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  • Resenha | Star Wars (2015)

    Resenha | Star Wars (2015)

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    Após a compra da Lucasfilm pela Disney, e o consequente anúncio de novos filmes para o cinema, começou-se um novo Universo Expandido de Star Wars, que serviria de background ao cenário dos filmes e que a priori, teria todos as publicações consideradas canônicas. Os primeiros momentos desse reboot no segmento quadrinhos seriam ainda distantes do tempo visto em O Despertar da Força, e evidentemente deveria explorar as lacunas iniciais da saga, como todo o resto da Nova Marvel fazia com o universo da Casa das Idéias.

    A série regular que leva o nome da franquia começa com um arco que se passa pouco após a Batalha de Yavin, em Uma Nova Esperança. Skywalker Ataca tem roteiros de Jason Aaron (Scalped) e desenhos de John Cassaday (Planetary) e começa com uma estranha transação comercial entre os imperiais e caçadores de recompensa de Jabba the Hutt, evidentemente sendo isto, um ardil da carismática figura de Han Solo.

    Nesta primeira edição existe uma tensão absurda nestas tratativas, com o Império tratando os colaboradores como escória, sem se importar inclusive com os detalhes da recompensa posta sobre a cabeça de Solo. Tal sensação aparentemente bem construída rui muito facilmente após a revelação de quem seria a tripulação do caçador recompensas, com o encarregado Agaadeen cedendo informações vitais ao seu Império após uma ameaça de choque via R2-D2, o que faz perguntar quais os métodos de treinamento do estado tirânico junto aos seus alistados, uma vez que quase todos soam como covardes estúpidos.

    Um aspecto interessante é a formação do trio Luke, Han e Leia de novo em ação conjunta, o que ajuda a construir a ideia de urgência e precariedade nas fileiras de rebeldes, ao ponto de alistar uma membra da antiga realeza alderaniana como parte de uma tribulação de resgate, bem como um exímio piloto entre as forças de invasão. Apesar de pouco afeito aos desígnios da força, Luke segue intuitivo, e é a espiritualidade que o leva a encontrar os cativos. A ideia de mostrar os imperiais fazendo uso de escravos ajuda a aproximar ainda mais os vilões as figuras dos nazistas alemães, que se valiam das riquezas daqueles que julgava inferior, com a diferença de que os opositores em Star Wars são mais enérgicos, explorando a mais valia dos oprimidos de modo mais taxativo.

    Os graves problemas dessa história começam a partir do ponto massa véio do roteiro, onde se introduz Lord Vader como o negociador dos poderosos. Antes de encarar os rebeldes frente a frente, Chewbacca recebe a ordem direta de Leia para que atirasse nele, exibindo que a necessidade de obliterar um inimigo grande e simbólico. A saída desta situação é que não é propriamente condizente com o visto nos filmes, uma vez que o Darth está com um poder imenso.

    O cúmulo ocorre a partir do final do número 1 e prossegue pelo segundo, onde Vader encara Luke, antecipando um duelo que resultaria somente no próximo filme. Os defeitos deste “conceito” começam pelo fato do lord sith não ter qualquer noção de que o homem a sua frente é o destruidor da Estrela da Morte e claro, seu filho, fatos que lhe seriam relatados mais tarde. A gravidade está no quão genérica é a situação, tendo até uma tentativa esdrúxula de salvar este momento, fazendo referência a morte  de Dooku em Vingança dos Sith, já que o vilão está pronto para matar Luke do mesmo modo.

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    Os desenhos de Cassaday são irregulares, já que ele acerta nas feições de Han Solo e traz um Chewbacca em nada parecido com o original. As cenas de batalha ao menos são bem executadas, tanto na dilaceração de seres, como na destruição de naves e equipamentos. Nem mesmo a arte-final consegue resgatar da mediocridade o trabalho, que no geral, demonstra uma arte  desleixada e pouco inspirada, aquém dos melhores momentos do desenhista.

    O fato de postar a introdução como os letreiros amarelos verticais é um easter egg pequeno e bobo, mas bem significativo, por demonstrar de certa forma toda a reverência aos filmes, semelhante ao que ocorreu em Império do Mal. As referências prosseguem, retornando a Tatooine, com Vader visitando Jabba atrás de suprimentos para o seu império e de informações sobre os rebeldes que de lá saíram, a bordo da Milenium Falcon. É nesse interim que surge um personagem misterioso, de motivação extremamente forçada. A trama também envolve a figura de Boba Fett, que já demonstra uma estreita e clandestina relação com Vader.

