Tag: Jason Aaron

  • Resenha | Star Wars: Prisão Rebelde

    Resenha | Star Wars: Prisão Rebelde

    O segundo arco do ano 2 da reavista Marvel Star Wars chama-se  Prisão Rebelde começa mostrando a bela Dra. Aphra presa pelos heróis rebeldes, ela que já tinha sido introduzida no primeiro ano de Darth Vader. Ao tentar fugir ela é detida por Leia e Sana Starros (introduzida no ano um de Star Wars, como ex caso de Han Solo). É bem engraçado o modo que Han usa para ganhar dinheiro, apostando os  poucos créditos da Rebelião  em uma mesa de Sabacc, diferente da versão antiga do Universo Expandido. Solo continua um canalha aproveitador e trambiqueiro,  e isso casa demais com a versão que Harrison Ford compôs para ele como cafajeste/canalha convicto.

    Os desenhos de Leinil Yu lembram demais os traços dos atores originais, e esse sem dúvida é o aspecto mais positivo e digno de nota da HQ. Outro fator legal é a dupla Sana e Leia, duas personagens que tem uma inteiração bem fluída e natural, como uma dupla de tiras cuja tensão racial é o principal mote, alias, Han e Luke também temm uma boa inteiração, com o jovem aprendiz da Força pilotando a Milenium Falcon sob o olhar atento de Solo, com esse sendo quase como um tutor do jovem Skywalker, o carinho que o caçador que Ford faz parece ter pelo personagem de Mark Hammil é bem viva aqui.

    A questão é que a aventura é bastante episódica, o mais rico dessa história são algumas inteirações e talvez isso seja positivo. O leitor que for pegar essa série, achando encontrar algo extraordinário, não achará. Em determinado ponto, aparece um vilão chamado Eneb Ray, um vilão deformado introduzido o Anual. Isso dá a revista a sensação clara de que esta é uma série em quadrinhos, pois como nas historias comuns e mensais da Marvel e DC, os vilões voltam, com planos mais mirabolantes e com existencias ainda mais miseráveis.

    A revista Anual número 1 introduz o personagem citado como um um espião rebelde no Império, que usava o nome Tharius Demo. A história é bem genérica, mas tem alguns bons momentos, como o encontro de Eneb com o Imperador, que mesmo sentado parece um vilão poderoso e amedrontador. É uma pena que ele lembre mais o Darth Sidious de Vingança dos Sith do que com o Imperador de Retorno de Jedi. A historia tem arte de Kieron Gillen e desenhos de Angel Unzueta.

    Já o Anual 2 (que não está no encadernado mas é importante falar um pouco sobre ela) é escrita por uma mulher Kelly Thompson, é focada na Leia Organa, e dedicado a Carrie Fisher, e é feita por, desenhada por Emilio Laiso, colorizada por Rachelle Rosenberg. É engraçado como a Leia de Laslo lembra a que Terry Dodson, que desenho a mini Princesa Leia. A personagem Pash Davane é sexualizada, visualmente interessante, mas não acrescenta quase nada na história. Sua relação com a senadora rebelde poderia ser melhor desenvolvida, mas perde para a vista com Sana Starros. Nem a tensão sexual das duas funciona, até porque fica claro que não seria levada para frente por conta dos rumos amorosos da heroína com o caçador de recompensar coreliano. Essa versão em quadrinhos de Star Wars da Marvel funcionaria de fato bem melhor caso não viesse com uma mega pretensão embutida em si, mas se o fã de quadrinhos ou aficionado na obra de George Lucas vier sem grandes expectativas, certamente poderá gostar um ou outro conceito da revista.

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  • Resenha | Star Wars: O Diário do Velho Ben Kenobi

    Resenha | Star Wars: O Diário do Velho Ben Kenobi

    Em 2016 a revista mensal de Star Wars continuava de vento em popa, com boas vendas e histórias conduzidas por artistas renomados, e por mais que não haja tanta interferência na área cinza entre os filmes, que quase não existe  historia – a compreender entre Retorno de Jedi e O Despertar da Força – essa revista e as de Darth Vader são as que mais acrescentam eventos canônicos, mais até que os livros.

