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  • Crítica | Planeta dos Macacos (2001)

    Crítica | Planeta dos Macacos (2001)

    A versão de Tim Burton para o clássico Planeta dos Macacos de Franklin J. Shaffner começa com uma música imponente, de Danny Elfman, e com uma abertura lindíssima, com vasos e objetos de artes cuja temática tem a ver com os símios que em breve aparecerão. O primeiro personagem vivo a ser mostrado é exatamente um chimpanzé de tamanho comum, que está dentro de um simulador. Pericles é cuidado por Leo Davidson, o cientista que Mark Wahlberg vive e faz as vezes de Charlton Heston que alias, faz uma ponta neste. Esse começo parece promissor, ao menos até mostrar Leo, e mesmo assim, a historia desandaria mais ainda depois.

    O ano da historia 2029 e o roteiro começa mostrando a estação Oberon onde Davidson trabalha, e é enviado ao vazio do espaço onde é pego em um vortex que o joga para outro lugar no espaço e aparentemente no tempo, e ele pousa em um planeta que vive em uma espécie de Era Medieval, mas habitado por macacos, que tem toda uma sociedade, dividida em castas, e que se munem de armaduras super estilizadas, com um roteiro de Mark Rosenthal, Lawrence Konner e William Broyles Jr. mais fiel ao menos em ambientação ao livro de Pierre Boulle do que o que Michael Wilson e Rod Serling fizeram em 68.

    O grande problema do filme é a caricatura em que ele se insere. Há um exagero e uma mão muito pesada de Burton. As atuações são ou genéricas ou histriônicas, como a de Tim Roth fazendo o vilão Thalos, um chimpanzé inteligente e agressivo, que tenta impor sempre sua vontade através da força. Há momentos risíveis e referencias escabrosas, reunidas juntas, como uma cena em que um casal está se preparando para transar e a fêmea – na verdade, Nova, interpretada por Lisa Marie até então esposa de Burton –  dança para seu marido, em uma dança de acasalamento terrível, ou jovens macacos que imitam roqueiros punks, de jaqueta, fato que mistura linhas temporais ou referências visuis distintas demais para conviverem juntas. Alem do que, os humanos (que falam, contrariando a ideia de que seriam muito inferiores aos macacos) ao fugirem conseguem entrar em algumas casas, como se as mesmas não tivessem qualquer proteção, trancas ou algo que os valha. Mesmo em épocas bíblicas há relatos de utilização de algum método de segurança para proteger a moradia do povo de saques ou furtos.

    Os atores tiveram um trabalho árduo de preparação, para emular de maneira completamente bípede alguns dos movimentos animalescos típicos, mas até esses falham, pois em alguns momentos são utilizados e em outros tantos, não. Além disso, há uma grande banalização dos momentos do clássico, com as frases que foram icônicas, em especial as ditas pelo personagem de Heston, tem seu sentido invertido, e não por algum motivo válido, pois parecem apenas piadas de mal gosto.

    As lutas entre o exercito símio e os humanos tentam ser emocionantes, mas tem coreografias estranhas, e a sequencia como um todo é bagunçada, e tem um evento meio Deus Ex Machina ali, que debocha dos mitos  que o filme tentou estabelecer e banaliza o todo, mostrando Semos – na verdade, Pericles – como um macaquinho adestrado que é soberano diante dos outros inteligente e capazes de dividir uma sociedade inteira. É tudo muito conveniente, e a tentativa de falar sobre religião esbarra em uma abordagem rasa e meio simplista.

    Há momentos grotescos no filme, incluindo ai  o confuso final, que faz referencia mais ao livro de Boulle e tenta (em vão) soar mais poderosa que a do clássico sessentista. Toda a questão sobre o desfecho e a estátua de Thade no lugar de Abraham Lincoln é terrível, seja a crença de que ele conseguiu reativar a Oberon mesmo jamais tendo contato com esse tipo de tecnologia, ativando a rota para a Terra repovoando o planeta com símios ou levando em conta que a nave de Leo errou a rota e voltou ao mesmo planeta em que se passa o filme inteiro, qualquer uma dessas teorias ou outras possuem furos e não constituem um final poderoso como o filme quis soar, o que é uma pena, pois esse Planeta dos Macacos de Tim Burton tinha um claro potencial. A declaração de Burton sobre essa sequencia foi presunçosa – O final parece não ter lógica, mas tem. O objetivo é fazer você usar ambos os lados do cérebro ao mesmo tempo – e destaca o quanto o realizador estava fora da realidade ao analisar seus próprios méritos.

