentar símbolos no peito. Era uma maneira de externalizar seus atributos, seus programas de ação. S não é apenas a inicial de seu nome, mas um sinal de esperança de onde ele veio, mundo tão distante e hoje só existente na memória. Um morcego serve para amedrontar os inimigos, mas colocado em pleno tórax, passa a ser também um alvo, moderno calcanhar de Aquiles. Homens e mulheres, eles ainda personificam a figura difusa do Bem, e sua presença na Terra (e no nosso imaginário) torna a vida mais segura. Aparentemente.
Dias atrás, diante dos cartazes de cinema, nos perguntávamos por que tantos filmes com super-heróis. Respondemos antes mesmo de entrar na sala escura: o mundo anda tão sombrio que precisamos cada vez mais deles. Se antes nos contentávamos com o salvamento de Andrômeda, Ariadne e Lois Lane, passamos a esperar que protegessem Gotham, Nova York, o planeta, enfim. As ameaças vinham de alienígenas, cientistas malucos, conspiradores. Vinham também de mentes perturbadas, assassinos seriais e criminosos insuspeitos. Se o maior truque do demônio é fazer acreditar que ele não existe, o Mal também buscou formas de se travestir, seduzindo corações e mentes. O Bem também amoleceu seus contornos, e o caráter dos heróis ficou poroso, ambíguo e desconcertante.
Mas o que faz alguém ser um herói hoje? O que ele veste? A função que ocupa na sociedade? O distintivo que exibe?
Não dá pra negar. Nossos heróis estão a anos-luz dos modelos imaculados de conduta. Não carregam consigo apenas virtudes. Pelo contrário, são cheios de defeitos. Dextermata sem remorso, Batman está transtornado, e Lisbeth Salander invade sistemas e busca vingança. Sherlock é um egocêntrico, Poirot, arrogante, e Montalbano é um boca-suja. Nero Wolfe é um glutão. O inspetor Clouseau, um atrapalhado, e Monk tem TOC. Ed Mort é um perdedor nato, Kay Scarpetta, esquisitona, e Pete Marino, um machista nojento. Mandrake é mulherengo, Wallander parece perdido e Mathew Scudder bebe demais. Como delegamos a eles a solução de nossas desesperanças?
Parte desses nossos heróis trabalha na polícia e esta condição os posiciona do lado de cá do balcão: onde estão os que seguem a lei. Outra parte atua num sistema paralelo de justiça, como detetives particulares. Fardados ou não, ostentam as cores do que é certo e bom, e se distanciam da maldade condenável para a maioria de nós. Não nos esquecemos de seus desvios, manias e esquisitices. Eles borram suas figuras, como os santos com pés de barro, as estátuas trincadas…
Exemplos mais atuais são os investigadores da série de TV True Detective. Na primeira temporada, tivemos o infiel Marty (vivido por Woody Harrelson) se debatendo com Rust, personagem de Matthew McConaughey, que – digamos – não batia bem da cabeça. Na segunda, Colin Farrell é o violento e instável Ray Velcoro, que contracena com a instável Ani Bezzerides (Rachel McAdams) e o desviante Paul Woodrugh (Taylor Kitsch). São apenas seus distintivos que os fazem nossos heróis? Claro que não. Eles são altamente problemáticos, abusam das drogas e da violência, e são desajustados sociais. Trazem em si ingredientes suficientes para colocá-los do lado de lá do balcão, onde ficam os algemados. Mas não! São nossos heróis! Negue se puder…
Então, de que matéria são feitos nossos heróis de hoje? Personagens fronteiriços, são complexos e ambíguos como a realidade contraditória que vivemos. São fortes e destemidos, mas fraquejam diante das pequenas-grandes tragédias cotidianas. Sucumbem, perdem-se… Têm valores, mas às vezes, seu sentido particular de justiça colide frontalmente com o que acreditamos.