    A primeira história do ano 2 de Star Wars inédita só ocorre no número 15, antes disso as histórias fazem parte do crossover A Queda de Vader. Esta é uma história do diário do Velho Ben Kenobi, em Tatooine, observando o jovem Luke Skywalker brincando com os pequenos speeders, acompanhado claro de Biggs Darklighter, que futuramente se torna piloto da Aliança Rebelde. Jason Aaron ainda se mantém nos roteiros e essa é desenhada por Mike Mayhew.

    Essa história se encaixa entre Vingança dos Sith e Uma Nova Esperança, e é curioso como Obi Wan fica em dúvida sobre o potencial de Luke, se ele seria tão forte na força quanto seu pai, e isso conversa bastante com outras historias do novo cânone, como quando Yoda afirma que preferia que Leia fosse treinada na força e não o garoto, e é difícil não pairar dúvida sobre isso, Kenobi errou antes com o pai, poderia fracassar também com o filho. Da parte narrativa, também vale destacar a paranoia do tio Owen com o jovem, que corre e quase se mata competindo com meninos da mesma idade dele. Aqui, o receio do tio é justificado pela rebeldia do menino, e não por conta do pai dele, que o meio irmão mal conheceu. Talvez a maior diferença, é que Ben diz acreditar que o escolhido seria Luke, e não o pai dele, o que para os fãs da trilogia prequel, é quase pecaminoso.

    Mayhew tem um traço característico demais, suas imagens soam muito belas, algumas ficam truncadas, mas os personagens tem uma versão bonita demais, mesmo que não pareçam os atores. As cenas de luta são fluídas demais, no entanto o foco dramático é na rejeição que Kenobi sofre, não que Owen esteja errado em isolar Luke, afinal, para todos os efeitos, o pai do rapaz foi morto pelo antigo jedi louco.

    É uma pena que esse arco só seja finalizado na edição 20, 5 meses depois. A primeira  história desses contos do Velho Ben já havia ocorrido em Star Wars #01 a #12, mas especificamente no número sete, mas não tinha um cliffhanger tão evidente quanto nesse. No entanto, o saldo é bem positivo, e é bem válido assistir a relação de camaradagem e desconfiança entre Owen e Ben, com os dois sendo completos opostos e trabalhando juntos somente  quando o intuito é proteger Luke, embora o fazendeiro ainda seja muito medroso e ressabiado e recuse a ajuda do antigo jedi em tudo.

    As partes que mostram Luke, pequeno,usando sua nave Skyhooper para ajudar o ataque ao wookie Krrsantan Negro, em uma versão bem mais digna que o Ani de Jake Lloyd em Ameaça Fantasma quando estava em Naboo, impressionante como Aaron é bem melhor nessa pegada de aventura que George Lucas,mesmo que seu projeto seja muito menos audacioso, e essa é a melhor das histórias de todo esse ano de publicações.

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  • Resenha | Thor: O Deus do Trovão – O Amaldiçoado

    Resenha | Thor: O Deus do Trovão – O Amaldiçoado

    Encadernado de 164 páginas que reúne da edição 12 a edição 18 do quadrinho Thor, o Deus do Trovão, o arco O Amaldiçoado dá continuidade à grande fase iniciada por Jason Aaron. Na própria capa do encadernado vemos uma citação que diz que o roteirista nasceu pra escrever Thor. De fato, Aaron talvez seja um dos quem melhor compreendeu o personagem em sua essência, retratando como o deus que ele é, assim Walt Simonson.

    O encadernado é composto de duas histórias independentes (correspondentes às edições 12 e 18 da cronologia americana) e de um arco de histórias que envolve uma caçada ao vilão Malekith. Há uma interessante diferença de tons entre as duas histórias independentes e o arco mencionado. Auxiliado pela vivaz arte de Ron Garney, Aaron compôs uma breve saga muito divertida que intercala humor, violência e aventura. É interessante observar a Liga dos Reinos idealizada pelo autor. Fica bem clara a influência de Senhor dos Anéis, com personagens sendo quase paródias das criações de J.R.R. Tolkien. Há também uma grande influência de RPGs nessa saga, visto que a Liga é composta de diferentes raças. O ritmo da saga é vertiginoso e entrecortado por momentos de humor muito bem pontuados. O texto de Jason Aaron é excelente.

