Crítica | A Morte do Demônio

Evil-Dead-Poster

Remakes podem ter diversas motivações para serem feitos: quando um filme europeu ou latino-americano faz um sucesso inesperado e Hollywood aproveita para vender a ideia ao público americano que não vê filmes com legendas, porque um diretor quer revisitar sua própria obra ou porque parece rentável atualizar um clássico de outras épocas e vende-lo para novas gerações. A Morte do Demônio é sem dúvida o último caso: o filme que lançou Sam Raimi não foi exatamente refeito, mas relido, adaptado ao paladar de uma geração acostumada a zumbis realistas e computação gráfica.

A história sofreu algumas alterações: agora o filme se centra em Mia, uma jovem que decide largar as drogas e para isso convoca seu irmão e melhores amigos para se internar em uma cabana enquanto ela passa pela abstinência. A tentativa de tornar os personagens mais profundos, mais dramáticos, faz com que o filme comece clichê, mas é um acerto de Fede Alvarez (o estreante que dirige o filme, produzido pelo próprio Raimi) manter essa história apenas como pano de fundo e usa-la quando convém para amarrar a trama dos demônios.

O que se segue é a mesma coisa: os jovens encontram um livro encapado em pele no porão, sem querer liberam os demônios que habitam a floresta e durante 40 minutos os sobreviventes lutam por suas vidas. A Morte do Demônio sem dúvidas começa fraco, uma explicação desnecessária para os demônios na floresta, a menina viciada, o drama entre ela e o irmão, as atuações ruins, tudo isso soa como Stigmata, Na Companhia do Medo, ou qualquer filme de terror supostamente profundo e sem graça, mas quando o sangue começa a jorrar na tela, Alvarez se encontra.

Se havia algo de genuinamente perturbador na artificialidade do primeiro filme, aqui, ao menos em um primeiro momento, o terror vem por meio do realismo. As feridas e o sangue são realistas suficiente para que o espectador se incomode, a dor dos personagens causa uma reação real e por vezes a sala toda interage em expressões de nojo e aflição. Funciona, incomoda, mas falta charme, ironia, aquilo que tornou tão emblemático o original.

Mas a violência escala rapidamente e o que era realista vai se tornando absurdo. Os personagens decepam os próprios membros sem qualquer apego e em jatos de sangue dignos de Tarantino, o filme assume definitivamente sua veia trash e demonstra porque é um remake que funciona.

A Morte do Demônio não é fiel ao original, mas o tem sempre em mente: há pequenas referências divertidas, como um moletom da Michigan University, a personagem que desenha e mesmo a forma do colar que o irmão de Mia dá de presente a ela. E se por um lado existem alterações de roteiro, por outro Alvarez chega até a repetir planos de Raimi e toda sua decupagem é uma homenagem ao cineasta. A consciência que o diretor tem de seu trabalho e do objetivo de seu filme também ajudam.

Alvarez sabe que precisa vender, sabe que o que está fazendo é tentar atrair uma audiência fascinada com The Walking Dead para os filmes de terror e quem sabe dar novo fôlego comercial ao gênero e ironiza suas próprias saídas fáceis. Ele dá uma trilha sonora brega e planos com cara de anos 80 a cena mais emocionalmente dramática do filme, faz sua protagonista arrancar o braço de baixo de um carro como se fosse borracha e termina tudo com uma chuva (literalmente) de sangue. É nojento, irreal e sim, ruim, mas é exatamente isso que se espera de A Morte do Demônio e funciona.

No fim, o remake não é inventivo, ou original como o filme de Sam Raimi, mas não o perde de vista, honra sua memória e assume com dignidade o trabalho de atualiza-l0 e devolve-lo a vida. Cumpre sua função de incomodar, entrega a quantidade de sangue esperada e, mesmo sem a ironia fina do primeiro, diverte.

Texto de autoria de Isadora Sinay.

Comments

4 respostas para “Crítica | A Morte do Demônio”

  1. Avatar de Psycho Mantys

    Muito bom Isa!

    Infelizmente, ainda não tem disponível na minha cidade, mas esse é o filme que eu realmente estava esperando para esse ano, porque sou muito fã de Evil Dead e do Bruce Campbell.

    Recomendei a resenha para alguns amigos meu principalmente porque não tem menções a historia que eu pude perceber, o que acho que foi uma boa, demonstra que é uma critica muito bem escrita.

    Eu mandei o link da critica para o próprio Bruce Campbell em pessoa, e ele compartilhou ela até!

  2. Avatar de Pedro
    Pedro

    Creedo!!!! Eu sou um especialista audiovisual, e não achei o filme isso tudo não… A trilha sonora instrumental corresponde perfeitamente as cenas dando mais agonia ainda, mais enfim quase tudo que você disse eu concordo… Menos em algumas coisas!

    1. Avatar de Flávio Vieira

      Gostei da carteirada… Hehehe

  3. Avatar de Pablo Grilo
    Pablo Grilo

    E pensar que isso tudo começou com Montevideo sendo invadida.

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