Tag: Fernando Caruso

  • Crítica | Pelé: O Nascimento de Uma Lenda

    Crítica | Pelé: O Nascimento de Uma Lenda

    O filme dos irmãos Michael  e Jeffrey “Jeff” Zimbalist começa com uma narração em inglês, a respeito de um jogo decisivo da Copa do Mundo de 1958, a primeira conquistada pelo escrete canarinho, em que um jogador de apenas 17 anos estava prestes a entrar, Edson Nascimento, interpretado por Kevin de Paula, e que viria a se tornar a lenda dos gramados Pelé, o eterno camisa dez do Santos e seleção.

    Os próximos momentos mostram uma sequência em Bauru, com garotinhos fazendo bagunça no meio de uma comunidade carente, onde os menininhos falavam inglês, enquanto se distraiam durante o dia da final entre Uruguai e Brasil em pleno Maracanã. A tentativa dos diretores é de reconstruir o passado do atleta do século por meio de pequenos contos que valorizam a humildade do povo pobre brasileiro, o problema é que isso tudo é extremamente caricatural. O jogo de várzea entre Kings x Shoeless Ones (sim, o nome dos times compostos por crianças é em inglês também) é mostrado de maneira bastante grosseiro e o pretexto de Waldermar de Brito (Milton Gonçalves) estar lá como olheiro do Santos Futebol Clube é explorado de maneira pouco realista. É nesse momento que o apelido pejorativo de Pelé pega no menino, que antes era chamado de Dico, executado por Leonardo Lima Carvalho.

    Há participações pontuais de atores brasileiros como Seu Jorge, Bruce Gomlevsky, André Mattos, Fernando Caruso, entre outros. Todos esses atores estão lá basicamente para acenar para a plateia, uma vez que suas participações na trama são bastante dispensáveis.

    Felipe Simas interpreta Mané Garrincha e tenta entregar um desempenho que passe além da caricatura, mas o texto entregue não colabora com o esforço interpretativo. Igualmente fraca é a causa pessoal que envolve a motivação do rapaz em substituir Mazzola (Diego Boneta), que na juventude humilhava o jovem, sendo ele o responsável pelo apelido de “Pelé”. Obviamente que essa cisma jamais ocorreu de fato, tampouco a presença de Pelé entre os suplentes, fato que é uma mentira tratada como fato tantas vezes que entrou nos anais históricos como se de fato tivesse ocorrido. Essa mudança não seria algo necessariamente ruim caso houvesse uma função narrativa minimamente inteligente para essas alterações, contudo não é o que acontece.

    Ao longo da projeção o filme passa uma mensagem de que a ginga brasileira seria o elemento catalisador do futebol arte que traria o êxito à seleção brasileira. Em uma sequência próxima dos minutos finais os jogadores do plantel de Vicente Feola dão vazão a alegria de jogar futebol, basicamente tabelando com os bastidores do hotel onde estão. Por mais ridícula que seja toda a sequência, incluindo aí uma aparição rápida do real Pelé, esse é um dos poucos momentos em que os atores parecem ter qualquer rastro de brasilidade, e infelizmente, esse momento é cortado por um discurso de Vincent D’Onofrio, que encarna Feola, para basicamente nos lembrarmos que se trata de um filme inteiramente americano sobre a maior lenda do futebol brasileiro.

    Os narradores estadunidenses chamam o craque de Nascimento, e é bem possível que ele fosse chamado assim pela audiência dos Estados Unidos. Essa forma de chamar o rei do futebol talvez seja o maior símbolo do quão equivocada é essa produção, que tenta faturar em cima de uma figura cara ao esporte mais popular do mundo. Pelé: O Nascimento de Uma Lenda falha como cinebiografia e também como registro histórico da final do primeiro título brasileiro, assim como as representações de Mauro, Didi, Garrincha, Bellini, Zito, Zagallo e companhia são nulas de qualquer carisma.

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  • Crítica | Doidas e Santas

    Crítica | Doidas e Santas

    Com direção e roteiro de Paulo Thiago, o filme conta a história de Beatriz Lira (Maria Paula), uma psicanalista de sucesso, terapeuta de casais, com vários livros publicados sobre o assunto, vê-se às voltas com uma crise no relacionamento com seu marido, Orlando (Marcelo Faria). Exemplo típico de “casa de ferreiro, espeto de pau”. Ela, que passa os dias no consultório, atendendo e ajudando casais, enfrenta essa crise conjugal que a faz repensar os rumos de sua vida. Além da crise conjugal, tem de lidar com a filha adolescente, Marina (Luana Maia), a mãe que passa a morar com ela, Elda (Nicette Bruno), a irmã ausente, Berenice (Georgiana Góes).