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  • Crítica | Superman IV: Em Busca da Paz

    Crítica | Superman IV: Em Busca da Paz

    Superman IV 1

    Com a franquia já dada como morta para os Salkind – ao menos em relação aos filmes com o azulão – sobrou para Golan-Globus e seu Cannon Group produzir Superman IV: Em Busca da Paz, dirigido pelo não menos genial Sidney J. Furie, o mesmo que criou a exagerada imitação de Top Gun vista em Águia de Aço. A introdução imita as clássicas, com Alexander Courage tocando ao invés de John Williams.

    A pérola já tem todo seu caráter explicitado logo no início, com o herói de capa voando livremente pelo espaço sideral, salvando uma expedição estrangeira ligada aos soviéticos, que seria o embrião da busca incessante pelo fim dos conflitos provenientes da Guerra Fria. É difícil escolher qual o fator mais tosco, se é a cena de voo no espaço, recortada e usada no mesmo take a todo momento; a demonstração de força e poder da rebatida na bola de baseball, que extrapola a atmosfera terrestre; ou a fuga de Lex Luthor (Gene Hackman, cada vez mais cansado) através de seu pupilo Lenny (Jon Cryer, de Two and a Half Man), em uma cena mais forçada que todo o plot pueril deste capítulo.

    Nenhum dos eventos sugeridos em Superman III é levado a sério por parte do texto de Christopher Reeve, Lawrence Konner e Mark Rosenthal. A dupla que adapta a história do astro principal conseguiria, em um futuro próximo, produzir um bom filme – Jornada nas Estrelas 6: A Terra Desconhecida – e participações em seriados adultos da HBO. Mas nesse caso, não conseguem salvar da mediocridade a premissa boba de vitória da crise via desarmamento, contando com a parte que deveria ser mais séria como um evento muito infantil.

    Mesmo os envolvimentos pseudo amorosos de Clark passam por um escopo extremamente irreal, sendo o pacato e matuto repórter alvo das investidas da bela e rica Lacy Warfield (Mariel Hemingway), que além de ter posse sobre o Planeta Diário, tenciona devorar seus funcionários também. O quadro se agrava quando ele passa a sofrer com os ciúmes de Lois Lane (Margot Kidder), o que contradiz todo o seu arquétipo de sujeito aparentemente desinteressante.

    Superman IV 2

    Quando Clark volta à sua cidade natal, descobre mais mensagens ocultas em sua nave, fator que é até justificado no primeiro filme, mas que ainda soa bobo diante da missão que lhe é cabida. Boba também é a demonstração de Kent, para Lois, trocando suas vestes para a do herói com a jornalista seguindo em sua empreitada de negar a real identidade do homem poderoso. A caminhada rumo à sede das Nações Unidas é igualmente patética, pela irrealidade e por ser o completo avesso da cartilha da Cannon, que normalmente fazia dos plots dos seus filmes folhetins pró judeus e anti-árabes, fomentando a guerra. A confissão de mea culpa dificilmente soaria mais vexatória do que neste.

    A junção de todas as bombas, próximo do lado externo do planeta, impressiona pelo caráter paupérrimo tanto da cinematografia quanto a ideia de jogar todo o armamento no sol, o que certamente atrapalharia um pouco a rotina do sistema solar. Superman IV é levado tão a sério que Hackman não se deu o trabalho sequer de raspar a cabeça. Seu plano envolve lançar uma ogiva no sol para que de lá saia uma versão clonada do Super Homem, uma fera loira, avermelhada, com unhas semelhantes a garras de harpia na cor grafite. O Homem Nuclear é vivido por Mark Pillow, mas tem a voz e grunhidos de Hackman, em mais uma das barbadas jocosas da produção, novamente tencionando aludir a um vilão clássico, dessa vez tomando os elementos do Bizzaro como base.

    Há muitas cenas em que se reinventa a um modo mais barato os momentos do primeiro longa, como o voo de Super e Lois, e a chamada de Lex ser escutada somente pela super audição do kriptoniano, entre outras baboseiras. O clímax da batalha mundial entre paladino e bandido envolve viagens a Itália e o uso da Estátua da Liberdade como arma, em outra tentativa fajuta de homenagear a terceira parte da saga.

    Superman IV: Em Busca da Paz consegue aludir a todos os defeitos possíveis em uma produção do gênero. Consome muito tempo com a construção de um herói maniqueísta e carregado de bom mocismo, com um rival físico risível, pior até do que a versão cortada do longa, ainda mais jocosa e que combinava ainda mais com o tom de auto parodia que a saga acabou por mostrar nessa nova encarnação.