Tag: Jim Starlin

  • Resenha | Odisseia Cósmica

    Resenha | Odisseia Cósmica

    Tanto na DC, quanto na Marvel, os anos 80 foi a época de expandir seus universos para lugares ainda inéditos. Reimaginar arquétipos já estabelecidos, como o Demolidor em A Queda de Murdock, os X-Men em Fênix Negra ou o Batman em O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller, até porque o leitor exigia algo de novo nos seus ícones favoritos das HQ’s, sem perder o tradicional brilho dos super-heróis e dos seus antagonistas que a gente odeia amar. Com a sorte de se ter um Jack Kirby criando figuras fantásticas nesse parque de diversões literário, a DC até 1988 nunca tinha aproveitado de verdade, em uma grande história realmente marcante, o temido ditador Darkseid, e a sua eterna luta contra o Pai Celestial para conseguir, de uma vez por todas, a equação anti-vida, esse conceito matemático que retira o livre-arbítrio das criaturas do universo, para que Darkseid finalmente comande a todos a seu bel-prazer.

    A criatividade de Kirby era algo sobrenatural, e felizmente fez sucesso na Marvel também, reverenciada em 2017 em Thor: Ragnarok. Todo mundo sabe que DC e Marvel sempre trocaram talentos, tendo até Stan Lee escrito algumas histórias (medonhas) para a editora concorrente à casa do Homem-Aranha, Vingadores e outras joias da cultura pop. Não obstante, o roteirista Jim Starlin (criador do Thanos e sua extraordinária Saga do Infinito) sempre esteve de olho na DC, admitindo a inspiração em Darkseid para criar o genocida roxo que no cinema amamos acompanhar (e até torcer para sua vitória) em Guerra Infinita e Ultimato. Num desses intercâmbios inevitáveis dos artistas entre as duas casas (que, desde 2010, salvam Hollywood e garantem bilhões a Sony, Disney e Warner Bros.), Starlin teve a chance de ouro de trabalhar com os Novos Deuses de Kirby na épica Odisseia Cósmica, tendo que unir o bem e o mal supremo da DC para enfrentar um mal tamanho que nem Darkseid tem moral de enfrentar sozinho.

    Logo após a faraônica saga das Crises nas Infinitas Terras, esse evento cataclísmico feito justamente para organizar os multiversos da DC em um universo apenas (porque os leitores já não entendiam mais nada, nos gibis mensais), Odisseia Cósmica é uma aventura paralela ao macro enredo principal da editora de Superman, Batman, Lanterna Verde e todos os outros grandes ícones clássicos. Agora, a equação anti-vida virou uma energia bestial e multidimensional, com vida própria e que ninguém é capaz de controlar em todo o seu ímpeto errante. É claro que o Lorde de Apókolips precisa se aliar ao Pai Celestial, o justo líder do planeta Nova Gênese, para recrutarem os principais heróis da DC e irem, todos juntos, atacar essa energia personificada em um manto negro humanoide que engole estrelas e planetas, numa alusão indireta ao Galactus da Marvel, numa missão suicida não-oficial a favor de um novo dia a todos.

    O problema é que Darkseid jamais é confiável, e mesmo sendo o arquétipo do mal absoluto, sua ganância sem limites pode botar tudo a perder. Porém, mesmo assim, o vilão mais tirânico da DC precisa subverter, pelo menos no começo, os seus valores egoístas para garantir sua sobrevivência, e é justamente essa brincadeira de arquétipos que torna Odisseia Cósmica uma obra especial e de destaque. Do começo ao fim da história, Superman é tentado a usar as armas do inimigo por ser mais fácil, o Lanterna Verde John Stewart comete ações nada altruístas que vão lhe envergonhar pra sempre, e outros heróis amargam situações que testam tanto a sua moral, quanto seus poderes de uma forma prática – incluindo o Batman, sempre preparado para tudo, menos aqui. A energia anti-vida avança, e até diante da extinção, Darkseid prova ser o grande super vilão da DC usando até o demônio Etrigan (que serve de bucha de canhão na batalha) para tentar capturar essa energia monstruosa e de escala interestelar.

    Os desenhos de Mike Mignola são um capítulo à parte. Mais conhecido pelo Hellboy, a sua maior criação, seus traços são impactantes e sombrios ao mesmo tempo, combinando com esse clima de apocalipse anunciado, e esse suspense no ar muito bem transmitido em Odisseia Cósmica. Seja nas lutas homéricas, simples diálogos (levemente expositivos) ou em momentos decisivos que garantes painéis belíssimos, de uma ou duas páginas inteiras, suas ilustrações vibram de um jeito único, dando a Darkseid um tom brutal e sádico, e ao florido e idílico planeta de Nova Gênese um visual realmente sinuoso, tal qual um Olimpo dos super-heróis. Junto da história de Starlin, ótima por si só, Mignola faz do universo DC algo bárbaro e grandiloquente através de suas imagens, em 200 páginas que parecem voar diante dos nossos olhos. Fica-nos, então, o sonho da publicação da Panini ser um dos clássicos da DC que vão ganhar os cinemas no futuro, em uma nobre adaptação, fazendo jus ao seu status de mustread.

