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  • Crítica | Velozes e Furiosos 4

    Crítica | Velozes e Furiosos 4

    poster FF4

    Surgido da experiência internacional de Dominic Toretto (Vin Diesel) em terras estrangeiras, com sua amada Letty (Michelle Rodriguez), Velozes e Furiosos 4 retorna finalmente ao sub-gênero de filmes de assalto, pondo a dicotomia entre ser fora da lei e o modo assertivo de vida mais uma vez em pauta, com cenas estapafúrdias que aumentam exponencialmente o escapismo, capaz de mostrar um caminhoneiro pular de um veículo em alta velocidade e sair sem um arranhão, ao mesmo tempo que encerra a participação de um dos heróis da jornada já no início.

    O recém viúvo Dom não consegue lidar bem com sua perda. Mesmo nas cenas antes da perda de sua amada, já parece resignado, arrependido por não dar ouvidos à companheira, que queria ir para o Rio de Janeiro. Paralelamente, Brian O’Conner, vestindo trajes sociais, corre atrás de um bandido, utilizando todo seu talento em parkour, mais tarde visto em 13º Distrito. Seu retorno à ação policial praticamente ignora Mais Velozes e Mais Furiosos, já que lá o personagem não mais trabalha como tira.

    O reencontro dos dois aliados quase ocorre quando no sepultamento de Letty, mas estão longe pelos lados distintos da lei e por alguns quilômetros de moral. A fila de carros coloridos quase quebra o clima de luto que as personagens tentam preservar. De volta ao território estadunidense, Toretto vai atrás de quem possivelmente tem informações sobre o assassinato de sua amada, buscando vingança. No mesmo encalço, Dom e Brian vão servir Braga, acompanhados por sua assistente Gisele (Gal Gadot), que os instrui nos diversos serviços que prestam.

    Justin Lin acaba abusando demais das cenas em CGI, especialmente nas subterrâneas, onde já em 2009 notava-se uma abrupta diferença, uma tecnologia ultrapassada atualmente. Outro defeito latente é o ritmo do filme. Há uma gigantesca falha de roteiro que faz denegrir muito o resultado final da película. Em alguns pontos, parece que o foco narrativo se confunde, como se emulasse a dificuldade de O’Conner em finalmente se definir e assumir a sua tomada de decisão, sem temer mais nada.

    O vagar do vilão pelas sombras também atrapalha a empatia do público com os personagens. A unidade existente em Velozes e Furiosos não habita nesse. Como se cada um dos personagens vivesse em seu microuniverso, e esses lugares tornam-se intocáveis, graças ao distanciamento que cada um deles permitiu, problemas causados especialmente pela fuga de Toretto e pela saída de Brian do oikos familiar. Aos poucos, os mundos se aproximam para causar finalmente a interseção que fariam do grupo unido novamente, e isso tudo começa com a lenta reconciliação dos dois personagens masculinos, que não conseguem ficar separados um do outro por muito tempo.

    As perseguições finais sempre garantiam bons momentos aos filmes da franquia, mas a repetição do pior cenário possível de Velozes e Furiosos denigre seu resultado final. Com ares de refilmagem de Velozes e Furiosos, claro, se levando bem mais a sério, quase logra êxito ao mostrar um final mais condizente com o real, onde os personagens são julgados finalmente pelas leis que quebraram, além de retornar a jornada ao estado original da Califórnia, explorando seus meandros.

    O recomeço seria bem mais sóbrio do que anteriormente. Conduzido pela dupla Justin Lin e Chris Morgan – que retorna aos roteiros – e reativando rivalidades e amores antigos, o filme faz uma espécie de reboot sem descontinuar todos os eventos anteriores. O tom sério não fica tão caricato quanto se previa, mas os pecados da edição não permitem ao filme cumprir todo o seu potencial positivo, ficando apenas no quase.

