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  • Crítica | The Ridiculous 6

    Crítica | The Ridiculous 6

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    O cinema de Adam Sandler, salvo raras interpretações dramáticas, se divide em duas vertentes de comédia. Uma delas, a primeira na qual o astro se tornou conhecido, dedica-se a um humor explícito entre ironia, paródia e piadas físicas de apelo fácil. Outra se ancora em certa tradição da comédia romântica, transformando o ator em uma espécie de galã em histórias em que o conhecido humor exagerado fica mais leve, integrando melhor com a trama.

    Em ambos os caminhos, porém, o ator é criticado e ainda mantém o status de um dos atores menos rentáveis da indústria. O forte apelo de algumas produções se somam a outras obras pouco frutíferas, promovendo um caminho difícil em que o público nunca parece receptivo com suas histórias. Um fato que ainda não o impediu de ser personagem principal de diversos filmes e de manter sua popularidade fora dos Estados Unidos. Em nosso país, por exemplo, seus filmes sempre estreiam em primeiro lugar e se mantêm na lista dos mais assistidos.

    Assinando com a Netflix para produzir quatro longas-metragens, The Ridiculous 6 é o primeiro fruto dessa parceria que equipara o cinema tradição e o serviço de streaming em um mesmo patamar, com grandes produções e estrelas de destaque. Na trama, Tommy “Faca Branca” Stockburn parte em uma jornada para resgatar seu pai fora da lei, e no caminho descobre que tem cinco irmãos.

    Logo após o lançamento, as críticas negativas atribuíram o humor de Sandler como preconceituoso com os personagens abordados. Como em outras obras anteriores com o comediante, o roteiro utiliza clichês comum, no caso, o Velho Oeste, para produzir personagens caricatos. Como humorista, o ator nunca renovou seu repertório cômico e seu estilo de sempre é o visto em cena com piadas sobre escatologia, personificando figuras deslocadas e usando o riso como paródia. Nada de novo dentro de seu estilo de humor. A comédia sempre visa um alvo, afastando a realidade para rir de si mesma e, neste cenário, a produção ainda é capaz de rir do conceito que o cinema americano criou do cinema Western.

    Em cena se destacam as parcerias costumeiras do ator, como Rob Schneider e John Turturro, compondo certa química para uma história que não apresenta nada de novo. Dado que o humor de Sandler está preso à própria formula criada, aos poucos parte do público começa a rejeitá-lo pelo cansaço.

  • Crítica | Sem Direito a Resgate

    Crítica | Sem Direito a Resgate

    Sem Direito 1

    Sem espaços para introduções maiores – que não a ação contínua – Sem Direito a Resgate emula as características de seu título original, Life of Crime, ao exibir um panorama cômico da vida bandida na história norte-americana, indo desde as ações de meros batedores de carteira até as fraudes de grande porte, cujas somas acumulam muitos zeros à direita.

    O início em forma de prólogo mostra dois vigaristas, Louis Gara (John Hawkes) e Ordell Robbie (Yasiin Bey) aplicando pequenos golpes em pessoas que se julgam mais espertas do que são. O método que utilizam é bastante modesto, sem qualquer sofisticação ou prévia. Nas cenas subsequentes, uma esposa submissa, vivida por Jennifer Aniston, sofre as agruras de viver com um esposo turrão. Margaret Dawson não faz ideia da posição privilegiada que ocupa, já que não tem qualquer ingerência nos negócios de seu marido, Frank (Tim Robbins), que secretamente é o cabeça de um negócio de desvio de dinheiro para contas bancárias clandestinas. O destino dos dois núcleos se cruza quando Ordell pensa em raptar a dona de casa desconsolada, para tentar conseguir um resgate.

    Maior do que qualquer possibilidade de isolamento à força, típica de ações em cativeiro, é o vazio existencial em que se encontra Margaret, se sentindo sempre solitária pela atenção que jamais chega por parte de seu cônjuge. O drama da personagem é comum a de muitas mulheres da atualidade e da época retratada no filme.

    O trabalho de reconstituição de época é bastante esmerado: nota-se não só nos belos cenários e figurinos, como também nos modos e no jeito de andar de cada um dos personagens. Tudo foi milimetricamente calculado para apresentar um efeito paródico, condizente com o saudosismo mas sem quebrar a empatia do espectador com os pequenos dramas diários do roteiro, fazendo de cada uma das gags cômicas engraçadas de fato, uma vez que o destino dos personagens é importante para o seu público.

    As piadas do filme ocorrem “apesar” da narrativa linear, com pouco humor nonsense, mas ainda assim de bom gosto, especialmente por explorar a hipocrisia presente nas relações do americano médio de uma maneira comedida, destacando o egoísmo e individualidade como principais fatores para o distanciamento sentimental entre os iguais.

    Há uma série de eventos entrópicos, que brincam com questões como infidelidade conjugal, suborno, tentativas de homicídios, claro, abordadas por uma ótica humorística, sem se levar a sério. A trilha sonora aumenta ainda mais o clima de deboche ao apresentar músicas românticas nos momentos onde a frieza dos crimes deveria prevalecer.