    Já as duas histórias independentes são ainda mais interessantes, por nos dão uma visão de Thor como uma divindade. Na primeira, intitulada “Era Uma Vez em Midgard” Thor se vê às voltas com problemas mundanos. Durante a história, o Deus do Trovão auxilia um condenado no corredor da morte, uma cientista ambiental que está sem par para um baile no porta-aviões onde trabalha e algumas outras situações em que ele se faz necessário. Entretanto, a história ganha contornos dramáticos e até mesmo filosóficos quando Thor vai visitar uma Jane Foster com câncer. Aaron acerta na sensibilidade dos diálogos em todos os momentos, sem deixar que a história descambe pro sentimentalismo barato. O uso de idas e vindas temporais também ajuda a dar contornos ao filho de Odin. Já na última história do encadernado, novamente vemos Thor, porém jovem e caminhando entre os vikings. Outra história bastante interessante que aproxima o Deus do Trovão da humanidade.

    Considerado por muitos como um dos autores definitivos do personagem, Aaron mostra como consegue escrever diferentes tipos de histórias, com muita sensibilidade e compreensão do material que tem em mãos.

    Compre: Thor – O Amaldiçoado.

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  • Resenha | Vader Down

    Resenha | Vader Down

    Após o primeiro ano de Marvel – Star Wars e Marvel – Darth Vader, finalmente ocorreria um crossover entre as publicações, com o nome de Vader Down, uma micro saga que começa em direção ao planeta Vogra Vaz, um lugar sagrado onde Luke vai a fim de prosseguir em seu treinamento jedi, perseguido é claro por Vader e por sua parceira “secreta”, a mercenária Doutora Aphra.

    A edição denominada Vader Down é escrita pelo mesmo Jason Aaron que já havia trabalhado nesse novo universo expandido, e com arte do brasileiro Mike Deodato. Esse fator novo garante um folego e renovo visual não antes visto, os quadros que Deodato propõe em especial nas batalhas espaciais são lindíssimos, reforçados pelas cores vibrantes, por sua vez assinadas por Frank Martin Jr. Por parte do roteiro, há uma boa interação entre Aphra e o lord das trevas, com a garantia de que a moça não é estúpida ao ponto de traí-lo, declarando-se esperta o suficiente para não ser suicida, antecipando cronologicamente a série de assassinatos do personagem título a aliados que erraram consigo.

    O curioso é que, na batalha em volta de Vogra Vaz a estratégia para tentar desfalecer o Darth é uma tática kamikase, com Luke usando sua X-Wing para causar uma pane no Tie Fighter do sith. As perdas de guerra são muito bem registradas, com cadáveres flutuando pelo espaço e a nave do vilão caindo sobre a superfície do planeta, para então ficar cercado pelos soldados rebeldes. Todo o foco dos heróis é em tentar abatê-lo de uma vez por todas.

    Em Darth Vader 13 a história prossegue a partir do exato momento onde havia parado no numero 1 de Vader Down, com roteiros de Kieron Gillen e desenhos de Salvador Larroca – cor de Edgar Delgado – e é curioso notar a semelhança absurda entre os personagens de Han Solo e Leia Organa com seus interpretes, Harrison Ford e Carrie Fischer. Ao menos até a edição número quatro (a serie tem apenas sei números), os roteiros estão mais enxutos, evitando o fan service excessivo que ocorreu nas outras revistas, ainda que nesse número, já haja um resgate de um dos piores personagens introduzidos nos quadrinhos recentes.

    O advento do Comandante Karbin na trama – o mesmo que era um Mon Calamari que imita a robótica do General Grievous vista em A Vingança dos Sith – soa bobo e infantil, fazendo lembrar de todos os defeitos do passado em ambas as revistas. A briga dele contra o lord sith é tão desigual que soa como piada, e faz perder a atenção por exemplo no belo embate de Chewbacca com o outro wookie Krrsantan Negro.

