Ao chegar no fim de As Aventuras de Tintim fica difícil, mas muito difícil mesmo imaginar que qualquer outro diretor possa fazer uma adaptação do principal personagem do cartunista Hergé tão impressionante quanto a realizada por Steven Spielberg.
A ideia de se levar Tintim às telas é antiga. Afinal, ele mesmo, o próprio personagem, também já passou dos 80 anos: sua primeira publicação data de 1929. Por todo esse tempo de existência, não é difícil imaginar quantas pessoas já imaginaram como seria ver as aventuras do jovem repórter na tela grande.
Também é fato conhecido há bastante tempo na Europa que, tanto o artista belga quanto a crítica – sobretudo a francesa -, acreditavam que Spielberg era o homem certo para o trabalho. Diz a lenda que Hergé ficou encantado depois de ter assistido Caçadores da Arca Perdida e que viu no cineasta americano a pessoa ideal na transposição de sua criação mais conhecida para a sala escura.
E agora que o filme chegou ao circuito, é possível afirmar: ele estava absolutamente certo. Spielberg acerta do início ao fim em “As Aventuras de Tintim”. E o primeiro acerto precede o filme em si.
A opção por usar cenários virtuais e o recurso da captura de movimentos foi preciosa. Os principais detalhes encontrados nos personagens que formam a história de Tintim nos quadrinhos estão lá: o capitão Haddock, os inspetores Dupont e Dupond e o fox terrier Milu – que, aliás, em vários momentos se transforma no personagem principal do filme.
Todos retratados com uma fidelidade que dificilmente vai decepcionar quem acompanha as viagens dos personagens nos álbuns originais. É a prova do respeito que o cineasta tem pelo material original. Ou seja, a caracterização está mantida.
Imaginar uma versão com atores reais chega a dar calafrios. Isso porque determinados personagens têm características físicas tão cartunescas – traços exagerados ou minimalistas, retratação em cores berrantes – que torna praticamente impossível imaginá-los sendo vividos por seres humanos.
São justamente os exageros visuais dessas criações que nos transportam para outros lugares e garantem a fantasia. E quando se fala em fantasia, de fato ninguém supera Spielberg. Um dos maiores clichês sobre o cineasta é dizer que, em boa parte de suas obras, ele ainda mantém um olhar de criança ao filmar. Tintim comprova a afirmação.
“As Aventuras de Tintim” é um filme de ação desde o início. Sem o menor pudor de se assumir como tal. E esse talvez seja um de seus maiores méritos. O ritmo é acelerado, porém os cortes não são fragmentados – aqui não há o que se convencionou chamar de “estética MTV”. Trata-se de uma ação contínua: uma cena puxa a outra e a outra e a outra e assim por diante.
Muitos poderão até achar engraçado, mas ver esse filme faz imaginar o quanto Spielberg deve ter assistido as obras de François Truffaut. A câmera é de uma leveza e fluência assustadoras, que lembram muitos momentos do autor francês. E o meio virtual no qual a produção foi registrada rompe qualquer amarra que a realidade física poderia impôr ao cineasta.
A construção dos personagens fica em segundo plano, porém não é esquecida. E nesse ponto, nenhum chama mais a atenção que Haddock. Talvez para dar um pouco mais de drama e sofrimento, no filme o capitão é bem mais viciado em bebida que nos quadrinhos – o que, certamente, aprofunda sua fragilidade e, por consequência, sua dimensão humana.
E aqui cabe sublinhar mais um trabalho primoroso do ator Andy Serkis. Que ele não fique estigmatizado, mas o homem se tornou um mestre na composição de personagens virtuais, vide o “Gollum” de O Senhor dos Anéis e o César de Planeta dos Macacos – A Origem.
Em meio a tantas cenas de ação bem construídas, com muitos tiros e socos – quem leu os quadrinhos sabe que as histórias de Tintim não podem ser exatamente classificadas como “infantis”. Esse é um erro recorrente – , uma delas se destaca: preste muita atenção na sequência da fuga do castelo, no Marrocos. Se você não se movimentar na cadeira pelo menos um pouco com a agilidade das tomadas e a sucessão de cenas para se chegar à conclusão da sequência, acredite: há algo errado contigo.
Outro excelente momento ocorre quando Haddock finalmente se lembra da história contada por seu avô – fundamental para a compreensão da trama. Repare na precisão da sequência de fusões e flashbacks que o diretor cria para que a história fique coerente aos olhos do espectador.
É um filme para sair da sessão de cinema pensando seriamente em descer escorregando pelo corrimão da escada. Para voltar a se sentir um pouco como os garotos que já fomos numa época de nossas vidas. Sensação semelhante à que experimentamos quando assistimos Indiana Jones.
Aliás, veja como Tintim, numa das cenas citadas acima, utiliza uma motocicleta com sidecar muito parecida como a usada por Harrison Ford e Sean Connery em Indiana Jones e a Última Cruzada.
Há quem veja muitas semelhanças entre o repórter criado por Hergé e o arqueólogo concebido por Spielberg e George Lucas.
Sinceramente: bendita semelhança.
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Texto de autoria de Carlos Brito.
Ótima resenha, como de costume.
Eu ainda não vi o filme, verei amanhã a noite, e o motivo é que realmente estava esperando sairem as críticas, para só depois decidir se iria ver ou não.
Tintim é minha história em quadrinhos preferida, praticamente aprendi a ler com essas histórias.
E a primeira vista, quando não havia saído nenhuma informação sobre o filme, apenas o trailer. Eu tinha um preconceito na cabeça. Mais uma obra européia, sendo estragada na mão de um americano. Afinal, já foram tantas. E convenhamos que os últimos filmes do Spielberg não davam nenhuma confiança de que isso seria diferente.
Mas é ótimo ver todas essas críticas positivas. E ir pra sala de cinema, já sabendo ao menos, que é um filme que respeita a obra dos quadrinhos.
Rafael,
Pode ir tranquilo.
Assisti sabado e como fã de Tintin (muitas manhãs de TV cultura) posso afirmar que ele é fiél e ele é sensacional. Eu recomendo assistir dublado pois utilizaram o mesmo dublador do Tintin da animação. É um sentimento de nostalgia FODA.
Ótima critica Carlos!
Obrigado, Rafael.
Que coisa boa saber que Tintin é um grande filme. Assisti Cavalo de Guerra e achei péssimo e confesso que fiquei com 2 pés atrás para ver Tintin com medo do Spielberg ter estragado a obra. Fico feliz q não tenha acontecido.
Grande crítica, Carlos!
Gostei da crítica Carlos, como não conheço o quadrinho, não estava inclinado a assistir o filme, mas agora acho que vou assistir.
Abraços!!!
Vou tentar assistir essa semana.
As Aventuras de Tintim mas parece filme para adulto, pois a perfeição dos personagens, das cenas de ação. do enredo da estória, tudo é muito bem feito. As expressões faciais, o tipo físico, até o vento quando bate nos cabelos dos personagens parece real.O vocabulário tambem é muito interessante, são dialogos com um nível de cultura e não falas bobas. Sempre que posso assisto e parece que é sempre a primeira vez, No final fica sugestivo que terá a segunda parte, estou ansiosa para asistir, Parabens a todos que participaram de alguma forma com este desenho,
desdepequena gosto do Tintim e agora que lançou o filme acampei na frente do cinema só para ganhar um bom lugar na estreia