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  • Review | Sense8 – 1ª Temporada

    Review | Sense8 – 1ª Temporada

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    A Netflix revolucionou a forma de consumo de entretenimento doméstico ao dar à luz um serviço de stream barato e com a garantia de certa qualidade em títulos e serviço. A televisão estava perdendo seu status de janela para o mundo desde o advento do Youtube, porém a Netflix, e sua apresentação de uma nova forma de consumir e produzir conteúdo, veio para jogar a última pá de cal na TV comum, que deverá reinventar-se caso queira reverter esta situação.

    Uma das grandes amostras deste poder da empresa e de suas produções originais foi a disputa pelos prêmios de TV no Globo de Ouro, desde suas primeiras indicações em 2013 até vitórias em 2015 com a pioneira House of Cards.

    Com o intuito de não ser uma TV no computador, a Netflix amplia o poder que o espectador tinha com o uso do controle remoto e garante em suas séries a experiência do formato antes informal de maratonas. Temporadas mais curtas, em geral com 12 ou 13 episódios, recursos humanos de altíssima qualidade — contando com nomes como David Fincher, Joel Schumacher, Kevin Spacey, entre outros —, assim estabeleceu-se que mais do que séries, o público estava diante de “um filme de 13 horas”, como ficaram conhecidas. Tal título é real ao menos em intenções, mas nem sempre em formato. Em diversas de suas séries originais não foi possível reconhecer este tipo de formato, pois a edição e direção não foram capazes de instigar a audiência a manter-se por horas em frente ao computador. Neste ponto, a nova série original da Netflix criada pelos Irmãos Wachowski (Matrix, O Destino de Júpiter) é, junto com a primeira temporada de House of Cards, o melhor representante deste novo formato.

    Com dificuldades de agradar a público e crítica desde seu segundo filme, Matrix, os Irmãos Andy e Lana Wachowski trazem consigo para esta série alguns dos temas mais recorrentes de seus argumentos para um montagem de conceitos de ficção científica e religiosidade, bem como uma crítica a corporações que já faz parte da filmografia do casal de irmãos.

    Na trama, oito pessoas estão mentalmente ligadas e têm a capacidade de acessar lembranças, sentidos e habilidades de seus companheiros de trajetória, orientados pelo personagem Jonas (Naveen Andrews) contra os chamados “Sussurros”, membros de uma organização secreta incumbida de caçar os sensitivos ao redor do mundo. Embora possua um plot bastante parecido com o terrível Cloud Atlas – A Viagem, a equipe aproveitou-se das 12 horas de exibição para produzir uma série baseada na celebração da diversidade e na quebra de fronteiras, dedicando boa parte de seus episódios ao simples desenvolvimento de personagens, mesmo que em detrimento do pano de fundo.

    A coisa não é nova e reflete ligeiramente Avatar e as ideias ficcionais sobre o planeta e uma consciência coletiva, mas aqui o que realmente conta é o nível apurado da narrativa a partir de técnicas simples como fade outs e montagem para confundir o espectador com relação a qual cenário está frequentando, bem como sobre a união destes cenários. Mas é com o acesso dos personagens aos seus companheiros, e assim a intersecção de todos os elementos narrativos e imagéticos que leva a diversos momentos de catarse, simples e extremamente emocionais.

    Com os três primeiros episódios dirigidos pelos criadores da série, estes soam um tanto quanto arrastados, pois dedicam-se de maneira nada sutil a estabelecer a mitologia da série, bem como seu posicionamento político. Para tanto, lançam mão de diálogos demasiadamente expositivos capazes de causar uma certa estranheza aos espectadores mais atentos. Porém, a partir do quarto episódio, o foco é no desenvolvimento dos personagens como seres de sensibilidade única, que apesar de suscetíveis às conspirações e agruras comuns da vida, tornavam-se mais fortes diante da ação coletiva. O intuito político disso é quebrar as fronteiras geográficas e humanas, e insinuar que mais importante do que o acidente geológico, ao qual chamamos de lar, é necessário olhar para o mundo com mais sensibilidade e empatia, e que esta empatia seria a chave para a resolução dos conflitos.

