Tag: Pete Docter

  • Crítica | Soul

    Crítica | Soul

    Soul é o novo filme da Disney Pixar, filosoficamente pensado para discutir a formação da alma das pessoas. A história dirigida por Pete Docter explora uma aventura bonita e singela sobre pessoas, sonhos, ambição, decepções e resiliência, usando a vida de Joe Gardner, um musicista de jazz frustrado e que vê a oportunidade de tocar na banda de uma performancer famosa como exemplo de vida.

    O chamado a aventura começa logo após o convite para fazer parte do quarteto de Dorothea Williams, imediatamente depois de receber uma proposta de emprego fixo, algo raro em sua vida. Por conta desses acontecimentos, e de seu caráter descuidado, ele acaba indo a óbito. Percebendo que perderia as chances de sua vida, ele se recusa a “morrer”, e acaba se unindo a alma em treinamento, denominada 22, um ser atormentado e decidido a não querer existir.

    O visual do filme ajuda a aumentar a dimensão do desespero de Joe, nos momentos onde a cor azul predomina, deveria resta a ele a tranquilidade, como é com a maioria das pessoas que chegam as camadas mais profundas do além. Sua decisão o de não aceitar o fim, impedem ele de ter essa tranquilidade de espírito, ele está tendo, pensando nas dúvidas que ele tinha ainda em vida, e que poderiam ser bem mais fáceis de resolver do que ele imaginava.

    Boa parte da vontade que ele tem em viver mora na sua relação com a música, e em como se sente bem e aéreo quando exercita a harmonia, e o quanto toca outro plano nisso. Ele não precisa estar morto para sentir o êxtase, e isso o coloca em uma posição privilegiada, de tocar outro plano de existência mesmo sem estar morto, e mesmo sem querer, ele se torna arrogante, se julgando não pronto para deixar o plano dos vivos.

    Em Divertida Mente,  Docter abordou como funciona o aparelho psíquico, de forma lúdica e simplista. O crescimento dele como realizador dentro da Pixar contou com fatores externos até o sucesso de seus filmes, fato é que ele amadureceu nesse meio tempo, embora Soul não seja tão bem resolvido em abordagem quanto poderia ser. Algumas das conclusões morais do roteiro soam estranhas. Ainda que exista uma valorização de trivialidade típicas da vida comum e dos sentimentos, também se fomenta que a rotina meramente medíocre e sem propósitos é edificante, além de colocar pessoas místicas e holísticas acima do restante dos mortais.

    Soul é bonito em muitos momentos, acerta demais quando se mostra como ode a música popular dos Estados Unidos e escorrega na exploração de estereótipos se equivocando ao valorizar o acaso como linha guia da vida. Por mais que Joe tenha aprendido a se desprender de algumas questões é valido que ele enfrente as autoridades que sua vida carrega.

  • Crítica | Wall-E

    Crítica | Wall-E

    Wall-E é um dos filmes da Disney/Pixar menos midiático, ainda que seja sempre muito elogiado por parte de crítica e pública. A obra começa tocando Put On Your Sunday Clothes nos pequenos rádios presos ao robozinho que entitula o filme de Andrew Stanton, enquanto passeia pelas ruas de uma Terra devastada por problemáticas ecológicas e pelo consumo selvagem e desenfreado dos insumos.

    O lugar que serve de cenário é uma área urbana, de metrópole fato que ajuda o intuito colecionista de Wall -E. As pilhas de lixo são grandes como os arranha-céus a sujeira é o estado normal do planeta e a criatura orgânica mais próxima de alguma torcida é uma baratinha que anda com o protagonista, o mesmo tipo de bicho que em outros tempos, causaria asco e até fobia nos humanos.

    Qualquer cenário pós apocalíptico não poderia ser pior do que ter o planeta natal dos homens e mulheres tomado pela imundície e pelos descartáveis, soterrado por lixo. O filme possui atores reais, distanciando neste inicio as figuras animadas em 3d dos meros humanos que vivem em colônias espaciais. Incrivelmente são os seres digitais que parecem menos falsos e artificiais, a humanidade perdeu seu contato com o real e vive em seu simulacro e auto alienação, enquanto o pequeno robozinho, cercado e feito de sucata se encanta pelas faces da cultura humana, acumulando tudo que meramente lembrasse a face humana.

    Por mais que a rotina do protagonista seja repleta de momentos bonitos e cheios de ternura, o dia a dia é monótono, e isso só muda com a chegada de EVA, uma máquina de reconhecimento enviada como sonda a Terra rompe um pouco com a solidão do herói da jornada. Ele tenta ser romântico, mas não tem retribuição em um primeiro momento e esse gelo é quebrado bem aos poucos.

    Passa-se quase 40 minutos para aparecer o primeiro humano dito normal, em animação 3d, e o que se vê é que a raça bípede está acomodada, todos obesos, sentados, sendo servidos pelas máquinas, reféns da tecnologia e dos vícios inerentes a estar sempre conectado. A crítica comportamental é evidente, e toda paranoia dos humanos com possibilidades de contaminação por conta do planeta ou mesmo de Wall E é a simples e melhor mostra do quão presos a rotina de nada fazer eles estão.

    Há duas demarcações que demonstram a crítica do roteiro de Stanton, Jim Reardon baseado no argumento do próprio diretor e Pete Docter, que é o inicio do filme, mostrando o planeta tomado de plástico, papel e sujeira em geral, e também as super telas que entretém e distraem os homens obesos, que não fazem nada além de comer e gastar seu tempo comprando ou assistindo algum show bobo e fútil.

    O comandante da expedição que retornaria a Terra vibra ao perceber que não precisaria voltar ao lugar de origem da espécie, para assim continuar gozando das benesses da inércia e do conforto de ter uma máquina para cada mínima função do seu cotidiano. O final do filme mostra uma pequena disputa, movida pela ignorância das máquinas em relação a condição de vida na Terra, apimentado pelo receio de ter que lutar pela sua própria sobrevivência. A sequencia como um todo guarda momentos de humor, mas mesmo toda alivio cômico não apaga a mensagem voltada tanto para preservação, como também não diminui a força da situação calamitosa de isolamento dos seres pensantes.

    Os créditos finais mostram o destino dos homens na Terra, como eles passariam a viver em seu lar novamente, e é até otimista dado toda a desolação antes mostrada, a riqueza de Wall-E mora exatamente no discurso sério que propõe, sem descuidar da leveza a que a historia submete seu público, fazendo um tipo de poesia com a problemática que pode perfeitamente ser o futuro humano em alguns anos.

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