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  • Resenha | Batman: O Messias

    Resenha | Batman: O Messias

    Na reta final dos anos oitenta, pouco após o apogeu da chamada Era de Bronze das histórias em quadrinhos, as tramas viscerais, ultrarrealistas e permeadas por doses cavalares de violência e sangue pipocavam aos montes no mainstream quadrinístico, monopolizado pelas majors Marvel e DC Comics. O trabalho bem sucedido de nomes como Frank Miller e Alan Moore impactou sobremaneira nos artistas da época, o que gerou bons e maus frutos.

    Inserido nesse contexto de época, o roteirista norte-americano Jim Starlin se associou com o desenhista Bernie Wrightson e com o colorista Bill Wray, para contar uma história do Cruzado Encapuzado sobre fé, manipulação e redenção.

    Starlin já era conhecido por ter criado o vilão Thanos para a Marvel Comics, além de ter escrito as histórias de Adam Warlock e do Capitão Marvel. Wrightson, por sua vez, possuía uma carreira extensa e devidamente estabelecida, desenhando para várias editoras, mas se notabilizando por ser um excelente desenhista de histórias de terror, como o Monstro do Pântano, co-criado por ele em parceria com Len Wein.

    A dupla, junto a Wray, decidiu trabalhar com o  Cavaleiro das Trevas, e para isso trouxe ao mundo a minissérie O Messias, dividida em quatro capítulos. Nela, a equipe criativa versa sobre uma temática profundamente atual: a manipulação das massas a partir do fundamentalismo religioso. O Batman, preso e vulnerável, se vê diante da insurgência do Diácono Joseph Blackfire, uma figura controversa e maquiavélica, que se coloca ao lado dos desfavorecidos para fomentar seu culto pessoal, vendendo-se como um legítimo messias para os cidadãos de Gotham City.

    A história parte de uma premissa simples, que ressoa com nossa realidade e dessa forma adquire o impacto pretendido quando foi concebida no final dos anos oitenta, mirando os televangelistas que povoavam as TVs norte-americanas, manipulando as massas e acirrando os ânimos.

    É interessante observarmos o trabalho de ambientação realizado por Starlin e Wrightson, que concebem sua Gotham City profundamente espelhada na cidade de Nova York, de modo a haver um Central Park e uma proximidade com Nova Jersey que torna inegável a intencionalidade. A cidade suja, sombria e misteriosa concebida pela equipe criativa se assemelha em grande medida com a “Big Apple” dos filmes de Martin Scorsese, evocando um ar de degradação típico das histórias noir.

    Starlin ousa bastante, concebendo um Batman falível, errático e inseguro, bem diferente do “rei do preparo” que vimos nas décadas que se seguiram. O autor realmente derrubou o Morcego dentro de uma perspectiva diferente, a de sua racionalidade, e não corporal. As dúvidas, os anseios do herói são colocados à prova a todo instante na narrativa, tendo em Jason Todd uma âncora que prende Wayne à sua realidade e o auxilia no combate a esse inimigo virtualmente invisível.

    O caos que assola Gotham, decorrente das ações de Blackfire, se assemelha em muito ao que pudemos ver em Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge, de Christopher Nolan, deixando clara a influência assimilada pelo diretor no encerramento de sua trilogia cinematográfica.

    A arte de Wrightson brinca com o surrealismo a todo instante, investindo em um horror psicológico típico da época, trabalhando com enquadramentos inventivos e metáforas visuais poderosas. A influência do trabalho de Frank Miller fica evidente tanto na composição visual de Gotham quanto na utilização das telas de TV como requadros, para evocar a força da mídia tal qual o criador de Sin City pensou em sua magnum opus O Cavaleiro das Trevas, de 1986.

    A coloração de Wray em diversos momentos se assemelha ao trabalho de Lynn Varley na famosa história futurista do Homem-Morcego, flertando ora com as cores pálidas ora com cores berrantes, deixando sempre em destaque o uso das sombras e das luzes como elementos de composição da mise-en-scène proposta para a narrativa.

    Os méritos da narrativa podem causar certo estranhamento no leitor, visto que ninguém espera se deparar com a visão de um Batman fragilizado, algo que pode de igual modo potencializar o argumento que norteia o enredo, acerca do alcance que uma manipulação de massas bem engendrada pode causar.

    O uso da violência é bem dosado na história, de forma que faça sentido e não soe como apelação barata para chamar leitores para si.