  • Crítica | Mais Velozes e Mais Furiosos

    Crítica | Mais Velozes e Mais Furiosos

    Mais Velozes e Mais Furiosos 1

    Do alto de luzes neon, com muito mais cor saturada e blusões desproporcionais à magreza de seu astro Paul Walker, Mais Velozes e Mais Furiosos consegue perder completamente o aspecto visual e a ambientação do filme de Rob Cohen, Velozes e Furiosos. Repleto de super closes nos olhos, o filme já começa dentro de uma corrida, apresentando quase todos os personagens centrais: Ludacris Bridges (Ludacris), a oriental Suki (Devon Aoki), Brian, que não justifica os fatos ocorridos no primeiro filme, e a voluptuosa Monica Fuentes (Eva Mendes), a policial a quem o protagonista se reportaria, ainda não introduzida.

    Depois da corrida encerrada, os que conseguiram finalizá-la certamente comemoram, mostrando uma mediocridade não vista no primeiro episódio. Mais pasteurizado ainda, o conteúdo inconveniente é reprisado neste, até a captura do tira, que deveria mais uma vez realizar uma ação infiltrada em um cartel de drogas de Miami, claramente imitando alguns seriados famosos. Brian O’Connor escolhe então um parceiro condizente com sua paixão por carros, Roman Pierce (Tyrese Gibson), para justificar a química e tensão racial, que jamais se justificam no filme todo.

    As razões que envolvem as ações de O’Connor e Pierce são fracas, seguidas de cenas cômicas mal concebidas, com uma direção pesada e a pecha de alívio cômico de Gibson muito mal encaixada, uma vez que quase nenhuma de suas piadas consegue fazer rir. É curioso como a manobra de aposta do próprio veículo, usada por Brian como fator surpresa, vira rotina em Mais Velozes e Mais Furiosos, e é usada até em outros momentos da franquia. O que antes era uma novidade é brutalmente banalizado, assim como todos os fatores positivos da episódio original.

    Toda a exploração do tema é realizada como nos blaxploitation, desde a palheta de cores até o alto número de negros no elenco principal. John Singleton já havia realizado Baby Boy e Shaft, produções muito mais inspiradas. O tom de completo exagero faz com que o roteiro vazio consiga denegrir até as invenções das câmeras de Singleton, quase sempre artificiais, tentando explorar uma erudição que não combina em nada com o estilo dos filmes.

    Não há qualquer rastro de naturalidade nos personagens. Mesmo as cenas de tortura com ratos são risíveis. A longa duração também é um incômodo, não só por ter quase duas horas de exibição, mas também porque a trama não sustenta sequer um média metragem. As artimanhas de despiste, repletas de piadinhas e acenos para os policiais, fazem acreditar que o filme foi montado para atender a atenção de crianças pré-escolares, o que explicaria a violência sem sangue, as trapalhadas e piadas físicas, além dos cenários e figurinos semelhantes a Bambuluá, além da ausência de mortes, como nos desenhos de G.I. JOE.

    Exceto pela excessiva beleza de Eva Mendes, pouco há de positivo a se mencionar no filme. As cenas em CGI são muito mal feitas, os personagens não têm nem carisma nem profundidade, o vilão não convence em sua malignidade e não há plasticidade nas cenas de corrida. Possivelmente, a mudança de localidade ocorreu para distanciar a franquia do que ocorreu neste filme e sua trilha sonora fraca regada a PitBull – essa amálgama de defeitos faz deste disparado o mais vexatório de uma saga muito criticada.

  • Crítica | Velozes e Furiosos 7

    Crítica | Velozes e Furiosos 7

    Velozes e Furiosos 7 A

    De começo intimista, focando uma conversa do personagem de Jason Statham, Deckard Shaw – finalmente nominado depois da cena pós-crédito do capítulo seis – ao visitar seu irmão no hospital já demonstra seu potencial incendiário, o mesmo ímpeto de violência extrema visto no incidente da última cena pós-crédito da franquia. Logo após o acontecido, ocorre uma corrida ao estilo do filme original, inclusive com resgate a personagens chave do início da jornada, como Letty (Michelle Rodriguez), que finalmente retorna à sua rotina de adrenalina e perigo em alta velocidade. Após vencer o certame, diante dos olhos de seu amado Dominic Toretto (Vin Diesel), ela surta, pondo à prova sua recuperação pós-trauma. É nesta tônica em que a direção de James Wan se baseia, rediscutindo toda a trama da franquia Velozes e Furiosos com um estilo mais certeiro e visualmente mais belo.