    E a empatia permeia toda a série, mas especialmente em seu quarto episódio, que se encerra com uma das mais belas cenas musicais da TV, não só pelo contexto bem elaborado, mas também por contar que a essa altura os personagens já eram queridos em todas suas nuances. Outra característica da série é não se prender a pudores, exibindo cenas de sexo tão ousadas quanto bonitas.

    Extremamente humanista e diverso, o coração de Capheus; a força de Sun; a liderança de Will; a inteligência de Nomi; a compaixão de Kala; as dúvidas de Lito; a explosão a partir da dor de Wolfgang e a fragilidade de Riley formam, como um todo, um grande ser humano a ser celebrado.

    Texto de autoria de Marcos Paulo Oliveira.

  • Crítica | O Destino de Júpiter

    Crítica | O Destino de Júpiter

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    A premissa do filme parecia clara: uma space opera ambientada em um grande planeta alaranjado e na qual questões puramente humanas eram abordadas em localidades inóspitas, por vezes hostis. Ação, perseguições, aparatos tecnológicos e demais recursos seriam de grande importância para somar fluidez ao roteiro, afinal até as melhores histórias precisam de progressão, de ritmo, senão estariam fadadas a desinteressar seu receptor. No entanto, em O Destino de Júpiter tais modos de dinamizar a trama acabam por suprimi-la, aumentando o espetáculo visual em detrimento do conteúdo.

    Com o nome incomum dado pelo pai, um astrólogo já falecido, Júpiter (Mila Kunis) é uma jovem que sonha com uma vida melhor para si e sua família, trabalhando arduamente ao lado da mãe limpando banheiros para se sustentar. Ainda nos minutos iniciais, descobrimos que a família teve a casa invadida por bandidos, e o pai, ao não deixá-los levar um telescópio, seu instrumento de trabalho, é assassinado por um dos ladrões. Além disso, a moça explica o fato de estar destinada a grandes feitos, pois nasceu sob o signo de Leão, com Júpiter ascendendo a 23 graus. Uma antecipação medíocre de sua “realeza galáctica” ainda não descoberta.

    Na sequência, um grupo de caçadores de recompensa segue um caçador de recompensa (!?), enquanto este vasculha arquivos de uma clínica de fertilização. O renegado Caine Wise (Channing Tatum), um híbrido metade humano, metade lobo, busca uma redenção junto a um velho amigo, Stinger (Sean Bean), que foi destituído de suas asas (sim, asas!) ao assumir sua culpa pelo homicídio de um nobre literalmente de outro mundo.

    A partir daí, a trama segue um caminho difícil de argumentos fracos, em que Júpiter é a reencarnação de uma rainha, morta há milhares de anos e dona da Terra. Dois de seus três filhos descobrem a “recorrência” na terráquea e resolvem levá-la de volta ao lugar que lhe era direito, para que pudesse governar e reaver o astro. Por outro lado, Balem (a figura insana interpretada por Eddie Redmayne) quer dar um fim à vida da moça, pois o retorno da mãe tiraria seu poder sobre o corpo celeste.

    Um detalhe importante é que eles são uma família de industriais, que povoam planetas com o intuito de coletar genes humanos para comercializá-los, como um elixir, uma forma de prolongar a existência de quem fizer seu uso. Inclusive, Stinger conta a Júpiter sobre esse comando superior exercido por eles também sobre outros mundos, e como os utilizam como plantação, além de relatar uma gênese humana fora da Terra esdrúxula, ideia igualmente mal desenvolvida em Prometheus.

    Os cenários intergalácticos (e nenhum deles é em Júpiter, sinto muito!) enchem os olhos por sua beleza criada em CGI e pelos momentos de contemplação, até nos esquecemos da protagonista engessada e levada pelo braço a qualquer lugar, sem questionar para onde vai ou aceitando tranquilamente ser a nova dona do mundo. Uma pena, pois Kunis não fez feio em Cisne Negro. Channing Tatum consegue se sair bem, não compromete em nada, e ainda tem os apetrechos mais legais do filme inteiro: um par de botas flutuantes. O destaque fica mesmo por conta de Redmayne que, de forma brilhante, traz à tona o filho ingrato, louco e assassino da mãe… duas vezes! Digo, quase duas vezes. Os demais coadjuvantes fazem seu devido papel, apesar de alguns simplesmente sumirem sem motivo aparente, como é o caso dos outros filhos.