    A editora Panini lançou essa grande história inicialmente pelo selo Grandes Clássicos DC, anos atrás, e trouxe de volta o trabalho em uma exuberante edição de luxo, com capa dura e papel de boa gramatura. Imperdível!

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  • Resenha | Cruzada Infinita

    Resenha | Cruzada Infinita

    Terceira e última parte da Trilogia do Infinito (ainda que mais tarde tenha havido Abismo Infinito, que dava continuidade aos acontecimentos), Cruzada Infinita segue escrita e desenhada por Jim Starlin e Ron Lim, respectivamente, e fecha o arco iniciado em Desafio Infinito e seguido em Guerra Infinita, mostrando Adam Warlock e sua Guarda Do Infinito interagindo, ainda que o personagem principal pareça distraído. Depois de conversar com um ser eterno, Warlock diz perceber a presença de um ser poderoso vindo em sua direção, e não demora para se revelar quem é.

    Deusa é o inverso de Magus, é a parte benévola de Warlock, liberada de seu corpo e alma. Ela passa a tentar recrutar membros para as suas forças, e convoca muitas heroínas e alguns homens que tem em comum a espiritualidade em algum nível de consciência e motivação. O método que a personagem usa para o convencimento é de conversão inevitável – uma espécie de lavagem cerebral.

    Um embate começa, entre os que seguem e os que não seguem a Deusa, basicamente porque os primeiros se recusam a detalhar o motivo que os fez buscar a tal nova divindade. O conflito é chamado de Guerra Santa e se torna um entrave no mínimo estranho, já que as motivações dos mandantes desse certame não são claros quanto aos seus desejos e ambições de poder.

    Há um claro declínio, narrativo e artístico nesse fim de trilogia. A trama é mais comum que em seus anteriores, e até a arte de Ron Lim é menos inspirada, embora ainda tenha momentos em que o seu traço se torne o maior diferencial positivo na obra. Ao menos a faceta de Thanos, calculista e ardiloso, é bem demonstrada na história, mas a sensação de mais do mesmo ainda impera.

    Claramente a fórmula de destruição cósmica revertida após uma tática inteligente se satura nas histórias de Starlin, fazendo com que Cruzada Infinita não seja tão impactante quanto as versões anteriores,  ainda há um bocado de lutas divertidas e quadros em página dupla bem elaborados. O problema consiste no vilão, uma versão muito parecida com Magus mas menos imponente, além do que o subtexto deixa a desejar, resumindo todos os problemas  a uma batalha maniqueísta que se acha inteligente, unicamente, por demonstrar o antagonista como um ser que tem a virtude e bondade dentro de si, provando que até a bondade pode ser corrompida e ter suas próprias facetas subjetivas. No final das contas, a obra conta com muito pouco para acrescentar ao todo da trilogia do infinito, sendo este seu capitulo menos épico de toda a mega saga.

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  • Resenha | Guerra Infinita

    Resenha | Guerra Infinita

    Continuação direta do arco Desafio Infinito, Guerra Infinita foi publicada um ano depois do lançamento oficial da primeira saga, reunindo novamente Jim Starlin no roteiro e a arte magistral de Ron Lim. As primeiras imagens do especial dão conta de um espantalho utilizando a antiga armadura de Thanos, pois o titã está aposentado em uma fazenda, como visto na primeira parte da Trilogia do Infinito. A vontade de dominar retorna ao titã insano, tanto que ele volta a utilizar uma nova vestimenta de combate, bastante semelhante a antiga.

    Enquanto isso, na Terra, os heróis enfrentam suas duplicatas malignas, ainda que essas tenham aspectos mais monstruosos. Depois que Adam Warlock tomou posso da Manopla do Infinito, e se dividiu um duas entidades, uma boa, e outra má, a parte malévola chamava-se Magus, e foi essa que retornou e tirou Thanos de seu descanso. Ao perceber que algo de ruim e muito grandioso está vindo, alianças surgem das mais diversas e inesperadas, com a de Kang e Doutor Destino e Thanos e Warlock, além é claro da óbvia, envolvendo os heróis da Terra.

    Aqui também aparece a Guarda do Infinito, grupo que Warlock criou para monitorar a Manopla, formado por Drax, Gamora, Serpente da Lua, Thanos, Maxam e Pio, o Troll. Da parte dos terráqueos, a reunião convocada pelo Senhor Fantástico é quente, inclusive mostrando um atrito entre Wolverine e Homem de Ferro, com Stark chamando o outro de “mutuna”, em uma clara demonstração de preconceito. Isso tudo é seguido de uma briga generalizada, fruto da paranoia relativa à presença dos impostores doppelgangers. Nesse ponto, o trabalho de Lim é muito exigido, e as splashages ficam sensacionais, repletas de heróis brigando, ainda que o motivo seja estúpido.