    As reviravoltas do roteiro, típicas de uma comédia de erros, inverte alguns dos arquétipos apresentados no início do filme, maximizando a sensação de que a trama foi construída a partir de improvisos ou de uma roleta russa de eventos loucos. Em certos momentos, a obra do diretor Daniel Schechter faz lembrar os primeiros filmes de Guy Ritchie, sem a violência gráfica de Snatch – Porcos e Diamantes e Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes.

    Outra referência notória caracteriza-se pelo formato narrativo de Fargo, especialmente nos pontos onde há personagens amorais, cujo comportamento errático faz com que seja impossível torcer para cada um deles.  A volúpia pelo dinheiro fácil transforma as escolhas dos personagens, levados a uma vida marginal, subvertendo – outra vez – o estigma de sequestro trocando-se a vítima mas permanecendo o mesmo fornecedor do resgate. Exceto as extensivas repetições, Sem Direito a Resgate é uma boa comédia, mas de fácil esquecimento, não sendo mais lembrada cinco minutos após o encerramento.

     

  • Crítica | Nebraska

    Crítica | Nebraska

    nebraska

    A fita começa com um devaneio, focando o personagem Woody Grant – um brilhante Bruce Dern – caminhando, aparentemente sem rumo, até que é mostrado que o sujeito ancião está a pé a caminho de Lincon – Nebraska, pretendendo percorrer milhas de distância atrás de um prêmio que não existe. O novo filme de Alexander Payne tem uma premissa bastante emocional, onde traça a busca por anseios como parte fundamental da vida, tratando a falta de objetivos como algo ruim, mas bastante comum.

    Fotografia em preto e branco e repleta de tons claros remete a um passado nostálgico – para Woody – e há um jamais vivido – por David Grant, o filho caçula interpretado por Will Forte – também em um excelente momento. A trama transita entre os conflitos dos dois personagens na maior parte do tempo, e em alguns momentos, cruza o drama dos dois. A senilidade do pai, um problema tão pesado, é tratado de forma leve e cômica. Ele é facilmente enganado, o que se agrava com a teimosia típica da terceira idade. A criação executada pelo pai insensível e ausente tem consequências atrozes na vida da família, causando mágoa e insensibilidade na matriarca e no filho mais velho – June Squibb e Bob Odenkirk, respectivamente – e gera no filho mais novo uma personalidade passiva e covarde.

    A velhice é o retrato escolhido por Payne para mostrar a decadência inexorável à vida humana, e demonstra que esta pode ser encarada com bom humor. As conversas com o homem velho são francas, de uma forma que só um sujeito idoso pode falar. O diálogo franco sobre a rotina e os arrependimentos da vida – incluindo os fracassos – podem ser compreendidos como um estado de comodismo a respeito das experiências inevitáveis, mas é melhor lida como comentários anedóticos a cerca das coisas supervalorizadas na vida, como casamento, vida familiar etc.

    A busca incessante não é a respeito do dinheiro, o que fica óbvio, dado que o patriarca Grant não tinha direito a ele, apesar de sua forte e teimosa crença, mas tem a sina de manter acesa a fantasia de um sujeito que não consegue mais pensar por si só de maneira plena. Há uma sinceridade muito tocante na fala do personagem, bastante característica de quem não tem nada a perder. A cidade natal de Woody – Hawthorne – torna-se o cenário das lembranças de sua vida, e David pode acompanhar um pouco da trajetória de seu pai pelos olhos de seus antigos amigos, as histórias o aproximam ainda mais do velho.

    O malfadado dinheiro é visto como única coisa na vida do geriátrico senhor que valha menção, notoriedade e/ou reconhecimento. Rapidamente ele se torna uma mini-celebridade em sua terra. O “enriquecimento” sem merecimento causa inveja e produz nos conhecidos “mais chegados” sentimentos mesquinhos e de cunho aproveitador – o que faz incluir o resto do núcleo familiar na aventura, a fim de defender o homem senil dos possíveis abusos por parte destes. A jornada os faz viajar por todas as experiências que tiveram juntos, e os faz perceber a importância de cada um dentro do grupo, mas sem nenhuma tolice sentimentaloide ou piegas.

    O ridículo traz à tona um desfecho que beira o patético, mas ainda assim é comovente, há uma clara evolução para os heróis da jornada, David deixa de lado sua inércia e reage ao perceber que seu pai está sendo ridicularizado, a mãe demonstra muito cuidado com seu companheiro de vida – a unidade familiar antes considerada até como inexistente vem à tona, num resgate no momento mais propício possível. Woody termina sua história pessoal usando um boné com os dizeres “Prize Winner”, e tem por fim seus dois objetos de desejo – uma nova caminhonete e um compressor de ar, e para fazer jus ao seu próprio orgulho, desfila pelo cenário de seu passado. Nebraska é o retrato de uma vida comum, mas observada sobre uma ótica não pessimista, é realista mas de uma forma bela, terna e burlesca.