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  • Crítica | Toy Story 2

    Crítica | Toy Story 2

    Poucas continuações fazem jus ao material original, de clássicos logo se lembra de Império Contra Ataca, Poderoso Chefão Parte II e De Volta Para o Futuro 2, mas o filme de John Lasseter, Toy Story 2, lançado em 1999 facilmente dobra a ideia de que sequencias são piores que os filmes clássicos, pois esse faz jus ao primeiro, e já começa tenso, com o Woody de Tom Hanks/Marco Ribeiro desesperado por não achar o seu chapéu, as vésperas de uma viagem a um acampamento cowboy com Andy.

    O começo remete ao espaço, com Buzz lutando contra o mal, possivelmente em atenção a série animada que seria lançada, Buzz Lightyear e o Comando Estelar. No Quadrante Gama, Setor 4, o patrulheiro espacial tem um início de aventura sensacional, numa sequência de ação irretocável do ponto de vista estético e de roteiro, e incrivelmente, é só um epílogo, um despiste que faz enganar o espectador, sobre o destino de Buzz, e a clarividência  respeito de ser ou não um brinquedo, além de obviamente referenciar Aladdin e 2001: Um Odisséia no Espaço. A batalha no vídeo game também faz referencia a popularidade crescente dos jogos eletrônicos sobre os outros brinquedos.

    Enquanto o cowboy fica preocupado como será a rotina dos outros na sua ausência, novos elementos são apresentados logo de cara, com o Buzz de Tim Allen/Guilherme Briggs de vice líder dos brinquedos do Andy, e o cachorro Buster sendo adestrado pelo vaqueiro, isso referencia o amor do boneco western a cães, não à toa ela era tão apegado a Slinky, além de gerar uma saudação que o próprio Andy usa em Toy Story 3, fazendo  carinho no bicho, perguntando quem é que vai sentir saudades.

    O proprietário dos brinquedos segue criativo, misturando elementos de faroeste com os aventureiros do espaço. Nesse momento também é mostrado o antigo protagonista mais uma vez um bocado deprimido, ao perceber o óbvio: não durará para sempre, além de obviamente ser um brinquedo antigo, de colecionador, portanto um item especial, mesmo que não soubesse disso.

    O quadro muda, do final de Toy Story para esse, Woody volta a ser querido pelos seus, uma verdadeira e conquistada liderança sobre eles, que partem imediatamente para um resgate a ele, invertendo o paradigma do outro longa, que tinha Buzz como desaparecido, e eles o fazem não só por conta da criança dona deles, mas também por que sentem falta dele. Toda a vaidade que o personagem abriu mão no primeiro capítulo da saga quase retorna, mesmo que ele tenha crescido, ser alvo de admiração o faz ficar confuso, ainda mais quando conhece a fundo o  novo núcleo de personagens, entre eles a vaqueira Jesse, o cavalo Bala no Alvo e o Mineiro, ou Pete Fedido, um brinquedo que jamais saiu da caixa e não sabe como é brincar com um garotinho ou uma garotinha. Ambos estão contentes com a possibilidade de virarem peças de museu.

    A mitologia de Woody é expandido, é mostrado o programa de fantoches dos personagens do faroeste. A exibição do episódio é engraçadíssimo, com os personagens conversando com animais, tal qual ocorria com as pessoas e os animais Lassie e Rintintin, mas nem isso é capaz de fazer o herói mudar de ideia, ele não quer largar Andy, ao mesmo tempo que tem que pensar e pesar se a sua atitude deve ser a de voltar ou permanecer com os novos amigos, que tem por trauma a longa  espera, enfurnados sem perspectivas de sair dos papelões e isopores que os cercam. Jesse fica desesperada  ao perceber que voltará para lá, e isso causa no protagonista uma crise de consciência grande.