    Ainda que Desafio Infinito seja uma revista mais inteligente e madura, Guerra Infinita não segue estes padrões, mas compensa bem isso com combates muito bonitos, e brigas em quase todas as suas edições. O caráter aqui é muito mais a ação em detrimento de grandes diálogos ou um desenvolvimento de personagens. Ainda assim, Magus não é um vilão tão bem arquitetado quanto Thanos era — tanto em Desafio quanto na mini Thanos: Em Busca de Poder —, não à toa quando ele toma as rédeas da situação, a história toma um novo patamar, voltando aos holofotes um antagonista que realmente causa temor.

    A questão envolvendo o Tribunal Vivo é bastante diferenciada. Esse é um grupo de entidades cósmicas que chegam a conclusões que fazem reger o multiverso Marvel, e esse grupo decide que a Manopla do Infinito junto com as Jóias não devem ser usadas por mais ninguém perdendo então seu poder quando estão reunidas, mas como é dito por Magus, decisões jurídicas podem ser revogadas, e apesar delas não serem retiradas por escolha dos julgadoras, a profecia se cumpre, e a manopla volta a ter poder, fato que faz paralelos infelizmente muito condizentes com a realidade tangível do mundo real, em um comentário metalinguístico provavelmente involuntário do roteiro.

    Starlin utiliza alguns trechos da obra de Friedrich Nietzsche como base para discutir o abismo existencial dos seres vivos, e Magus usa esse conceito para humilhar Warlock, em um misto de disputa edipiana com seu criador e crise de identidade, porque de certa forma ele divide a mesma identidade de Adam, sendo um doppelganger também se olhada sua essência.

    O desfecho é bastante explicativo, para não deixar nenhum leitor sem entender como o combate entre as duas partes de Warlock se findou. A Guarda Infinita então deve cuidar das jóias, para que a Manopla não seja mais utilizada por um ser somente, uma vez que, como foi com Magus, seu poder poderia corromper o coração de quem está em posse dela.

    Se Desafio Infinito foi a demonstração máxima de que Thanos não consegue se ver vencendo e que (inconscientemente) se auto-sabota, em Guerra Infinita o titã prova uma evolução de quadro e condição, passando a ser até um pouco altruísta diante da nova condição universal, mesmo que isso só ocorra por sua sede de poder, que não ficou muito tempo adormecida, e pela necessidade de gastar adrenalina em batalha. Tais coisas não poderiam ser saciadas caso o universo tivesse um fim, como queria o outro vilão, daí seu sacrifício altruísta faz sentido, assim como a sua leitura do destino que em breve chegará ao cosmo. A sensação final da Saga é de que ainda haverá algo maior a se combater no futuro, no caso, o fechamento da Trilogia do Infinito, chamada Cruzada Infinita.

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  • Resenha | Desafio Infinito

    Resenha | Desafio Infinito

    No inicio da década de noventa, a Marvel começou apostar em sagas cósmicas, para competir com a DC que há pouco tempo havia amarrado todas as pontas soltas de sua cronologia em Crise nas Infinitas Terras, com seus heróis reiniciando suas aventuras a partir de 1986. Para isso, chamaram Jim Starlin, escritor acostumado a desenvolver aventuras cósmicas — Dreadstar, Odisseia Cósmica, Novos Deuses —, e assim surgiu a continuação de Thanos: Em Busca de Poder.

    Desafio Infinito começa com uma conversa estranha envolvendo Thanos e Mefisto. O titã profano voltou dos mortos, ressuscitado pela Morte. O motivo desse retorno, seria um presente para sua, faria então uma chacina universal, pois aparentemente há mais pessoas vivas naquele momento do que a quantidade mortas decorrer em todo o decorrer da toda historia. A arte de George Pérez — artista que ficou conhecido pelo trabalho em Crise nas Infinitas Terras, Novos Titãs e Mulher-Maravilha, além de ser especializado em desenhar muitos personagens num mesmo quadro — flui muito bem junto à historia, mas devido a problemas de prazo, não foi capaz de terminar toda a série, sendo auxiliado por Rom Lim.

    Starlin, como criador do personagem vilanesco, conseguiu manipular bem a trama para valorizar seu personagem, tornando ele possuidor das seis joias do infinito – Alma, Mente, Espaço, Poder, Tempo, Realidade – transformando-o em um ser ainda mais poderoso do que aqueles que o trouxeram de volta, ao ponto de assustar até seres poderosos como o Doutor Estranho e Surfista Prateado, que serve de anunciador da destruição que acompanha Thanos.