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    A procura e os combates no planeta arenoso soam forçados, e pouco condizente com o já estabelecido no canône através do audiovisual, fator comum ao antigo Universo Expandido, mas agravado nesta versão em que todo o material derivado é considerado oficial para a historiografia dos personagens residentes dessa galáxia tão tão distante. A necessidade de tornar Boba Fett em um personagem mais atuante e enérgico segue nesta versão, sendo ele o responsável por tentar descobrir a identidade do homem que disparou o tiro fatal em Yavin 4. O texto parece querer esconder a falta de conteúdo através de um apelo barato ao sensacionalismo, envolvendo os personagens populares todos no mesmo curto espaço de uma história que deveria ser. A apelação em volta de Luke envolve ele sobrevivendo a um ataque direto de Vader, para depois inseri-lo cego, na casa de Obi-Wan, conseguindo revidar um ataque de Boba Fett, fator que faz o bodyhunter mal encarado fortificar sua posição como arquétipo e piada pronta, além é claro de contradizer toda a fanboyzice habitual que costuma idolatrá-lo.

    Há tantos problemas na concepção deste final que torna quase impossível decidir qual é o pior, se é Boba Fett derrubado, a mercê da bondado de um semi jedi incapaz de enxergar, se é o encontro de um diário de Kenobi, fato que evidentemente não faz sentido, já que estava em um lugar que qualquer imperial poderia achar, além do que o fantasma do velho poderia transmitir qualquer fato “novo”; ou a chegada de Sana Solo, que se revela a estranha figura que rondava as edições anteriores. A motivação da mulher era encontrar seu marido foragido, apresentando uma subtrama patética.

    O fechamento do arco é pifio, assemelhando Skywalker Ataca a um prólogo, de algo maior, no entanto, abre precedente para uma espécie de prólogo, protagonizado pelo jovem Obi Wan chegando a Tatooine, retirado de seu diário. Os desenhos de Simone Bianchi (Sete Soldados da Vitória e Pecado Original) funcionam quase a perfeição, captando os detalhes de uma máfia expansioanista, agravada ainda mais pela queda da República. Toda a carga de sentimentos, completamente avulsos no outro arco, tem sua redenção aqui, com o eremita e ex-jedi observando o pequeno Luke , sem poder treiná-lo, graças aos tios, que temem que ele tenha o mesmo destino do pai.

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    A grande seca que assola o planeta ajuda a explicar o envelhecimento avançado de Kenobi, aliado claro a preocupação e culpa que sente por não poder se redimir e por não conseguir resolver a questão da morte de dezenas de habitantes do seu atual lar. Também se nota um completo desprezo do Império dos planetas centrais como este, uma vez que não há preocupação alguma com as necessidades dos nativos por parte das autoridades espaciais. A parceria do infante Luke com Obi Wan funciona a perfeição, bem como a rebeldia do garoto, postura diferencial da aparente apatia e comodismo de quando ele é adulto, fase onde os recalques psíquicos e o medo sobrepujam normalmente a bravura. A mudança de espírito de Luke faz sentido de um modo que não foi igual nos seis números anteriores, justificando até o retorno do herdeiro da Força ao estado de bravura e busca por aventura.

    Aaron claramente se sente melhor escrevendo histórias com tons mais escuros, de tiro curto, que remetem em espírito ao auge de sua carreira, a frente dos volumes de Hellblazer. O segundo arco, Confronto na Lua dos Contrabandistas, começa a partir da onde terminou o número seis. Incrivelmente, as situações envolvendo a esposa e Han Solo rendem discussões engraçadas, desmontando qualquer encanto barato que o pirata lançara sobre a Princesa.

    Os desenhos de Stuart Immonem (Superman: Identidade Secreta e Nova Onda) combinam muito mais com o clima descompromissado de aventura, que segue Luke em sua tentativa de descobrir mais sobre os jedi do passado. Seu caminho é cortado por Grakkus o Hutt, um mafioso que possui uma coleção extraordinária sobre os resquícios dos jedi, tendo em sua posse os holocrons, objetos que armazenam informações sobre os jedi e que somente são abertos por quem tem afinidade com a força.

    O herói é feito prisioneiro, e enquanto cativo, informações interessantes sobre o passado da classe jedi são revelados, incluindo a instrução de uma figura misteriosa, que se assemelha aos instrutores de gladiadores da velho Império Romano. É interessante notar a inabilidade de Luke, bem como sua busca pela sabedoria dos seus antepassados. É neste interim que o paladino descobre que os templos jedi foram destruídos em sua totalidade, o que certamente o inspirou a fazer a busca que o faria “desaparecer” como visto no Episódio VII.

    Chega a ser engraçado notar Chewie como um detetive mal encarado, a procura dos seus amigos. A escolha por não utilizar como vilão os “medalhões” dá espaço para uma maior criatividade do roteiro, que evidentemente melhora muito, acrescentando fatos muito curiosos, dando origem até ao caçador de recompensas Dengar, visto em Império Contra Ataca e explorado pouco em comparação ao bodyhounter clonado mais famoso.