    Há ótimas sacadas, como quando Woody tenta fugir e tem como obstáculo os salgadinhos em forma de biscoito, espalhados por Al no chão. É bem engraçado o modo como o diretor John Lasseter brinca com inversão de escalas, algo pequeno para o homem é enorme para os brinquedos, assim como se inverte na cena em que Buzz e o grupo de resgate causa danos no transito, deixando os carros em estado terrível, sem sequer perceberem.

    O vilão humano, também conhecido como homem Galinha é um sujeito asqueroso física e espiritualmente, ele é bidimensional, mal e egoísta, tal qual todos os outros humanos, e por mais que isso seja raso, faz sentido, afinal, essa é uma historia de brinquedos. O Celeiro de Brinquedos do Al foi palco de muitos momentos homéricos, desde as referências obvias a Império Contra Ataca, Jurassic Park e claro, um retorno de Buzz a condição anterior a entender ser um brinquedo de criança, com uma contra parte sua, que interage com os que habitam o comercio a varejo local. É engraçado como nem os amigos dele fizeram perceber que pegaram o Buzz errado, mas é natural, afinal, são os mesmos que ao se pendurar na  corda do astronauta, põem Rex, o personagem com braços mais finos para ficar na ponta, assim se ele caísse todos também sucumbiriam.

    Há muito mais piadas físicas do que no anterior, e isso faz a historia pesar um bocado, as sub tramas são menos elaboradas que as dos primeiro filme, mas ainda guardam boas camadas de discussão, expande novos horizontes de aventuras e de sentimentos dos brinquedos. As mensagens de rejeição mudam, antes, eram de obsolescência programada, por parte de Woody, e aqui esse predicado negativo é mostrado com Jesse, que tem trauma de já ter sido abandonada por sua antiga dona, e claro, Pete Fedido, que jamais teve esse prazer, mas ele passou por muita coisa, e amadureceu, percebendo sua real vocação, que é ser um brinquedo de criança, satisfazendo ela e sendo amado pela mesma.

    Uma boa sequência não tem obrigação de ser melhor que a original, mas sim de fazer jus ao produto original, e essa faz, usando como base vários dos conceitos antigos e expandindo o universo como um todo, com novos personagens divertidos, carismáticos e engraçados. A Pixar segue com a sua primeira continuação, de seu primeiro clássico, mais uma vez divertindo as crianças, fazendo os adultos refletirem um bocado sobre o valor da amizade e companheirismo. Mesmo sabendo que os brinquedos tem uma vida útil curta, e que seu dono por mais carinhoso que seja um dia vai ter de abrir mão deles, por conta de idade –  isso seria explorado ainda em Toy Story 3 – mas esse Toy Story 2 consegue tratar com reverência o clássico, trazendo uma aventura com um frescor novo e com a possibilidade aberta para novas teorias, entre elas, a de que Jesse um dia foi da mãe do Andy, já que ele quando pequeno, tinha um chapéu igual o dela, e o primeiro nome da senhora Davis jamais é dito.

    A Hora da Verdade do rodeio do Woody, jamais filmado é muito bem representado neste ato final, mesmo que não faça muito sentido alguns segmentos, como os bonecos dirigindo até a casa de seu dono, e as passagens de tempo no final. Os coadjuvantes ganham ainda mais importância, mesmo que a pastora de ovelhas Beth seja sub aproveitada, mesmo que só Jesse (e as Barbies) dentre as personagens femininas sejam desenvolvidas, mas há muitos extras, como cenas de bastidores/erros de gravação, tal qual houve com Vida de Inseto. Toy Story é ainda mais divertido que o primeiro, dá um salto visual absurdo (principalmente no que tange os humanos, que se afastaram do Vale da Estranheza) e tem uma história que repagina muitos conceitos bons do primeiro, ainda que seu caráter seja bem diferente, fazendo com que o filme tenha sua própria identidade, ainda se apegando ao trabalho anterior.

    https://www.youtube.com/watch?v=Lu0sotERXhI

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  • Crítica | Toy Story 4

    Crítica | Toy Story 4

    Havia uma promessa após Toy Story 3 que a saga de Woody e dos outros brinquedos finalmente chegaria ao fim. Ocorre que, nove anos depois a Disney/Pixar trouxe enfim um novo capítulo para a franquia, dessa vez dirigido por Josh Cooley, em uma história que prometia poucas surpresas.