    A complexidade maior do texto certamente é a historia de amor genocida e não correspondida entre Thanos e a Morte, uma vez que o titã quer matar para saciar a fome de sua amada, mas se torna tão poderoso que ela se enxerga inferior, portanto o rejeita. Nem a idolatria empregada pelo antagonista o salva do orgulho ferido de sua pretendente, pondo-o em um lugar de rejeição que ele não consegue aceitar. Essa romance reúne elementos espirituais e metafísicos tem conseqüências amargas para toda a vida inteligente que percorre o universo, e causa tremores em muitos lugares, inclusive na Terra, onde os que sobreviveram, tentam continuar assim, alguns até se unindo, apesar das claras diferenças ideológicas entre eles. Em determinado momento, Thanos vê à sua frente quatro heróis entre os mais poderosos da Terra, Thor, Homem de Ferro, Namor e Cavaleiro de Fogo, e ele os aguarda sorrindo. Esse pequeno gesto revela de maneira patente a psicopatia do personagem.

    Pérez desenhou quadros muito profundos e repleto de heróis até a edição três, e depois foi seguido por Lim. Em meio a isso, se revela o ardil de Mefisto, que faz Thanos reduzir seus poderes, para derrotar os heróis com mais dificuldade a fim de tentar conquistar a Morte novamente. Esse plano faz Mefisto se assemelhar muito as estratégias da antiga serpente, o diabo bíblico.

    Nesta parte, em que os heróis terrestres enfrentam Thanos, acontece um embate incomum, em que o Capitão America diz que não é bom em brincadeiras, ao passo que o titã louco completa a frase, afirmando que também não é bom em ataques cósmicos. O soldado prova seu valor, afirmando que enquanto houver ao menos um deles de pé, a vitória de Thanos não será plena, e essa máxima percorre a humanidade como um todo, uma vez que é um resumo da resistência à opressão de coisas terrenas, sendo levada a um patamar cósmico.

    Os momentos finais reservam cenas surpreendentes, como uma virada no jogo de xadrez que Thanos antes comandava, basicamente perdendo por preciosismo. Os fatos que ocorrem a partir daí fomentam a teoria de que o acaso influi no destino dos homens e das entidades galáticas, e a participação de Adam Warlock, que com o tempo foi ganhando cada vez mais importância e espaço, finalmente tem seu ápice, tomando para si a manopla do infinito e o destino da eternidade e demais aspectos da vida. O final contem um epílogo, que mostra Thanos aposentado e sossegado, e de certa forma, se estabelece uma conversa bastante adulta, mais madura do que todo o certame visto em Desafio Infinito, que por si só, já era uma historia muito bem construída, que balanceia bem um ritmo aventureiro cósmico e uma discussão filosófica inteligente para algo dentro dos quadrinhos mainstream.

    Compre: Desafio Infinito.

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  • Resenha | Thanos: Em Busca de Poder

    Resenha | Thanos: Em Busca de Poder

    Em 1993 foi lançado Thanos: Em Busca de Poder, com roteiro de Jim Starlin, arte de Ron Lim, arte-final de John Beatty e cores de Tom Vincent. Thanos é descrito como herdeiro dos deuses do Olimpo e personificação do Mal. Aqui já se assiste Thanos munidos das jóias do infinito, chamadas no Brasil à época de jóias espirituais, além é claro do enlace pretendido pelo personagem junto à Morte.

    Na trama, acompanhamos Thanos indo em alguns planetas, vencendo seus campeões e subjugando-os, em uma fórmula bastante comum a outros quadrinhos de ficção cientifica, funcionando quase como um road movie no espaço. O vilão encontra ainda o Colecionador e seu irmão, Grão-Mestre, e consegue as jóias desses cada um à sua maneira. Depois disso, há uma exposição do poder e capacidades que cada joia confere ao seu usuário, e esse exercício, apesar de um pouco explanativo, funciona bem na ambientação do leitor na história, mesmo ao que não acompanha anos e anos de cronologia da editora.

    A arte de Lim ensoberbece a obra, por conseguir mostrar em poucos quadros toda a magnificência de Thanos em busca de conseguir os artefatos mágicos, que lhe confeririam poder. Seu traço favorece muito os personagens corpulentos, e as lutas que eles travam com o titã são muito gráficas e dinâmicas. A saga foi lançada no Brasil nos anos noventa em duas edições, ainda pela Editora Abril e recentemente está em um encadernado com sua sequência, Desafio Infinito, lançado pela Panini, e mesmo como aventura solo, funciona a perfeição no quesito diversão, já sua sequência só é completamente compreensível após ler essa historia.

    Apesar de breve, Thanos: Em Busca de Poder revela muito, tanto da criação de Starlin em ação, quanto do vazio emocional do personagem. Aqui se estabelece que sua solidão é enorme, e que mesmo com a vitória poderosa que teve sobre seus antagonistas, sobrou a si a rejeição de sua amada, fato que ajudaria a compor a mitologia da vindoura Trilogia do Infinito, e que teria seu auge melancólico aqui. Apesar de Thanos ser um personagem odioso, há uma empatia clara entre ele e os leitores, principalmente por conta de sua personalidade forte e a sua busca fracassada por agradar o seu par, como também pela sua trajetória amarga e bastante adulta dentro do universo dos quadrinhos mensais de super-heróis.