True Detective é uma criação de Nic Pizzolatto, autor de Galveston, recém-lançado no Brasil. Livro de estreia, deu ao autor vários prêmios, entre os quais o Edgar Award, distinção para a literatura policial, de mistério e de crimes. Galveston não é um policial clássico, até porque é quase totalmente habitado por bandidos, capangas e escroques de em geral. Ali, todos já atravessaram os limites do razoável e da legalidade. Mesmo assim, acompanhamos Roy Cady em sua jornada, e torcemos por ele, apesar das barbaridades e dos erros que comete. Ele é nosso herói! Tem coragem de negar?
Nas tramas clássicas de detetive, temos a predisposição de acreditar que a justiça será naturalmente feita: a história será explicada, o culpado, punido e a ordem, restabelecida. Personagens como Sherlock Holmes e Hercule Poirot são nossos guias nessa premissa, e por incrível que pareça, suas histórias continuam atraindo milhões de leitores no mundo. É incrível já que esses justiceiros pertencem a uma época que já se foi, teoricamente de valores diferentes dos nossos, de uma inocência até lúdica. No entanto, histórias como O Assassinato de Roger Ackroyd, de Agatha Christie, e O Cão dos Baskervilles, de Arthur Conan Doyle, continuam entre as favoritas dos fãs de um bom suspense. Justamente ao lado das tramas que embaçam as fronteiras morais do certo e errado, bom e mau. O que acontece? Será que ansiamos finais mais justos e felizes? Ou será que estamos nos acostumando a conviver com facínoras e infames tentando impor seu bizarro modelo de justiça? Para responder a isso, precisaríamos de visão de raio X, células cinzentas super desenvolvidas, sentidos aguçados e de uma obsessiva vontade de solucionar mistérios. Próprio de heróis.
O mundo é um lugar terrivelmente perigoso para aquele que não detém poder, seja do domínio físico, financeiro ou social. Dentre todas as minorias, a adição de um cromossomo X é capaz de tornar o indivíduo ainda mais propenso a toda sorte de violências, físicas e morais. O principal olhar a que o diretor Daniel Alfredson se volta é o da mulher como objeto dos desejos do mundo, e coloca o homem como potencial causador de danos. Isso é claro e reflete boa parte da realidade, onde a violência doméstica é uma realidade na vida de tantas meninas, e onde o assassinato é “uma consequência natural do estupro”.
Baseado na obra literária de Stieg Larsson, Os Homens que não Amavam Mulheres (de Niels Arden Oplev) é o primeiro de uma trilogia de filmes policiais muito bem-sucedidos em amarrar as vidas de seus dois protagonistas, Lisbeth Salander (Noomi Rapace) e Mikael Blomkvist (Michael Nyqvist), em uma trama de mistérios e dramas do passado sem jamais sugerir um abuso de coincidências, ou carregar um excesso de bagagem. A obra desenvolve seus personagens secundários em cima de estereótipos conhecidos e, mesmo aqueles que pouco aparecem, quando surgem, motivam o desenvolvimento da história.
Traumas do passado são estabelecidos em flashbacks inseridos de forma inteligente para que o espectador conheça Lisbeth apenas o quanto Mikael a conhece, e apresentando a quem assiste as mesmas conexões emocionais que o jornalista tem com a hacker: a paixão. O repórter idealista é fascinado por seu trabalho e sua função na sociedade, e desta forma aceita ajudar o industriário Vanger a encontrar sua sobrinha Harriet, morta há mais de 40 anos, em meio a uma trama de conspiração e abusos. Inicialmente relutante, o mistério o provoca e convida Lisbeth para uma parceria, bem como ao envolvimento emocional. Enquanto isso, a hacker Lisbeth torna-se a representante máxima das mudanças de um mundo complexo e objetificante, pois ela é antes de tudo uma apaixonada. De acordo com Aristóteles, paixão é a falta daquilo que se quer, pois logo que se tem não há mais espaço para a paixão, apenas para o dia a dia e para a monotonia. E desta forma Lisbeth interessa-se mais por mistérios do que por pessoas, abandonando ambos assim que sejam dissolvidos ou saciados.
