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  • Resenha | Batman: De Volta à Sanidade

    Resenha | Batman: De Volta à Sanidade

    A tensão existente entre o Cavaleiro das Trevas e o Coringa, seu arqui-inimigo, é uma das estruturas mais sólidas do universo do morcego. O peso do vilão sempre o transforma em uma grande estrela narrativa com ausências e retornos esporádicos. Entre uma saga e outra, cada roteirista específica uma métrica na abordagem.

    Há aparições definitivas estruturadas desde o início como eventos épicos, caso de A Piada Mortal de Allan Moore, outras que causaram polêmica na época de seu lançamento e marcaram as revistas mensais (A Morte de Robin) e assim seguem outros exemplos como A Morte da Família e o recente a Guerra dos Coringas.

    De Volta à Sanidade, com roteiro de J.M. DeMatteis é um bom produto de sua época. Lançado em 1994, os quadrinhos ainda não seguiam o hiper-realismo vigente e promovia elementos mais divertidos sem perder as estruturas dos personagens.

    A história faz parte da revista Batman: Legends of The Dark Knight publicada no país em edições especiais intituladas Um Conto de Batman ainda pela Abril. Na época, o formato americano era um grande destaque que diferenciava as histórias, fato coerente com a proposta de Legends, dedicadas a narrativas diferentes ou fora da cronologia comum.

    A grande vantagem dessa narrativa é sua condução breve, em apenas quatro partes. Na trama, narrada inicialmente tanto pelo Coringa quanto pelo Batman, o vilão organiza mais um plano anárquico contra a cidade e uma de suas vereadoras. No embate com o morcego, aparentemente, Batman morre. Reconhecendo a necessidade de que um coringa precisa de seu Batman, se completando e se retroalimentando, o personagem conclui que sua vida não faz mais sentido com o morcego morto e parte para um tratamento focado em sua loucura.

    Após esses acontecimentos, a narrativa promove um salto mostrando um homem comum, vivendo uma vida pacata, com breves lembranças estranhas que não se recorda ao certo. Paralelamente, Bruce Wayne está vivo e escondido, cuidado por uma médica local.

    A tensão promovida pela história parte de dois polos. A recuperação lenta de um Batman debilitado e a queda da sanidade de um homem recém curado. Curiosamente, o retorno do morcego será realizado quase em simultâneo com a volta da insanidade do Coringa. Mas quem se importa com essa coincidência?

    A vertente mais simples e, de certa forma, mais aventureira, faz com que deixemos de lado a rigidez da verossimilhança. O que importa que seus retornos são ao mesmo tempo se o embate é bem trabalhado na tensão? Como DeMatteis apresenta a narrativa de ambos, destaca-se a estranha amizade dos inimigos, um desejando impedi-lo e outro se divertindo pelo caos. O embate é simples, mas preciso. Sem nenhuma narrativa elaborada se não “Batman versus Coringa”. Destacando que ambos são personagens necessários como antíteses, a loucura e a razão, o caos e a justiça. 

  • Resenha | Batman: Duas-Caras Ataca Duas Vezes!

    Resenha | Batman: Duas-Caras Ataca Duas Vezes!

    Um herói (seja lá o que for isso, em 2021) não é nada sem seus vilões, o incômodo que o faz se mexer. Incômodo este que, na ética do Batman, não merece ser morto, apenas preso, excluído da sociedade. Em Duas-Caras Ataca Duas Vezes!, isso fica claro desde o início, com o Cavaleiro das Trevas tendo diversas oportunidades de cortar o mal pela raiz, mas ele não é o juiz da Terra, ou o Duas-Caras, para decidir quem merece viver ou morrer. Consumido por esse complexo assassino, Harvey Dent faz do mundo o seu próprio “cara ou coroa”, deixando sua moeda falar por si. Imoral e capaz de tudo por dinheiro (muito dinheiro), o louco deformado é um dos mais clássicos antagonistas do Batman, uma de suas principais pedras no sapato, e que em 1995, conquistou um conto de duas histórias paralelas, simbolizando sua total bipolaridade num par de estórias que se completam.

    Seja para roubar obras de arte de luxo, seja para sequestrar os bebês gêmeos de sua ex-esposa, o Duas-Caras não tem escrúpulos, nem medo do Batman. E não apenas porque sabe que o herói não mata, mas porque subestima o seu intelecto, sendo este o seu erro fatal e recorrente. Em duas HQ’s publicadas no Brasil pela editora Abril, vemos mais uma vez os “planos infalíveis” do ex-promotor público, transformado em monstro do crime, indo por água abaixo devido a sua ganância. Por isso mesmo, o roteirista Mike W. Barr e os ilustradores Joe Staton e Daerick Gross criam uma aventura juvenil repleta de ação e suspense para explorar as contradições desse vilão cujo maior inimigo, é ele mesmo.

    Afinal, qual a maior humilhação para esses arquétipos do mal, do que prender o herói numa armadilha espalhafatosa, e ele se soltar? Um ser inútil, e que vive para evitar os seus fracassos, falhando inclusive nisso também. Duas Caras Ataca Duas Vezes!, publicado no Brasil uma única vez pela Editora Abril no distante ano de 1995, deixa claro que, em Gotham City, o cara não passa de um aquecimento para Batman e Robin enfrentarem os seus verdadeiros desafios. Assim, as duas histórias despertam no leitor um sentimento de urgência, mas sobretudo dó sobre o vilão, incapaz de controlar seus instintos de roubo e morte, mas que no final, ainda guarda dentro de si uns farelos da humanidade e do amor que sobrou nele, embaixo de sua pele meio branca, meio corroída. Nota-se que esta edição dupla também foi uma das inspirações básicas para o personagem, em Batman: O Cavaleiro das Trevas, filme de 2008, inserindo nele uma densidade e uma obsessão doentia por julgamentos, aqui. Vale a pena conferir.