    Compre: Desafio Infinito (Thanos: Em Busca do Poder incluso no encadernado).

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  • Resenha | A Ascensão de Thanos

    Resenha | A Ascensão de Thanos

    A Ascensão de Thanos

    No último ano, a Panini Comics tem lançado uma série de encadernados estrelados por grandes vilões da Marvel. Informalmente, as edições se tornaram conhecidas como parte da coleção de vilões, por apresentar releituras e origens de personagens vilanescos como Mercenário (em Mercenário – Anatomia de um Assassino), Loki, Magneto, entre outros canônicos. Tais edições foram lançadas no exterior como séries limitadas e, no Brasil, lançado em capa dura com preços econômicos devido às impressões no exterior. Um atrativo para quem deseja uma narrativa que resume a trajetória de personagens, além de uma bonita edição gráfica.

    Roteirizar uma história sobre acontecimentos prévios é um desafio que necessita de criatividade para costurar acontecimentos sem parecer apenas um resumo intencional voltado para vendas. Tais tramas podem ser eficientes para o leitor novato, porém raramente trazem algo novo para um leitor antigo. Situado no contexto da Nova Marvel, A Ascenção de Thanos não estabelece nenhuma referência de antes ou depois deste ponto de partida do estúdio. A escolha de publicar esta série explicitando o novo momento do estúdio tem justificativa devido a saga Infinito, na qual o vilão foi um papel principal. Dividido em seis edições, o roteiro de Simone Bianchi é a típica história que busca recontar em outra roupagem a origem do personagem.

    No país Titãs, Thanos é um jovem nascido com deformidade, diferente de todas as crianças do local. Desde cedo é deslocado por seus colegas, e sua inteligência extraordinária o faz refletir a respeito da composição da sociedade e da natureza, cujo isolamento obrigatório seria a motivação para começar sua vilania. Em um local considerado perfeito e sem nenhuma morte, um assassino marca o sinal de transformação do ambiente.

    O roteiro se apoia em um histórico psicológico para nutrir o lado violento de Thanos, cujas justificativas vão desde o isolamento e preconceito por parte de seus colegas até um amor não correspondido que o faz tentar conquistar a garota a todo custo. Destruidor por natureza, Thanos corrompe a harmonia de Titãs e parte como um pirata para conquistar novos mundos. Ao seu lado, a figura da própria morte estabelece uma relação de amor com ele, como se o vilão fosse um de seus representantes. Mesmo sendo um personagem existente na mitologia do titã, a vertente psicológica faz de Thanos um louco que alucina e dialoga com a morte. Uma outra justificativa desnecessária para sua maldade.

    A intenção realista de muitos quadrinhos da Marvel sempre se apoiou em explicações e argumentos para a ação de seus personagens. Muitos vilões surgiram a partir de traumas, porém, Thanos é um personagem plano que se destaca pelo prazer em matar sem nenhuma explicação visível, sem refreio ou uma origem psicológica.

    Mesmo que a história crie uma linearidade para a origem do vilão, retomando sua infância até a fase adulta, retirar seus contornos maus corrompe a essência da personagem criada por Jim Starlin, principalmente porque grande parte de seu impacto se deve a ações de difícil compreensão, movidas apenas por egoísmo e prazer intrínseco em fazer o que deseja por poder e vontade.

    Um dos grandes vilões da Marvel, sempre presente nas trama dos Vingadores, perde o impacto desnecessariamente em uma trama que, mesmo desenvolvida de maneira correta, nunca emplaca propriamente. A edição em capa dura pode ser atraente pelo acabamento, porém o conteúdo não é satisfatório.

    Compre: A Ascenção de Thanos

  • Resenha | Batman: O Messias

    Resenha | Batman: O Messias

    A década de 80 foi terreno extremamente fértil para as histórias em quadrinhos. Para Batman, a década foi palco de obras clássicas como A Piada Mortal, Cavaleiro das Trevas, Batman – Ano Um e Asilo Arkham, pilares canônicos do Morcego. Em um curto espaço de tempo, grandes roteiristas apresentaram sua leitura do herói, desconstruindo, ao seu desejo, inexperiência, loucura, parceria e morte ou quase-mortes fatais.

    Lançado em 1988, em quatro edições especiais, Batman – O Messias se passa aproximadamente dez anos após as primeiras aventuras do herói. Um tempo considerável para experiência, treinamento e força tática. As cores de Bill Wray se destacam pela escolha de paletas não usuais, causando uma sensação de desconforto logo na primeira página, o desenho de uma imponente mansão em um céu avermelhado. Um mergulho, ao que parece, em um devaneio do Homem-Morcego, que, oscilando entre o passado e o presente, surge em cena subjugado e preso nos esgotos da cidade.