É um filme sintético em todas suas características, e usa-se disso para resolver de forma coerente o desfecho do repórter Mikael e do mistério, que para muitos pode soar menos impactante do que deveria. Falta, porém, um fechamento melhor para Lisbeth Salander que, apesar de ser o real fio condutor e a síntese de toda trama, sai assim como veio. O motivo disso é a forma como o filme se monta sobre uma trilogia, esperando para desenvolver outros aspectos da personagem em algum outro momento. Neste ponto, aversão americana, de David Fincher, se mostra melhor sucedida no retrato dos dois protagonistas, fazendo com que as pequenas mudanças da trama ou detalhes de suas jornadas trabalhem mais em função de Lisbeth e seu arco-íris de emoções, tão complexo em sua formação, mas primário na forma como se expõe.
Com uma fotografia mais quente do que se poderia esperar, o longa prefere utilizar-se da cenografia para dar às paisagens suecas o tom inóspito e potencialmente perigoso que a narrativa exige. Em Estocolmo, personagens são sufocados pela simples proximidade de pessoas; já na ilha onde ocorre boa parte da trama, a solidão é desoladora, e mesmo a mínima cabana que age de quartel general para as investigações da dupla mostra-se maior em seu interior do que exteriormente. Ao olhar em volta, tudo parecerá longínquo, trabalhoso e misterioso demais. Esta cidade fantasma ressalta a ideia de que somente pessoas com motivações prioritariamente introspectivas seriam capazes de se atrair por qualquer coisa que resida sob aquela neve e segredos.
Reprimida por aqueles que a rodeiam, Lisbeth torna-se uma pessoa agressiva e de difícil convivência, e encontra em seus processos mentais um ponto de fuga para a gigantesca pressão do mundo em lhe frustrar e machucar. Eis que então o sexo é outra constante na trama, especialmente por ser um ato polissêmico, de natureza complexa, porém de fácil aplicação, capaz de atuar como barganha, método coercivo e compensação afetiva, que exemplifica a forma como age o sexo na mente daquele que é violentado.
Enquanto para o autor da violência o ato não passa de alguns segundos dentre toda uma vida, para quem sofre da violência é um ato que persegue e assombra. Não à toa, vítimas de estupro relatam duvidar da veracidade do ato, colocando a violência para dentro de suas mentes, aceitando posições de inferioridade e trazendo pra dentro de si dragões que lhes rasgam ao sair.
Velado, latente e introspectivo, o machismo é uma condição não aparente que desperta uma forma corrosiva de convivência onde a moral está no centro do jogo. É permitida a quebra da moral (resumida naquilo que se faz em seus porões, longe da vigilância do mundo), não a quebra da aparência, pois a aparência é essencial para o prejulgamento social. Enquanto emoldura o violento em um quadro como uma caricatura fascista, ajuda a esconder os demônios pessoais que a sociedade compartilha ao fomentar, mesmo que com palavras, todo tipo de misoginia, discriminação e violência.
É isso aí rapaziada, ano começando, as listinhas de promessas já começam a falhar, retrospectivas, fatos que marcaram, e toda essa baboseira. Aqui no Vortex também somos adeptos de algumas delas, principalmente os melhores do ano. Então antes de falar sobre os melhores filmes, vamos aos critérios utilizados.
Primeiro, não é uma votação, nem um consenso do site, é apenas uma lista pessoal. Além disso, pouco importa se o filme foi bem ou mal na crítica. O que vale é a experiência ao ver o filme. Tanto que filmes premiados ficam de fora, e outros ignorados podem entrar. Outro ponto a se ressaltar é que na minha lista, o filme tem que ter estreado no Brasil em 2012, independente da data de lançamento no país de origem.
Fora os critérios, a lista segue ordem de preferência, e também é bom ressaltar que 2012 foi um ótimo ano tanto para o cinema Blockbuster, como para produções menores e o cinema autoral. Pensei inclusive ao invés de fazer TOP 10, colocar um TOP 15. Mas decidi manter os 10 e colocar alguns em menção honrosa. Chega de enrolação e vamos à lista (PS: Os links no nome vão para a crítica do filme).