    O livro em que se baseia o roteiro – best-seller homônimo de Martha Medeiros – é uma coletânea de 100 crônicas publicadas em jornais, sites e livros. As crônicas abordam os mais variados assuntos – problemas da vida moderna, o trânsito, os relacionamentos, os perrengues cotidianos – tudo mixado às loucuras do universo feminino.

    Não é simples adaptar uma coletânea de crônicas, deixando a narrativa coesa. O roteiro tenta concatenar todas essas historietas, fundindo personagens, a fim de criar uma linha narrativa unificada. Mas não é totalmente bem-sucedido. Na maior parte do tempo, o filme parece ser uma sucessão de esquetes encenados pelo mesmo conjunto de personagens. Em vários trechos, essa amarração consegue ser fluida, sem dar a impressão de que os causos “pertecem” a outras pessoas. Porém, em outros, a narrativa mais parece uma colcha de retalhos mal costurada.

    Algo bem evidente é o humor que permeia as cenas, algo herdado das crônicas da autora. O lado ridículo das situações, a preocupação excessiva, o “mimimi” desnecessário, tudo isso é explorado. Como uma das personagens afirma em certo momento, é necessário rir de si mesmo para deixar a vida mais leve.

    Este é o primeiro filme de Maria Paula como protagonista. Percebe-se a falta de naturalidade em várias cenas. A presença de cena de Nicette Bruno faz com que ela pareça ainda menos à vontade. Até mesmo nas cenas com Luana Maia, a adolescente consegue ser muito mais convincente no seu papel. Mas não é algo que prejudique demais o filme.

    O filme claramente não se pretende como um libelo feminista, mas consegue ser um retrato interessante das várias facetas do universo feminino. Por não se levar a sério demais, atinge o objetivo de entreter e fazer rir sem apelar para a comédia escrachada.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Crítica | Vai Que Cola: O Filme

    Crítica | Vai Que Cola: O Filme

    Vai Que Cola 1

    O cenário humorístico brasileiro mudou muito nos últimos anos. Um acréscimo de influências nonsenses começou a permear o modus operandi de muitos comediantes mais novos, assim como surgiu uma nova “tradição” de stand-up. Na exata lacuna no meio deste novo arquétipo e o estereótipo de piadista comum e ordeiro, típico da rede aberta de televisão, o afetado Paulo Gustavo se inclui, apelando normalmente para uma persona debochada e irônica, mas que não chega a fazer discutir, tampouco leva seu espectador a ter qualquer reflexão. O seu Valdomiro Lacerda em Vai Que Cola – O Filme repete a mesma graça do seriado homônimo, ainda que haja pequenas diferenças entre as abordagens.

    O folhetim pratica o desserviço de propagar um pensamento bastante preconceituoso em relação ao cidadão carioca suburbano, sempre representando-o como um ser barulhento, sem modos e afeito a selvageria, salvo unicamente por uma condição de bondade extrema, movida por uma ingenuidade primorosa que faz parecer que esse povo é bobo e fácil de enrolar. A gravidade do programa ocorre por sua enorme popularização, em especial com as classes menos favorecidas e menos estudadas, que veem pastiches de suas situações corriqueiras, tendo enfim alguma coisa em que se enxergar.

    Ao contrário do que as últimas temporadas propagavam, na Multishow, todo o show é de Valdomiro, que até permite algum brilho para o seu elenco, formado por Catarina Abdalla, Cacau Protásio, Samantha Schmutz, Emiliano D´Avila, Fiorella Mattheis e Fernando Caruso, com pequenas cenas para cada um desses conseguirem mostrar seu valor, ainda que não haja qualquer possibilidade de aprofundamento em seus dramas. A exceção é feita ao personagem Ferdinando (Marcus Majella), que faz uma figura homossexual ainda mais cômica e caricata que Valdo, até tem momentos de protagonismo, o que fomenta qualquer situação de representatividade.

    Apesar do claro problema em retratar um Rio de Janeiro que está nos cartões postais, às custas de uma zona de moradia que produz todo o material de exploração de todo o município, há algumas interferências de seu diretor, Cesar Rodrigues, que tateava ainda como cineasta, mas que punha sua experiência como condutor da novela Labirinto e da série da HBO, Filhos do Carnaval, em especial no desenvolvimento da metalinguagem e na fala direta de Paulo Gustavo com o público. Para o realizador, méritos enormes, para o astro, segue a mesma vergonhosa e covarde postura vista em Minha Mãe É Uma Peça, deixando cada vez mais claro o quão preconceituoso e ferino é o ideário do comediante, que se vale do conservadorismo para se acomodar em sua carreira já fundamentada.

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