    O desfecho a micro saga se dá em Darth Vader 15, e a arte de Larroca decresce em qualidade, em especial quanto Chewbacca é mostrado. A tentativa dos rebeldes em derrotar Vader é um fracasso, bem como o intento do vilão em contra-atacar, fato que só conseguiria seu feito no Episódio V – O Império Contra Ataca. A insistência na rivalidade do personagem com os novatos que foram treinados para substitui-los soa desimportante e faz perder quase todos os pontos positivos dos primeiros quatro números. Ao menos a qualidade dos textos melhoram gradativamente, ainda que o saldo não seja tão positivo é ótimo que os argumentos  se afinem mais, já não soando tão genérico quanto o começo dessa fase da Marvel organizando os quadrinhos de Star Wars.

  • Resenha | Star Wars (2015)

    Resenha | Star Wars (2015)

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    Após a compra da Lucasfilm pela Disney, e o consequente anúncio de novos filmes para o cinema, começou-se um novo Universo Expandido de Star Wars, que serviria de background ao cenário dos filmes e que a priori, teria todos as publicações consideradas canônicas. Os primeiros momentos desse reboot no segmento quadrinhos seriam ainda distantes do tempo visto em O Despertar da Força, e evidentemente deveria explorar as lacunas iniciais da saga, como todo o resto da Nova Marvel fazia com o universo da Casa das Idéias.

    A série regular que leva o nome da franquia começa com um arco que se passa pouco após a Batalha de Yavin, em Uma Nova Esperança. Skywalker Ataca tem roteiros de Jason Aaron (Scalped) e desenhos de John Cassaday (Planetary) e começa com uma estranha transação comercial entre os imperiais e caçadores de recompensa de Jabba the Hutt, evidentemente sendo isto, um ardil da carismática figura de Han Solo.

    Nesta primeira edição existe uma tensão absurda nestas tratativas, com o Império tratando os colaboradores como escória, sem se importar inclusive com os detalhes da recompensa posta sobre a cabeça de Solo. Tal sensação aparentemente bem construída rui muito facilmente após a revelação de quem seria a tripulação do caçador recompensas, com o encarregado Agaadeen cedendo informações vitais ao seu Império após uma ameaça de choque via R2-D2, o que faz perguntar quais os métodos de treinamento do estado tirânico junto aos seus alistados, uma vez que quase todos soam como covardes estúpidos.

    Um aspecto interessante é a formação do trio Luke, Han e Leia de novo em ação conjunta, o que ajuda a construir a ideia de urgência e precariedade nas fileiras de rebeldes, ao ponto de alistar uma membra da antiga realeza alderaniana como parte de uma tribulação de resgate, bem como um exímio piloto entre as forças de invasão. Apesar de pouco afeito aos desígnios da força, Luke segue intuitivo, e é a espiritualidade que o leva a encontrar os cativos. A ideia de mostrar os imperiais fazendo uso de escravos ajuda a aproximar ainda mais os vilões as figuras dos nazistas alemães, que se valiam das riquezas daqueles que julgava inferior, com a diferença de que os opositores em Star Wars são mais enérgicos, explorando a mais valia dos oprimidos de modo mais taxativo.

    Os graves problemas dessa história começam a partir do ponto massa véio do roteiro, onde se introduz Lord Vader como o negociador dos poderosos. Antes de encarar os rebeldes frente a frente, Chewbacca recebe a ordem direta de Leia para que atirasse nele, exibindo que a necessidade de obliterar um inimigo grande e simbólico. A saída desta situação é que não é propriamente condizente com o visto nos filmes, uma vez que o Darth está com um poder imenso.

    O cúmulo ocorre a partir do final do número 1 e prossegue pelo segundo, onde Vader encara Luke, antecipando um duelo que resultaria somente no próximo filme. Os defeitos deste “conceito” começam pelo fato do lord sith não ter qualquer noção de que o homem a sua frente é o destruidor da Estrela da Morte e claro, seu filho, fatos que lhe seriam relatados mais tarde. A gravidade está no quão genérica é a situação, tendo até uma tentativa esdrúxula de salvar este momento, fazendo referência a morte  de Dooku em Vingança dos Sith, já que o vilão está pronto para matar Luke do mesmo modo.

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    Os desenhos de Cassaday são irregulares, já que ele acerta nas feições de Han Solo e traz um Chewbacca em nada parecido com o original. As cenas de batalha ao menos são bem executadas, tanto na dilaceração de seres, como na destruição de naves e equipamentos. Nem mesmo a arte-final consegue resgatar da mediocridade o trabalho, que no geral, demonstra uma arte  desleixada e pouco inspirada, aquém dos melhores momentos do desenhista.