10. Mercenários 2 Você sabe que o ano foi realmente FODA, quando montando uma lista, um dos filmes do ano que mais te agradou, ativou toda a nostalgia dos seus heróis da infância e o espírito massa véio, ficou apenas em décimo.
A reunião dos brucutus dos anos 80 foi digna de palmas no cinema, emoção, choro. Tudo por causa da galhofada de explosões em que os heróis buscam por vingança e nunca são acertados por nenhum tiro. Reunindo Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger, Bruce Willis, Jet Li, Jason Statham, Terry Crews, Van Damme, e por último e não menos importante, o grande, o único, o mito, aquele que faz o filme parar só para fazer uma piadinha com a sua fama, Chuck Norris. Se você não assistiu Mercenários 2, pare de ler e vá ver agora.
9. Polissia Polissia é mais um que eu gostaria de ver em uma posição mais alta, mais ainda assim seria injusto pelo que vem pela frente. Mas enfim, Polissia um filme francês dirigido pela Maïwen, é duro, cru que toca no amago de qualquer um, por lidar com um assunto tão delicado quanto a violência contra a criança. Além de toda a sua crítica social, o filme tem um ponto a mais, pois mesmo tratando de um tema tão complicado como esse, o longa toma algum distanciamento da situação, sem forçar a dramaticidade ou o tom, deixando a cargo da visão do espectador a carga dramática que ele carregará para o filme.
8. O Hobbit Falando francamente, em uma brincadeira de pré-lista, eu tinha colocado ‘O Hobbit’ em segundo colocado, antes mesmo de tê-lo visto, tamanha era a expectativa e fichas apostadas nele. Eis que o filme chegou, e de modo nenhum pode-se falar que o filme é ruim, tanto é que figura na minha lista dos melhores do ano. Porém, o alongamento desnecessário da história, tornando o filme em muitos momentos enfadonho e sonolento, cheio de parenteses que no fim das contas são encheção de linguiça para conseguir fazer 3 filmes sobre a história, o fazem perder muito. Eu esperaria que tais problemas fossem solucionados no segundo filme, mas eu duvido muito.
7. Millenium: Os homens Que Não Amavam as Mulheres Adaptação da obra de Stieg Larsson por David Fincher, um dos meus diretores favoritos. Millenium é um thriller policial forte, violento, que surpreende o espectador a todo momento, repleto de críticas sociais principalmente à nossa hipocrisia coletiva. De quebra ainda temos Lisbeth Salander, personagem construída de forma magistral pela Rooney Mara, protagonizando inclusive, uma das cenas em que mais pude sentir a dor física, apenas por ver uma imagem. O bônus final fica por conta da trilha sonora e o “videoclipe” de abertura, especialidade do David Fincher.
6. Argo Terceiro filme com a direção de Ben Affleck, que conta a história de uma operação da CIA mais parecida com um roteiro de cinema, ou um romance de espionagem, do que realidade. Affleck nos apresenta uma direção clássica, mesclando diversos momentos hilários quando a história permite, com também uma sequência de cenas das mais angustiantes que consigo me lembrar no cinema recente. Além disso o filme ganha ainda mais, por tratar de um assunto delicado como a relação diplomática entre EUA e Irã, sem colocar os iranianos no posto de vilões da história.
5. Os vingadores Vingadores com certeza foi um “evento”. Não preciso falar nada sobre o filme em si, apenas que finalmente foi provado que é possível fazer um filme sobre reunião de heróis com uma boa cadência entre todos, sem se perder em uma história com tantos personagens. Além de ser ótimo ver que um filme de heróis fantásticos não precisa ficar preso na pegada realista que muitos querem adotar como regra para esse universo. Além disso, acho que todo mundo saiu do cinema sem fôlego depois da batalha final de quase 45 minutos, e por último, as sacadas e piadinhas de Tony Stark, como o personagem que dá boa parte da liga do grupo, é ótimo por que é o cara mais carismático do grupo, o Capitão América, o verdadeiro líder, é um escoteiro e ninguém gosta do escoteiro.