    Não é a figura mitológica de Gotham City o enfoque da história, mas o homem por trás da máscara. Sobrepujado, faminto e enfraquecido pelo diácono Blackfire, o espírito de Bruce Wayne foi quebrado. O personagem já sofreu derrocadas anteriores mas nunca de forma centrada em sua psiquê interna. O roteiro de Jim Starlin nega o conceito de um herói quase inumano, fundamentado pelas décadas posteriores como um personagem indestrutível.

    Responsável pela prisão do Morcego, o diácono Blackfire reúne nos esgotos de Gotham City os párias invisíveis da sociedade em uma seita que deseja erradicar o mal da cidade e dar poder aos menos favorecidos. Uma parábola afirma que o messias surgiu em uma época próxima da colonização da América, e, desde então, sua palavra santa é propagada. O diácono representa o personagem carismático que domina, a favor de si próprio, seres desesperados. Por intermédio de uma força maior, favorecida pelo uso de psicotrópicos, Blackfire induz uma seita devota pelo medo e fé. No prefácio assinado por Starlin em 1990, o autor refere-se ao personagem como um reflexo de certo grupo de americanos que estiveram contra os quadrinhos desejando evitar que a violência, a morte e o horror estivessem presentes em obras de entretenimento. A discussão foi passada para a história na figura do diácono, em suas palavras, “disfarçado como um líder religioso, se escondendo sob um falso moralismo enquanto age em nome de seus próprios interesses”. A figura do vilão carrega o lado sinistro das seitas e de seus meios para conquistar fiéis, um sistema que, apertando os pontos certos de tensão, coloca o próprio herói em dúvida.

    A história demonstra a humanidade do Morcego e a fraqueza de Bruce Wayne. Mesmo que em porção diminuta, os medos persistam e ampliam-se pelos alucinógenos. Batman se torna um homem frágil, oscilando entre a realidade e o onírico, quase destruído pela culpa e pela sensação de ter sido mais um mal à própria cidade. Enquanto permanece encarcerado, crimes brutais acontecem nas ruas de Gotham. Eliminando criminosos, o Comissário Gordon e o menino-prodígio Jason Todd são incapazes de conduzir uma investigação destes crimes e encontrar o paradeiro do detetive que poderia elucidar tais acontecimentos. Um paradoxo que demonstra a importância de Batman dentro das engrenagens da cidade.

    O desenho de Wrightson, reconhecido pelos traços de Monstro do Pântano, quebra a dimensão da realidade e imerge o leitor na consciência transitiva do Morcego em dúvida. É um lampejo criativo que implode a personagem em uma soberba trama psicológica, a qual também deveria figurar entre as grandes obras do Morcego, mas que ainda continua um tanto eclipsada diante destas grandes histórias. Não à toa, a ambientação do submundo foi utilizada no roteiro de O Cavaleiro das Trevas Ressurge, o final da trilogia cinematográfica de Christopher Nolan, que cirurgicamente retirou diversos elementos de narrativas chave do Morcego para construir seu roteiro.

  • Resenha | Batman: Morte em Família

    Resenha | Batman: Morte em Família

    Batman - Morte em Familia - capa

    Em comemoração aos 50 anos do Homem Morcego, a DC Comics procurou uma maneira inédita de celebrar. Deu ao público o poder direto de escolher o destino de uma personagem. Cientes de que o aniversário perderia seu destaque com uma decisão de pequeno calibre, coube aos leitores definirem se o personagem de Jason Todd, o segundo Robin, viveria, dando sequência às histórias da dupla dinâmica, ou morreria, acrescentando novo elemento dramático à frágil psiquê de Batman.

    Nas palavras de Denny O´Neil, até então a DC Comics mantinha o diálogo com seus leitores por cartas e conversas em convenções. Quaisquer decisões feitas pela editora seriam recebidas, criticadas ou não, aos poucos, conforme ocorre o natural feedback das leituras. Seria um feito inédito para o público escolher ativamente o destino de uma personagem e, em uma votação feita por telefone, a sentença foi dada a favor da morte de Jason Todd.

    Em março de 1983, Jason Todd fez sua primeira aparição na revista do morcego. Em época pré-Crise Nas Infinitas Terras, a origem da personagem era muito semelhante a do primeiro Robin, Dick Grayson. Uma redundância desnecessária e modificada na estrutura pós-Crise. Jason manteve-se órfão, mas, dessa vez, é encontrado nas ruas tentando roubar os pneus do Batmóvel. Mesmo que Todd tenha personalidade diferente da de Grayson, o Morcego decide adotar o garoto e treiná-lo para assumir o manto de menino-prodígio.  Três anos após esta reformulação, a personagem não era aceita pelo público como era o Robin anterior. A decisão natural foi procurar modificar a caracterização do garoto. Porém, dessa vez, com a escolha centrada nas mãos do público.