    Na trama, já se sabia que Woody reencontraria Betty, a pastorinha de porcelana que não aparecia desde o segundo filme. A trama começa nove anos antes do presente, em um dia chuvoso que marca o retorno de vários brinquedos antigos do Andy. A sequência em si além de animada é bastante emocionante, e marca a ideia central do filme, de que brinquedos vem e vão. Os momentos de ação melhoram ao ser pontuados pela música brasileira de Zé da Viola, que retorna para traduzir os temas de Randy Newman, incluindo uma música inédita.

    Woody tem que se adaptar a uma nova condição, sendo muitas vezes ignorado por Bonnie, mas sem jamais culpar a menina por isso. Neste ponto, há homenagens a momentos clássicos, como quando o vaqueiro e Buzz passeiam pelo Pizza Planet. Sua interferência em tudo é um aspecto que ele percebe que precisa mudar, mas essa evolução terá de esperar pela aproximação de um novo personagem, um garfinho criado pela menina durante sua ida ao jardim de infância.

    O novo paradigma traz uma nova sensação ao brinquedo, a vontade de não querer existir. O personagem funciona como um pupilo de Woody, mas também ensina algumas coisas, dentro daqueles aspectos estereotipados de filmes otimistas, mas que aqui funciona muitíssimo bem, em especial no que toca a sensação de não mais pertencimento a uma classe ou a um grupo específico. De certa forma, o Garfinho e Woody compartilham parte do mesmo destino, e aos poucos o caubói copia elementos de personagens diferentes entre si.

    Se nos outros três capítulos da saga tratam de rejeição, esse tem como um tema central o pertencimento, no caso, o lugar de destino dos brinquedos, não importando se eles são de material descartável, duradouro ou de qualquer outra natureza. Com a adesão de Betty à trama se discute de maneira não-panfletária o lugar que cada brinquedo tem, além de belíssimas reflexões a respeito de consciência, no arco de Buzz.

    Há duas personagens femininas fortes: Betty e Gabby Gabby – personagem que segundo os trailers era vilã e tirana mas que no decorrer dos 100 minutos, desconstrói essa imagem. A postura de ambas é bem diferente, e as duas causam diferentes emoções no protagonista, uma fazendo com que ele deseje ser independente e aventureiro, e outra reforçando o apego dele ao seu dono, e o desenvolvimento desse aspecto por parte de Woody talvez seja um dos pontos mais maduro e profundo de todo o roteiro de Andrew Stanton e Stephany Folsom.

    Os novos brinquedos também são muito bem apresentados, em especial o curioso Duke Caboom, dublado por Keanu Reeves, personagem esse que garante boas risadas e reflexões sobre superação de obstáculos. Há outros que apelam para eventos mais óbvios, mas ainda assim são bem carismáticos, como os brinquedos prêmios de jogos no parque. Os antagonistas são desenvolvidos, em sua maioria, como personagens multidimensionais, e o rumo destes redime um pouco Lotso, Pete Fedido e outros vilões já apresentados na série.

    Os brinquedos quebram muito dos protocolos, e isso ajuda o dar peso nas escolhas que o filme toma, fazendo com que as tiradas cômicas sejam muito mais significativas. A mensagem de que não dá para carregar todos os brinquedos sempre é muito bem explorada, ainda que a história de Toy Story 4 tenha algumas fragilidades. A vida é feita de transições, e mesmo pequenos ritos introduzidos no filme fazem um enorme sentido aqui. Para quem acompanhou todas as aventuras dos brinquedos de Andy e Bonnie é impossível não se importar com toda a carga dramática apresentada nesta sequência, e para ajudar o longa é visualmente belo, divertido e com uma bela carga dramática, pontuando bem o caráter e o espírito que a Pixar traz desde o primeiro Toy Story.

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