4. As Aventuras de Tintim As Aventuras de Tintim, aposto que algumas pessoas vão me chamar de louco ao colocar um filme desses numa posição tão alta, à frente de filmes muito maiores e mais aclamados. O fato é que a nostalgia e a saudade dos bons tempos de infância falaram mais alto aqui. Tintim é a minha série de quadrinhos favorita, praticamente aprendi a ler com essas histórias. Além do próprio seriado que passava nos finais de tarde da TV Cultura. Assim, tudo que antes era receio para uma adaptação que não respeitasse o espírito de aventura e inocência de Tintim, se transformou em uma grande surpresa, nostálgica e emocionante.
3. Drive É fácil definir Drive, um filmaço. Tensão do início ao fim, com uma bela releitura dos filmes de ação dos anos 80, praticamente subvertendo o gênero, colocando um “herói” falho, sujeito a morte em qualquer momento, buscando alguma felicidade em raros momentos em que consegue fugir da sua própria natureza, mas como na fábula, o escorpião sempre será escorpião. A trilha sonora fantástica dá ainda mais esse ar “new-retrô”, enfim nada do que eu fale aqui irá chegar aos pés da experiência de ver Drive.
2. Hugo Hugo, uma grande homenagem de Martin Scorsese à Georges Meliès, mas que não se limita apenas a ele, e se estende a todo o cinema, principalmente aos pioneiros. Que com pouco, ou nenhum recurso, faziam milagres e absurdos com suas histórias, nos entregando mundos mágicos e fantásticos. E se eu senti que faltou alguma magia, um tempero especial ao Hobbit, em Hugo tudo isso tem de sobra.
Scorsese faz seu primeiro filme em 3D, e com uma temática infantil. E com isso mostra porque é realmente um mestre, versátil, nos entregando uma obra passional, bela e tocante. Vida longa à Hugo e mais longa ainda ao sobrancelha.
Batemá é épico, grandioso, um filmaço de ação e que não se limita a ser apenas um filme de ação, deslocado da sua sociedade e do seu tempo. Com metáforas e críticas que vão desde os nossos sistemas políticos e de poder, até a grande desigualdade dos nossos tempos. Com paralelos referenciando a Revolução Francesa e o reino de terror, o filme continua com a sua crítica de como uma sociedade em frangalhos, não só pode, como tende a acreditar em grandes discursos inflamados, que se apropriam de pequenos fatos isolados para conseguir arquitetar uma grande mentira.
Acredito que Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge, tenha sido a escolha mais fácil da lista, e provavelmente a mais polêmica, portanto, externem vossa raiva. 🙂
Alienígenas capazes de viajar milhares de anos-luz em questão de dias, mas burros o suficiente para apanhar de um navio da Segunda Guerra Mundial, que mais parece com uma chaleira velha. Além é claro, de pousar no Hawaii, um lugar ultra ensolarado, uma boa escolha para quem sofre de foto-sensibilidade. Se não bastasse tudo isso, temos um elenco de primeira, contando com Brooklin Deckard, Rihanna, Liam NeLson (pagando o aluguel atrasado, só pode), e por último Taylor Kitsch nos sendo enfiado goela abaixo como protagonista e herói de ação, que não convence nem a mãe dele. E a cereja de merda fica por conta da refilmagem vexatória de um celebre vídeo de youtube em que o ladrão invade a loja de conveniência, se quebra todo e no final ainda é preso.
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Agora vamos para as menções honrosas do ano, que não seguem ordem de preferência, apenas como boas lembranças dos filmes que vieram ao cinema esse ano. 2 Coelhos, um bom filme de ação nacional. Os infiéis de Jean Dujardin, ótima comédia francesa recheada de ironia e polêmicas. Moonrise Kingdom de Wes Anderson, um filme leve que faz diversas brincadeiras com filmes de gênero, lhe deixará com o sorriso no rosto. Get the Gringo, último filme com a participação de Mel Gibson, filme de ação despretensioso, lembrando os anos 80, mas politicamente incorreto. Curvas da Vida, filme com atuação de Clint Eastwood, tem problemas, mas é uma história leve, bem contada, fará o seu dia melhor.O Espião que Sabia Demais, ótimo filme sobre a espionagem de verdade, com bela atuação de Gary Oldman. O Artista, ganhou o Oscar e tudo, mas não me pegou o suficiente para figurar na lista de melhores. Ruby Sparks, uma comédia romântica que não é uma comédia romântica, ótimo filme para ver como um gênero que produz tanto lixo, pode também trazer coisas interessantes.