    Ao observar o passado da personagem e as histórias que surgiram a partir deste acontecimento, a morte de Jason Todd teve saldo positivo. Promoveu mais uma fissura no espírito fragilizado de Batman, evidenciando contornos sombrios que sempre estiveram presentes no herói. Porém, como uma saga comemorativa de 50 anos, o arco Morte Em Família – publicado no país pela Abril também como A Morte de Robin – é fraco e nada memorável.

    Mesmo que o desenlace tenha sido escolha do público, o roteiro de Jim Starlin não parece ter estudado previamente a motivação destes acontecimentos, tanto a curto prazo, nas histórias seguintes à morte do Robin, como a longo prazo, em um futuro que seria possível prever um terceiro Robin. Como um todo, o arco parece feito ao acaso, costurado de maneira inverossímil, como se minutos após o encerramento das votações que escolheram um fim para Todd, surgisse nas bancas a história completa.

    Se a personagem era odiada pelos leitores, parece que não foi bem recebida também pelo roteirista, tamanha precariedade que compõe esta história derradeira. O fim de Jason Todd inicia-se em seu passado. Após ser afastado do cargo por excesso de violência, o garoto retorna à sua antiga casa e recebe de uma vizinha documentos antigos dos Todd, descobrindo em sua certidão de nascimento que a mãe com a qual conviveu em seus anos não era sua mãe verdadeira. Resta-lhe como pista apenas a inicial do nome de sua possível genitora. Ao cruzar os dados de cadernetas do pai com os dos computadores da Batcaverna, o garoto sai em uma viagem ao Oriente Médio à procura de sua matriarca. Em paralelo à investigação de Jason, o Coringa, preso desde o acidente com Barbara Gordon, foge do Asilo Arkham. Após ter seus bens retidos pelo governo, procura um míssil em um de seus esconderijos ocultos e tenta vendê-lo a terroristas libaneses.

    A utilização do argumento estrangeiro parece um recurso fácil para desenvolver uma história. É comum observarmos que muitas sequências, principalmente de filmes, valem-se de uma ambientação não habitual como forma de apresentar novidade. A composição de coincidência do roteiro é exagerada até mesmo para uma história em quadrinhos, uma das artes que mais abusa das casualidades. O retorno do Palhaço do Crime é apenas um elemento a mais para celebrar o aniversário de Batman. Um vilão com muita presença que não poderia ficar de fora de uma história que deseja ser épica. Se normalmente seria difícil arquitetar um retorno que fosse sustentável após a triunfal narrativa A Piada Mortal, composta por Alan Moore, torna-se ainda mais precário utilizar a personagem somente por seu status de grande vilão.

    Investigando o passado, Robin encontra-se na mesma região, o Oriente Médio, para onde Coringa e Batman também viajam a fim de conter a situação. Neste ambiente convergem os acontecimentos trágicos. Composta em seis partes, a saga Morte em Família apresenta um único capítulo capaz de sustentar uma carga dramática. Neste, à procura de Jason, Batman faz uma mea culpa e revê a sua trajetória ao lado de seu companheiro atual, admitindo a insensatez de colocá-lo como ajudante. Um suspiro de profundidade para uma trama que parece ocorrer ao acaso.

    A presença de Coringa, com a motivação de vender um míssil para um terrorista, parece improvável. Ainda mais se indagarmos como é possível que um bandido do submundo de Gotham consiga manter contas em banco reconhecidas pelo governo para, já na prisão, ter seus bens congelados. Mesmo que seja possível inferir o uso de “laranjas” em suas transações, ainda é improvável imaginar o Palhaço sem um ás na manga que lhe dê o dinheiro necessário sem precisar revender um míssil no exterior, desmontá-lo-o e montá-lo novamente no local. Elementos absurdos até mesmo para uma personagem anárquica e insana.

    Muitas coincidências permeiam a narrativa. Batman encontra Robin na cidade, pois ambos estão no mesmo hotel. A possível mãe de Jason está envolvida com o submundo, coincidentemente chefiado pelo Coringa. Uma história que, vista com distanciamento, demonstra sua gigantesca falha em ser épica, sendo uma referência apenas pela morte em questão.

    Como é necessária uma história marcante, Superman aparece nos capítulos finais como apoio a um Bruce Wayne desolado e com desejos de vingança. Porém, nada é mais inexplicável do que a reviravolta que faz de Coringa o novo embaixador do Irã. O capítulo em questão não só demonstra o desgaste do arco que poderia encerrar-se antes como também exagera no absurdo. Como se a possível vingança do Homem Morcego fosse maior do que a dor de ficar de luto por mais um amigo falecido.

    Como marco, Morte em Família falha miseravelmente. Parece ser uma história que tenta agradar ao público, unindo personagens conhecidas e um desfecho escolhido para elas. Como se a mera presença das personagens fosse suficiente para uma grande aventura, ainda que sem um argumento que tenha uma coerência mínima e o suspense ou drama adequados.