    O fato de postar a introdução como os letreiros amarelos verticais é um easter egg pequeno e bobo, mas bem significativo, por demonstrar de certa forma toda a reverência aos filmes, semelhante ao que ocorreu em Império do Mal. As referências prosseguem, retornando a Tatooine, com Vader visitando Jabba atrás de suprimentos para o seu império e de informações sobre os rebeldes que de lá saíram, a bordo da Milenium Falcon. É nesse interim que surge um personagem misterioso, de motivação extremamente forçada. A trama também envolve a figura de Boba Fett, que já demonstra uma estreita e clandestina relação com Vader.

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    A procura e os combates no planeta arenoso soam forçados, e pouco condizente com o já estabelecido no canône através do audiovisual, fator comum ao antigo Universo Expandido, mas agravado nesta versão em que todo o material derivado é considerado oficial para a historiografia dos personagens residentes dessa galáxia tão tão distante. A necessidade de tornar Boba Fett em um personagem mais atuante e enérgico segue nesta versão, sendo ele o responsável por tentar descobrir a identidade do homem que disparou o tiro fatal em Yavin 4. O texto parece querer esconder a falta de conteúdo através de um apelo barato ao sensacionalismo, envolvendo os personagens populares todos no mesmo curto espaço de uma história que deveria ser. A apelação em volta de Luke envolve ele sobrevivendo a um ataque direto de Vader, para depois inseri-lo cego, na casa de Obi-Wan, conseguindo revidar um ataque de Boba Fett, fator que faz o bodyhunter mal encarado fortificar sua posição como arquétipo e piada pronta, além é claro de contradizer toda a fanboyzice habitual que costuma idolatrá-lo.

    Há tantos problemas na concepção deste final que torna quase impossível decidir qual é o pior, se é Boba Fett derrubado, a mercê da bondado de um semi jedi incapaz de enxergar, se é o encontro de um diário de Kenobi, fato que evidentemente não faz sentido, já que estava em um lugar que qualquer imperial poderia achar, além do que o fantasma do velho poderia transmitir qualquer fato “novo”; ou a chegada de Sana Solo, que se revela a estranha figura que rondava as edições anteriores. A motivação da mulher era encontrar seu marido foragido, apresentando uma subtrama patética.

    O fechamento do arco é pifio, assemelhando Skywalker Ataca a um prólogo, de algo maior, no entanto, abre precedente para uma espécie de prólogo, protagonizado pelo jovem Obi Wan chegando a Tatooine, retirado de seu diário. Os desenhos de Simone Bianchi (Sete Soldados da Vitória e Pecado Original) funcionam quase a perfeição, captando os detalhes de uma máfia expansioanista, agravada ainda mais pela queda da República. Toda a carga de sentimentos, completamente avulsos no outro arco, tem sua redenção aqui, com o eremita e ex-jedi observando o pequeno Luke , sem poder treiná-lo, graças aos tios, que temem que ele tenha o mesmo destino do pai.

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    A grande seca que assola o planeta ajuda a explicar o envelhecimento avançado de Kenobi, aliado claro a preocupação e culpa que sente por não poder se redimir e por não conseguir resolver a questão da morte de dezenas de habitantes do seu atual lar. Também se nota um completo desprezo do Império dos planetas centrais como este, uma vez que não há preocupação alguma com as necessidades dos nativos por parte das autoridades espaciais. A parceria do infante Luke com Obi Wan funciona a perfeição, bem como a rebeldia do garoto, postura diferencial da aparente apatia e comodismo de quando ele é adulto, fase onde os recalques psíquicos e o medo sobrepujam normalmente a bravura. A mudança de espírito de Luke faz sentido de um modo que não foi igual nos seis números anteriores, justificando até o retorno do herdeiro da Força ao estado de bravura e busca por aventura.

    Aaron claramente se sente melhor escrevendo histórias com tons mais escuros, de tiro curto, que remetem em espírito ao auge de sua carreira, a frente dos volumes de Hellblazer. O segundo arco, Confronto na Lua dos Contrabandistas, começa a partir da onde terminou o número seis. Incrivelmente, as situações envolvendo a esposa e Han Solo rendem discussões engraçadas, desmontando qualquer encanto barato que o pirata lançara sobre a Princesa.