Fechamos por aqui. Deixem nos comentários a lista de vocês também, se concordam, discordam, acham que eu fiquei maluco. Enfim…
Nesta edição, Flávio Vieira (@flaviopvieira), Rafael Moreira (@_rmc), Jackson Good (@jacksgood) e Carlos Brito, jornalista profissional e crítico do site, comentam dos principais filmes lançados no início do ano e que ainda não haviam sido abordados no podcast. Saibam quais são os grandes destaques e os filmes que vocês devem passar longe.
Duração: 110 mins. Edição: Rafael Moreira Trilha Sonora: Flávio Vieira
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O primeiro plano que o espectador vê, logo no início de Millenium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres, é a paisagem de uma vila sueca. Branca, fria e nevada. Tudo é perfeito. Tudo está em ordem.
Pela beleza e “asseio”, o local remete muito mais a um cenário adequado a histórias natalinas ou a um conto de fadas infantil que a um thriller policial, costurado por assassinatos em série, esquartejamentos, estupros e relações incestuosas.
E esse é justamente o truque. As coisas aqui não são o que parecem. Aliás, quase nunca são. É sabido que as ações mais sombrias costumam se disfarçar sob uma fachada de civilidade, gentileza e harmonia. Embora não pareça, o pior do ser humano está escondido naquela ilha de beleza gélida.
Além de um conto policial muito bem construído, “Millenium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres” é uma crítica contundente à hipocrisia imposta pela aparência. Ao quanto as percepções podem ser enganadas – muitas vezes de forma até letal – por noções superficiais de perfeição e normalidade. Neste caso, o clichê é mais que válido: imagem não é nada.
O diretor David Fincher (Seven, Alien 3, Clube da Luta, O Quarto do Pânico, Zodíaco, A Rede Social) escancara essa noção ao adaptar a obra de Stieg Larsson – criador do best-seller que deu origem ao filme e das outras duas partes que formam a trilogia Millenium, A Garota que Brincava com Fogo e A Rainha do Castelo de Ar. A trama começa quando o jornalista Mikael Blomkvist (Daniel Craig) recebe um telefonema em plena noite de Natal. Seu interlocutor, do outro lado da linha, o convida a ir até uma ilha afastada, na parte mais fria do território sueco, para ouvir uma proposta.
Blomkvist acabou de sofrer uma derrota nos tribunais por ter feito acusações sem provas contra um financista. Sua carreira e credibilidade, bem como sua vida pessoal, estão abaladas. Ele não tem muito a perder. Por issso, decide ir até o local.
Ao chegar lá, conhece o industrial Henrik Vanger (Christopher Plummer). Ele quer que o jornalista conduza uma investigação para descobrir quem é o assassino de sua neta, Harriet, desaparecida desde 1966. O milionário está convencido de que ela foi assassinada por um dos integrantes da própria família – todos moradores da mesma ilha – e quer provar sua tese.
O repórter reluta. Mas diante dos benefícios oferecidos por Vanger – um deles diretamente ligado a seus probelamas com a Justiça -, acaba aceitando.
A partir daí, a trama avança sobre dois trilhos que acabarão se unindo: a investigação feita pelo jornalista e o desenvolvimento de Lisbeth Salander (Rooney Mara, excelente), disparada a melhor e mais profunda personagem da história, e que também irá auxiliar o repórter na solução do mistério.