    Mesmo ao retratar as cenas com certo exagero visual, há um refino bem mais extenso do que o da quadrilogia de Justin Lin. É na alteração da rotina que se concentra a maior mudança dramática, concentrada em demasia na nova trajetória de Brian, transformado no pacato motorista de seu filho. Mais uma ação terrorista de Shaw interrompe sua rotina, consistindo basicamente em um chamado à aventura, não só dele e de Torretto, mas também do ferido Hobbs (Dwayne Johnson). Em um hospital, Dom e Hobbsem se encontram, mais uma mostra de como os paradigmas estão diferentes, já que os antes inalcançáveis super-heróis já não são mais tão indestrutíveis. A partir deste momento, hematomas e ferimentos ficariam em suas carnes, músculos, ferindo tendões e especialmente seus orgulhos.

    O cuidado em reunir os laços de uma franquia de seis filmes é muito bem executado, com retornos de quase todos os aventureiros que acrescentaram qualquer aspecto minimamente interessante à longa estrada percorrida pelos membros da família, com austeridade suficiente de um diretor que até então não tinha participado da série de filmes, sob os cuidados do escritor Chris Morgan. A atmosfera mais séria não invalida qualquer possibilidade de escapismo visual, unindo verossimilhança pautada na sobriedade e manifestada na personagem de Kurt Russell, Mr. Nobody, designado para apontar possíveis alvos e aliados de Shaw, sendo o novo contato deste com a lei. Hobbs permanece hospitalizado, servindo como orelha ao explanar os outros contatos terroristas.

    Através de seus contatos, Shaw reúne o resto do time – Tej (Ludacris), Roman (Tyrese Gibson) e, claro, Brian e até Letty – sem que Dom soubesse, unindo-os sob sua tutela em uma repaginada fase, baseada agora na lei, pervertendo ainda mais o código ético anti-heroico. O tom não é exatamente de sobriedade, mesmo porque nos trailers já se revelava que o céu seria o lugar de onde muitos carros brotariam, como em pancadas de chuva, causando um temporal metálico no Azerbaijão. No entanto, mesmo os arroubos e falácias visuais servem melhor aos esforços da trupe de velocistas.

    Qualquer construção de realidade é prontamente debochada pelo exacerbado escapismo da fita, em cenas em que carros atravessam três prédios, entre janelas e buracos onde armazenam-se aparelhos de ar condicionado, destruindo pilastras e artefatos artísticos antigos. Uma metalinguística mensagem de Wan, que tenta superar a pretensa falta de valor artístico de blockbusters como os da franquia, convencendo os críticos ranzinzas, seja pelo amor ou pela dor.

    Brian volta a ter uma importância indispensável na trama, justificando todo o seu treinamento como agente do FBI ao ser o responsável pelo resgate da misteriosa Ramsey (Nathalie Emmanuel), enfrentando o personagem de Tony Jaa em uma curta porém interessante luta, mais bem construída do que todas as porradarias anteriores. Ainda que prossiga relegado a ser um coadjuvante de luxo, seu papel no enredo acaba bastante valorizado, mesmo em comparação com Dominic.

    Velozes e Furiosos 7 é um capítulo bastante diferente de seus antecessores, deixando o conceito de filme de assalto de lado para se tornar um filme de super agente, como na Trilogia Bourne, especialmente as películas de Paul Greeengrass. A qualidade das sequências de ação evoluiu de uma forma absurda, com uma crescente de qualidade e conseguindo quebrar o estigma de involução em continuações, fazendo deste o melhor da franquia, semelhança vista nos clássicos de James Cameron: Exterminador do Futuro 1 e 2.