    Nas duas horas de reprodução do filme, não é difícil se perguntar o que continuar esperando da obra. Fora as raras atuações louváveis, batemos de frente com piadas mal colocadas, figurinos e maquiagens de gosto duvidoso e uma epopeia espacial sem sentido. Para não dizer que a película é totalmente equivocada, a sequência em que Júpiter e Caise partem por vários planetas e setores visando reconhecer legalmente o título real da personagem me lembrou O Guia do Mochileiro das Galáxias, onde os personagens também esbarram na burocracia, nas papeladas e carimbos etc. Uma referência interessante que os irmãos Andy e Lana Wachowski empregaram.

    No final, assumindo sua nova vida e enfatizando não mais permitir colheitas de DNA humano onde quer que seja, Júpiter e Caise voam juntos pelos céus. Ele com suas asas restituídas; ela usando as botas flutuantes. E o mundo embaixo dos arranha-céus se mantém estático e indiferente a tudo o que se passou nas nuvens e além delas. Mesma sensação que o espectador tem ao ver os créditos subirem.

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    Texto de autoria de Carolina Esperança.

  • Crítica | A Viagem

    Crítica | A Viagem

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    Após atravessarmos as quase infinitas e desnecessárias três horas de A Viagem — o título original é Cloud Atlas. Vai entender esses tradutores brasileiros… —, chegamos ao fim da jornada com um sorriso no rosto. Primeiro pelo alívio de o filme ter terminado. Depois, por realmente termos achado muito engraçado tudo aquilo que os irmãos Wachowski (Matrix) e Tom Tykwer (Corra, Lola, Corra) pretendiam nos apresentar como um estudo de grande profundidade filosófica.

    Pelo menos em tese, ‘A Viagem’ seria uma investigação sobre como os atos de cada pessoa influenciam a vida dos outros, seja no passado, presente ou futuro. Isso é mostrado ao público por meio de seis histórias interligadas que se passam entre 1849 a 2114.

    O conceito era interessante. Pena que ficaram só na intenção.

    A produção passa boa parte do tempo tentando embasar suas teorias em frases vazias, mas pretensamente cheias de sabedoria. Quer um exemplo? Veja: “Não importa se nascemos num tanque ou num útero: somos todos puro-sangue”. Quer outro? Segura aí: “Meu tio era cientista, mas ele acreditava que o amor era real”. E por aí vai…

    O filme é registrado numa escala que tem o mesmo tamanho de sua pretensão. Tudo parece grandioso, maior que vida, colossal. Tudo é feito para iludir os olhos do espectador. Não caia nessa: ‘A Viagem’ tem tanto conteúdo quanto uma casa vazia e, ao fim de sua exibição, sentimos na boca aquele gosto amargo de auto-ajuda.

    As caracterizações feitas em Tom Hanks, Halle Berry e Hugh Grant deveriam acentuar os aspectos dramáticos dos personagens. Porém, a maquiagem têm efeito contrário e deixa todos com visuais risíveis. Poucas coisas são mais desastrosas para uma obra que se pretende muito séria do que se transformar num espetáculo provocador de risos involuntários. Justamente o que acontece aqui.

    Único ponto positivo: o cuidado com a luz na fotografia concebida por Frank Griebe e John Toll.

    Importante: até agora, ‘A Viagem’ arrecadou apenas US$ 26 milhões dos US$ 100 milhões que custou. Logo, corre o sério risco de ser o maior desastre financeiro cinematográfico do ano. Uma espécie de John Carter de 2013.

    Sabemos o quanto Hollywood costuma ser implacável com pessoas envolvidas em projetos que resultam em tamanho prejuízo. Diante disso, é possível especular que o futuro da dupla que concebeu ‘Matrix’ seja um pouco mais complicado. Na melhor das hipóteses, a escala de produção diminuirá bastante e eles terão que topar orçamentos mais modestos.

    A única certeza que temos até o momento é que o filme é a maior piada involuntária dos últimos tempos.

    Texto de autoria de Carlos Brito.