Hacker e investigadora com habilidades raras, Lisbeth não guarda espaço para sentimentos ternos. Eles existem, mas ela os mantém presos o mais fundo possível. A única coisa que importa é seu trabalho, ao qual se entrega com uma objetividade obsessiva. De fato, a jovem de 23 anos é tão direta e objetiva que transfere essa abordagem até mesmo para sua vida sexual. Ela tem as respostas. Ela precisa estar no comando.
É uma personagem de emoções primárias acentuadas – raiva, medo, timidez e fúria. Ao mesmo tempo, é possuidora de um forte senso moral. Certamente o mais sólido entre todos os que compõem a história.
Ao longo do filme, Lisbeth aparecerá em quatro cenas sexuais – dessas, apenas duas são consentidas. Repare como nessas últimas, é ela quem dá as cartas. Já a primeira mostra o que ela está disposta a tolerar para continuar com o seu trabalho. A segunda, é um ato de violência – pelo qual a hacker e sua particular noção de Justiça farão com que o perpetrador pague da pior forma possível.
A abordagem visual escolhida por Fincher reflete a frieza e aparência de normalidade que formam o cenário ao redor dos personagens. A estética é “clean”. A luz é dura e branca, fazendo um paralelo com o ambiente coberto de neve da ilha.
As exceções ficam por conta das imagens referentes ao dia do desaparecimento de Harriet, quando todas as cenas são banhadas por um filtro dourado. Metáfora visual para dias mais ensolarados e felizes que já foram vividos naquela ilha.
Repare como, em pelo menos dois momentos, o cineasta retrata Blomqvist em planos gerais, pequeno diante de um ambiente nevado e frio. Nessas duas situações, o repórter tenta, sem sucesso, usar seu telefone celular. Não é possível. Não há sinal. A mensagem é clara: o jornalista está isolado na sua busca pela verdade e diante do enigma que precisa decifrar.
Craig empresta a fragilidade necessária à construção do repórter. Nem pense em ver o atual intérprete de James Bond realizando as mesmas ações dos filmes de 007. De jeito nenhum. Aqui, ele está até mesmo fisicamente mais fraco e magro. Uma aparência que ressalta o quanto ele pode ser uma presa fácil naquela trama.
A cenografia contribui para a sensação de frieza e isolamento. Quer exemplos? Na ilha, há dois tipos de imóveis: os muito pequenos, velhos e frios e os novos e modernos – esses últimos, principalmente a casa do personagem Martin (Stellan Skarsgärd) – são assépticos e extremamente impessoais. Quase sem traços de humanidade.
A trama é desenvolvida no ritmo de uma locomotiva: começa lenta e pausada – como todo bom início de investigação – e depois acelera rumo à solução definitiva do mistério, onde se chega por meio de uma longa e exaustiva análise de provas, informações cruzadas, entrevistas e imagens. Mas atenção. Fique atento. Este filme possui dois finais. Não se preocupe. Não se trata de anticlímax. É apenas a amarração de todas as pontas do enredo.
Vale uma menção muito especial à trilha incidental criada por Trent Reznor, o líder da banda de Rock/Tecno/Industrial Nine Inch Nails. Repare na tensão e agonia que seus teclados etéreos e ruídos eletrônicos provocam em cada cena. Isso sem falar na excelente versão que ele e Karen O (a vocalista dos Yeah Yeah Yeahs) fazem para “Immigrant Song”, do Led Zeppelin, que já podia ser ouvida no primeiro trailer e que aqui está nos créditos iniciais do filme.
Aliás, por falar na presença de Reznor, nesse sentido o próprio Fincher faz questão de dar uma piscadela para o público: logo no início do filme, um especialista em informática aparece usando uma camisa com o logotipo do Nine Inch Nails (NIN).
Ao fim de “Millenium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres”, pelo menos duas mensagens ficam muito claras: a primeira é que o mal de verdade é insidioso e está mais perto do que imaginamos.
A segunda – e aqui não há qualquer intenção de pieguice ou conselhos de auto-ajuda – é que não importa quanto dinheiro você tem, quais roupas você veste ou quão alto você está na escala social. São suas ações que farão de você uma pessoa boa ou ruim.