    Mesmo com um elenco enorme e recheado de personas famosas, com celebridades que teriam segundos em tela, há um equilíbrio narrativo, sem desperdícios de talentos. A obra pontua o epitáfio de Paul Walker, equilibrando emoção, sentimento e lágrimas contidas. Por mais que sobre pieguice, a decisão do roteiro foi a mais acertada possível, especialmente ao dedicar o filme à memória e fechar o sétimo episódio em uma estrada bifurcada, que honraria a trajetória de ambos os personagens, os quais seguiriam em frente diante da irônica tragédia que tirou Paul Walker de cena. Velozes 7 consegue elevar o nível da franquia, aumentando qualquer expectativa do futuro. Tudo graças à direção de James Wan, que superou o receito de mudar da praça dos filmes de terror para os de ação desenfreada.

  • Crítica | Velozes e Furiosos

    Crítica | Velozes e Furiosos

    Velozes e Furiosos A

    Rob Cohen segue na esteira da moda do começo dos anos 2000, variando entre o exploitation dos pegas e corridas ilegais de carro, passando pela base do roteiro tosco de redenção x contravenção vista em Caçadores de Emoção. David Ayer,  Erik Bergquist e Gary Scott Thompson conseguem conceber o roteiro de um filme que virou uma mania, mais vazio e mais cheio de personagens estereotipados que os péssimos seriados americanos infanto-juvenis da Discovery Kids e Disney XD. Velozes e Furiosos apresenta caretas, brigas impensadas, rap datado e uma plataforma que faz de Dominic Toretto um homem bem mais alto que seu intérprete Vin Diesel.

    Apesar do nome semelhante ao de um serial killer, Brian Earl Spilner (do saudoso Paul Walker) consegue ter a atenção e a boa vontade de Toretto, mesmo com o começo atrapalhado na relação de ambos. Atrás do cabelo desgrenhado e da aparência parafinada, Brian esconde um segredo terrível, quase tão aterrador quanto os passinhos de dança injustificados nos arredores das corridas ilegais, e os diálogos babacas de afeição quase instantânea, que envolvem os corredores.

    A entrada triunfal da gangue de Toretto, próximo de uma avenida movimentada, com cada máquina apresentando uma cor diferente, faz lembrar as triunfais aparições dos Power Rangers pela Alameda dos Anjos. Até as personalidades das personagens secundárias têm muito a ver com as do seriado nipo-americano, com Petty (Michelle Rodriguez), fazendo a latina mal encarada que namora o líder dos bandidos, o nerd – e hacker – de compleição física mirrada, Jesse (Chad Lindberg), e o mal encarado – e desconfiado – braço direito do chefe Vince (Matt Schulze), que se vê enciumado com o acréscimo de mais um fator na equação, especialmente por ele chamar a atenção da irmã de Toretto, Mia (Jordana Brewster).

    Os outros personagens periféricos basicamente apresentam um show de horrores e de péssima construção de personagens, com Ja Rule fazendo o negro pró-poligamia, zoado por seus iguais. Mas sua vergonha não se compara a do asiático, que não tem nome, e que joga videogame antes da corrida. As esferas de inverossimilhanças pioram depois das falas de Toretto após vencer, inflamando a multidão com ideias tão profundas como as letras de Charlie Brown Jr., e que funcionam como a cereja do bolo presente na estranha armadilha policial que envolve o racha. O findar da perseguição é conveniente, unindo Brian e Dom no mesmo carro de fuga, gerando uma dívida dupla.

    Johny Tran (Rick Yune) consegue interceptar o personagem calvo, logo após a fuga, mostrando que a pressa não é só uma característica dos corredores, como também dos roteiristas do filme. A fúria de Domic ocorre por ele ser interrompido e importunado pela cobrança de uma dívida, e só não é maior que a decepção de ter sido abandonado por seus chegados.

    Sem qualquer cerimônia, Brian revela-se um policial infiltrado, o que faz se perguntar como é injusto o investimento de dinheiro do contribuinte americano. O absurdo é quase tão gritante quanto as preces em forma de oração que Jesse faz à divindade que cuida das peças de carros.