    Os desenhos de Stuart Immonem (Superman: Identidade Secreta e Nova Onda) combinam muito mais com o clima descompromissado de aventura, que segue Luke em sua tentativa de descobrir mais sobre os jedi do passado. Seu caminho é cortado por Grakkus o Hutt, um mafioso que possui uma coleção extraordinária sobre os resquícios dos jedi, tendo em sua posse os holocrons, objetos que armazenam informações sobre os jedi e que somente são abertos por quem tem afinidade com a força.

    O herói é feito prisioneiro, e enquanto cativo, informações interessantes sobre o passado da classe jedi são revelados, incluindo a instrução de uma figura misteriosa, que se assemelha aos instrutores de gladiadores da velho Império Romano. É interessante notar a inabilidade de Luke, bem como sua busca pela sabedoria dos seus antepassados. É neste interim que o paladino descobre que os templos jedi foram destruídos em sua totalidade, o que certamente o inspirou a fazer a busca que o faria “desaparecer” como visto no Episódio VII.

    Chega a ser engraçado notar Chewie como um detetive mal encarado, a procura dos seus amigos. A escolha por não utilizar como vilão os “medalhões” dá espaço para uma maior criatividade do roteiro, que evidentemente melhora muito, acrescentando fatos muito curiosos, dando origem até ao caçador de recompensas Dengar, visto em Império Contra Ataca e explorado pouco em comparação ao bodyhounter clonado mais famoso.

    O fato de ser usado como gladiador aproxima Luke do arquetipo de escravo que o jovem Anakin tinha em Ameaça Fantasma. O acréscimo de “auxiliares” do jedi, como o Mestre dos Jogos, demonstra que a luta contra a tirania não é exclusividade dos rebeldes. A construção desta figura serve também para explicar a habilidade de Finn em O Despertar da Força, quando maneja um sabre de luz sem qualquer afinidade com a força, já que isso já ocorria com outros lutadores exímios.

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    O motim que derruba o mafioso despótico em meio a arena é catártico e significativo, mas não é uma solução fácil ou maniqueíst, ao contrário, já que há algumas reviravoltas com os personagens novos que além de fazerem sentido, traçam um paralelo com a antiga alcunha de Mara Jade em Herdeiro do Império, ainda que o “membro” do imperial seja relacionada a Vader e não ao Imperador.

    A metade final é tão bem construída que quase faz justificar os enormes tropeços do começo dos arcos, e de fato esse reboot se inicia bem tendo em vista o ano como um todo, ainda que a metade destes lançamentos sejam de qualidade muito inferior aos bons momentos da  fase em que a Dark Horse era responsável pelos quadrinhos de Star Wars. A fórmula de unir quadrinistas talentosos não necessariamente garante uma sobriedade as publicações, como o visto no começo da trajetória de Aaron e Cassaday, mas com o tempo, o texto melhorou bastante, assim como a arte se adequou aquele momento histórico, desta nova roupagem do universo Star Wars.

  • Resenha | Thor: O Deus do Trovão – O Carniceiro dos Deuses

    Resenha | Thor: O Deus do Trovão – O Carniceiro dos Deuses

    Thor - O Carniceiro dos Deuses - capa

    Iniciando uma nova fase de Thor na era Nova Marvel, ponto de partida desenvolvido para novos leitores após a saga Vingadores VS. X-Men, Thor: O Deus do Trovão foi o título escolhido para a nova revista do deus nórdico com Jason Aaron (Wolverine e os X-Men, Justiceiro MAX) nos roteiros e Esad Ribic (Namor: Nas Profundezas) nos desenhos.

    Como a ideia fundamental desta nova editoria é desenvolver uma trama que atraia um novo público, mesmo inserido em um contexto temporal e cronológico da Marvel, a primeira história desta nova fase, O Carniceiro dos Deuses –  publicado inicialmente na mensal Homem de Ferro e Thor e posteriormente lançado em encadernado em capa dura –  se desenvolve, ao máximo, sem nenhuma amarra do presente, lhe conferindo um ar atemporal e destacando a figura central do herói.