    O fato de ser usado como gladiador aproxima Luke do arquetipo de escravo que o jovem Anakin tinha em Ameaça Fantasma. O acréscimo de “auxiliares” do jedi, como o Mestre dos Jogos, demonstra que a luta contra a tirania não é exclusividade dos rebeldes. A construção desta figura serve também para explicar a habilidade de Finn em O Despertar da Força, quando maneja um sabre de luz sem qualquer afinidade com a força, já que isso já ocorria com outros lutadores exímios.

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    O motim que derruba o mafioso despótico em meio a arena é catártico e significativo, mas não é uma solução fácil ou maniqueíst, ao contrário, já que há algumas reviravoltas com os personagens novos que além de fazerem sentido, traçam um paralelo com a antiga alcunha de Mara Jade em Herdeiro do Império, ainda que o “membro” do imperial seja relacionada a Vader e não ao Imperador.

    A metade final é tão bem construída que quase faz justificar os enormes tropeços do começo dos arcos, e de fato esse reboot se inicia bem tendo em vista o ano como um todo, ainda que a metade destes lançamentos sejam de qualidade muito inferior aos bons momentos da  fase em que a Dark Horse era responsável pelos quadrinhos de Star Wars. A fórmula de unir quadrinistas talentosos não necessariamente garante uma sobriedade as publicações, como o visto no começo da trajetória de Aaron e Cassaday, mas com o tempo, o texto melhorou bastante, assim como a arte se adequou aquele momento histórico, desta nova roupagem do universo Star Wars.

  • Resenha | A Ascensão de Thanos

    Resenha | A Ascensão de Thanos

    A Ascensão de Thanos

    No último ano, a Panini Comics tem lançado uma série de encadernados estrelados por grandes vilões da Marvel. Informalmente, as edições se tornaram conhecidas como parte da coleção de vilões, por apresentar releituras e origens de personagens vilanescos como Mercenário (em Mercenário – Anatomia de um Assassino), Loki, Magneto, entre outros canônicos. Tais edições foram lançadas no exterior como séries limitadas e, no Brasil, lançado em capa dura com preços econômicos devido às impressões no exterior. Um atrativo para quem deseja uma narrativa que resume a trajetória de personagens, além de uma bonita edição gráfica.

    Roteirizar uma história sobre acontecimentos prévios é um desafio que necessita de criatividade para costurar acontecimentos sem parecer apenas um resumo intencional voltado para vendas. Tais tramas podem ser eficientes para o leitor novato, porém raramente trazem algo novo para um leitor antigo. Situado no contexto da Nova Marvel, A Ascenção de Thanos não estabelece nenhuma referência de antes ou depois deste ponto de partida do estúdio. A escolha de publicar esta série explicitando o novo momento do estúdio tem justificativa devido a saga Infinito, na qual o vilão foi um papel principal. Dividido em seis edições, o roteiro de Simone Bianchi é a típica história que busca recontar em outra roupagem a origem do personagem.

    No país Titãs, Thanos é um jovem nascido com deformidade, diferente de todas as crianças do local. Desde cedo é deslocado por seus colegas, e sua inteligência extraordinária o faz refletir a respeito da composição da sociedade e da natureza, cujo isolamento obrigatório seria a motivação para começar sua vilania. Em um local considerado perfeito e sem nenhuma morte, um assassino marca o sinal de transformação do ambiente.

    O roteiro se apoia em um histórico psicológico para nutrir o lado violento de Thanos, cujas justificativas vão desde o isolamento e preconceito por parte de seus colegas até um amor não correspondido que o faz tentar conquistar a garota a todo custo. Destruidor por natureza, Thanos corrompe a harmonia de Titãs e parte como um pirata para conquistar novos mundos. Ao seu lado, a figura da própria morte estabelece uma relação de amor com ele, como se o vilão fosse um de seus representantes. Mesmo sendo um personagem existente na mitologia do titã, a vertente psicológica faz de Thanos um louco que alucina e dialoga com a morte. Uma outra justificativa desnecessária para sua maldade.

    A intenção realista de muitos quadrinhos da Marvel sempre se apoiou em explicações e argumentos para a ação de seus personagens. Muitos vilões surgiram a partir de traumas, porém, Thanos é um personagem plano que se destaca pelo prazer em matar sem nenhuma explicação visível, sem refreio ou uma origem psicológica.

    Mesmo que a história crie uma linearidade para a origem do vilão, retomando sua infância até a fase adulta, retirar seus contornos maus corrompe a essência da personagem criada por Jim Starlin, principalmente porque grande parte de seu impacto se deve a ações de difícil compreensão, movidas apenas por egoísmo e prazer intrínseco em fazer o que deseja por poder e vontade.

    Um dos grandes vilões da Marvel, sempre presente nas trama dos Vingadores, perde o impacto desnecessariamente em uma trama que, mesmo desenvolvida de maneira correta, nunca emplaca propriamente. A edição em capa dura pode ser atraente pelo acabamento, porém o conteúdo não é satisfatório.

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