    Apesar de datado, e da eterna predileção pelas corridas, Velozes e Furiosos é, em essência, um filme que discute a necessidade do maniqueísmo, fazendo uma ode ao anti-heroísmo. A obra inclui mais semelhanças com o clássico da Sessão da Tarde de Kathryn Bigelow do que com o filme original de 1955, com pouca substância do drama apresentado, sejam os arquétipos dos protagonistas, seja a tênue linha entre a vida bandida e o cumprimento ético de carreira do personagem infiltrado, pervertido pelas velhas tentações carnais e pela necessidade de adrenalina.

    A rivalidade entre Tran e Toretto piora muito depois da invasão ao domicílio do asiático, algo que se agrava pela aposta com Jesse, que finalmente dá um motivo para o personagem, que mais chega perto de ser um vilão, atacar o protagonista fora da lei. O show de trapalhadas piora na cena da ação contraventora em meio a um dia ensolarado, sem qualquer planejamento de que o caminhoneiro roubado poderia retribuir a violência a ele e à empregada.

    A revelação da verdade do disfarce se dá ao modo do clássico de Tarantino, Cães de Aluguel. Repentina e abrupta, a descoberta ocorre através de uma ligação para salvar o personagem que menos se afeiçoou por Brian, e que tinha total razão para duvidar de sua índole. Mesmo com todas as incongruências de roteiro, a evidente mensagem edificante consegue funcionar pela junção de fatores, a trilha sonora, o cenário arenoso, a tentativa de vingança e o assassinato do mais frágil membro do quinteto de foras da lei.

    Em algum momento, o revide torna-se justificável, e toda a irregularidade fica plausível diante do compromisso do personagem de ser um pária social. O sucesso posterior prova que algo a mais causou a popularidade no telesseriado. Talvez a culpa seja das variações das máquinas e a ode ao Dodge Charger 70 do protagonista. O sucesso foi tanto que a partir de Velozes e Furiosos, surgiram inúmeros sub-produtos, inclusive provenientes de refilmagens, como na mini franquia Corrida Mortal, igualmente baseada nos filmes de Roger Corman.

    A corrida que Toretto e O’Connor fazem rumo ao infinito reafirma a necessidade por adrenalina, além de extravasar a testosterona de duas figuras que se assemelham em espírito, e que devem muito mais um ao outro do que se aparentava antes. Apesar de toda a cópia da história de Caçadores de Emoção, o diferencial é a relação dos dois personagens masculinos, que não se permitem maiores afiliações sentimentais de ordem sexual, uma vez que o vínculo deles é exclusivamente de amor aos carros e às pessoas que os envolvem. A transformação em franquia fez bem ao filme de Cohen, já que ele é muito menos execrado do que deveria, visto os seus defeitos de concepção atenuados pelo conceito de representar como poucos a época em que foi realizado.

  • Crítica | 13º Distrito

    Crítica | 13º Distrito

    Brick-Mansions

    Tomando como base uma Detroit de um futuro próximo (em 2018), 13º Distrito usa a mesma base e plot de B-13, versão envelhecida em dez anos das aventuras Le Parkour de David Belle, e dirigida pelo sempre “implacável” Pierre Morel, acompanhado dos escritos de Luc Besson e Bibi Naceri. Esta nova versão, alcunhada de Brick Mansions contém alguns elementos de ação adjacentes, como a estrela do recém-falecido Paul Walker fazendo o ofício inédito de detetive disfarçado, chamado Damien Collier que investiga ações de traficantes de narcóticos.

    Talvez o diferencial da direção de Camille Delamarre esteja nos ângulos explorados por ela, para grafar toda a fuga de Lino Dupree (Belle) em sua jornada de escapada. A violência exposta na cidade é valorizada através da edição frenética e repleta de cortes secos, com enormes variações de abordagem, algumas vezes mudando a abordagem quadro a quadro. O modo como Camille registra sua fita tem muito a ver com a escola francesa de filmes de ação, cujas referências vão desde Morel, como também Olivier Megaton e Richard Berry, com quem já havia trabalhado, editando filmes anteriores de ambos.