    Quando Stan Lee, em 1962, configurou Thor como um personagem, o deus mitológico oriundo de uma tradição nórdica era inserido em um contexto heroico na Marvel. Esta tradição e os dogmas aos quais pertenceu o deus do trovão e das lutas permaneceram como partes narrativas de suas histórias, ainda que muitos roteiristas não souberam utilizar este passado histórico com qualidade, transformando em um deus quase simbólico.

    Pautada nesta dimensão divina, a narrativa apresenta três diferentes representações de Thor, cada uma situada em um espaço-temporal específico: passado, presente e futuro. Em comum apresentam um mesmo inimigo, um assassino de deuses. Denominado Carniceiro dos Deuses, a trama traça um paralelo destes três tempos apresentando os encontros de Thor com a entidade.

    O roteiro é equilibrado ao focar estes três tempos, alternando com precisão cada momento, ampliando a dramaticidade narrativa. O público é convidado a se perguntar como a batalha prossegue, e se o herói sairá vencedor, se até mesmo em um futuro provável Thor permanece lutando contra o Carniceiro dos Deuses quando, cada vez mais, aparenta fragilidade.

    Em um mesmo universo, diversos deuses de religiões distintas se alinham através da figura do Carniceiro, alguém com conhecimento suficiente para matá-los. Ao retomar um grande número de seres divinos, hoje mantidos por nossa história como deuses pagãos ou oriundos de panteões politeístas, a concepção da fé de diversos povos é apresentada. Mostrando um notável panorama de que, mesmo em épocas distintas, os homens exploram a religião, bem como uma entidade superior como forma de criação, divindades e crenças alimentam um círculo de fé universal. Deuses que indistintamente foram vivos e esquecidos, seja pela dizimação de seu povo ou pela morte nas mãos do carniceiro.

    Tal conceito de diversos deuses interconectados se assemelha à obra Deuses Americanos de Neil Gaiman, uma homenagem a divindades de diversos tempos alicerçadas na adoração como parte fundamental de sua existência. Aaron desenvolve temática semelhante, mas a explora através de um fiel que, ao não ter sua prece atendida por seu deus, resolve negar qualquer divindade existente e, consequentemente, inicia um plano para matá-los, expurgando a fé da Terra.

    A história versa sobre a fé e a ideia de que a receptividade divina nem sempre se destaca a todos, e também como um mesmo ato apresenta interpretações distintas. Afinal, o que o carniceiro considera um ato de traição de seu deus, outros interpretariam como uma prova divina. Intercalando esta simbologia e os encontros com Thor, os deuses cronais estão presentes na trama, pressupondo que o vilão poderia viajar para tempos diversos e, assim, exterminar a existência dos primeiros deuses do universo, expurgando o conceito de deus, além de justificar porque no passado, presente e futuro, Thor estaria em constante batalha com a personagem.

    Como se não bastasse uma potente história sobre fé e negação, Thor faz parte fundamental na trajetória do Carniceiro por ser um exemplo de deus adorado e bem quisto pelo povo, uma divindade que não vive em um panteão distanciado de ordem e devoção mas também aquele que convive com seus homens em conjunto, uma encarnação divina na terra que conduz seus homens pela palavra e suas ações nas batalhas. Uma representação que se torna conflitante para um vilão descrente de qualquer benevolência divina.

    Aliado ao roteiro primoroso, a arte de Ribic integra a narrativa à perfeição em traços compostos sem lápis, semelhante a pinturas, configurando uma perenidade à história como se ela representasse atemporalmente uma narrativa fabular sobre a fé e seus deuses. Diante de tantas novas edições lançadas na Nova Marvel, equilibradas entre uma nova abordagem de temas conhecidos, a vertente escolhida para esta trama se destaca pela temática, além da boa condução, ainda mais se considerarmos que a publicação foi realizada na linha mensal, e não em um projeto especial. Esse é o motivo que engrandece este belo início: uma narrativa circular que redefine Thor como um deus, ao mesmo tempo em que o articula como grande personagem do estúdio fazendo uma reflexão sobre a necessidade humana de acreditar em seres superiores como símbolos de virtudes máximas e benevolentes. Uma fábula nórdica contemporânea.

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