    A paranoia da cidade que se agiganta e comprime o homem com sua violência gratuita é um assunto atual, mas sua abordagem é batida e há muito datada. Ainda assim, consegue atingir muitos públicos, como aqueles que se mostram fiéis ao filão da “ação pela ação“. O problema maior prossegue sendo o empobrecimento do roteiro, com situações tão genéricas se avolumando a frente das câmeras e esboçadas em scripts por gente gabaritada, como é Luc Besson. A expectativa por suas produções torna-se a cada dia menor do ponto de vista da análise qualitativa das suas histórias.

    O clichê se agrava ainda mais pela (já citada) escolha de seu protagonista. Imaginar Paul Walker fazendo outra coisa que não um tira com problemas de identidade e motivação é um exercício de futilidade tremendo, tão óbvio que assustaria se não ocorresse assim. Sua figura é tão associada a esse comportamento que a simples aparição dele remete a esse arquétipo. As poucas variações disso dentro do filme incluem uma vingança pessoal que o agente da lei quer executar. Em suma, tais coisas servem de pretexto para inserir algumas cenas de ação, perseguição física e em estradas, repletas de efeitos em slow motion, cuja qualidade é bastante interessante – ao menos.

    O corpo policial de Detroit é deveras corrupto, e o modo como isso é abordado é caricato de um modo singularíssimo. Lino consegue prender o narco-traficante Tremaine (o rapper RZA) e levá-lo até uma emboscada, somente para, ao chegar lá, perceber que ele havia comprado os agentes da lei antes. Todo o estratagema é tosco, e só piora com as conexões que este plot faz com a trajetória de Collins. O outro lado da história mostra que Tremaine tem em mãos uma poderosa arma de destruição em massa, que tem um timer de apenas dez dias para ser desativada. Os caminhos de Lino e Collier se cruzam, mas antes que eles possam tornar-se amigos inseparáveis, o fora da lei e o infiltrado se metem numa pequena disputa, cujo motivo da desavença é uma mini-van, mostrando que o sonho do suburbano atinge também os astros do cinema pipoca.

    Em pouco tempo, Damien se vê sozinho, sem auxílio por parte de nenhum dos seus, em meio ao temido décimo terceiro distrito, uma enorme favela, separada do resto da cidade por um muro gigante, um lugar tão “barra pesada” que não existe qualquer ação de governo que não seja ligada ao poder paralelo. O lugar é invisível aos olhos do resto dos cidadãos, a não ser dos que mandam Collier atrás da tal arma.

    É nesse castelo caótico que a amada donzela em perigo está. Lola (Catalina Denis), ex-namorada de Lino, está sob o poder de Tremaine, como sua refém, que eventualmente pode servir de moeda de troca. É curioso como a trama se movimenta a partir deste ponto, pois o que falta de sutileza na relação entre policiais corruptos e traficantes, sobra por meio da ambiguidade no discurso de Tremaine, que acredita veementemente ser um Robin Hood do gueto, somente dando um pouco de alívio através das substâncias que comercializa, para aqueles que são sumariamente ignorados pela elite branca (sic) e que sofrem com as mazelas sociais e econômicas, das mais básicas até as especiais. Esta, como outras mil histórias, possui dois (ou mais) lados, uma pena que o esquizofrênico roteiro só tenha se dado conta disso após mais uma hora de execução.

    As sequências de luta após isso se repetem um pouco. Nem mesmo em seu ponto mais forte o filme consegue imprimir algum ineditismo. É legal notar que qualquer discussão ou conflito, por mais espinhoso que seja, pode ser resolvido na porrada, inclusive a disparidade de renda e o abismo social que existe entre as classes dominantes e os marginalizados.

    A ideia de trazer a Revolução Francesa a um patamar mais atual não funcionou em B-13 e é pior neste, apesar das belíssimas intenções. Tudo neste final parece uma piada de mal gosto, com as transformações piegas dos antigos vilões dumau em belos contribuintes da sanidade da cidade. Brick Mansions é difícil demais de engolir, especialmente se o receptor for adulto, e dada a violência dele, este também não seria um produto para crianças. A que público a história se destina prossegue um mistério, talvez a um que não se importe em acompanhar algo que ofenda a sua inteligência no escurinho do cinema.

  • Crítica | Velozes e Furiosos 6

    Crítica | Velozes e Furiosos 6

    fast-furious-6

    Era uma vez uma franquia cinematográfica na qual roteiro e até mesmo cenas de ação eram apenas uma “costura” pra exibir veículos tunados em corridas clandestinas pelas ruas. Após um primeiro filme interessante, vieram dois abaixo da crítica, que agradaram apenas os aficionados por masturbação (visual ou não) com carros super estilizados. A bem-vinda virada veio a partir do quarto filme, quando as tramas passaram a mostrar uma equipe de ladrões gente boa promovendo assaltos em alta velocidade. Os carros continuam lá, lógico, mas a ação deixou de focar tanto nos rachas e abraçou o estilo “massa véio” com explosões e até porradaria.

    Os “puristas” podem até reclamar, mas é inegável que Justin Lin (diretor) e Chris Morgan (roteirista) souberam revitalizar a série Velozes e Furiosos, consolidando-a como o maior sucesso da Universal Pictures nos últimos anos. Não é à toa que um sétimo filme está confirmado – e já para 2014! Porém, os produtores poderiam fazer uma mudança. Ao invés de no final exibir o tradicional aviso alertando para não tentar reproduzir as cenas etc., seria mais válido mostrar no começo uma mensagem do tipo “Atenção: desligue seu cérebro antes de assistir. Bom entretenimento”.

    Nesta sexta aventura, Toretto (Vin Diesel) e sua turminha do barulho estão espalhados pelo mundo, curtindo os milhões que roubaram no Rio de Janeiro. Eis então que ressurge o o agente Hobbs (Dwayne “The Rock” Johnson, cada vez mais determinado a interpretar o Hulk sem precisar de CGI), pedindo ajuda da gangue para capturar um perigoso grupo de criminosos/terroristas internacionais. Além de prometer perdão total para todos os crimes cometidos pelo bando – sabe-se lá como ele teria poder pra isso –, Hobbs revela a Dom que Letty (Michelle Rodriguez) está viva e trabalhando com o vilão da vez, Owen Shaw (Luke Evans).

    Se alguém ainda tinha dúvidas sobre Velozes e Furiosos se passar em um universo paralelo, onde até as leis da Física são diferentes (como esquecer o cofre de várias toneladas sendo arrastado por dois carros como se fosse aquelas latinhas de recém-casados?), este sexto filme acaba com elas. Um tanque de guerra andando numa rodovia a uns 180 km/h; Toretto VOANDO a la Superman pra salvar sua amada – e capôs de carros amortecem quedas, lembrem-se disso; uma pista de aeroporto com no mínimo uns 100 km de extensão… Impossível levar qualquer coisa a sério. Seja pela empolgação visual das cenas ou pelo humor involuntário, é diversão garantida.

    Outro fator a ser louvado é o respeito pela própria mitologia. Nesse mundo de tantos remakes, reboots, prequels e o diabo a quatro, é muito legal ver uma franquia chegar ao sexto capítulo como uma única história em progressão, refereciando o tempo todo os filmes anteriores (sim, é vital ter assistido aos outros para se situar no que está acontecendo). Tudo bem, a história não é nenhum primor e os personagens são caricatos e rasos, mas ei, é o que tem pra hoje. Paul Walker ainda está lá, mas perdoemos a produção por isso. Um filme que nos brinda com Michelle Rodriguez vs. Gina Carano certamente tem crédito.

    E até mesmo o complicado terceiro filme, Tokyo Drift, finalmente é encaixado na cronologia. A cena pós-créditos cuida disso e já apresenta o próximo vilão, ninguém menos que O ATOR MAIS LEGAL DO MUNDO. Mesmo com Justin Lin fora da direção, Velozes e Furiosos 7 já é o melhor da série.

    Texto de autoria de Jackson Good.